Leitura: Marcos 02:22
Texto: Marcos 02:22
” E ninguém deita vinho novo em odres velhos;
Doutra sorte, o vinho novo rompe os odres
e entorna-se o vinho,
e os odres estragam-se;
O vinho novo deve ser deitado em odres novos. “
Queridos irmãos em Jesus Cristo,
O texto que vamos tratar hoje parece ser bem simples. E na verdade é, num lado – à primeira vista – a história deste texto é bem simples, mas no outro lado – quem vai estudar o sentido deste texto – ele descobrirá que o texto não é tão simples como pensamos à primeira vista. Para entender este texto precisamos de um pouco de sabedoria. Sabedoria na bíblia é conhecimento das coisas da vida. Saber como as coisas funcionam na vida. Jesus usa dois exemplos simples da prática da vida, para explicar alguma coisa mais complicada. Quem conhece a vida, entende os exemplos de Jesus. Por exemplo, quem sabe costurar e lavar roupas, ela entende bem o primeiro exemplo que Jesus usa. Eu acho que a maioria das mulheres que estão presentes hoje à noite logo entenderam que Jesus tinha razão quando ele falou e disse: “Ninguém costura remendo de pano novo em veste velha”. Uma boa costureira não faz isso, e uma boa lavadeira sabe POR QUE não é bom fazer isso. Porque todo pano, quando se lavar, encolhe. Então o pano novo encolherá mais que o velho, e se acontecer, tirará uma parte da veste velha; E finalmente a situação é pior do que no início. A ruptura fica maior e pode jogar fora a veste velha junto com o pano novo encolhido. Então a conclusão: quem tem sabedoria NÃO COSTURA UM PANO NOVO NUMA VESTE VELHA. Não faça isso, pois vai perder os dois.
A mesma coisa acontece com o vinho novo em odre velho. Deixe-me explicar isso, pois este exemplo é um pouco mais difícil. Quem nunca fez vinho, não entende logo o que o Senhor quer dizer. Antigamente os fazendeiros guardavam o vinho em sacos de couro, chamados odres. Quando eles matavam uma cabra, eles tiraravam a pele completa dela duma tal forma que já tinham um tipo de saco com 6 aberturas (uma abertura do pescoço, quatro aberturas dos pés; e uma abertura da cauda); eles limpavam o couro e fechavam as brechas enquanto a brecha do pescoço ficava aberta. Desta forma eles tinham um saco de couro, que eles usavam para guardar a água ou o vinho. Estes odres foram bem resistentes e serviram bem para guardar os líquidos, especialmente o vinho novo. Pois o vinho novo se for colocado num odre para ser guardado por um tempo, este vinho novo vai fermentar. Quer dizer que o álcool neste vinho vai crescer e durante este processo a tensão dentre do saco cresce; isso não é um problema se for usado um odre novo, pois um odre novo tem muita resistência. Tem uma certa elasticidade, que ajuda no processo de fermentação; Os fazendeiros sabiam disso. E eles sabiam também que não se pode usar um odre velho, que perdeu a sua elasticidade, para guardar o vinho novo; pois quem colocasse vinho novo num odre velho, iria perder os dois. O vinho novo iria fermentar, a pressão no odre iria crescer e finalmente o odre iria romper-se, pois não havia mais elasticidade. Então o odre velho rasgaria e o vinho novo se derramaria no chão. O fazendeiro que tinha este conhecimento nunca iria fazer isso. Pois ele sabia que iria perder o odre velho e o vinho novo.
Então, irmãos! Jesus quer ensinar sabedoria aos seus alunos. Pois ele vai aplicar este sabedoria numa situação nova. Mas como é esta situação? Jesus nos ensina estas coisas para aplicar em qualquer situação? Não irmãos! Devemos olhar para o contexto. Por que Jesus disse isso? Como foi a situação dele? Quem aprende isso, ele não vai usar este texto em qualquer situação. Já ouvi pessoas usando este texto numa discussão entre idosos e jovens dentro da igreja. Foi uma discussão sobre uma liturgia nova; uma liturgia para os jovens. Uma liturgia com muito louvor, uma banda, e muito mais: deveria ser um grande show! E os membros idosos não gostavam disso: eles preferiam o seu estilo antigo. E um deles usou esta palavra de Jesus, dizendo: Ninguém põe vinho novo em odres velhos; o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Com esta palavra o caso foi decidido: não houve um culto novo. Mas a pergunta é se podemos usar esta palavra de Jesus duma tal maneira? Jesus estava falando sobre as mudanças no culto? Vamos observar a situação em que Jesus estava falando. Marcos fala sobre esta situação no versículo 15. Jesus e os seus discípulos estavam numa festa. Eles foram convidados por Levi, o publicano, e estavam lá comendo e bebendo. Os alunos dos fariseus e de João Batista viram isso e ficavam admirados olhando isso. Pois o dia da festa foi organizado num dia de jejum. Todos os judeus estavam jejuando para mostrar a sua tristeza sobre a natureza pecaminosa deles, e estavam rezando a Deus para mandar o Cristo para libertá-los do pecado. Então os discípulos dos fariseus não entendem o fato que Jesus e os seus discípulos não participaram no dia de jejum, mas participaram numa festa comendo e bebendo. Isso é um escândalo e por causa disso, eles perguntaram a Jesus sobre isso. E Jesus dá uma resposta profética. Ele disse: “Podem, porventura, jejuar os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles? Durante o tempo em que estiver presente o noivo, não podem jejuar”. Esta resposta é clara. Se formos convidados para um casamento, nós não vamos estragar a festa, ficando tristes, não comendo, nem bebendo. Quem está num casamento, não se comporta como se ele estiver num enterro. Se realmente estiver triste deve ficar em casa, pois é melhor ficar triste em casa do que estragar toda festa com a sua tristeza. Ninguém faz isso, se respeitar o noivo. Isso também é uma forma de sabedoria, de bom comportamento. E com estas palavras Jesus defendo o comportamento dos seus alunos. Eles não podem ser tristes, pois O NOIVO está presente.
Quem é este noivo? Isso é uma pergunta importante, irmãos. Quem é o noivo aqui? Não é Levi, ele organizou a festa, mas não por que ele ia se casar. Ele organizou a festa por causa de Jesus. Ele estava tão feliz por que encontrou o seu Salvador, que ele convidou todos os seus colegas e amigos para encontrar Jesus. Então a festa não é por causa dum casamento. Levi não é o noivo. Então, quem é? Jesus está mentindo? Ou ele está usando um exemplo, que não cabe. Ele está se justificando com um exemplo, que não presta? Não irmãos, não é assim. Jesus usa uma palavra profética de João Batista. João não tinha dito (João 4, 29) falando sobre Jesus: “O que tem a noiva é o noivo; o amigo do noivo que está presente e o ouve muito se regozija por causa da voz do noivo. Pois esta alegria já se cumpriu em mim.”. João fala sobre Jesus e o chama O NOIVO. São palavras proféticas. No Antigo Testamento os profetas falavam assim sobre a relação entre Deus e Israel. Deus fez uma aliança e essa aliança às vezes é comparada com um casamento. Assim como um homem faz um compromisso com uma mulher, Deus fez um compromisso com o povo de Israel. O profeta Oséias fala sobre isso (LER: OSÉIAS 2). Oséias tem uma mensagem de Deus para Israel. Deus reclama que Israel é infiel. Eles deixaram Deus e andaram atrás de outros deuses. Israel adulterou e quebrou o casamento. Por isso Deus profetizou: “Portanto tirarei o meu grão à seu tempo, e o meu vinho no seu tempo determinado; Arrebatarei a minha lã e o meu linho. Farei cessar todo o seu gozo, as suas festas, as suas luas novas, e os seus sábados, e todas as suas solenidades”. Deus vai castigar Israel por causa da infidelidade dela. Deus tirará tudo e deixará ir ao Exílio. Mas isso não será para sempre. Haverá um dia, diz o Senhor, “Desposar-te-ei comigo para sempre; eu te desposarei comigo em justiça, em juízo, em benignidade e em misericórdias. Naquele dia eu responderei, diz o Senhor, responderei aos céus e estes responderão à terra; e a terra responderá ao trigo, ao vinho e ao óleo. Ele vai dizer: tu és meu povo.E Israel dirá: Tu és meu Deus. Então haverá reconciliação. Naquele momento a aliança com Deus será reconciliada; e também o casamento com Deus será reconciliado. É tudo isso que estava acontecendo quando Jesus chegou. O Filho de Deus reconciliará o povo de Israel com Deus. Ele é o noivo, que vai restaurar a aliança. Por isso João Batista falou sobre ele como sendo o Noivo. Assim as palavras do Senhor não são estranhas. Sabe, irmãos, o que é estranho aqui? É que os alunos de João Batista e os alunos dos Fariseus que conheciam bem a sua Bíblia, não entendiam o que Jesus estava dizendo. Isso que é estranho! Especialmente por causa do fato que João Batista mesmo falou sobre o Messias que é o noivo; Agora Jesus fala sobre o noivo. Esta palavra deve ter um sentido especial. A festa não foi um casamento. Nem Levi, nem Jesus iam se casar. Mas apesar disso Jesus fala sobre O NOIVO.
Então, isso não pode ter um outro sentido além do que Jesus mesmo é o NOIVO. Ele é o NOIVO que vai restaurar a aliança; que vai reconciliar os pecados do povo e ASSIM reconciliar o casamento quebrado. Jesus veio para salvar os pecadores. E por isso ele estava procurando os pecadores; por isso ele estava lá no meio dos publicanos e prostitutas. Eles podem e devem saber que a promessa de Deus está se cumprindo. O Messias está lá. O noivo está lá. Para tomar a sua noiva; para reunir a sua igreja; para chamar pecadores e dar-lhes perdão. Ele ainda está fazendo isso. Cada semana, cada mês. Quando a santa ceia está pronta na Igreja. Essa santa Ceia está pronta para todos os pecadores que estão procurando perdão dos seus pecados. Eles podem aqui na terra já sentir o gosto da alegria do banquete do casamento eterno do Cordeiro. Isso está acontecendo. Os publicanos, e os alunos de Jesus estão convidados para o casamento eterno do Cordeiro. Por isso Jesus pode dizer: “PODEM OS CONVIDADOS PARA O CASAMENTO JEJUAR ENQUANTO ESTÁ COM ELES O NOIVO? ENQUANTO TÊM CONSIGO O NOIVO, NÃO PODEM JEJUAR”. Isso quer dizer que: os alunos podiam participar da festa por que eles encontraram o Salvador. Os alunos de João Batista e dos Fariseus estavam fora disso! Esse é o drama aqui. Os discípulos dos fariseus estavam jejuando! Estavam se humilhando por causa dos seus pecados; estavam orando para a vinda do Messias, mas ELE JÁ ESTÁ LÁ!!! Eles estavam tristes, mas deveriam estar muito alegres. Pois o noivo está lá! É isso que Jesus está ensinando. Ele não desaprovou o fato que eles estavam jejuando, mas sim o fato que eles estavam jejuando NAQUELE MOMENTO!! Não havia nenhum motivo para jejuar. O NOIVO ESTÁ LÁ! E o fato de que Jesus está lá muda tudo. Ele mudou Levi, mudou os seus discípulos. Todos são alegres, pois o Cristo chegou! Como eles podem estar tristes, chorando sobre os seus pecados, se eles receberam perdão dos pecados? Como eles devem se comportar na presença do noivo? COMO ELES DEVEM SE COMPORTAR NA PRESENÇA DE JESUS CRISTO? ISSO É O GRANDE PROBLEMA NESTE TEXTO E SOBRE ISSO JESUS FALA USANDO OS DOIS EXEMPLOS DE SABEDORIA! Cristo não julga os discípulos de João Batista com o seu costume velho, nem os seus discípulos novos, que estão alegres, mas ele quer salvar os dois. Não deve misturar os dois; Uma pessoa alegre, cantando num enterro, estraga tudo. É melhor que ele fique fora; Uma pessoa chorando numa festa estraga a festa; é melhor que ele fique fora disso.
Então, irmãos, de fato o nosso texto se refere à diferença entre o ANTIGO TESTAMENTO E O NOVO TESTAMENTO; ENTRE OS COSTUMES ANTIGOS DOS JUDEUS E A VIDA NOVA DOS CRISTÃOS; MUITOS COSTUMES ANTIGOS PERDERAM A SUA FUNÇAO COM A VINDA DE CRISTO. Jejuar é bom, mas não há motivo para jejuar se os pecados são perdoados por Jesus Cristo. Se Cristo estiver no nosso meio, devemos estar alegres. Naquele momento não podemos jejuar. Imagine uma noiva que está sozinha. O noivo viajou. Mas ele mandou uma carta apaixonada para ela. Ela leu a carta e gostou muito. Cada vez de novo ela pega a carta para ler. E num certo dia o noivo entra na casa dela, ele voltou, mas ela não presta atenção nele. Ela fica sentada lendo a carta do noivo. Isso não é estranho, irmãos? Todo mundo ia dizer que ela está louca. A carta do noivo não vale mais se o noivo está presente. Quem continua com a leitura, estraga o namoro; quem acha que a carta é mais importante, não ama o seu noivo. Assim é com Cristo. Quando ele está presente a vida muda. Os costumes velhos que falaram sobre a vinda dele, perderam o seu valor no momento que ele está presente. Devemos usar este texto neste contexto para explicar a diferença entre judeus e cristãos; para explicar a diferença entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento, mas não em respeito das discussões entre cristãos. Não podemos usar o texto para resolver o problema entre a tradição dos pais e as idéias novas dos filhos; O problema entre a liturgia do passado e o culto novo dos jovens; e o problema entre uma ética cristã do passado e a ética cristã moderna, pois os dois grupos estão alegres COM Cristo.
Trata-se aqui dum problema entre JUDEUS e CRISTÃOS; a vida SEM CRISTO E COM CRISTO. Entre o culto judaico (sem cristo) e o culto cristão (com Cristo); Cristo renovou o culto do Antigo Testamento; Não mais estes costumes antigos (jejuar, sacrificar animais, circuncisão, páscoa com o cordeiro sacrificado, o templo com os seus sacrifícios, os sacerdotes no templo). Tudo isso faz parte do Antigo Testamento; Devemos mostrar que a vida mudou, pois o Cristo chegou! E por causa disso, nós não temos estes costumes mais! Temos outros sacramentos (batismo e Santa ceia), temos outros oficiais, o sangue dos animais não domina o nosso culto, mas o sangue de Cristo, que foi derramado na cruz. Podemos estar alegres; a nossa vida mudou. Podemos estar alegres, pois o Cristo chegou. Vamos mostrar esta alegria e cantar: Cantai, Exultai! O Messias chegou! Sumiram-se as trevas, a aurora raiou. Daí louvores! Celebrai-o! Foi morto na cruz! Daí louvores! Publicai-o! Já vive Jesus!
Amém.
Abram de Graaf
O pastor Abram de Graaf é “Doctorandus” (Drs) em Teologia e um dos professores do Instituto João Calvino (Aldeia, Camaragibe-PE). Ele é pastor da Igreja Reformada de Hamilton, Canadá, enviado como missionário às Igrejas Reformadas do Brasil, desde o ano 2000. É Diretor do Projeto Dordt-Brasil. Ele mora em Maceió e também desenvolve projetos nessa cidade. Acesse o site graafeditora.com
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.