Mateus 16.21-27

Leitura: Mateus 16.21-27
Texto: Mateus 16.21-27
Tema: O Caminho da Glória é o Caminho da Cruz!

Amados irmãos no Senhor Jesus Cristo,

O que é ser um cristão? Faço essa pergunta, meus irmãos, porque em nossos dias este é um conceito que tem sido bastante reduzido. Alguns acham que ser cristão é fazer parte da membresia de uma igreja; outros, que basta ter ou afirmar “certo” credo (até ortodoxo); e ainda há quem pense que ser cristão significa adotar certo modo de conduta padrão conforme exigido em algumas ditas “igrejas”. Todavia, ainda que haja verdade nessas afirmações, elas, por si só, reduzem o que realmente identifica o que é ser um cristão. 

A consequência disso é que dizer-se cristão em nossos dias tornou-se uma coisa natural. Até pessoas que quase nunca vão a uma igreja, nem se reúnem para adorar, quando questionadas sobre a sua religião, dizem-se cristãs. É uma afirmação sem consequências, realidade bem diferente da que havia na época em que o evangelho de Mateus foi escrito e em algumas décadas posteriores, onde professar a fé cristã correspondia a estar passível de perder a estabilidade, a segurança, a liberdade e até a própria vida. Os ditos cristãos de hoje, que procuram a religião em busca de uma vida de sucesso, prosperidade, vantagens e até conceito social, precisam aprender o significado de seguir a Cristo; precisam aprender que o cristianismo não promete ou se compromete em fornecer essa vida regalada aos seus adeptos, nesta terra. Mas, o contrário disso é que é verdade. O verdadeiro cristianismo sustenta o ensino de seu mestre, que disse que neste mundo teríamos aflições; que a vida seria caracterizada por uma contínua batalha contra nós mesmos, o mundo e o diabo, para, somente no final, recebermos o prêmio indescritível prometido a quem recebeu essa vocação.

E é essa a verdade que vemos em nosso texto nesta tarde. Então, vamos analisá-lo e receber a instrução do nosso Senhor para vivermos bem orientados em nossos curtos dias nesta vida. Eu resumo, portanto, a pregação de hoje no seguinte tema: O CAMINHO DA GLÓRIA É O CAMINHO DA CRUZ.

Confirmaremos isso observando:

  1. A PREDIÇÃO DE SUA PAIXÃO: sofrimento, morte e ressurreição; (o contexto)
  2. A EXIGÊNCIA DE IMITAÇÃO: tomar a cruz e segui-Lo; (o chamado)
  3. A RECOMPENSA DA CONSUMAÇÃO: Ele virá em glória para retribuir a todos. (a motivação)

A PREDIÇÃO DE SUA PAIXÃO
 sofrimento, morte e ressurreição

(o contexto)

Meus irmãos, a verdade sobre o que é ser um verdadeiro cristão neste mundo pode ser muito bem entendida quando compreendemos essa passagem, pois ela, embora dita/dirigida aos seus discípulos, alcança a todos nós. E, sendo assim aplicada, ela nos ensina sobre o que cada cristão em sua peregrinação nesta terra deve fazer e no que focar.

Em primeiro lugar, precisamos entender o cenário. Veja como começamos o v.21: “desde esse tempo” (lit. “desde então”). Essa é a forma comum para se indicar que o que está sendo escrito aqui está ligado com algo que o antecedeu. E, quando lembramos a leitura que fazemos, logo entendemos que o que temos aqui é a confissão feita por Pedro de que Jesus é “o Cristo, o filho do Deus vivo” (v.16). Naquela ocasião, Jesus aceitou a confissão feita por Pedro. Ele reconheceu que ela procedia do Pai, de modo que, ao dirigir-se a Pedro, chamando-o de pedra/rocha e afirmando que sobre aquela confissão estaria fundamentada a Sua igreja, Ele não deixa sombra de dúvidas de que ele era o esperado Messias (Cristo), o Redentor de Israel. Mas, uma vez que nosso Senhor se identificou claramente como o Messias aguardado, novas verdades deveriam ser compreendidas pelos discípulos. E são exatamente essas novas verdades que desde aquele dia ele começou a ensinar; verdades que nos mostram o caminho que deve ser percorrido por cada um de nós.

Mas, que verdades são essas? Leiamos novamente o v.21:

 “Desde esse tempo, começou Jesus Cristo a mostrar a seus discípulos que lhe era necessário seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas dos anciões, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto e ressuscitado no terceiro dia”. 

Essa é uma revelação, no mínimo, impactante e conflitante para os discípulos! Jesus lhes diz que Ele, como o Messias, deveria sofrer e morrer! Ele já havia falado disso anteriormente, mas por meio de símbolo, de modo velado (9.15; 12.40), mas agora ele fala clara e abertamente. O impacto se dá pelo fato de que essa não era a imagem que os discípulos tinham acerca do Messias. Eles não concebiam a ideia de um Messias sofredor. Eles não compreendiam que aquelas profecias sobre os sofrimentos do Messias (por exemplo, Isaías 53) deveriam se cumprir literalmente; nem percebiam que todos os sacrifícios da lei de Moisés apontavam para o sacrifício que esse Messias deveria realizar como o verdadeiro cordeiro de Deus. Em suas convicções, estava apenas um Messias real, da linhagem de Davi, que poria fim à opressão dos inimigos – essa verdade estava tão arraigada em suas mentes que mesmo após a ressurreição, quando o Senhor estava prestes a voltar para o Pai, eles ainda o questionaram: “Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?” (At 1.6). Você entende, irmão, a razão pela qual esse foi um anúncio difícil para os discípulos? Eles não tinham o conhecimento que nós temos hoje. Eles só viam a coroa e, por tanto focar na coroa, não entenderam a necessidade da Cruz.

Você, todavia, entende! Você conhece a Bíblia e compreende que a declaração de Jesus é a afirmação de que Ele, como o verdadeiro Profeta, está predizendo a Sua própria morte como o meio de satisfazer as exigências da lei, a penalidade requerida pelos pecados do Seu povo (1.21).  Você também sabe que aqui temos o nosso Senhor revelando-se como o misericordioso Sumo-sacerdote celestial, que se prepara para oferecer a sua vida a fim de “tirar os pecados do mundo” (Jo 1.29).  E, por tudo isso vir da boca d’Ele, você está certo de que Ele, como Rei, está governando a própria realidade que experimentará. Como Aquele que tem o completo controle de cada situação, Ele pôde dizer – e de modo detalhado – que o plano delineado desde antes da fundação do mundo estava se concretizando.

Perceba que Ele diz: “é necessário”! Isso é uma demonstração de Sua submissão voluntária à vontade do Pai, pois esse era o Seu plano. Seguindo esses passos obedientes, ele segue à Jerusalém, a cidade conhecida como a “cidade do Grande Rei” ou como a “cidade santa” (5.35; 4.5), para ali sofrer a culminação dos seus sofrimentos nas mãos dos líderes religiosos (anciões, chefes dos sacerdotes e mestres da lei) – o Sinédrio. Não é irônico?! A cidade que deveria recebê-lo como o Rei-Divino tão esperado seria o palco de Seus sofrimentos e morte – e seus líderes, os feitores. 

Nessa ocasião, o Senhor não dá muitos detalhes do que iria sofrer ali. Em Mateus 20.18-19, ele diz mais. Ele diz: “Eis que subimos para Jerusalém, e o Filho do homem será entregue aos principais sacerdotes e aos escribas. Eles o condenarão à morte. E o entregarão aos gentios para ser escarnecido, açoitado e crucificado”. Mas aqui o Senhor decidiu poupá-los desses detalhes. Eles não suportariam ouvir mais […]. É verdade que ele afirmou que seria “ressuscitado ao terceiro dia” – isso fala da Sua exaltação no final (da glória que se seguiria). Mas, dificilmente os discípulos entenderam plenamente o que isso significava naquela ocasião. Eles estavam tão atônitos com a revelação do sofrimento e da morte de seu Mestre que atentar para essa afirmação não cabia em suas mentes. Vemos uma prova disso no v.22, pela reação de Pedro. O texto diz que “Pedro, chamando-o à parte, começou a reprová-lo, dizendo: ‘Tem misericórdia de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá’”.

Podemos até imaginar Pedro aproximando-se do Senhor e, talvez, fazendo um sinal para chamá-lo à parte, e então começando a repreendê-lo por aquela afirmação tão pesada. Só pra você entender o que Pedro fez, a palavra “reprová-lo” que é usada aqui é a mesma que o Senhor usa para repreender o vento e o mar (8.26) ou para repreender um demônio (17.18). Ou seja, irmãos, Pedro tem a intenção de advertir e/ou proibir estritamente Jesus de falar aquilo de si mesmo. “Que Deus te seja misericordioso, porque isso não deve acontecer e não acontecerá a ti” – seria mais ou menos isso que Pedro estava tentando transmitir ao Senhor com a sua reprovação. No original, é uma expressão bem enfática. Simplesmente, não havia espaço em sua mentalidade para a ideia de um Messias (Cristo) – como bem pouco antes ele afirmara Jesus ser – sofrer e morrer. Daí, ele acaba achando que conhece mais a vontade de Deus do que o próprio Messias.

O Senhor reagiu a essa fase precipitada de Pedro. Ele discerniu no conselho de Pedro uma tentação da parte de Satanás. Ele reconheceu que Satanás estava usando Pedro como um “agente” numa tentativa de seduzi-lo e fazê-lo tentar obter a coroa sem ter que suportar a cruz – exatamente como fez em 4.8-9 quando ofereceu ao Senhor “todos os reinos do mundo e a glória deles”, sem a cruz, somente por se prostrar diante dele e adorá-lo. O Senhor identificou imediatamente a “armadilha” que Satanás estava armando. Ele sabia que estava sendo confrontado pelo inimigo como foi no deserto. E a sua reação foi imediata. Ele repeliu aquela “sedução implícita para o pecado”. Ele não se permitiu sequer pensar sobre o assunto. Ah! Como deveríamos rejeitar as tentações e o pecado assim! Então, ele dirigiu-se a Pedro e disse-lhe: “Arreda Satanás!”. Diante do que acabamos de falar, fica claro que Jesus está, na verdade, repelindo Satanás e não a pessoa de Pedro em si. Ele estava expulsando a tudo o que em Pedro estava sendo perversamente influenciado pelo príncipe do mal. 

Ele deixa isso claro quando explica que aquele amado discípulo não está cogitando das coisas de Deus, mas das coisas dos homens (lit.). Esta é a verdade que Pedro não alcançou naquele momento. Ele ainda não tinha entendido que no plano de Deus era necessário que o Salvador sofresse, morresse e ressuscitasse ao terceiro dia para trazer salvação ao Seu povo. Ele só pensava pelo prisma humano, no qual o Messias não deveria sofrer – não havia lugar para o sofrimento em sua visão do reino. Sem o entendimento correto, portanto, ele tentou persuadir o Senhor (influenciado por Satanás) a desistir da cruz. Afinal, ninguém quer sofrer! Ninguém quer rejeição e morte! Ele não compreendia que, sem cruz, não haveria salvação, redenção e glória. Sem aperceber-se, Pedro estava pedindo sua própria condenação eterna. Pois esta é a verdade mais central do cristianismo, irmãos! Sem a cruz, não haveria comunhão com Deus; seria ruína para sempre… Aquele que há tão pouco tempo foi chamado de pedra/rocha, com uma confissão tão firme a ponto de que sobre ela a igreja seria edificada, agora, é chamado de “pedra de tropeço”. Veja como é possível haver ignorância espiritual até mesmo em verdadeiros crentes! Todavia, graças a Deus pela obra misericordiosa do nosso Senhor, que restaura esse bem-intencionado, mas precipitado servo!

O fato a que quero chamar a sua atenção em relação ao nosso tema é de que a afirmação de Jesus – que provocou essa reação de Pedro – embora seja uma descrição de sua obra única, ela deve ser compartilhada, como experiência de vida, por todos nós. Todos nós devemos atentar para a verdade de que o servo não está acima do seu senhor, ou seja, que o que sucedeu a Cristo, em certo grau, deve refletir-se também na vida de cada seguidor dele, na vida, portanto, de cada um de nós. Se a mentalidade de Pedro e do homem de um modo geral é: “tem misericórdia de ti mesmo”, “poupa-te a ti mesmo”, o que corresponde a uma síntese do pensamento humano segundo o qual o “EU” é o foco, o ensino de Cristo é: “sacrifica-te a ti mesmo”. Vejamos isso no nosso segundo ponto.

A EXIGÊNCIA DE IMITAÇÃO
tomar a cruz e segui-Lo

(o chamado)

Percebam, irmãos, como a reprovação de Pedro abre a porta para as afirmações do Senhor no v.24: “Então disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me”. Você consegue entender o que o Senhor está afirmando aqui?! Você consegue compreender como não podemos ser seguidores de Cristo sem seguirmos os seus passos para a cruz?! Então, avaliemos essas afirmações.

Em primeiro lugar, o Senhor Jesus Cristo estava dizendo que não somente Ele tinha que ir a Jerusalém e morrer ali, mas também que todos os que desejassem tornar-se seus seguidores tinham que fazer o mesmo, isto é, negar-se a si mesmo, tomar a sua cruz, como ele afirmara que tomaria (cf. 20.19), e seguir após Ele. Não existe, portanto, outro meio! Só podemos ser verdadeiros cristãos, tendo a morte do Senhor aplicada em nossas vidas com valor real, se nos dispusermos a negarmos a nós mesmos, tomarmos a nossa cruz e seguirmos a Ele.

Dada a importância do que está em foco aqui – a glória eterna, temos que entender bem o que é “negar a si mesmo” e “tomar a cruz”.  Compreendendo essas coisas, teremos a correta concepção do que é ser um verdadeiro cristão em sua jornada nesta terra.

“Negar a si mesmo”, em nosso texto, tem a ver com uma renúncia ao velho “EU”, o “EU” em sua existência separada da graça regeneradora. Se as palavras de Pedro (no v.22) expressam essa mentalidade, podemos concluir que a pessoa que nega a si mesma é aquela que renuncia a confiança em tudo quanto ela mesma é por natureza e depende unicamente de Deus para a sua salvação. É uma completa renúncia de sua própria justiça, bondade e/ou boas obras. É reconhecer que não há lugar para “mim” como centro na caminhada em direção à glória. É não buscar mais a promoção dos próprios interesses, que são predominantemente egoístas, focados em si: eu, eu, eu… Mas, é voltar-se e devotar-se completamente a promover glória de Deus em sua própria vida. O cristão verdadeiro se nega. Ele renuncia a sua própria sabedoria. Ele renuncia confiar em suas próprias forças. Ele renuncia a sua própria vontade. Ele renuncia os seus desejos carnais e cobiças. E tudo isso, por quê? Porque ele tem um alvo, um objetivo, qual seja, o de chegar à glória do Seu Senhor!

Meus irmãos, o ensino do nosso Senhor é “Negue-se!”. Seu “EU” sempre vai procurar conduzi-lo à busca pela satisfação pessoal, pelos seus interesses, pelos seus desejos. No entanto, a instrução que vem do alto é: diga não a isso. Negue-se totalmente, sem qualquer restrição, como disse o Apóstolo Paulo: “Nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências” (Rm 13.14). Não podemos viver como cristãos, desejando a glória, mas amando as coisas que não haverá ali. Negue-se completamente, meu irmão! Se você é seguidor de Cristo, essa é a ordem d’Ele para você. E tem mais: Negue-se continuamente! Lucas, quando cita essa passagem, diz: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue…” e acrescenta: “dia a dia”. A negação do “EU” que Cristo exige não é uma coisa que você faz uma única vez. Não! É uma forma de vida. A exigência é de fazermos morrer a cada dia todas essas inclinações do “EU” que procuram nos afastar do Senhor. Pratique os exercícios espirituais que lhe fortalecerão nessa luta: ore, leia as Escrituras, seja persistente em ouvir com proveito o evangelho e medite nele através, por exemplo, da leitura de bons livros. Faça isso, meu irmão, e você verá que continuamente estará matando o seu “EU”, ou seja, negando-se a si mesmo. Agora, tem mais uma coisa: Negue-se como alguém que sabe porque está se negando. Negue-se como alguém que reconhece a pessoa grandiosa de Cristo e o que Ele fez por você. Se você se negar assim, você perceberá que será um negar-se espontâneo. Não será forçado, mas realizado com alegria e gratidão, sem qualquer relutância. Paulo já disse aos Colossenses: “Tudo o que fizerdes, fazei-o de todo coração, como para o Senhor e não para o homem” (Cl 3.23).

Ah, irmãos! Como tem sido rebaixado o padrão que Deus colocou diante de nós! Como esse padrão condena a negligência, a satisfação carnal e a vida mundana que muitos que se declaram cristãos, inutilmente, estão buscando. Nosso Senhor nos chama a seguirmos a Ele diferentemente. Ele nos chama a segui-lo nos negando – não existe outra forma. O nosso “EU” quer fugir de Jerusalém, dos sofrimentos e da “vergonha” de ser chamado careta, quadrado, atrasado. Ele quer fugir de confrontos necessários, para não sermos rejeitados por aqueles que julgamos importantes para nós. Mas, seguir por esse caminho não é negar-se, antes é fazer a vontade do “EU”. Os que seguem a Cristo dizem não a tudo para glorificarem o seu Senhor e, assim, participarem da Sua glória no porvir. Esse é o chamado que somos intimados a imitar.

Por outro lado, ainda temos que falar sobre “tomar cruz”. Isso se refere à cruz que deve ser suportada por causa da nossa união com Ele. Isso não se refere à cruz como um objeto, mas como uma experiência da alma. Sabemos que os benefícios legais da cruz são recebidos por meio do “crer”, quando a nossa culpa diante de Deus é cancelada; mas as virtudes experimentais da cruz de Cristo são desfrutadas apenas quando somos confrontados, de modo prático, com Cristo “na sua morte” (Fp 3.10). É somente quando aplicamos a cruz, diariamente, ao nosso viver e regulamos o nosso comportamento pelos princípios dela, que a cruz torna-se eficaz sobre o poder do pecado que habita em nós. Isso é outra forma de dizer que não existe seguir a Cristo sem essa atitude: tomar a cruz.

Irmãos, não pode haver ressurreição onde não há morte. Por isso, Paulo disse: “Façais, pois, morrer vossa natureza terrena”. E, em outro lugar: “Ele morreu… para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas sim para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2Cor 5.15). Não podemos viver em novidade de vida enquanto não levarmos “no corpo o morrer de Jesus” (2Cor 4.10). 

Basta atentarmos para o nosso mestre e perceberemos que “tomar a nossa cruz” fará de nossa vida completamente outra. A cruz foi a expressão do ódio do mundo contra o nosso Salvador. E, como o discípulo não está acima do mestre, a cruz expressará o ódio do mundo contra o seu povo, isto é, contra nós. Pense comigo: Cristo não veio para julgar, mas para salvar; não veio para castigar, mas para redimir. Ele veio ao mundo “cheio de graça e de verdade”, sempre ministrando aos necessitados, alimentando os famintos, curando os enfermos, libertando os possessos de espíritos malignos e até ressuscitando mortos. Ele era cheio de compaixão. Ele trouxe consigo as boas-novas de grande alegria. Ele buscou os perdidos, pregou aos pobres e perdoou os pecadores. E de que modo Ele foi recebido? E que boas-vindas os homens lhe ofereceram? Os homens O desprezaram e rejeitaram (Is 53.3). Ele disse: “Odiaram-me sem causa” (Jo 15.25). Os homens pediram a sua morte, e, na verdade, não uma morte qualquer; eles exigiram que Ele fosse para a cruz! A cruz, amados, foi a manifestação do ódio do mundo contra o nosso Senhor!

Nesse momento, lembre-se de que o mundo não mudou. Ele continua opondo-se a Deus e ao Seu Cristo. Eles estão em lados opostos. A palavra de Deus nos afirma: “Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo, constitui-se inimigo de Deus” (Tg 4.4). Amados, tomar a cruz e seguir a Cristo é experimentar esse ódio também. Não existe meio-termo quanto a isso. É impossível andarmos com Cristo, sermos seus discípulos, termos comunhão com Ele e não nos separarmos do mundo. Seguir a Ele é partilhar da sua humilhação. Tomar a cruz é ser conformado a Ele. E Ele disse que quem segue a ele deve tomar a sua cruz. Eu sei que ao afirmar isso estou indo na contramão do que o nosso “EU” quer para nós. Sei que o nosso “EU” diz para sermos amigos do mundo e nos conformarmos a ele. Isso torna a vida muito mais fácil. Mas, amados, o que faremos com a palavra de Cristo, que assim nos ensina: “Quer ser meu discípulo? Quer me seguir para a glória? Então, diga não para você mesmo, sofra o ódio do mundo, abdique de uma vida focada em si e me siga”. Vocês conhecem o texto de Romanos 12.2: “não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente…”. Tomar a Cruz é seguir a Cristo assim. Temos que pôr nossa confiança n’Ele, andarmos em seus passos (1Pe 2.21), obedecermos aos seus mandamentos movidos pela gratidão pela salvação por meio d’Ele e prontificar-nos até mesmo a sofrer pela causa d’Ele. Isso é completamente contrário a viver com os olhos voltados para o mundo, o qual odeia o Senhor.

Além disso, lembre-se de que a cruz representa também sofrimento e sacrifício vicário (substitutivo). Lembre-se de que o nosso Senhor nos chama a segui-lo nesse sentido também. Afinal, Ele entregou a própria vida em favor dos outros. Assim, somos chamados a fazer o mesmo. Em 1 João 3.16 está escrito que “devemos dar a nossa vida pelos irmãos”. Somos chamados a tomar a cruz aqui também e seguir o nosso mestre! Como o Senhor sempre pensou nos outros, assim também devemos fazer. Isso é, sem sombra de dúvidas, tomar a nossa cruz. 

Mas, alguns questionamentos de levantam: nós, que somos tão egoístas, pensarmos nos outros?! Nos doarmos pelos outros?! Buscarmos com danos próprios o bem dos outros?! Sim! A palavra do Senhor é exatamente essa. “Siga-me! Negue-se! Tome sua cruz!”. Ou não é essa a implicação do v.25: “porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á”? Portanto, como podemos agir diferente? Como podermos trilhar outro caminho? Poder, até podemos, mas, com certeza, não estaremos no caminho que conduz à glória, o caminho do nosso Senhor Jesus Cristo.

Olhe esse versículo de novo… quem é a pessoa que será condenada? Quem é que vai se perder na eternidade? São os que seguem a Cristo, que se negam e tomam a sua cruz? Os que estão crucificando seu “EU” egoísta, seguindo os passos do Mestre? Ou são aqueles que se voltam para si mesmos e para o mundo, preferindo viver de mãos dadas com os inimigos do Senhor? Irmãos, o Senhor quer que a sua igreja viva! Ele quer que a sua igreja se desprenda de si mesma e siga a Ele. É verdade que a cruz causa dor, machucões. Ela nos obriga a fazer renúncias e nos abnegarmos. Mas, é tomando-a sobre os ombros que trilharemos o caminho da vida! Por amor ao nosso Senhor, que tanto nos amou, procedamos assim, irmãos! Vivamos como verdadeiros cristãos, mesmo que nos seja necessário sofrer extrema aflição e, se for do agrado d’Ele, até a morte, pois seremos recompensados na consumação!

A RECOMPENSA DA CONSUMAÇÃO
Ele virá em glória para retribuir a todos

(a motivação)

No versículo 24, o Senhor Jesus Cristo pôs os discípulos e a nós diante de uma escolha. Agora, em sua infinita misericórdia e amor, Ele encoraja traz o encorajamento para a escolha certa. Ele diz no versículo 26: “que aproveitará ao homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma?”. Aqui Ele faz duas perguntas retóricas. Ele quer mostrar a tolice que é ter o foco distorcido. De que servirá ao homem ter toda abundância e riquezas, se elas existirem às custas da sua alma? A resposta é clara. Nada pode se comparar ao valor da vida – e você sabe que a perda que Ele está falando aqui é a perda eterna da alma, a perda da própria vida. Será que existe alguma vantagem nisso? Claro que não, irmão! Como alguém pode negligenciar os interesses eternos por causa dos interesses terrenos, que serão destruídos?! As coisas dessa terra são temporais, mas as nossas almas possuêm existência eterna. Irmãos, o Senhor está motivando os seus discípulos – e a nós – a escolhermos seguir a Ele, que conduz à glória, e não vivermos com base no egoísmo. É uma escolha entre a vida e a morte! E o Senhor queria e quer que os seus seguidores tomem a decisão correta. Noutras palavras: Não busquem possuir o mundo inteiro. Isso envolverá a perda da sua alma. Não corra atrás do que não terá proveitos duradouros. Siga a Cristo, negando-se, tomando sua cruz e seguindo a Ele. Pois os que fazem isso serão recompensados.

Para incentivar essa escolha, Ele nos diz: “Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as suas obras” (v.27). Que incentivo o Senhor deu aos seus discípulos! Ele, que já foi reconhecido por eles como o Messias, afirma que, embora esteja falando de sofrimento e morte, esse não é o fim. Ele já disse que ressuscitaria (v.21), mas, agora, fala com muito mais clareza. Como Filho do Homem, Ele receberia a recompensa do Pai. Ele, que pelo sofrimento alcançaria a glória, granjearia a salvação do Seu povo. O Pai lhe comunicará a sua própria glória e lhe dará os seus próprios anjos para que sejam os seus acompanhantes naquele dia. E, naquele dia, Ele receberá a glória de ser o juiz de todos. Ele retribuirá a cada um seguindo as suas obras, segundo os seus feitos, segundo a escolha que fez: de segui-lo, por um contínuo morrer de si mesmo, negando-se e tomando sua cruz diariamente, ou de rejeitá-lo, para seguir uma vida em função do “EU”.

Irmãos, a entrada ou a exclusão no novo céu e na nova terra dependerá dessa escolha! Sabemos que existe uma eleição que foi feita na eternidade; sabemos que existe um decreto eterno imutável. E, por isso, podemos ter segurança, pois sabemos que não depende de nós. Nossa salvação dependerá de estarmos ou não vestidos com a justiça do nosso Senhor Jesus Cristo, pois, fora d’Ele, dessa justiça que encontramos somente n’Ele, não há salvação (At 4.12; Jo 3.16). Isso é algo que recebemos totalmente pela graça, mediante a fé nEle (Ef 2.8). Mas, por outro lado, existe a nossa responsabilidade diante do chamado do evangelho. E a nossa responsabilidade é apontada aqui por meio desta escolha. Por isso, não temos como não colocar essas opções diante dos irmãos: A cruz e o eu. Qual desses você escolherá?

CONCLUSÃO

O caminho para a glória é o caminho da cruz. Não há outro meio de chegar lá. Assim, o nosso Senhor quer que façamos a escolha correta. Ele nos incentiva e motiva a isso por nos assegurar que um dia Ele irá voltar. E, quando Ele voltar, recompensará a todos nós que, em Seu amor e misericórdia, fomos trazidos a Ele e vivemos por meio de uma vida de negação do “EU” e de renuncia do pecado e de nós mesmos. Vivendo assim, meus irmãos, estaremos atendendo ao chamado do nosso Senhor. Perderemos hoje para ganharmos amanhã. Preferiremos padecer com Ele, trazendo suas marcas em nossas vidas, morrendo com Ele, pois, dessa forma, chegaremos à glória. Esse é o caminho que o nosso Deus nos chama a seguir. Em breve, contemplaremos as mansões celestes e, com o nosso Senhor, celebraremos a vitória. Naquele dia, cada um receberá segundo as suas obras. Então, nós receberemos muito, pois nossas obras são as obras perfeitas do nosso Senhor, obras que ele imputa a todos que seguem a Ele, como Ele nos chama hoje a fazer.

Amém!

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Elton Silva

Bacharel em Divindade (B. Div.) pelo Instituto João Calvino – IJC. Atualmente serve como Ministro da Palavra e dos Sacramentos na Igreja Reformada em Esperança-PB.

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.