Leitura: Tiago 04:08-10; Salmo 32:01-02
Texto: Mateus 05:04
“Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mt 5.4)
Amados irmãos no Senhor Jesus Cristo,
Na primeira frase da segunda bem-aventurança, nosso Mestre Jesus nos faz a seguinte afirmação: “Felizes os que choram…” Uma afirmação surpreendente. Como alguém que está triste e chorando pode realmente ser feliz? Para os incrédulos que não conhecem a Deus estas palavras do Senhor são estranhas e ridículas e não fazem nenhum sentido. Para eles não são felizes os que choram, mas sim aqueles que andam sempre sorrindo e se alegrando com os prazeres terrenos desta vida. Eis o seu pensamento: “Por que chorar? Não temos tempo para isso. Nossa vida aqui é curta! Temos de aproveitar cada momento! Vamos comer, beber e nos divertir, pois amanhã poderemos morrer! Tal pensamento demonstra a sua falta de esperança e consolo em Deus quanto ao futuro. Por mais que vivam sorrindo e se alegrando com as coisas do mundo, eles são, na verdade, infelizes e miseráveis. Não há uma bem-aventurança para eles, pois acerca deles o próprio Cristo afirma: “Ai de vós os que agora rides, porque haveis de lamentar e chorar!” (Lc 6.25b).
Mas felizes são os que choram, disse Jesus. Por que são felizes? Cristo explica a razão: “…porque serão consolados!” Jesus dirigiu essas palavras aos seus discípulos e elas têm um significado profundo para eles. Jesus está afirmando para sua igreja: “Felizes os que choram porque serão consolados.” O que o Senhor quer nos ensinar com estas palavras? Enquanto os incrédulos não aceitam nem entendem estas palavras, nós precisamos entendê-las e aplicá-las em nossas vidas, pois elas nos foram ditas pelo nosso Senhor e, portanto, são de grande importância para nossas vidas. Como podemos entender essas palavras do Senhor? Para isso precisamos saber do seguinte:
- Qual é a motivação do choro dos que choram?
- Qual é o consolo para os que choram?
- A motivação do choro
Certamente todos nós já choramos por algo nesta vida. Pois o choro não é um sentimento neutro, mas uma expressão emocional que se evidencia pelo derramamento de lágrimas e é motivada por alguma coisa ou acontecimento. Muitos são os motivos pelos quais já choramos. Podemos ter chorado de tristeza com a morte de um ente querido, com uma despedida de alguém que amamos para um lugar distante, com nossos problemas (desemprego, doenças), solidão, saudade e muitas outras coisas que nos entristecem. Também podemos ter chorado de alegria, talvez com o nascimento de uma criança, uma festa de aniversário, uma formatura, um casamento e outras coisas mais. A Bíblia fala muito sobre o choro, tanto no AT como no NT, sempre mostrando que o choro é motivado por alguma coisa. Por exemplo, Esaú chorou de raiva porque seu irmão Jacó recebeu a benção de Isaque no seu lugar. José chorou com grande emoção quando viu seus irmãos e se deu a conhecer a eles no Egito (Gn 42.24; 45.2). Davi chorou com muita tristeza a morte de seu filho Absalão (2Sm 18.33). Paulo exorta os crentes a chorar com os que choram, manifestando assim o amor fraternal (Rm 12.15).
E aqui no nosso texto Jesus afirma: “Felizes os que choram”. Qual a motivação desse choro? O choro aqui é motivado por algo específico. Para descobrirmos isso precisamos olhar o contexto das bem-aventuranças e outras passagens bíblicas que ensinam o mesmo. As bem-aventuranças são dirigidas aos discípulos e apresentam diferentes, mas inseparáveis aspectos da atitude cristã que deve marcar a vida do verdadeiro crente neste mundo, atitude esta que manifesta a nossa relação com Deus e com o nosso próximo. As bem-aventuranças foram bem arrumadas pelo Senhor Jesus; cada uma se encontra no seu devido lugar. Estão ligadas umas às outras e se harmonizam entre si. Então, aqueles que choram do verso 4 são os humildes de espírito do verso 3. Estes, pela obra do Espírito Santo, são levados ao reconhecimento dos seus pecados e, consequentemente, a chorar por eles. Os que choram, portanto, choram por causa dos seus pecados.
O choro sobre o qual Jesus fala aqui é uma profunda tristeza espiritual sentida pelo crente por ter ofendido a Deus com seus pecados. Não se trata de um choro superficial e momentâneo sem nenhum sinal de arrependimento, mas de uma tristeza sincera que brota de um coração arrependido pelos pecados cometidos contra Deus. Chorar pelos pecados é uma evidência da verdadeira conversão e deve ser uma atitude contínua na vida do crente. Somente os que nasceram de novo podem reconhecer e chorar profundamente por seus pecados, pois o Espírito Santo que neles habita os leva a tomar esta atitude.
O choro pelo pecado é uma tristeza segundo a vontade de Deus que nos conduz ao arrependimento. Por outro lado, há também uma tristeza segundo a vontade do mundo que não leva ao arrependimento. Paulo escreveu sobre isso aos coríntios: “Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte”. (2Co 7.10). Vemos dois exemplos dessa verdade na Bíblia, um positivo e outro negativo. Pedro sentiu tristeza segundo Deus quando chorou amargamente após ter reconhecido seu pecado contra Cristo (Mt 14.72). Judas, pelo contrário, sentiu tristeza para a morte. Depois de ter sido tocado de remorso por ter traído a Cristo, não se arrependeu, mas saiu para enforcar-se ( Mt 27.3-5).
Por que devemos chorar continuamente por nossos pecados? Porque ainda somos pecadores e por isso a Bíblia nos recomenda a fazê-lo. O apóstolo Tiago encoraja os crentes a chorar por seus pecados dizendo: (ler Tg 4.8-10). Embora regenerados, temos ainda uma natureza pecaminosa, e, portanto pecamos a cada dia. Mas não é pelo fato de ainda sermos pecadores que vamos nos alegrar no pecado e dar lugar a ele em nossas vidas, mas como crentes que somos vamos nos entristecer com nossos pecados, fugir deles e odiá-los cada vez mais.
O crente chora pelo pecado porque o enxerga não com os olhos do mundo, mas com os olhos de Deus. Para o mundo, o pecado é um divertimento, algo normal. Os incrédulos brincam de pecar e vivem mergulhados no pecado como se tudo estivesse indo bem. Pecados tais como o adultério, o homossexualismo, o suborno, a mentira, a vingança e outros parecem ser absolutamente normais na sociedade moderna em que vivemos. Mas Deus não vê o pecado assim. Todo pecado é uma ofensa à sua santidade. Ele é o Deus Santo que não suporta a iniquidade e com ele não habita o mal. Ele odeia todo pecado e todo pecador que não se arrepende. Seu Espírito se entristece com os pecados cometidos por seus filhos e pelo mundo. Seu ódio pelo pecado é evidente na Bíblia. Ele destruiu a humanidade (com exceção de Noé e sua família) com o dilúvio. Por quê? Porque a maldade do homem se havia multiplicado na terra (Gn 6.5). Por diversas vezes ele castigou o seu próprio povo, Israel. Por quê? Por causa dos seus muitos pecados. E mais ainda: Ele castigou o seu próprio Filho, desamparando-o na vergonhosa e maldita cruz do Calvário derramando assim a sua ira sobre ele. Por quê? Por causa dos nossos pecados.
Então, nós, que somos filhos de Deus, como devemos ver o pecado? Que atitude devemos ter em relação a ele? Divertir-nos com ele ou chorá-lo amargamente? Tendo a consciência do que é o pecado e de como Deus o enxerga, só podemos nos entristecer com os nossos pecados e também pelos pecados do mundo. Pois sabemos que toda miséria que há no mundo é provocada pelo pecado. Toda prostituição, idolatria, roubo, violência e outros pecados mostram o desprezo dos homens por Deus e pela sua lei. Se realmente amamos a Deus, vamos ter prazer em guardar os seus mandamentos; e também vamos sentir uma grande tristeza quando a lei de Deus, que é perfeita e restaura a alma, é transgredida tanto por nós quanto pelos homens do mundo. “Torrentes de água nascem dos meus olhos, porque os homens não guardam a tua lei” (Sl 119.136), confessou o salmista que amava a lei de Deus. É este o sentimento do crente que ama a Deus e a sua lei: ele chora por causa do pecado.
O próprio Senhor Jesus chorou pelo pecado. Em duas ocasiões, a Bíblia diz que ele chorou. Jesus chorou diante do túmulo do seu amigo Lázaro (Jo 11. 35). Por que ele chorou? Não simplesmente por seu amigo ter falecido porque ele sabia que estava lá para ressuscitá-lo, mas porque estava diante da terrível consequência do pecado: a morte. Ele também chorou diante da cidade de Jerusalém por causa do sofrimento que viria sobre ela por tê-lo rejeitado como o Cristo (Lc 19.41-44). Este mesmo que chorou pelos pecados, proferiu as seguintes palavras: “Felizes os que choram”. E acrescentou a promessa: “…porque eles serão consolados”! Essa é a razão da felicidade dos que choram por seus pecados.
- O consolo para os que choram por seus pecados
Qual é o consolo que Jesus promete aos que choram por seus pecados? Para sabermos qual é este consolo, precisamos atentar novamente para o contexto das bem-aventuranças e também para outros textos bíblicos que apontam para este consolo. Já vimos que os que choram são os humildes de espírito. Estes são bem-aventurados por serem herdeiros do reino dos céus. E, como tais, participam dos benefícios deste reino. E um dos benefícios que eles têm no Senhor Jesus Cristo é o perdão dos pecados.
Os que choram por seus pecados são consolados por Deus com o perdão dos pecados em Cristo. Depois do choro, o consolo; em outras palavras: a tristeza motivada pelo pecado que vem acompanhada da confissão é seguida pelo perdão que o Pai graciosamente concede ao pecador arrependido, mediante seu Filho Amado, em quem temos a remissão dos pecados.
O nosso Deus que é Santo, e odeia o pecado e o pecador que não se arrepende, é também um Deus misericordioso que não tem prazer na morte do ímpio, mas em que ele se arrependa dos seus maus caminhos e viva. Ele é o Deus perdoador e cheio de graça, conforme lemos em Miquéias 7.18-19: “Quem, ò Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniquidade e te esqueces da transgressão do restante da tua herança? O Senhor não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na misericórdia. Tornará a ter compaixão de nós; pisará aos pés as nossas iniquidades e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar”.
Depois de ter punido o seu povo por causa das suas iniquidades, o Senhor enviou o profeta Isaías para consolá-lo com a promessa de perdão de pecados dizendo: “Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus. Falai ao coração de Jerusalém que é findo o tempo da sua milícia, que a sua iniquidade está perdoada e que já recebeu em dobro das mãos do Senhor por todos os seus pecados” (Is 40.1-2). Ele concedeu perdão ao rei Davi, que se entristeceu por seu pecado e o confessou a Deus. Davi, portanto, sendo consolado por Deus com o perdão do seu pecado, sentiu-se realmente feliz. Por isso ele escreveu: “Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto”. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não atribui iniquidade e em cujo espírito não há dolo (Sl 32.1-2). A verdadeira felicidade do crente, a sua maior alegria e consolo é receber de Deus o perdão dos seus pecados.
Além do perdão dos pecados, somos contemplados por Deus com o consolo que seu Espírito nos dá nesta vida. O Espírito Santo é o nosso Consolador. Em nossa peregrinação, ele está do nosso lado encorajando-nos e capacitando-nos a perseverar na fé em meio às tribulações do tempo presente que muitas vezes nos fazem chorar.
Deus já nos consola nesta vida, mas somente na eternidade seremos plenamente consolados por ele. Os filhos de Deus recebem consolo com base nas promessas que Deus revelou em sua Palavra. A palavra de Deus nos consola. Suas promessas nos dão esperança. Durante nossa vida aqui temos de chorar e lamentar os nossos pecados, mas Deus já nos consola com a promessa do perdão. Também em sua Palavra ele nos consola com a promessa fiel da vida eterna. O Senhor prometeu voltar e restaurar toda a criação para habitar eternamente com o seu povo. Em muitos lugares na Bíblia somos consolados com a promessa da vida eterna. Vejamos Apocalipse 21.1-4 que narra a visão consoladora que o apóstolo João recebeu do Senhor quanto à vida eterna no novo céu e na nova terra em que Deus habitará com o seu povo (ler Ap 21.1-4).
Na eternidade estaremos para sempre com o Senhor. Não haverá mais necessidade de chorarmos pelo pecado porque este não mais existirá. Também as aflições do tempo presente, que nem se comparam com a glória porvir, se acabarão. Só haverá alegria, paz e eterno consolo para o povo de Deus. “Felizes os que choram porque serão consolados”. Estas são palavras de grande importância para os filhos de Deus e herdeiros do seu reino. Os que choram por seus pecados agora são perdoados por Deus e serão plenamente consolados por ele na eternidade, pois Deus mesmo estará com eles e lhes enxugará dos olhos toda a lágrima.
Mas aqueles que agora riem e se divertem com o pecado, se não se arrependerem, não receberão o consolo de Deus, mas haverão de lamentar e chorar por toda a eternidade no inferno — um lugar de tormentos onde só haverá choro e ranger de dentes. Mas ainda resta tempo. Eis o momento oportuno da salvação. Cristo está chamando agora pecadores ao arrependimento para a vida: reconheçam seus pecados, chorem por eles, abandonem seus pecados e venham a mim, pois eu posso te dar de graça o consolo com o perdão dos pecados e a vida eterna. Em Cristo e somente nele há consolo e esperança para o pecador arrependido que chora amargamente por seus pecados. Ele mesmo nos prometeu: “Felizes os que choram, porque serão consolados”.
Amém.
Elissandro Rabêlo
Bacharel em Teologia pelo CETIRB – Centro de Estudos de Teologia das Igrejas Reformadas do Brasil (Atual Instituto João Calvino) (1999-2004). Fez Convalidação de Teologia na Universidade Mackenzie em São Paulo (2017). Ministro da Palavra e dos Sacramentos da Igreja Reformada do Grande Recife (PE), servindo como Missionário da Igreja Reformada em Fortaleza (CE).
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.