Eclesiastes 2

Leitura: 1 Reis 4:20-34, Eclesiastes 2, Lucas 12:13-21
Texto: Eclesiastes 2

Irmãos em nosso Senhor Jesus Cristo,

Quando nós estudamos o primeiro capítulo de Eclesiastes algumas semanas atrás, nós vimos como Salomão apresenta o grande problema que este livro trata. Salomão observa e lamenta que por mais que os homens buscam significado e satisfação desta vida aqui debaixo do sol, no final, tudo é uma névoa profunda. Não tem nenhuma solução aqui na terra que dá sentido e permanência para a nossa vida. Tentar segurar alguma coisa nesta vida é como agarrar o vento. Não dá. Não dá nem para compreender ou explicar o significado da vida, pelo menos com base no que observamos com nossos olhos aqui debaixo do sol. A vida na terra é passageira, e durante seus anos é marcada por muita repetição; somos como seres humanos insaciáveis e perpetuamente insatisfeitos; e tudo isso produz uma vida que é canseira demais, e no final, aparentemente fútil. Não tem nenhum ganho debaixo do sol. Nenhum galardão. Nenhum progresso.

Agora podemos ler este primeiro capítulo de Eclesiastes e sair pensando, “que mensagem desanimador.”

Mas o objetivo de Salomão não é de nos desanimar—a não ser que estejamos correndo atrás de futilidades. Não é de nos deixar deprimidos e tristes. Mas é de direcionar os nossos olhos e os nossos corações a Deus. Salomão aqui nos dá a dura realidade. Ele quer nos incentivar a fazer as perguntas difíceis, logo cedo na vida, para não gastar os nossos anos e a nossa vida buscando vaidades. Quando enfrentamos as realidades difíceis e perturbadores—a inevitabilidade da nossa morte, a impossibilidade de predizer o futuro, a futilidade das coisas que costumamos a buscar durante a nossa vida—somente isso vai quebrar o nosso orgulho e senso de independência, e nos levar de volta ao nosso Deus e criador para buscar o sentido da nossa vida nEle. 

Então sim, Salomão realmente tem uma mensagem desanimador para aqueles que estão tentar obter alguma coisa deste mundo e desta vida; que estão construindo um castelo na areia, tentando convencer a si mesmos que o maré não vai chegar na sua altura da praia; convencidos que as coisas que eles estão buscando na vida permanecerão para sempre; ignorando o maré que está chegando para levar tudo embora. Se de fato isto descreve a sua vida, então sim este livro vai ser muito desanimador. Mas pelo menos Salomão está falando a verdade. E—como Cristo nos ensinou em um outro lugar—a verdade nos libertará.

Então capítulo 1 termina com esta conclusão em versículos 14 e 15:

Eccl. 1:14–15: “Atentei para todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento. Aquilo que é torto não se pode endireitar; e o que falta não se pode calcular.”

Não podemos consertar o que está quebrado neste mundo, por mais que gostaríamos de pensar diferente. Por mais que pensemos que “uma vez que eu consigo isto, ou faço aquilo, então eu vou ser feliz; as coisas vão começar a fazer sentido,” a realidade é que não vai ser assim. O que está quebrado neste mundo não pode ser consertado, porque foi Deus quem o quebrou. Foi Deus que colocou esta vida presente debaixo de uma maldição, foi Deus que sujeitou o mundo a futilidade. O que Deus fez torto, o homem não consegue endireitar. 

Então esta foi a conclusão de Salomão no final do primeiro capítulo.

Agora, em capítulo 2, Salomão começa a mostrar como ele chegou esta conclusão. Ele começa a nos mostrar as ruas sem saída nas quais ele mesmo já gastou boa parte de sua vida, e outros nos quais ele já observou outros estragando sua vida. Salomão mostra estas ruas sem saída como advertência para nós, para que nós não desperdiçássemos as nossas vidas andando nelas. E ele anda nestes caminhos com mais poder, mais riqueza, mais chance de sucesso de que qualquer outra pessoa. Assim ninguém pode dizer, “Ah, mas se eu apenas tivesse mais…. (tempo, dinheiro, respeito, etc.), então sim este caminho daria certo para mim.” Salomão nos lembra: “ninguém teve mais do que eu”. Ninguém teve mais sabedoria. Ninguém teve mais dinheiro. Ninguém teve melhor comida ou vinho. Ninguém teve mais poder. Ninguém teve mais fama. Ninguém teve mais mulheres ou concubinas. Salomão tinha tudo. Mas todas estas coisas—coisas que nós gastamos a nossa vida inteira correndo atrás—nenhuma delas deu satisfação a ele.

Esta advertência é especialmente importante para os jovens aqui na congregação. Vocês ainda tem a maior parte de suas vidas na sua frente, e este livro foi escrito especialmente para os jovens, para que ponderem bem o caminho de sua vida, o que que eles querem fazer com a sua vida. Existem milhares de tentações apelando para nós no começo da nossa vida—dinheiro, fama, popularidade, sexo, poder—nos prometendo felicidade e satisfação e recompensa se seguirmos atrás eles. E Salomão nos chama a prestar bem atenção e ver onde é que estes caminhos vão. 

Ele começa com “prazer”—o que é aqui traduzido como “alegria”. 

Eccl. 2:1–2: “Disse comigo: vamos! Eu te provarei com a alegria; goza, pois, a felicidade; mas também isso era vaidade. Do riso disse: é loucura; e da alegria: de que serve?”

Então esta é a abordagem à vida que diz que, já que a vida é curta, é melhor encher a vida com o máximo de prazeres antes que morra. O que importa é que você aproveita. Busque prazer.

Salomão teve a oportunidade de fazer isso, talvez mais do que qualquer outra pessoa no mundo, com todos os seus vastos recursos. Em nossa leitura de 1 Reis 4, nós ouvimos um pouco sobre as provisões que foram levadas a Salomão todos os dias. Se você soma tudo isso, seria a provisão suficiente para uns 30-40 mil pessoas: incluindo as 600 esposas e 300 concubinas de Salomão, todos os seus filhos e seus pais, seus servos, os servos do próprio Salomão, sua guarda real, os que cuidaram de suas diversas casas e terrenos na terra de Israel. Salomão foi rico além de compreensão. Então neste momento de sua vida, ele se entregou aos seus prazeres. As festas certamente foram elaboradas e luxuosas, durante a noite inteira; podemos imaginar as conversas e risos se prolongando até de madrugada. Se lembra das festas luxuosas dos palácios franceses em Versaille antes da revolução francesa: os penteados exóticos, as roupas e maquiagens malucas.

E agora, Salomão na sua velhice olha para trás para tudo isso, e diz: “foi tudo vaidade”. Tudo foi vazio. Sem sentido, e pior: loucura! Não tinha propósito, e o mais perturbador, quem vive esta vida entregue aos prazeres nem alcança mesmo a felicidade que ele procura. Talvez imaginemos que se alguém se entrega mesmo à busca de ser “feliz”, vendendo sua própria alma para obtê-lo, que pelo menos alcançaria isso. Mas nunca funciona assim. Aqueles que vivem para a felicidade, não a encontram, porque a “felicidade” não é fruto de uma vida com um significado maior. Se você busca a felicidade e o prazer como objetivo de sua vida, você vai ver que eles sempre estão fora do seu alcance. É vaidade. Névoa. 

Parece que Salomão conheceu muito bem a nossa própria cultura, né? Quanto nós gastamos hoje em entretenimento e prazer? Televisões, filmes, shows, circos. E quanto deste entretenimento é, na verdade, lixo? Pelo menos as tragédias—os filmes tristes—nós lembramos depois, e talvez eles deixam alguma impressão em nós. Mas as comédias e as dramas sensuais e as novelas, que existem somente para dar entretenimento e prazer enquanto os assistir, não tem nenhum valor duradouro. São vazios. Sem graça. 

Então Salomão, no final deste período de sua vida marcada por festas luxuosas constantes, pergunta a si mesmo se isso é a vida; se satisfez seu desejo por significado; e a conclusão, obviamente, é não. Não satisfaz. É vazio e sem sentido. Ele começa a detestar o próprio som de riso: pra que serve? É loucura. Ele diz em capítulo 7:6: “Qual o crepitar dos espinhos debaixo de uma panela, tal é a risada do insensato; também isto é vaidade.”

Agora a queixa de Salomão não é contra o prazer ou o riso em si. Na verdade, vamos ver em breve que ele até recomenda estas coisas como boas dádivas de Deus. Mas aqui, seu argumento é que estas coisas não prestam como o objetivo de sua vida. Viver pelo prazer ou pela felicidade em si é uma rua sem saída, uma busca vazia—é loucura. 

Então Salomão tentou álcool.

“Resolvi no meu coração dar-me ao vinho, regendo-me, contudo, pela sabedoria, e entregar-me à loucura, até ver o que melhor seria que fizessem os filhos dos homens debaixo do céu, durante os poucos dias da sua vida.”

O que ele quer dizer quando diz, “regendo-me, contudo, pela sabedoria” é simplesmente que seu objetivo em se embriagar era de observar se isso desse satisfação e contentamento para sua vida. Ele não está dizendo que não era pecado, ou que não era tolice. Simplesmente que ele estava “pecando com os olhos abertos”, por assim dizer. Ele se entregou à embriaguez, sabendo muito bem o que estava fazendo, para ver se valesse a pena. 

Então vale perguntar: será que a melhor vida é a vida embriagada? Talvez a resposta para o enigma da vida é simplesmente beber ou se drogar. Certamente muitas músicas populares—tanto na funk quanto na sertaneja—propõem esta solução. E muitas comunidades “hippies” recomendam a vida drogada como a vida “iluminada” e ideal. 

Mas é claro, não precisa ser génio para reconhecer que isso também é loucura. Basta você ser a única pessoa sóbria em um lugar cheio de embriagados para reconhecer que embriaguez é loucura e tolice. Mesmo que seja um tolo feliz e contente, ninguém tem inveja de um embriagado ou drogado. É uma vida sem sentido. E é destrutivo. Destrói o corpo, destrói a mente, destrói os relacionamentos. Destrói a imagem de Deus no homem. Álcool e drogas  podem ter o poder de fazer o corpo se sentir superficialmente feliz—por um momento—mas você sempre paga o preço depois, e com juros. 

Bem. Talvez, nós pensamos, podemos resolver a questão olhando para o outro extremo. Talvez o significado da vida não se encontra em consumir, mas em produzir

Então Salomão se deu à grandes projetos de construção. Versículos 4-7:

“Empreendi grandes obras; edifiquei para mim casas; plantei para mim vinhas. Fiz jardins e pomares para mim e nestes plantei árvores frutíferas de toda espécie. Fiz para mim açudes, para regar com eles o bosque em que reverdeciam as árvores. Comprei servos e servas e tive servos nascidos em casa; também possuí bois e ovelhas, mais do que possuíram todos os que antes de mim viveram em Jerusalém.”

Talvez o significado na vida se encontra em adquirir uma parte da terra, ou em fazer a nossa marca na terra. Façamos como os faróis, e construamos pirâmides e templos que permanecerão muito tempo depois de nós. Ou, em nossa forma bem mais modesto: vamos dedicar nossa vida à compra de terrenos e construção de casas. Teremos apartamentos em várias cidades, ou grandes casas de verão na praia ou no interior. Vamos decorar bem estas casas, plantar jardins, colocar estátuas. 

Mas quem poderia se comparar com Salomão neste respeito? Ele tinha os palácios mais incríveis em toda parte da tera, com jardins, piscinas, e pomares: e durante uma fase de sua vida, ele se entregou a estes projetos, buscando significado neles. 

Mas no final de tudo, ele diz (versículo 11):

Eccl. 2:11: “Considerei todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também o trabalho que eu, com fadigas, havia feito; e eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento, e nenhum proveito havia debaixo do sol.”

E novamente em versículos 18-23”

Eccl. 2:18–23: “Também aborreci todo o meu trabalho, com que me afadiguei debaixo do sol, visto que o seu ganho eu havia de deixar a quem viesse depois de mim. E quem pode dizer se será sábio ou estulto? Contudo, ele terá domínio sobre todo o ganho das minhas fadigas e sabedoria debaixo do sol; também isto é vaidade. Então, me empenhei por que o coração se desesperasse de todo trabalho com que me afadigara debaixo do sol. Porque há homem cujo trabalho é feito com sabedoria, ciência e destreza; contudo, deixará o seu ganho como porção a quem por ele não se esforçou; também isto é vaidade e grande mal. Pois que tem o homem de todo o seu trabalho e da fadiga do seu coração, em que ele anda trabalhando debaixo do sol? Porque todos os seus dias são dores, e o seu trabalho, desgosto; até de noite não descansa o seu coração; também isto é vaidade.”

Muitos conhecem esta experiência de qual Salomão está falando. Eles investem sua vida inteira à compra e construção de suas propriedades—são o prazer e o orgulho de sua vida, e sua obsessão constante—mas depois, envelhecendo, eles percebem que seus filhos (se tiverem filhos) não tem o mesmo interesse, ou pretendem vender suas propriedades, ou não noção de boa gestão. Ou—como muitos chefes de traficantes, eles acabam presos e os outros desfrutam ou destroem suas propriedades; ou como muitos ditadores seu governo entra em colapso e eles tem que fugir por suas vidas e todas as suas casas luxuosas caem nas mãos de seus inimigos. 

No caso de Salomão, a tristeza dele foi seu filho. Ele arrumou todas estas propriedades com sua grande sabedoria, mas seu filho—Roboão—acabou sendo um tolo, que não tinha a mínima noção de boa gestão. Você pode ler sobre Roboão em 1 Reis 12, e a impressão que você tem é de um pirralho do palácio, criado em muito luxo e conforto, que não tinha respeito para ninguém, que passou o tempo com seus amigos, falando brincadeiras vulgares, desprezando totalmente a sabedoria dos anciãos. Ele, em apenas alguns meses, perdeu tudo que sei pai Salomão construiu. 10 das 12 tribos de Israel o abandonaram. 

Então Salomão entra em desespero. Pra quê todo este meu esforço e sabedoria? No final da vida, temos que sair desta terra, e não temos nenhum controle sobre como a herança que deixamos pra trás será administrada. 

Salomão também experimentou com arte, música, e sensualidade. Veja versículo 8: Eccl. 2:8: “Provi-me de cantores e cantoras e das delícias dos filhos dos homens: mulheres e mulheres.” 

Alguns creem que arte é a razão da nossa existência. Existimos para produzir artes. Bom, se a arte e a musica moderna é a medida do valor da nossa existência, então nunca existiu uma geração tão inútil! 

Mas nem a melhor arte aguenta o peso de ser o próprio motivo da nossa existência. Viva para a arte, faça a arte a razão da sua existência, adore-a, e você descobrirá que ela se seca rapidamente; perde seu gosto; se torna amargo. A arte (verdadeira) deve ser um reflexo da beleza e criatividade de Deus; mas não aguenta ser um deus em si mesma. A Beleza é enraizada no que é Verdade e no que é Bom, e ela não fica em pé sozinha. Faça da beleza o motivo de sua existência, e ela se distorce, se perverte, e se perde.

A arte ímpia geralmente vezes anda em mãos dadas com a sensualidade. E Salomão afirma que tentou aproveitar isso também como objetivo de sua vida. Teve muitas mulheres. Ele não recusou nada que seus olhos desejavam. Ele andou em todos os caminhos para ver se eles levam a algum lugar. Os caminhos que as pessoas hoje passam às vezes suas vidas inteiras, andando nelas, convencidas que elas proporcionarão a satisfação que desejam. Algumas pessoas continuam até sua velhice buscando esta satisfação, traindo sua esposa para estar com uma outra mulher mais nova, e depois traindo aquela; ou, se tiverem o dinheiro suficiente, vivendo uma vida de prostituição até sua velhice.

E Salomão reflete sobre todas estas fases de sua vida, e todas estes caminhos em que ele andava, e conclui: tudo foi vaidade. Foi correr atrás do vento. Foi tentar agarrar o que não pode ser segurado. 

Então, finalmente, Salomão considera a própria sabedoria. Quando ele fala aqui de “sabedoria,” ele não está falando sobre a sabedoria bíblica, centrada em Deus, que ele descreve no livro de Provérbios. Não é esta sabedoria. A “sabedoria” referida aqui é o que nós chamamos hoje de “filosofia”. (A palavra “filosofia” vem do grego e significa, literalmente, o amor a sabedoria.) Os filósofos da antiguidade eram chamados simplesmente de “sábios”. Então este é próximo caminho que Salomão caminha. Em vez de ser o tolo sem senso, ele vai ser o filósofo sábio. Vai viver a vida contemplativa. Talvez nisso ele vai encontrar as respostas.

E é interessante e profundo o que Salomão diz. 

Em primeiro lugar, ele diz que “sim”, tem algo bom a ser encontrado na filosofia. A sabedoria é melhor de que a loucura, como a luz é melhor de que as trevas. O homem sábio pelo menos tem olhos na sua cabeça, mas o tolo nem sabe por ele vai.

Nós entendemos isso naturalmente. Quem conhece a analogia da caverna de Platão—o filósofo grego—vai reconhecer a mesma lição. A sabedoria é melhor de que a loucura como a luz é melhor de que a escuridão—mesmo se esta sabedoria nos deixa mais perturbados. 

Mas então Salomão pergunta, por que? Se, no final das contas, de toda forma o sábio e o tolo vão para o mesmo destino—o sepulcro—qual a vantagem em ser sábio? Que benefício esta sabedoria traz, especialmente se nos deixa miseráveis? (Lembremos do que Salomão já disse no final de capítulo 1: “Porque na muita sabedoria há muito enfado; e quem aumenta ciência aumenta tristeza.”) Então por que buscar a sabedoria? Se realmente tudo que existe é o que vemos aqui em baixo do sol, por que a sabedoria é melhor? Por que nós como raça humana somos tão determinados a “ver”, mesmo se essa visão nos rouba da cegueira que antes nos deixou feliz? Qual o galardão da sabedoria? 

Estas são perguntas que os filósofos tem perguntado por séculos. 

E Salomão responde: não tem galardão. Mesmo que a sabedoria seja melhor de que a tolice como luz é melhor de que trevas, ainda não tem galardão. Não tem. Pelo menos, nesta terra embaixo do sol, se isto é tudo que existe, então não tem benefício em ser sábio.

Então Salomão agora nos levou por cada rua sem saída, e descobriu, cada vez, que estes caminhos não levam o homem para lugar algum. Deus sujeitou este mundo a uma futilidade que o homem não escapa.

Então, no final, Salomão desesperou. Desesperou de tudo. Desesperou de suas festas, desesperou dos seus projetos. Desesperou de sua riqueza e seus prazeres, e desesperou da própria sabedoria porque no final, tudo é futilidade, correr atrás do vento. E ele chegou a aborrecer a sua vida (vs. 17),  porque o trabalho foi penoso e somou em vaidade e correr atrás do vento.

——

Agora, temos que lembrar que Salomão está construindo um argumento aqui, e nós ainda não chegamos à conclusão final. Mas vejam comigo aos versículos 24-26, porque aqui Salomão chega a sua primeira conclusão preliminar. Depois de refletir sobre todos estas ruas sem saída, e de desesperar de sua vida, ele diz:

Eccl. 2:24–26: “Nada há melhor para o homem do que comer, beber e fazer que a sua alma goze o bem do seu trabalho. No entanto, vi também que isto vem da mão de Deus, pois, separado deste, quem pode comer ou quem pode alegrar-se? Porque Deus dá sabedoria, conhecimento e prazer ao homem que lhe agrada; mas ao pecador dá trabalho, para que ele ajunte e amontoe, a fim de dar àquele que agrada a Deus. Também isto é vaidade e correr atrás do vento.”

A única conclusão de Salomão (até agora), é que ele observa que existe um grupo de pessoas que realmente tem algo bom. São aqueles que de alguma forma conhecem o favor de Deus. A capacidade de comer e beber e gozar o bem do seu trabalho vem somente àqueles a quem Deus deu este dom, e ele o dá a quem Ele quer. Esta é a única conclusão.

Procure o significado nesta vida em si mesma, e Salomão, noa garante, você não encontrará. Procure a felicidade na sua própria força e recursos, e você não a encontrará. A alegria e o significado e o propósito nesta vida são dons de Deus, e são dados a quem Deus mesmo se agrada. (Veja como Salomão é totalmente calvinista aqui em sua visão da soberania de Deus. Não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia.)

O homem “autónomo”, determinado a pegar algo por si mesmo com sua própria força e inteligência, sempre terminará com as mãos vazias. Mas os justos que conhecem o amor de Deus, eles gozam daquilo que escapa das mãos dos demais. Eles podem enfrentar a “névoa” da vida diretamente, com coragem e honestidade, sabendo que o mundo foi amaldiçoado assim mesmo, e que ele espera a redenção e a revelação dos filhos de Deus; eles entendem que ninguém pode endireitar o que Deus fez torto; e assim eles aprendem a descansar na providência de Deus seu pai, e receber a vida (com todas as suas limitações) como presente de Deus. Assim eles se regozijam no seu labor (penoso que seja), porque eles entendem que a totalidade de sua vida—seu significado, seu propósito, e seus resultados—não estão em suas próprias mãos, mas na mãos de Deus. 

Quando Salomão reflete sobre isso, ele vê um Deus soberano. Um Deus que mostra seu favor para quem ele quer, e o retém de quem ele quer. 

Ao homem que lhe agrada, Deus dá sabedoria, conhecimento e prazer.

Mas ao pecador dá trabalho, para que ele ajunte e amontoe, a fim de dar àquele que agrada a Deus.

Isso me lembra do que Cristo também nos ensinou: “Os mansos herdarão a terra”. Isto contradiz o que o mundo acredito, que a vitória pertence aos agressivos. A terra que os ímpios desperdiçam suas vidas tentando possuir e conquistar por si mesmos, eles perderão. E os mansos, que tremeram a Deus e confiavam nele, que conhecem seu amor, e que praticam sua justiça, possuirão a terra no final.

Os que confiam em Deus podem regozijar em um mundo triste. Podem comer e beber, amar sua esposa e filhos, trabalhar penosamente no seu labor, e fazer tudo isso com gratidão em seus corações a Deus, quem segura suas vidas. Podem estar cheios quando a vida está vazia. Podem dizer que Deus lhes prepara uma mesa na presença de seus inimigos. 

O temor a Deus dá uma paz que este mundo não conhece. O temor a Deus dá alegria em um mundo cheio de miséria. E o temor a Deus dá propósito e significado no meio da névoa e da aparente futilidade dos nossos labores, porque ele nos ensina a fazer a antiga oração de Salmo 90: “Ó Deus, estabeleça as obras das nossas mãos.” Nós certamente não podemos as estabelecer. Se depende de nós, tudo terminará em vaidade. Mas Deus pode o fazer valer. Nosso chamado não é de garantir o resultado, mas de ser fiel. Não precisamos e não podemos calcular os resultados, mas podemos temer a Deus, servir a Ele, e deixar o significado e os resultados com Ele.

——

E é exatamente aqui, irmãos, que entra o evangelho. O homem que teme a Deus sabe que aparte de Deus, tudo na sua vida seria fútil; então ele entrega seu caminho a Deus. Assim, a única coisa que importa para ele é o amor de Deus. Com isso, ele tem tudo; sem isso, ele tem nada.

Mas quem pode ter o amor de Deus? Quem é o homem que pode reivindicar de Deus o seu favor?

Mesmo assim, Salomão observe que existem pessoas que tem este relacionamento com Deus. Se Salomão lembrava bem, ele lembraria da vida de seu próprio pai, Davi, que—embora também foi grande pecador—mesmo assim, sempre conheceu o amor de Deus. Como é possível?

Irmãos, este homem que Salomão observa que vive debaixo do favor de Deus, vive assim—não obstante seu pecado—como alguém justificado e reconciliado a Deus, porque ele sabe que isto também, é o dom de Deus. “Não por obras, não de obras, para que ninguém se glorie, mas pela fé. E isto não vem de vós; é dom de Deus.”

A fé que produz alegria e contentamento em um mundo enevoado é a fé que confia em Deus quem gratuitamente justifica os ímpios. E esta própria fé, também, é dom de Deus. É um dom que é possível somente por causa de Cristo. É por causa da morte de Cristo que nós podemos saver que Deus nos amou, não obstante a nossa indignidade. É por causa de Cristo que nós podemos dizer com confiança, “eu sei que Deus me ama, e por isso eu tenho tudo que eu preciso, e não preciso de mais nada desta vida. Não preciso passar minha vida como uma vasilha vazia, tentando me encher com tudo que a vida tem de me oferecer; posso viver como cheio; sim, transbordando.”

Por causa de Cristo, posso comer o meu pão e beber o meu vinho com gratidão; posso cumprir o meu chamado diário, mesmo que seja marcado por labuta e fadiga, e talvez pareça aos meus olhos como fútil; e posso fazer tudo isso com alegria no meu coração, porque eu confio que mesmo que eu não consiga endireitar o que está torto, ou calcular o que está faltando, Deus pode, e Deus vai, em Cristo. E é este Deus que graciosamente me escolheu e amou  em Cristo. Isto é tudo, tudo que eu preciso. 

——

Então finalmente irmãos, o que devemos fazer com esta mensagem?

Em primeiro lugar, devemos, todos nós, nos perguntar seriamente: em que caminho estou andando? O que será que eu estou buscando? 

Pra dizer de outra forma, como você preencheria o branco: “Se eu tivesse apenas _____, então minha vida faria sentido.” “Se eu tivesse apenas _____, então eu estaria contente.” 

Salomão nos estimula a pensar sobre o fim deste caminho. Pense sobre onde vai. Pense sobre como seria se você realmente obtivesse tudo aquilo que você quer. E pergunte a si mesmo: isso satisfaria a minha alma? Vale a pena viver por isso?

A experiência de Salomão é que não. Não valeu a pena. O galardão no final deste caminho acabou sendo uma miragem. 

Então Salomão recomenda para nós o que o evangelho também recomenda para nós, e o que os santos ao longo dos séculos também descobriram como verdade: a única coisa que pode satisfazer a sua alma e dar sentido par sua vida é o favor e o amor de Deus. Se você tem isso, então você tem tudo. É muito rico. Se não tiver isso, então você realmente não tem nada. 

Para algumas pessoas—até às vezes cristãos professos—levar isso a sério vai envolver um capotamento total de sua vida. Sair de uma rua, e entrar em um outro caminho totalmente. Reconhecer que as coisas que motivaram minha vida anteriormente eram inúteis. 

Para outros, que já amam e desejam servir ao Senhor, esta mensagem de Salomão ainda deve nos alertar e advertir. Porque ao longo do tempo, temos uma tendência a desviar. Podemos sem querer esfriar em nosso primeiro amor, e começar a correr atrás de coisas inúteis. Devemos examinar os nosso corações, o nosso tempo, e as nossas prioridades, e pensar se não estamos sendo seduzidos por vaidades. 

Se de fato estamos nos apaixonado com coisas vazias, a experiência de Salomão deve nos alertar: “Deixe de correr atrás do que não se pode alcançar, das coisas que lhe deixaram exausto e esgotado” e descanse e encontre sua vida novamente no favor e no temor de Deus. Cristo nos chama: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei.”

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Jonathan Chase

Jonathan Chase

O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020. 

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.