Mateus 05:09

Leitura: Romanos 05:01,02, 08-11; 12:06-18; 08:14-17
Texto: Mateus 05:09

“Felizes os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus” (Mt 5.9)

Amados irmãos no Senhor Jesus Cristo,

No meio de tantas guerras e do aumento da violência urbana, a humanidade tem buscado desesperadamente pela paz. Especialmente em nosso país, há um clamor intenso por paz em meio a tanta violência. Passeatas em favor da paz são realizadas, campanhas pelo desarmamento, atores famosos aparecem na televisão pedindo paz, e muitas outras realizações humanas são feitas neste sentido. Mas será que essas coisas podem solucionar de uma vez por todas o problema da violência entre os homens e trazer a paz que o homem tanto busca e precisa? Que paz o mundo tem buscado? Onde podemos encontrar a verdadeira paz?

A palavra de Deus fala muito sobre a paz. Há pelo menos 430 referências à paz em toda a Bíblia. Deus é um Deus de paz e, portanto, seu livro fala muito de paz. A paz, da qual a Bíblia fala, ocorre em pelo menos três sentidos: 1- Paz no sentido de reconciliação do pecador com Deus através de Jesus Cristo (Rm. 5.1; 2Co 5.21). 2- Paz no sentido de ordem e harmonia nos relacionamentos entre as pessoas (Mc 9.50). 3- Paz no sentido de segurança e confiança em Deus (Jo 14.27; 16.33). Essa paz bíblica que vem de Deus é totalmente diferente da paz do mundo. O mundo busca uma paz que se limita apenas à ausência de guerras e conflitos. Porém, a paz de Deus é mais que isso. É uma paz completa que expressa um relacionamento restaurado entre o homem e Deus e, consequentemente, entre os homens. Essa é a verdadeira paz que Deus oferece ao pecador na Sua Palavra.

Nosso texto é um dos muitos que falam sobre a paz. Jesus disse: “Felizes os pacificadores, pois somente eles serão chamados filhos de Deus” (Mt 5.9). Estas palavras constituem a sétima bem-aventurança na qual Jesus afirma que uma das qualidades espirituais dos seus discípulos é que eles são pacificadores. Também Jesus afirma que seus discípulos, por serem pacificadores, são bem-aventurados, pois somente eles serão chamados filhos de Deus. É necessário aprendermos o que Jesus quer nos ensinar nesta sétima bem aventurança. Por isso precisamos saber de duas coisas:

  1. O Significado de ser pacificador
  2. A Benção de ser chamado filho de Deus
  3. O significado de ser pacificador

O que significa ser pacificador conforme o ensino de Cristo na sétima bem aventurança? Primeiro vejamos o que não significa: Ser pacificador não é o mesmo que ser pacifista. Os pacifistas são aqueles que pertencem a qualquer movimento humanista que promove o pacifismo. Eles procuram solucionar o problema das guerras e conflitos existentes entre os homens e as nações e fazem muitas campanhas pela paz nesse sentido. Mas será que eles vão solucionar o problema? Não. Por que não? Porque os pacifistas procuram o caminho para a paz no próprio homem. Eles acham que os homens têm condições próprias de viver pacificamente entre si, basta quererem. Sabemos que isso é impossível, pois, a cada dia vemos o aumento da violência no mundo inteiro. Qual a razão disso? O homem é pecador. Por natureza, ele é inimigo tanto de Deus quanto dos outros homens. Ele perdeu a paz com Deus e, por consequência, perdeu também o convívio pacífico com os homens. Por natureza, eles têm os pés velozes para derramar sangue e desconhecem o caminho da paz (Rm 3.15,17). Por essa razão, o homem só pode encontrar a verdadeira paz em Deus e não em si mesmo, como pensam os pacifistas.

Ser pacificador conforme o ensino de Jesus não significa promover uma paz barata. Essa paz barata é daquele tipo que não está ligada à retidão moral (não leva em conta os mandamentos de Deus) e que também não visa a glória de Deus (paz motivada por interesses próprios). Pense por exemplo, na geração hippie dos anos 70. Muitos gritavam “paz e amor” e, ao mesmo tempo, estavam mergulhados nas drogas e na prostituição. A paz e o amor que eles queriam era tão somente a liberdade para viver na prática de toda imoralidade. A mesma coisa vemos hoje. Muitos que apóiam o homossexualismo, o aborto, o divórcio e outras práticas pecaminosas, saem pelas ruas pedindo paz. Porém, não é a esse tipo de pacificador que Jesus se refere na sétima bem-aventurança. Pelo contrário, na concepção de Jesus, os pacificadores são aqueles que também têm fome e sede de justiça e pureza de coração. São aqueles que promovem a paz levando em conta os mandamentos de Deus. A busca pela paz e pela santificação caminham de mãos dadas na vida do cidadão do reino dos céus (Hb12.14).

Agora vejamos quem são os pacificadores a quem Jesus se refere na sétima bem-aventurança: Os pacificadores são aqueles que já foram reconciliados com Deus por meio de Cristo. Em virtude da desobediência de Adão, perdemos a paz que existia entre o homem e Deus antes da queda. O pecado separou o homem de Deus e fez com que nos tornássemos inimigos de Deus. Todo ser humano é por natureza filho da ira e da desobediência. Ele precisa restabelecer a paz entre si mesmo e Deus. Porém, é justamente isso o que ele não pode fazer. Mas o que o homem não pode fazer, Deus pode e ele o fez. O Senhor Deus foi ao encontro do homem e lhe abriu um único caminho para a reconciliação entre ele e Deus. Este caminho é o Mediador Jesus Cristo. Cristo, sendo o segundo Adão, ao contrário do primeiro, cumpriu perfeitamente a vontade do Pai e foi obediente até a morte. Em sua morte, ele tomou sobre si o nosso castigo para que fôssemos reconciliados com Deus. Paulo fala sobre isso em (Rm 5.1,2 10,11; tb. 2Co 5.21). Cristo fez a paz entre nós e Deus (Ef 2.13-18; Cl. 1.20). Não foi uma paz barata, mas uma paz que custou um preço muito alto: o sangue do Filho de Deus. Jesus teve de sofrer a ira de Deus na cruz para que pudéssemos ter paz com Deus. O castigo que hoje nos traz a paz estava sobre ele naquela cruz (Is 53.5). Deus se mostrou misericordioso e justo na morte de Cristo. Na cruz, a justiça e a paz se encontraram (Sl 85.10) e a conseqüência disso é que nós fomos reconciliados com Deus. Os pacificadores a quem Jesus se refere são os cidadãos do reino dos céus que, pela graça de Deus em Cristo, já desfrutam da paz com Deus.

O Senhor Deus nos reconciliou consigo mesmo em Cristo não somente para que fôssemos salvos da condenação eterna, mas também para que andássemos em novidade de vida diante dele e dos homens em nossa jornada aqui na terra. Por isso ele também nos deu o Seu Espírito Santo que nos regenerou e habita em nós a fim de nos capacitar a fazer a vontade de Deus. O Espírito Santo é quem nos ajuda a viver na prática das qualidades espirituais apresentadas por Cristo nas bem-aventuranças. Ele nos torna humildes, mansos, justos, misericordiosos, puros e também pacificadores.

Os pacificadores, uma vez reconciliados com Deus e capacitados pelo Espírito Santo, são aqueles que promovem a paz entre os homens visando a glória de Deus e o bem estar do próximo. Toda a vida do crente é direcionada a um único propósito: a glória de Deus. Se eles promovem a paz é para que Deus seja glorificado e não em busca de motivos egoístas. E, neste propósito de glorificar a Deus, eles promovem a paz visando o bem estar do próximo. A palavra que Jesus usou e que em nossa Bíblia foi traduzida pelo termo “pacificadores” literalmente significa “fazedores da paz”. Estes fazedores da paz são os crentes que, estando em paz com Deus e guiados pelo Espírito, se esforçam para promover a paz entre os homens.

Não somente na sétima bem-aventurança, mas em vários outros lugares, a Palavra de Deus nos chama a praticar a vida cristã agindo como pacificadores. Em outra ocasião, Jesus disse aos seus discípulos: “Tende paz uns com os outros” (Mc. 9.50). Os apóstolos, repetindo o ensino do Mestre, também convocaram todos os crentes a viverem em paz uns com os outros e com todos os homens. Paulo o fez em Rm. 12.8; 2Co13.11; 1Ts 5.13; Pedro: 1Pe.3.11 e o escritor aos hebreus fez a seguinte afirmação: “Segui a paz com todos…” (Hb12.14). Literalmente, ele está dizendo: “Persigam a paz, cacem-na, esforcem-se por viver em paz com todos”. Por que tantas exortações bíblicas para os crentes viverem em paz com todos os homens? O senhor nos dá estas muitas exortações porque ele conhece a fraqueza da nossa natureza terrena que facilmente se ira e provoca contendas e intrigas entre os homens. Ele não quer isso na vida dos seus discípulos. Ele quer que sejamos pacificadores.

O Senhor requer que façamos a paz em nosso relacionamento com os irmãos na igreja, no ambiente familiar e na sociedade em que vivemos. Como podemos promover a paz na igreja? A promoção da paz na igreja é responsabilidade de cada cristão. Cada crente é chamado a ser um pacificador. Isso significa que cada um deve se esforçar para evitar contendas, brigas e divisões e, ao mesmo tempo, promover a união, a ordem e a harmonia dentro da igreja. É isso que Deus requer de nós: “se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens”. (Rm 12.17,18).

Por que devemos nos esforçar para promover a paz na igreja? Por que a paz da igreja pode ser ameaçada. Isso acontece quando deixamos que sentimentos pecaminosos tais como o orgulho, o egoísmo, a inveja e o ódio fluam de nossos corações e atinjam outros irmãos. O exemplo negativo da falta de paz na igreja de Corinto é uma advertência para nós. Por causa de inveja e orgulho, houve brigas e divisões naquela igreja. Por isso Paulo, tendo ouvido de que havia contendas naquela igreja, teve de escrever àqueles irmãos: “Rogo-vos, irmãos, pelo nome do Nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa e que não haja divisões entre vós; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer” (1Co 1.10). Mais adiante, Paulo escreveu a base dessa exortação: “porque Deus não é de confusão e sim de paz” (1Co 14.33). O Deus da paz requer paz no meio o seu povo. Que haja paz em nossa congregação, pois somente assim podemos edificar uns aos outros, testemunhar de Cristo ao mundo e juntos glorificar o Nosso Deus.

Além da igreja, a família é também um ambiente propício para a promoção da paz. Quando falamos em paz e família, a realidade que temos visto hoje é que há uma grande distância entre ambos. São muitas as famílias sem paz. Há brigas entre os casais, entre pais e filhos, entre irmãos. Isso é muito comum em lares descrentes e também muito triste. Pior ainda quando isso acontece num lar cristão. Por exemplo, pode ser que o casal vá regularmente à igreja e sejam até membros, mas em casa há discórdias e discussões. Pode ser que os filhos venham à igreja e até fiquem quietos, mas em casa não param de brigar. Irmãos! Tais atitudes não convêm aos santos. Deus quer que haja paz em nossos lares também. Portanto, sempre que depender de nós, devemos cultivar a paz com nosso cônjuge, com nossos filhos e com nossos irmãos.

Irmãos, a vida cristã é para ser vivida em todas as esferas do nosso relacionamento social. Por isso, além da igreja e da família, devemos promover a paz no meio da sociedade em que vivemos. Como podemos fazer isso? Não como os pacifistas que buscam a paz no próprio homem, mas como pacificadores que veem em Deus o único caminho para a verdadeira paz. Os pacificadores são os agentes da paz de Deus no mundo. Por meio do seu exemplo e também por suas palavras, ele anuncia o evangelho da paz ao mundo. Devemos aproveitar as oportunidades, especialmente nessa época em que há uma busca intensa por paz, para apontar ao pecador o único caminho da paz que é Jesus Cristo. Sejamos embaixadores fiéis da mensagem da reconciliação, vivendo em paz e proclamando a paz. Esse é o nosso dever e vamos fazê-lo com alegria e paixão, pois sabemos que o homem só pode ter paz consigo mesmo e com os outros homens, se antes for reconciliado com Deus e regenerado pelo Espírito Santo.

  1. A Benção de Ser Chamado Filho de Deus

Os pacificadores são verdadeiramente felizes, porque somente eles serão chamados filhos de Deus. Essa é mais uma promessa maravilhosa que Cristo concede aos súditos do seu reino. O que significa ser chamado filho de Deus? Para entender isso, precisamos atentar para a palavra que Jesus usou no nosso texto e que foi traduzida pelo termo “filhos”. Em todo o Novo Testamento existem duas palavras que são usadas para expressar o nosso relacionamento como filhos de Deus. Uma tem o sentido carinhoso de filiação (Jo 1.12; Ef 5.8), e a outra tem o sentido de dignidade e honra (Mt 5.9). Jesus enfatiza este segundo sentido aqui no nosso texto.

Nossa bem-aventurança em sermos chamados filhos de Deus significa que fomos chamados para pertencer à família de Deus. Por causa de sua paz em Cristo, Deus fez de nós, que éramos inimigos de Deus e filhos da desobediência, seus filhos amados. Ele nos adotou como seus filhos amados mediante a reconciliação do seu único filho. Ele nos colocou numa posição de honra e dignidade sem merecermos. Não por mérito nosso, mas por causa do seu grande amor, Deus nos tornou seus filhos (1Jo 3.9,10). É de fato uma grande benção ser filho de Deus. Pois na posição de seus filhos, somos também herdeiros de suas bênçãos, tanto agora como eternamente. Paulo expressa essa verdade em Romanos 8.17, quando diz: “Ora, se somos filhos, somos também herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados”. Como seus filhos não significa dizer que estamos livres de sofrimento nesta vida. Paulo diz que sofremos sendo filhos de Deus. Cristo garante que podemos até ser perseguidos por promover a paz de Deus no mundo. No entanto, na posição de filhos de Deus, temos a certeza de duas coisas: 1) Que o nosso Pai celestial, por sua bondade e poder, manifesta seu cuidado paternal para conosco durante toda nossa vida aqui na terra; 2) Que o nosso Pai celestial nos garante a herança da glória eterna. Isso é de fato uma grande felicidade para aqueles que são filhos de Deus.

Além dos privilégios que temos como filhos de Deus, temos também a responsabilidade de imitar o nosso Pai e cooperar com ele na promoção da paz entre os homens. Nosso Deus é um Deus de paz e fez a paz conosco por meio de Cristo. Como seus filhos, precisamos refletir em nosso caráter e conduta as mesmas virtudes do nosso Pai, tais como a misericórdia e a paz. Deus usa seus filhos para promover a paz entre os homens a fim de que outros também se tornem seus filhos. A verdade é que nem todos desfrutam da felicidade de serem filhos de Deus. Aqueles que não têm Cristo, que não nasceram de novo e que, portanto, vivem na prática constante do pecado, não participam da grande benção de ser chamado filho de Deus (1Jo 3.10). Estes necessitam primeiramente ser reconciliados com Deus por meio de Cristo, nascer de novo pelo Espírito, para então se tornarem filhos amados de Deus. É Deus quem realiza esta obra. E ele faz isso usando seus filhos como instrumentos da comunicação de sua paz. A igreja é a agência da paz de Deus no mundo. Ela recebeu de Deus o ministério da reconciliação, o evangelho da paz e deve proclamá-lo ao mundo pela pregação viva e fiel da palavra e pelo testemunho cristão de cada membro. Cada filho de Deus é um pacificador. “Bem aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus”. Portanto, irmãos, que sejamos fiéis a nossa vocação cristã de sermos pacificadores, e também alegremos os nossos corações com a grande benção de sermos chamados filhos de Deus e pertencermos a ele agora e eternamente.

Amém.

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Elissandro Rabêlo

Bacharel em Teologia pelo CETIRB – Centro de Estudos de Teologia das Igrejas Reformadas do Brasil (Atual Instituto João Calvino) (1999-2004). Fez Convalidação de Teologia na Universidade Mackenzie em São Paulo (2017). Ministro da Palavra e dos Sacramentos da Igreja Reformada do Grande Recife (PE), servindo como Missionário da Igreja Reformada em Fortaleza (CE).

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.