Mateus 13:44-46

Leitura: Mateus 13:01-52
Texto: Mateus 13:44-46

Amados irmãos no Senhor Jesus Cristo

Grande parte do ensino de Jesus foi transmitida por meio de parábolas. Dos quatro evangelistas, Mateus foi o que mais registrou parábolas em seu evangelho. Somente no capítulo 13 foram registradas sete parábolas ensinadas por Jesus.

As parábolas ensinadas por Jesus, de um modo geral, eram histórias nas quais ele fazia uso de coisas reais e conhecidas por seus ouvintes com o propósito de ensinar-lhes uma lição principal, especialmente a seus discípulos. Observe que no contexto de Mateus 13, o propósito de Jesus, ao ensinar por parábolas é duplo: 1) ocultar as verdades do reino aos de coração endurecido que não o reconheceram como o Messias e 2) revelar os mistérios do seu reino aos que nele creram (Mt. 13.11-16). Os discípulos do Senhor foram privilegiados, pois receberam dele a explicação e o entendimento das parábolas (36,51).

As parábolas ensinadas por Jesus, em especial as de Mateus 13, expressam verdades acerca do reino dos céus. O Senhor introduziu suas parábolas com a seguinte expressão: “O reino dos céus é semelhante a…”. Na pessoa e obra de Jesus o reino dos céus se manifestou entre os homens. Muito do seu tempo foi gasto na pregação do evangelho do reino, na qual estavam incluídas as parábolas do reino. Cada parábola apresenta um aspecto desse reino. Por exemplo, algumas vezes Jesus fala do reino como uma realidade presente (ex: parábola do grão de mostarda – crescimento do reino na terra, 31,32) e outras como uma realidade futura (a parábola da rede – juízo final, 47-50). Algumas parábolas apontam para a pessoa e a obra do rei Jesus (parábola dos lavradores maus – oposição a Jesus e sua morte); outras expressam a atitude cristã dos súditos do seu reino (bom samaritano – ser misericordioso, Lc.10.30-37; as parábolas do tesouro e da pérola – Mt.13.44-46).

Neste sermão vamos atentar especialmente para as parábolas do tesouro escondido e da pérola e descobrir o que Jesus requer de nós como súditos do seu reino. Vamos tratar das duas num só sermão porque ambas estão relacionadas entre si e ao mesmo tempo expressam a mesma verdade acerca do reino dos céus. Além disso, ambas as parábolas apresentam algumas características próprias: 1- são duas parábolas curtas não seguidas de uma explicação explícita, ao contrário das parábolas do semeador e do joio. 2- ambas as parábolas foram dirigidas especialmente aos discípulos de Jesus e eles entenderam o que o Senhor lhes ensinou nelas. Portanto, essas parábolas são dirigidas por Jesus à sua igreja a fim de revelar-lhe uma verdade importante acerca do reino dos céus.

Atentemos para as parábolas do tesouro escondido e da pérola. O Senhor Jesus nos diz o seguinte: “O reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo homem tendo-o achado, escondeu”. E, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo. O reino dos céus é também semelhante a um que negocia e procura boas pérolas; e, tendo achado uma pérola de grande valor, vende tudo o que possui e a compra (Mt. 13.44-46). Vejamos primeiramente a explicação dessas parábolas dentro do contexto da época. Depois vamos atentar para a aplicação do ensino de Cristo contido nessas parábolas para nossas vidas como seus discípulos e cidadãos do seu reino.

A explicação das parábolas do tesouro escondido e da pérola

Na parábola do tesouro escondido Jesus conta a história de certo homem que encontrou um tesouro escondido num campo. O Senhor não diz quem foi o homem (empregado, arrendatário) que encontrou o tesouro nem tampouco como ele o encontrou, se arando, cavando ou plantando no campo, não sabemos. Também não sabemos qual foi o tesouro encontrado. O que sabemos apenas é que certo homem encontrou um tesouro que estava escondido num campo. Tal fato não era algo anormal e fora da realidade. Era uma coisa comum tanto na época do AT (Pv. 2.4; Jr.41.8) quanto do NT esconder tesouros debaixo da terra por causa das guerras e revoluções tão freqüentes na época. Era mais seguro guardar um tesouro escondido no campo do que deixá-lo em casa, pois este, estando em casa, poderia ser roubado por ladrões ou levado pelos invasores como despojo. Acontecia, porém que, na maioria das vezes, o proprietário do tesouro morria sem revelar a ninguém onde tinha escondido o tesouro. Assim, o tesouro escondido no campo poderia ou não ser encontrado por alguém. O Senhor fala de algo conhecido por seus ouvintes. Ele não está usando uma figura irreal e fantasiosa ao falar do tesouro escondido. Mas ele está falando de algo real e conhecido e também possível de acontecer.

Na verdade, ao longo da história, vários tesouros escondidos têm sido encontrados. Podemos citar alguns exemplos: Certo fazendeiro inglês, por volta do século XIX encontrou, ao arar o seu campo, um cofre contendo belos pratos de prata do tempo dos romanos; e até aqui em Maragogi, no início do ano de 2004, foram encontradas muitas moedas de prata de grande valor na escavação das ruas para a obra de saneamento da cidade.

O homem que encontrou o tesouro no campo não estava à caça de tesouros escondidos. Ele o encontrou ao acaso. E qual foi a sua reação ao achar o tesouro escondido? A primeira coisa que ele fez foi esconder o tesouro de volta. E depois, tomado por grande alegria por ter encontrado o tesouro, ele volta para sua casa, vende todos os seus bens e compra aquele campo no qual o tesouro estava escondido. Agora o campo era seu junto com o tesouro nele escondido.

Agora atentemos para a parábola da pérola de grande valor. O Senhor Jesus desta vez conta a história de um negociante de pérolas que estava à procura das melhores. Pérolas tinham um grande valor no primeiro século da era cristã assim como tem o diamante em nossos dias. Elas serviam como símbolo de status e posição entre os ricos. Apenas os ricos as possuíam. A própria Bíblia no NT fala das pérolas como objeto de grande valor naquela época (Mt. 7.6; I Tm. 2.9; Ap.18, 11,12). Por serem valiosas, as pérolas eram muito procuradas por seus negociantes. Estes faziam longas viagens em busca das melhores e mais valiosas pérolas. O homem da parábola é um negociante que está em busca das melhores pérolas. Jesus não diz para onde ele foi, mas tão somente diz que ele encontrou em sua busca a pérola que tanto procurava, a pérola de grande valor. Uma oportunidade única na sua vida. Ele não sossegou enquanto não a obteve. O que então ele fez para adquiri-la? Jesus diz que aquele negociante, “tendo achado uma pérola de grande valor, vendeu tudo o que possuía, e a comprou”. A pérola que tanto procurava agora era sua.

Comparando ambas as parábolas, observamos um ponto de semelhança entre elas. Esse ponto de semelhança está na atitude dos dois homens depois de terem encontrado o tesouro e a pérola: Ambos reconheceram o imenso valor do que tinham encontrado e com alegria não hesitaram em vender tudo que tinham para obterem o que tinham encontrado. Observando esse detalhe da parábola de que os dois homens se desfizeram de seus bens para possuírem o tesouro que encontraram podemos nos perguntar: “Eles fizeram a coisa certa? Ou foi uma loucura o que eles fizeram?” Certamente que seus parentes e conhecidos desaprovaram a atitude deles por não saberem o que eles estavam fazendo. Mas ambos os homens sabiam muito bem o que estavam fazendo e eles fizeram a coisa certa. Eles descobriram que aquilo que encontraram era muito mais valioso do que tudo quanto poderiam ter. Por essa razão, eles não pensaram duas vezes, mas com o coração resoluto e alegre e sem nenhum sentimento de perda desfizeram-se de tudo quanto possuíam para obterem o tesouro e a pérola que encontraram. Este é o ponto central da parábola através do qual Jesus quer nos ensinar uma verdade acerca do seu reino.

A aplicação do ensino da parábola do tesouro e da pérola

Qual é a mensagem que Jesus quer aplicar no nosso coração com o ensino das parábolas do tesouro escondido e da pérola? Que tipo de atitude ele exige de nós como súditos do seu reino? Antes de atentar para a verdade central que Jesus quer aplicar no nosso coração com estas parábolas, vejamos primeiramente o que Jesus não está nos ensinando nelas:

Jesus não está ensinando que o crente deve comprar a sua salvação assim como os dois homens compraram o tesouro e a pérola. Alguns pensam assim ao interpretarem estas parábolas. Mas não devemos chegar a essa conclusão, pois a Bíblia, que não se contradiz em lugar nenhum, nos ensina em vários textos que nossa salvação é uma dádiva graciosa de Deus (Ef. 2.8-10; 2Tm. 1.9). O preço da nossa salvação foi o sangue de Cristo e não algo que podemos fazer para obtê-la. Não podemos comprar o reino de Deus. Pelo contrário, Deus é quem nos faz herdeiros e súditos do seu reino por pura graça mediante a fé em Cristo.

Jesus também não está ensinando que o crente deve fazer um voto de pobreza ao vender tudo quanto tem para se tornar participante do reino de Deus. Alguns pegam o detalhe da parábola de que os dois homens se desfizeram de tudo que tinham para obterem o que tinham encontrado e afirmam isso. Mas não é isso que Jesus está ensinando. Não é assim que você agora, por ser um crente, vai vender sua casa, seu carro e todos seus bens para seguir Cristo. Sempre existiu e existirão cristãos fiéis que são ricos no sentido material. Isso é dom de Deus. Ser cristão não é sinônimo de ser pobre no sentido material. Portanto, Jesus não está nos ensinando a se tornar pobres nestas parábolas.

Qual é então a atitude correta que Jesus requer dos seus discípulos nas parábolas do tesouro escondido e da pérola? A verdade central da parábola que Jesus quer colocar no nosso coração é a seguinte: O reino dos céus com tudo o que ele é e possui é um tesouro tão valioso que o crente que o encontra reconhece seu imenso valor e, motivado por grande alegria, dispõe-se de todo o coração a entregar tudo quanto possa interferir na obtenção desse reino tão valioso. Em outras palavras: aqueles que percebem o imenso valor do reino de Deus que foi revelado em Cristo sacrificarão qualquer coisa para desfrutar das riquezas desse reino.

O crente que encontrou o Rei Jesus Cristo e todas as bênçãos do seu reino (o perdão dos pecados, nova vida no Espírito, governo e cuidado de Cristo sobre sua igreja, vida eterna), consciente de todos estes benefícios, abandonará alegremente o seu velho estilo de vida para então viver em total gratidão e louvor ao seu Rei e Salvador Jesus Cristo que, por pura graça, o faz desfrutar das riquezas do seu reino. Por causa de sua grande alegria por ter encontrado o Salvador de sua vida e se tornar um herdeiro do seu reino eterno, o crente não desejará outra coisa senão viver para o seu Senhor. E ele fará isso sem nenhum constrangimento, mas com toda alegria, pois ele agora sabe que, pela graça de Deus, foi transportado do império das trevas (uma vida de miséria e pecado) para o reino de luz do Filho Amado de Deus (perdão e salvação).

Podemos ilustrar a verdade dessas parábolas com o exemplo de dois homens de Deus que alegremente abandonaram o mundo para seguir Cristo. Estes homens foram Paulo e Moizés. Cristo encontrou Paulo na estrada de Damasco e mudou completamente a sua vida. Paulo, que antes era um autêntico fariseu que buscava sua salvação pelas obras da lei, conheceu Cristo e sua salvação graciosa e abandonou sua falsa religião (ver Fp. 3.7-10). Em Hebreus 11.24-27 lemos que Moizés, pela fé, abandonou as riquezas e os prazeres do Egito por amor a Cristo. Paulo e Moizés encontraram o tesouro escondido e a pérola de grande valor. Eles encontraram Cristo e as riquezas do seu reino e entenderam que isso valia muito mais do que qualquer riqueza ou honra que poderiam obter neste mundo. Eles se alegraram com as riquezas de Cristo que agora eram também suas e, portanto, dedicaram suas vidas ao seu Rei e Salvador Jesus Cristo.

Deus nos fez encontrar o tesouro do seu reino. Ele nos revelou Cristo e sua obra de salvação em nosso favor. Seu reino se manifestou a nós. Ele nos fez compreender que o seu reino com todas as suas riquezas valem muito mais do que o ouro e a prata ou qualquer riqueza perecível que o mundo pode nos oferecer. Por seu Espírito, Deus também nos motiva a tomar a atitude alegre de abandonar qualquer coisa que possa nos impedir de desfrutar das riquezas do seu reino. Qual tem sido a nossa atitude como súditos do reino de Deus? Será que nós temos percebido o imenso valor do reino de Deus? Cristo é o nosso maior tesouro? Ocupa ele o primeiro lugar em nossa vida? Seus mandamentos e promessas valem mais para nós do que qualquer coisa que este mundo pode nos oferecer? Ou será que nos apegamos tanto às coisas terrenas que nos esquecemos de colocar o reino de Deus em primeiro lugar na nossa vida?

Irmãos, Cristo nos chama a tomar uma atitude firme e decisiva de segui-lo. Ele quer o nosso coração. Ele quer que sejamos discípulos alegres e gratos pelos benefícios do seu reino que ele nos deu de graça. Ele quer que abandonemos qualquer coisa que nos impeça de desfrutar das suas bênçãos. Cristo exige de nós o alegre abandono de todas as coisas que nos atrapalha de desfrutar das riquezas do seu reino e nos impede de servir a ele de todo o nosso coração. Pode ser que queremos seguir a Cristo e ao mesmo tempo viver em nossos pecados. Tal atitude é inaceitável a Cristo. Ele disse que é impossível servir a dois senhores e que devemos amar a Deus de todo o nosso coração. Pode ser que desejemos tanto as riquezas materiais que nos esquecemos do imenso valor das riquezas do reino que Cristo nos dá (perdão, vida eterna). Mas Jesus nos diz: (ler Mateus 6.19-21; tb.Cl.3.1-4). Pode ser que ficamos tão preocupados em cuidar da nossa vida e dos nossos interesses aqui na terra que deixamos de obedecer e confiar em Deus. Mas Jesus nos diz: “Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt. 6.33).

Aqueles que se agarram aos tesouros terrestres e aos prazeres mundanos a ponto de desprezarem Cristo, acabam perdendo as riquezas do reino. Isso é uma atitude insensata. Pois Cristo falou: “Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á… Pois que aproveitará o homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma”? Por outro lado, ele também afirmou: “… e quem perder a vida por minha causa, achá-la-á” (Mt. 16.25,26). Quer dizer, aquele que reconhece o imenso valor do reino de Deus e alegremente abandona o mundo para seguir Cristo faz a coisa certa, age com sabedoria. Pois não é tolo “aquele que se desfaz do que não pode ter para ganhar o que não pode perder”. O crente sábio e feliz que encontrou Cristo e reconheceu o imenso valor de suas riquezas, seguirá alegremente o seu Salvador e não perderá as bênçãos do reino de Deus, mas desfrutará delas agora e eternamente.

Amém.

Voltar ao topo

Elissandro Rabêlo

Bacharel em Teologia pelo CETIRB – Centro de Estudos de Teologia das Igrejas Reformadas do Brasil (Atual Instituto João Calvino) (1999-2004). Fez Convalidação de Teologia na Universidade Mackenzie em São Paulo (2017). Ministro da Palavra e dos Sacramentos da Igreja Reformada do Grande Recife (PE), servindo como Missionário da Igreja Reformada em Fortaleza (CE).

© Toda a Escritura. Website: todaescritura.org.Todos os direitos reservados.

Este curso é gratuito. Por isso, apreciamos saber quantas pessoas estão acessando cada conteúdo e se o conteúdo serviu para sua edificação. Por favor, vá até o final dessa página e deixe o seu comentário.

* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.