Marcos 07.33-35

Leitura: Isaías 35.01-10; Marcos 07.24-37
Texto: Marcos 07.33-35

Amada Congregação de Nosso Senhor Jesus Cristo:

Até agora neste culto, já cantamos vários salmos. É o que fazemos, toda semana. Você pode pensar nisso simplesmente como parte de nossa rotina regular. Mas considere o seguinte: se você cantou aquelas palavras como suas próprias palavras, se louvou a Deus de coração, se entendeu o quão importante era encorajar seus irmãos com a Palavra de Deus, isso é evidência de que algo surpreendente aconteceu com você, dentro de você. Um verdadeiro milagre ocorreu. Sua boca foi aberta para cantar louvores ao Deus Criador, e é isso que estamos fazendo.

E também neste culto, lemos várias passagens das Escrituras – uma leitura dos profetas, e uma passagem do evangelho de Marco, o texto do sermão. Mais uma vez, não estou surpreendendo você com essa revelação e, mais uma vez, tudo isso é bastante normal para nós. É isso que fazemos semana após semana, e o que fazemos não muda muito.

Mas, novamente, se você ouviu essas palavras que lemos, se as leu junto com seus irmãos e o pastor, e se você as entendeu e confiou que essas são as próprias palavras de Deus, isso também é evidência de que um milagre incrível ocorreu em sua vida. Mais uma vez, você recebeu um dom verdadeiramente maravilhoso. Seus ouvidos foram abertos para ouvir a Palavra de Deus – não apenas para ouvi-la, não apenas para que ela entrasse num ouvido e saísse no outro, mas para realmente ouvir.

Estes são os milagres que acontecem quando a Palavra de Deus é proclamada. Este é a obra restauradora do Espírito Santo em ação. Este é o resultado do Deus Criador exercendo seu poder, como fez quando formou Adão do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego da vida, de modo que o homem se tornou uma criatura viva. Esta é a nova criação, a regeneração, o “nascer de novo” que nosso Senhor Jesus falou a Nicodemos em João 3.

E é isso que o texto do nosso sermão tem para nos ensinar. Temos aqui mais uma história de uma cura – uma entre muitas, como já vimos, mas novamente única. Marcos nos fala primeiro sobre Jesus expulsando um demônio da filha da uma mulher siro-fenícia. Lembre-se da semana passada como vimos Jesus proclamando que as boas novas do evangelho não eram destinadas apenas aos judeus, que a separação entre os judeus e os gentios não serviria mais ao propósito que tinha sob a Antiga Aliança. Agora Ele colocou suas palavras em ação, trazendo purificação para alguém que os judeus consideravam um “cachorro.”

Depois disso, uma tentativa de encontrar um momento para descansar que se transformou em outra oportunidade de proclamar a mensagem do Reino, Jesus segue para o sudeste com seus discípulos, de volta à região de Decápolis, no outro lado do Mar da Galiléia. Lembre-se, Jesus já esteve lá antes; Ele já tinha um homem trabalhando em Decápolis – o homem que havia sido possuído por uma legião de demônios, que saiu e proclamou as boas novas em toda a região após sua limpeza. As boas novas tinham sido proclamadas na região povoada por gentios, sobre Jesus e sobre o que Jesus havia feito.

Agora, em vez de pedir que Jesus fosse embora, porque eles tinham medo do que Ele estava fazendo com a sua sociedade, como haviam feito há pouco tempo, um grupo de pessoas que morava em Decápolis trouxe seu amigo a Jesus. O homem era surdo e não conseguia falar. Como os homens que baixaram o amigo pelo telhado da casa em Cafarnaum, essas pessoas tinham fé que Jesus poderia curar o amigo. O próprio homem teria sido impotente para chamar a atenção de Jesus, se ele entendesse completamente quem era Jesus e o que Ele havia se mostrado capaz de fazer. Então eles trazem o homem a Jesus, e imploram a Jesus que apenas coloque a mão sobre ele; eles sabem que mesmo um simples toque da mão de Jesus poderia mudar a vida de seu amigo.

Então Jesus leva o homem de lado. Ele não está fazendo um show aqui. Mais uma vez, Ele está mostrando que não é curador itinerante, mas que Ele tinha uma tarefa a cumprir, um trabalho a realizar, provocando a vinda do reino de Deus. Ele tinha uma mensagem a proclamar e tinha um trabalho a fazer; e o foco principal desse trabalho não era impressionar pessoas com seus incríveis feitos de cura.

Ele estava fazendo e dizendo coisas muito perigosas; Ele estava proclamando uma mensagem que o colocaria no lado errado dos poderes religiosos e políticos. Ainda não havia chegado a hora de Ele ser entregue às autoridades para ser condenado e morto, e por isso Ele ainda não queria atrair o tipo errado de atenção. Esse tempo chegaria e o ministério de Jesus continuaria a progredir por esse caminho até a cruz. Mas Jesus ainda tinha que construir sobre essa mensagem que Ele já havia começado a proclamar, para deixar claro o que havia sido chamado a fazer.

Mas, ao mesmo tempo, a maravilha que Ele realizaria para esse homem era central em sua missão. Talvez a multidão não o visse, porque Ele levou o homem a um lugar privado para fazer isso, mas seus discípulos o viram e registraram para que pudéssemos ter uma perspectiva privilegiada sobre o que Jesus estava fazendo com ele. Pense nisso: essa cura foi feita para que nós pudéssemos ter o poder e a glória de Deus, sua misericórdia e sua graça, revelados a nós. Ele pode não ter desejado que as multidões em Decápolis soubessem disso, mas obviamente Ele queria que nós, aqui hoje, soubéssemos. Mais uma vez, a graça maravilhosa de Deus brilha, mesmo nisso.

Então Jesus tira o homem da multidão. Ele segue uma série de etapas que podem nos parecer um pouco estranhas. Primeiro, Ele coloca os dedos nos ouvidos do homem. E estranhamente, Ele cospe. Então Ele toca a língua do homem. Ele olha para o céu, e respira, e fala ao homem em aramaico, e a palavra aramaica é traduzida para nós. Depois de tudo isso, os ouvidos do homem foram abertos, sua língua foi liberada e ele foi capaz de falar para que as pessoas o entendessem.

O que Jesus estava fazendo aqui? Os amigos do homem simplesmente queriam que Jesus colocasse a mão sobre o amigo, porque sabiam que bastava para ele ser curado – Ele havia provado que nem precisava curar pessoas deliberadamente, quando a mulher com o fluxo de sangue havia sido curada, e Ele havia mostrado que podia curar com apenas uma palavra falada. Mas Jesus passa por todo esse procedimento, com os dedo, o cuspe e o toque da língua, suspirando e olhando para o céu. Que tipo de ritual foi esse?

Mas pense em com quem Jesus estava lidando. O homem era surdo – ele não conseguia ouvir uma palavra que Jesus estava dizendo. Jesus não conseguia se comunicar com o homem usando palavras; Ele não podia pregar o evangelho com sua boca, e o sistema de libras ainda não havia sido inventado. Então, o que vemos aqui não é Jesus fazendo algum tipo de ritual estranho – mais tarde no evangelho de Marcos veremos Jesus fazendo algumas coisas estranhas na cura por diferentes razões, mas não é assim. O que Jesus está fazendo aqui é como uma pantomima; Ele está falando com esse homem com suas ações. Ele está mostrando ao homem com seus movimentos, com suas ações, exatamente o que está fazendo.

Ele coloca os dedos nos ouvidos do homem. Ele está promulgando a remoção de uma obstrução, tirando algo que está bloqueando a capacidade do homem de ouvir. Então Ele cospe – Ele não cospe em suas mãos, ele não cospe no home, ou coloca a saliva na língua do homem ou qualquer coisa assim, Ele simplesmente cospe no chão. É como se Ele estivesse cuspindo algo da boca que estivesse bloqueando a capacidade de falar – Ele está removendo um impedimento. Naquele movimento com os dedos, naquele cuspir, naquele colocar o dedo na língua do home, Jesus está mostrando ao homem que Ele está definindo sua capacidade de falar e ouvir livremente. E o evangelista Marcos nos diz que foi exatamente isso que aconteceu, em versículo 35:

“Abriram-se-lhe os ouvidos, e logo se lhe solou o empecilho da língua, e falava desembaraçadamente.”

O que havia sido bloqueado foi agora aberto; o que havia sido preso havia sido libertado – esse é o tipo de linguagem que Marcos usa para descrever o que aconteceu.

Mais uma vez, as palavras dos profetas estão sendo cumpridas no ministério de Jesus. Desta vez, há uma referência óbvia a Isaías 35.5-6:

“Então, se abrirão os olhos dos cegos, e se desimpedirão os ouvidos dos surdos; os coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará; pois águas arrebentarão no deserto, e ribeiros, no ermo.”

Águas arrebentaram no deserto – o Espírito do Senhor estava sendo derramado numa terra seca e sedenta, através do ministério de Jesus. O profeta Amós havia dito ao povo de Israel o que aconteceria no futuro porque eles não estavam dispostos a se submeter à Palavra de Deus, em Amós 8.11-12:

“Eis que vêm dias, diz o SENHOR Deus, em que enviarei fome sobre a terra, não de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do SENHOR. Andarão de mar a mar e do Norte até ao Oriente; correrão por toda parte, procurando a palavra do SENHOR, e não a acharão.”

Israel havia se tornado um deserto. Antes do ministério de João Batista, o povo de Deus vivia uma fome de séculos de ouvir a Palavra de Deus; Deus simplesmente parou de enviar profetas ao seu povo. Eles não queriam ouvi-lo, então Ele parou de falar. Mas a fome havia sido quebrada, as chuvas haviam chegado na pessoa e no ministério de João Batista. E agora Jesus, aquele que João Batista havia proclamado, estava recuperando o deserto, a terra que havia se tornado um deserto por causa da fome da Palavra de Deus, trazendo-lhe a água vivificante de sua Palavra e Espírito.

A abertura dos ouvidos dos surdos e a libertação da língua muda eram um sinal claro de que foi isso que estava acontecendo. Ele era o Verbo, a Palavra, feita carne. Sua própria presença marcou o fim da grande seca espiritual e o começo de um derramamento de abundância. Essas desvantagens que afligiam esse homem, desvantagens que só existiam por causa da queda no pecado, estavam sendo removidas. Mas ainda mais importante, Jesus estava proclamando uma importante verdade espiritual numa parábola encenada.

Porque, para que possamos ouvir a Palavra de Deus, para realmente ouvi-la, amá-la, precisamos remover o bloqueio de nossa natureza pecaminosa de nossos ouvidos espirituais. Nossa condição natural é querer ouvir nossa própria palavra, não a de Deus. Nosso estado natural é um estado em que deliberadamente paramos nossos próprios ouvidos para evitar ter que ouvir a Palavra de Deus. Por natureza, queremos ouvir coisas que nos fazem felizes, coisas que nos agradam. Queremos ouvir coisas que nos fazem sentir bem sobre nós mesmos, ou coisas que nos fazem esquecer nossos problemas. Mas quando Deus abre nossos ouvidos e nossos corações pelo poder do seu Espírito Santo, temos a vontade de realmente ouvir e a capacidade de realmente ouvir.

E para cantarmos os louvores de Deus, para contarmos as boas novas, para levarmos a mensagem do evangelho à vida de nossos amigos e familiares e de nossos irmãos e irmãs na igreja, precisamos libertar nossas línguas. Em sua carta, o apóstolo Tiago escreveu muito sobre a língua. A língua permanece como um símbolo da fala, das coisas de que falamos e da maneira como falamos. O que é a língua?

“Ora, a língua é fogo; é mundo de iniquidade; a língua está situada entre os membros de nosso corpo, e contamina o corpo inteiro, e não só põe em chamas toda a carreira da existência humana, como também é posta ela mesma em chamas pelo inferno. Pois toda espécie de feras, de aves, de répteis e de seres marinhos se doma e tem sido comada pelo gênero humano; a língua, porém, nenhum dos homens é capaz de domar; é mal incontido, carregado de veneno mortífero” (Tiago 3.6-8).

Como seres humanos caídos, nossa inclinação natural é usar nossas palavras como armas. Fofocamos. Caluniamos. Ferimos os outros com nossas palavras. Dizemos coisas desagradáveis para as pessoas e sobre as pessoas. Amaldiçoamos o Deus que nos criou. Louvamos a nós mesmos, servimos a nós mesmos, tentamos nos edificar, usando esse pequeno membro e, ao fazê-lo, incendiamos todo o curso da vida com uma chama que teve seu início no próprio inferno.

Mas quando Jesus veio, Ele fez correntes de água no deserto. Ele derramou seu Espírito, e quando o Espírito está operando dentro de nós, nossas línguas se tornam instrumentos do bem, e não do mal. Nossas palavras podem edificar em vez de derrubar. Podemos encorajar uns aos outros. Podemos admoestar, retamente, humildemente, em amor. Podemos louvar a Deus. Podemos falar abertamente sobre a graça de Deus, e temos o desejo de fazer isso.

Jesus libertou a língua daquele homem do cativeiro, cuspindo a obstrução, trazendo nova vida a ela, para que ele pudesse falar claramente. Sua língua havia sido escravizada e agora estava livre. E Ele faz a mesma coisa por nós, como o apóstolo Paulo escreveu em Romanos 6.17-18:

“Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues; e, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça.”

Fomos libertados do pecado, incluindo nossas línguas. Em nossos corações cremos, e com nossas línguas podemos confessar nossa fé. Aquele homem de Decápolis experimentou um milagre que mudou a vida, e nunca devemos nos iludir pensando que o milagre que nos mudou é menos impressionante ou surpreendente do que o milagre que aconteceu com ele.

Tudo vem de Deus. Salmo 40 é paralelo a esta história da cura de Jesus de uma maneira notável:

“Esperei confiantemente pelo SENHOR; ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro. Tirou-me de um poço de perdição, de um tremedal de lama; colocou-me os pés sobre uma rocha e me firmou os passos. E me pôs nos lábios um novo cântico, um hino de louvor ao nosso Deus; muitos verão essas coisas, temerão e confiarão no SENHOR. Bem-aventurado o homem que põe no SENHOR a sua confiança e não pende para os arrogantes, nem para os afeiçoados à mentira. São muitas, SENHOR, Deus meu, as maravilhas que tens operado e também os teus desígnios para conosco; ninguém há que se possa igualar contigo. Eu quisera anunciá-los e deles falar, mas são mais do que se pode contar… Proclamei as boas-novas de justiça na grande congregação; jamais cerrei os lábios, tu o sabes, SENHOR” (Salmo 40.1-9).

O que Jesus fez pelo homem surdo e mudo em Decápolis, há 2000 anos, ainda faz hoje. Ele ainda abre os ouvidos. Ele ainda libera as línguas. As pessoas em Decápolis ficaram impressionadas com o que Ele fez por aquele homem, e devemos ficar surpresos com o que Ele faz por nós também. E surgindo disso, devemos falar. Fale das boas novas de libertação na grande congregação. Não restrinja seus lábios. Não esconda a libertação dele dentro do seu coração. Fale de sua fidelidade e sua salvação; não esconda seu grande amor e sua fidelidade da grande congregação. Fomos libertados para fazer exatamente isso, e não é um fardo – é um privilégio precioso.

Jesus abre os olhos dos cegos. Ele abre os ouvidos dos surdos. Ele faz o coxo pular como um cervo. Ele faz a língua do mudo cantar de alegra. O povo de Decápolis reconheceu sua grandeza quando disse essas palavras em resposta ao que havia visto: “Tudo ele tem feito esplendidamente bem.” No entanto, sem querer, eles ecoavam as palavras de Gênesis 1 – quando Deus viu tudo o que havia feito, eis que era muito bom. Ele fez todas as coisas bem em seu trabalho de criação, e agora, em seu trabalho de recriação, Ele ainda estava fazendo todas as coisas bem.

A história da cura do homem em Marcos 7 é a história de um milagre incrível, um exemplo incrível de nosso Senhor Jesus derrotando os efeitos do pecado e a dor e o sofrimento que o pecado traz ao mundo. Mas é muito mais do que isso; é um indicador do maior milagre de todos, o milagre do renascimento, o milagre da recriação, o milagre da nova vida de perfeita liberdade que vem somente dele e através dele. Ele nos deu um ouvido aberto; portanto, nunca devemos negligenciar a Palavra que Ele nos deu para ouvir. Ele abriu nossas bocas e nos deu a capacidade de usar nossas línguas para louvá-lo e falar sobre seu evangelho; simplesmente não podemos ficar calados sobre essa graça maravilhosa, e devemos procurar usar nossas línguas, qualquer que seja a situação, para sua glória.

Esse é o maior milagre. Acredite nele, confie nele e somente nele, e Ele abrirá seus ouvidos; Ele abrirá seu coração. Confie nele, e Ele libertará não apenas sua língua, mas todo o seu ser. Ele fez todas as coisas bem; Ele continua a fazer todas as coisas bem; e podemos esperar que Ele complete a boa obra que Ele iniciou em nós. Podemos tropeçar com a boca agora; podemos lutar para ouvir agora; mas sabemos o que nos espera no futuro – a eternidade de louvor perfeito, perfeita comunhão com Deus e uns com os outros, línguas não manchadas pelo pecado:

“Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1 Coríntios 2.9).

Amém.

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Jim Witteveen

Pr. Jim Witteveen é ministro da Palavra servindo como missionário da Igreja Reformada em Aldergrove (Canadá) em cooperação com as Igrejas Reformadas do Brasil. Atualmente é diretor e professor no Instituto João Calvino.

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.