Habacuque 01.01-11

Leitura: Atos 17.21-31
Texto: Habacuque 01.01-11

Meus irmãos,

O diabo desde o início tenta deturpar a verdade. E ele usa o mundo, esse pensamento, influência pecaminosa, para disseminar a mentira, para perverter a verdade. E uma das formas de fazer isso é tentar fazer as pessoas pensar que dizer a verdade nua e crua é ofensivo, tudo tem que ser feito no politicamente correto, com o propósito de agradar as pessoas.

E a mentira que está por detrás disso é dizer que isso é que é amor. Falar o que as pessoas querem ouvir é amor, é proibido falar o que as pessoas não suportam ouvir para não ofendê-las. É com esta mentira que o inimigo tem levado muita gente para o inferno, porque, com isso, está desviando as pessoas da verdadeira mensagem do evangelho.

O que muitas igrejas têm apresentado hoje não é o evangelho em sua essência e verdade, mas uma mistura de autoajuda com idolatria ao homem. Com essa mensagem agradável aos ouvidos e politicamente correta, coloca o homem numa posição confortável em que ele não está.

A consequência disso tem sido que não se falar sobre a ira de Deus. As igrejas têm evitado ao máximo, ou até mesmo esquecido, esse atributo de Deus, a sua ira, a sua indignação contra o pecado. Parece que falar sobre a ira de Deus é algo que contraria o falar sobre o seu amor, como se ira não se pudesse estar junto com amor e misericórdia.

Esse “evangelho” moderno tem medo que as pessoas se afastem da igreja ou mesmo do evangelho ao ouvirem a palavra ira, indignação, ao ouvirem que Deus está irado e indignado com os pecadores que não se arrependem. Mas isso não é a verdade. Na história da igreja, temos exemplos do contrário, de pessoas que se converteram ouvindo falar sobre a ira de Deus.

Por exemplo, um pastor americano do século dezoito pregou um sermão, baseado em Dt. 32:35, que tinha o título “Pecadores nas mãos de um Deus irado”. E diz a história que pessoas choravam e clamavam por arrependimento enquanto ouviam o sermão. Outros se agarravam nas colunas da igreja com medo do inferno. Diz-se que, depois de pregar, ele teve que acalmar as pessoas para irem embora. Isso mostra que pregar sobre a ira de Deus não é espantar as pessoas mas trazê-las ao evangelho.

E nós veremos isso hoje nesse texto que acabamos de ler. Essa passagem que lemos de Habacuque nos ensina que Deus está irado com o pecador, que a sua ira está prestes a cair sobre os pecadores que têm um coração duro e não se arrependem. Ele nos ensina que Deus pune o pecador com a sua santa ira e que essa punição chegará no seu devido tempo; a punição pelo pecado não será esquecida, mas virá no seu devido tempo. Destacaremos duas coisas nessa mensagem da punição da santa ira de Deus.

  1. A ofensa do pecado à santidade e justiça de Deus (v.1-4)

O povo estava endurecido nos seus pecados (v.1-4). Parecia que não havia mais esperança de melhora, e o estado das coisas só piorava. Por isso, o profeta é tomado por um sentimento de justiça, mas não um sentimento insensível, como se ele fosse melhor do que os outros, como se ele soubesse o que é o certo, mas o resto do povo não soubesse. O sentimento do profeta não era de superioridade, mas de indignação por saber que o pecado ofende a santidade e a justiça de Deus. Por isso, ele desejou pressa no juízo divino.

Por isso, vem a “sentença” (v.1). Essa expressão era usada normalmente para falar do juízo de Deus sobre as nações. Alguns até afirmam que essas palavras do capítulo 1 são para a Babilônia perversa. Mas, conforme a situação relatada pelo profeta, está claro que essa perversidade era entre os seus próprios companheiros (ler v.3): Por que me mostras a iniqüidade e me fazes ver a opressão? Pois a destruição e a violência estão diante de mim; há contendas, e o litígio se suscita. A perversidade estava vencendo (v.4).

O profeta fica perplexo com a reação de Deus a tudo isso; na verdade, sua surpresa é à aparente falta de reação de Deus (ler v.2). Não seria o normal. O normal era Deus punir os pecadores. Parece que algo está caminhando contrário à natureza de Deus. Então, Habacuque se retira da presença dos homens e se coloca numa disputa pessoal com Deus. “Como a impiedade pode prosperar e a justiça sofrer entre o próprio povo de Deus, e Ele não agir?”

Essa inquietação não parece que aconteceu do dia para a noite. Era uma oração frequente: “Até quando…”. O clamor pelo socorro de Deus era constante. Deus parecia ter fechado os seus olhos para a impiedade, parecia ter deixado impune a perversidade. Como Deus poderia permitir tanta hipocrisia, tanta enganação; as pessoas com a lei numa mão e a perversidade na outra; como muitos vivem com o evangelho nos lábios e a perversidade nas suas obras? Deus não está vendo isso?

Havia sim uma preocupação com os que estavam sofrendo, com os que estavam sendo enganados, com os justos que estavam sofrendo com a perversidade, mas esse não era o ponto aqui. O ponto era: como pode um Deus santo permitir tamanha perversidade? É a glória e santidade de Deus. Essa era a preocupação.

O pecado causa indignação em todo aquele que zela pela santidade de Deus e vê a iniquidade crescendo desenfreadamente. Não ficará desapercebido. Quem conhece a santidade de Deus, não consegue suportar o cheiro podre do pecado.

Deus não está fora disso. Essa indignação com o pecado vem da certeza de que Deus está indignado com ele. Ela é apenas uma pequena amostra de como Deus se ira com o peado, e de como a iniquidade ofende a Deus. É um pequeno lembrete de como Deus leva a sério a perversidade, inclusive a que parte de dentro do seu próprio povo.

Por isso, quando pessoas estiverem publicando no Facebook sensualidade, ostentação e louvor ao que é mundano, não devemos fazer elogios nem dar curtições, mas ter indignação santa porque a perversidade ofende a santidade e glória de Deus. Se homens, que são pecadores e falhos, sentem essa indignação, que dirá Deus, que santíssimo, e tão puro de olhos que não pode contemplar o mal.

O simples fato de não perceber isso ou de se agradar com isso pode ser um indício de que a iniquidade já não causa impacto na sua vida e que você já está acostumado com ela.

Dizem que aquelas pessoas que trabalham no IML, recolhendo corpos de pessoas mortas, usam algumas técnicas para suportar o mal cheiro dos cadáveres, principalmente daqueles que já faz algum tempo que estão expostos, e por isso com um cheiro insuportável.

O esforço deles é suportar o primeiro momento, o primeiro impacto, porque depois disso não sentem mais a diferença, já está acostumado.

O mal cheiro incomoda. Quando ele não faz parte do nosso dia-a-dia e não estamos acostumados com ele, é insuportável; mas, quando vivemos nele, não faz mais qualquer diferença; o respiramos e nem sentimos o mal que nos faz.

Da mesma maneira o pecado. Se ele não nos incomoda mais, não nos causa indignação, significa que já estamos tão podre quanto ele. Se essa é a sua situação, arranque o pecado da sua vida, da sua casa, do seu guarda-roupa, do seu computador, do seu celular, e de todo e qualquer lugar em que o pecado esteja acenando para você. “Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena”, diz o apóstolo Paulo (Cl. 3:5). Se queremos servir a Deus, devemos estar do lado daqueles que se indignam com o pecado, e não daqueles que o alimenta.

A santidade e majestade de Deus nos levam a entender que o pecado não pode ser tido como normal em nosso meio. Então, a santa indignação contra o pecado não está reservada para aqueles que se consideram os mais santos, porque não se confunde com arrogância, mas para todos os que confessam pertencer ao santo povo de Deus que tem em suas mãos a sua Palavra. Não levar o pecado a sério é não levar a santidade de Deus também a sério. E é disso que procede a ira de Deus: a ofensa à sua santidade e justiça.

  1. A punição do pecado chegará no seu devido tempo (v.5-11)
    Esses versos que se seguem é a resposta de Deus ao questionamento e perplexidade do profeta. O profeta vê o pecado na igreja e fica se perguntando: Deus não vai agir? Como se Deus não estivesse vendo toda aquela afronta contra a sua justiça e santidade. Mas a resposta que Deus dá ao profeta mostra claramente que Deus não só estava vendo tudo, mas que estava já reservando a punição para tudo aquilo.

E quero destacar duas coisas aqui: que essa punição será no tempo de Deus e que ela será dolorosa.

Tempo (v.5-6)
No verso 5, Ele diz: “Vede entre as nações…” Olhem vejam como tudo está sendo preparado. Ninguém está percebendo, ninguém sabe mas tudo está preparado só falta chegar a hora.

Essa punição de Deus é conforme o seu governo. Ele diz (v.5): “Realizo… obra tal”, e no verso 6, “Suscito os caldeus”. Os caldeus era a Babilônia, que neste tempo estava crescendo como império e destruindo tudo que estava à sua volta. Deus não está esquecido das ofensas, mas ele está apenas preparando a punição para que ela chegue no tempo oportuno, no tempo determinado por Ele mesmo.

Com toda certeza, Deus condenará a desobediência e o pecado. Não ficarão impune. A não chegada da punição não significa que não está vendo e que não está sendo atingido pela afronta da iniquidade. Deus não é homem. A sua demora em reagir a essa perversidade está nos seus planos. Ele irá julgar no seu devido tempo o pecado, não importa quem esteja envolvido.

Dor (v.7-11)
A punição será dolorosa, será inesquecível para mostrar o quanto Deus está irado com o pecado e o quanto ele ofende a sua santidade e justiça.

Veja a descrição dos versos 7-11 (ler). Olha o instrumento que Deus vai usar para julgar o pecador, para condenar aqueles que estão nos seus pecados, que não se arrependem. Será doloroso esse julgamento. Serão dias de terror.

Deus escolheu uma nação ímpia, perversa, que desejosa por destruir, aniquilar, esfacelar, como um lobo faminto no final do dia. Ela é veloz. Os seus cavalos são mais velozes que os leopardos, rápidos para destruir. Eles se espalham por todo lugar, não há quem escape deles. Naquele dia, eles reunirão a todos os cativos, não vai sobrar um. Ela esmaga por onde passa.

Os reis da terra? São objeto de riso diante dessa nação perversa. Ela ri dos poderosos como quem ri de um fracote. Não precisa mais nada para dizer que a condenação de Deus para o seu próprio povo será com dor para que sintam na pelo o quanto o pecado ofende a Deus.

Para que tudo isso? Para que o tempo de Deus na surdina, deixando chegar o tempo certo? Por que tamanha dor no seu julgamento aqui contra os pecadores? Porque Deus quer se revelar nisso. Nesse julgamento, nessa demora e terror desse julgamento, Deus está se revelando.

O pensamento do homem é: Por que Deus não acaba com tudo isso logo? Mas essa é uma obra de Deus de sua infinita sabedoria. Ele quer revelar, em toda essa situação de afronta contra a sua santidade, ele quer revelar a sua glória, a sua natureza justa e santa,

Isso foi uma pequena demonstração de como Deus iria castigar o seu próprio filho por causa do pecado. Não seria uma encenação, mas seria uma punição real, doloroso que viria no seu devido tempo. Então, tudo isso foi para revelar o que Deus estava prestes a fazer com o seu próprio Filho.

O pecado teria que ser condenado, mas a condenação do pecado no pecador, não cumpre o propósito de salvação, porque a condenação do ímpio não traz qualquer salvação, mas somente a condenação de Cristo, o Filho de Deus.

Foi esse juízo severo que caiu sobre o Filho de Deus. Esse furor foi derramado na sua carne. O que era impossível ao homem Cristo realizou. O apóstolo Paulo, em Romanos 8:3, diz: “Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado.”

Ele, sendo completamente santo e justo, pôde receber o juízo de Deus e assim ser o instrumento de Deus para condenar e salvar. E tendo recebido a justa e santa ira do Pai, Cristo pode, agora, salvar aqueles que se refugiam nele com o coração ferido e doloroso por causa do pecado; mas condenar aqueles que tem prazer nos seus pecados e neles encontram a sua satisfação, não indignação.

É assim como a Escritura revela a justiça de Deus contra o pecado na pessoa do Seu Filho. Em Atos 17, quando Paulo estava entre os pagãos em Atenas, disse (v.30-31): “Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam; porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos.” Ele foi destinado para isso, para julgar a todos os que não se arrependem.

E o que vemos aqui em Habacuque 1 é uma demonstração desse julgamento contra os pecadores que não se arrependem, porque o julgamento mesmo será no tempo marcado por Deus e com o juiz certo. Quem irá julgar o mundo não é a Babilônia, mas o justo juiz, Jesus Cristo, que se revelará no seu devido tempo.

Deus não está com os olhos tapados para mal, mas está aguardando o tempo certo em que ele revelará a sua justiça no julgamento dos pecadores. Portanto, não se engane, o mal não irá prevalecer. A vida de pecado, de prazeres mundanos, terá um fim, e esse fim será com a mão de Deus pesando sobre os que não se arrependem.

Mas não pensem que Deus fará isso sem misericórdia. Não se esqueça de que a justiça de Deus já foi e está sendo revelada. O furor de Deus que veremos no último dia contra os pecadores que não se arrependem já foi revelado na cruz do calvário.

A justiça e a ira de Deus já foram proclamadas lá. Mas não para mostrar condenação aos pecadores, mas misericórdia. Porque o castigo que caiu sobre Jesus Cristo na cruz foi um anúncio de salvação e graça. Todos os que no último dia forem condenados pela a ira de Deus viram essa mesma ira com uma mensagem de salvação. Então, não é sem misericórdia que os pecadores serão condenados.

Um exemplo disso é hoje. Hoje novamente o evangelho da cruz é anunciado neste lugar para vocês continuem firmes no salvador, e para aqueles que vivem nos seus próprios pecados possam se arrepender e abraçar o salvador que recebeu o castigo de Deus; antes que chegue aquele último dia, que, com toda certeza, será muito pior do que essa demonstração de Deus aqui em Habacuque. Toda essa descrição de poder, força e terror dos babilônios não se comparam com o terror do dia do julgamento.

Cristo é a misericórdia de Deus e a sua paciência para com os pecadores. Ele poderia ter acabado com tudo isso num só instante. Não precisava nos tolerar, tolerar a nossa inconstância, a nossa hipocrisia, a nossa infidelidade.

Mas ele fez isso, pacientemente, esperando o dia certo para revelar a sua ira contra o pecado e a sua justiça. O apóstolo Paulo, em Rm 3:24-26, diz: “Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus.”

Cristo pagou com o seu sangue a nossa dívida com Deus, e assim Deus mostrou tolerância não punindo logo os nossos pecados, mas aguardando a vinda do seu Filho para descarregar sobre ele a sua ira. Por isso, o apóstolo Paulo conclui: “Já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, … porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho” (Rm 8:1,3). Aproveite e desfrute dessa paciência de Deus no seu Filho, não lance fora isso, mas agradeça a Deus todos os dias por tamanha misericórdia.

Amém!

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Iraldo Luna

É formado em Letras Vernáculas pela UFPE com pesquisas voltadas para a área de linguística de texto. Bacharel em Divindade pelo Instituto João Calvino. É pastor na Igreja Reformada de Brasília. Professor do curso on-line de introdução ao Grego Bíblico no Instituto João Calvino.

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.