Eclesiastes 07.14-29

Leitura: Provérbios 09.01-18
Texto: Eclesiastes 07.14-29

Amada Congregação de Nosso Senhor Jesus Cristo,

Enquanto estávamos lendo a segunda metade de Eclesiastes 7, o que estava pensando no primeiro lugar? Foi sobre a profundidade de sabedoria nestes versículos? Foi na explicação da injustiça aparente que é tão evidente ao nosso redor?

Eu acho que, enquanto nós lemos estes versículos, a atenção de muitos de nós foi capturada pelas palavras de Salomão na segunda parte de versículo 28: “Entre mil homens achei um como esperava, mas entre tantas mulheres não achei nem sequer uma.” Felizmente, a nossa tradução é correta; a NVI diz, “Sim, durante essa minha busca que ainda não terminou, entre mil homens, descobri apenas um que julgo digno, mas entre as mulheres não achei uma sequer.”

E talvez pensamos que este versículo parece dizer o que os detratores do cristianismo dizem – cristãos são misóginos. Eles querem oprimir as mulheres. Eles acreditam que as mulheres são inferiores aos homens, e lêem coisas assim que se proclamam escritas por um homem que tinha mil esposas e concubinas, e seu maior aviso é dirigido contra “a mulher cujo coração é armadilhas e redes, e cujas mãos são grades,” um homem que não conseguiu encontrar uma única mulher reta em todo o seu harém. Isso nos faz querer olhar ao nosso redor quando lemos isso, na nossa sociedade politicamente correta, para garantir qua não haja nenhum convidado presente que possa ouvir o que estamos lendo!

Então há declarações em nosso texto que causam dificuldades para os comentadores. Este versículo é uma das frases problemáticas. Mas há também mais um versículo que poderia ter atraído a sua atenção, porque parece estranho – mas estranho numa maneira atraente:

“Não seja demasiadamente justo, nem exageradamente sábio; por que te destruirias a ti mesmo? Não sejas demasiadamente perverso, nem sejas louco; por que morrerias fora do teu tempo?”

Eu digo que estas palavras parecem atraente, numa maneira estranha, porque, aparentemente, Salomão está dizendo que podemos relaxar. Não tente muito ser justo, porque você acabará se destruindo. Mas, ao mesmo tempo, não seja excessivamente perverso. Então, talvez, seja um pouco perverso e um pouco justo, e tudo ficará bem. Parece bom – faz a vida cristã parecer muito mais fácil, não é?

Nós precisamos estudar essas passagens e precisamos tentar entender o que Salomão está dizendo nestes versículos. Mas, ao mesmo tempo, precisamos fazer isso com o quadro geral em mente. Qual é o propósito desta passagem, em primeiro lugar? Se focamos no ponto central de Salomão aqui, será mais fácil entender o que ele está dizendo nesses versículos tão controversos e difíceis.

Então, vamos começar no início desta passagem – versículo 14. Salomão nos diz, “No dia da prosperidade, goza do bem; mas, no dia da adversidade, considera em que Deus fez tanto este como aquele, para que o homem nada descubra do que há de vir depois dele.”

No início de capítulo sete, Salomão falou sobre o paradoxo da vida piedosa – sobre a importância de luto e tristeza, e sobre as limitações da sabedoria. E agora ele aborda a questão da providência divina. Pessoas vão experimentar tempos de prosperidade, mas também terão que enfrentar adversidade. Talvez pensamos em prosperidade como algo que vem de Deus, enquanto pensamos em adversidade como algo que não vem de Deus. Mas Salomão nos lembra que todas as experiências da vida, boas e más, vêm não por acaso, mas da mão paternal de Deus, como nós confessamos no Catecismo de Heidelberg.

Mas isso leva a problemas. Porque o SENHOR disse ao Seu povo em Deuteronômio 28:

“Se ouvires a voz do SENHOR, teu Deus, virão sobre ti e te alcançarão todas estas bênçãos: Bendito serás tu na cidade, e bendito serás no campo. Bendito o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, e o fruto dos teus animais, e as crias das tuas vacas e das tuas ovelhas. Bendito o teu cesto e a tua amassadeira. Bendito serás ao entrares e bendito, ao saíres.”

Mas no mesmo capítulo, Moisés disse ao povo:

“Se não deres ouvidos à voz do SENHOR, teu Deus, não cuidando em cumprir todos os seus mandamentos e os seus estatutos que, hoje, te ordeno, então, virão todas estas maldições sobre ti e te alcançarão: Maldito serás tu na cidade e maldito serás no campo. Maldito o teu cesto e a tua amassadeira. Maldito o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, e as crias das tuas vacas e das tuas ovelhas. Maldito serás ao entrares e maldito, ao saíres.”

E tudo isso parece maravilhoso, porque é maravilhoso. As bênçãos são prometidas àqueles que obedecem, as maldições ameaçam aqueles que desobedeçam. Mas: estas são palavras escritas. Vamos examinar a vida “debaixo do sol.”

Há muitos exemplos de homens que viveram vidas perversas, que não pareceram a sofrer atá um pouco por causa da sua perversidade. Isso não é nada novo! O rei Davi viu a mesma coisa durante a sua vida, e ele descreveu esta experiência em Salmo 37.35: “Vi um ímpio preponente a expandir-se qual cedro do Líbano.” Apesar dessas maldições proclamadas por Deus, parece que muitas vezes os ímpios prosperam.

E, por outro lado, quantas vezes nós vemos que os justos sofrem? Alguns de nós experimentamos isso pessoalmente – jovens piedosos perdendo a vida, por meio de doença, ou acidente. E isso acontece atá quando parece que estes jovens têm muito que podem contribuir ao reino de Deus nesta vida. Isso é o que nós vemos. Isso é o que Davi viu, e o que Salomão viu também.

Este é o problema do mal, o problema da injustiça – o termo técnico é a teodiceia. Por que muitos dos justos perecem em sua justiça, enquanto muitos homens perversos prolongam suas vidas em suas maldades? Esse é o dilema que Salomão enfrenta nesta passagem. Como devemos responder a esse problema aparente? Isso faz a nossa justiça, ou inversamente, a nossa maldade, sem sentido?

Salomão nos dá este conselho: Não sejas demasiadamente justo, nem exageradamente sábio. Então, o que podemos fazer com isso? Isso é um apelo à moderação, a uma atitude relaxada em relação à nossa fé, Isso significa que não devemos tentar crescer em sabedoria demais, que devemos estar satisfeitos com uma quantidade moderada de sabedoria, porque buscar uma maior sabedoria apenas nos destruirá no final?

A resposta é não – não é o que Salomão está dizendo. Pense em como alguns do povo de Deus teriam respondido a um jovem aparentemente justo morrendo. Eles podem responder desta maneira: É óbvio que ele não era suficientemente justo. Se ele realmente tivesse sido justo, ele ainda estaria vivo agora. E assim, querendo receber as bênçãos de Deus, como aquelas prometidas aos justos em Deuteronômio 28, eles se propuseram a ser “super-justos.”

Querendo garantir uma vida longa, porque uma longa vida é prometida aos que são obedientes, eles procuram todas as formas possíveis de ser obedientes. Vendo que as bênçãos são prometidas aos sábios, eles buscam a sabedoria, porque querem essa bênçãos. É a prática da teologia que diz, “Se eu fizer isso, Deus me dará aquilo.” Está tentando forçar a mão de Deus. Está tentando obter alavancagem sobre essa vida. É tudo o que Salomão negou ao longo deste livro. Porque Deus criou o dia da prosperidade, bem como o dia da adversidade – para que o homem não descubra nada que seja depois dele. Não podemos forçar a mão de Deus. Não podemos forçar Deus a fazer nada. E não podemos pensar no universo como um tipo de máquina gigante, que executa leis inflexíveis, numa base de “quid pro quo” – faça isso e obtenha aquilo em troca – coloque a moeda na maquina, e obtenha o prêmio.

Mas em seguida, Salomão também nos dá ou outro lado da história – não seja excessivamente mau, e não seja tolo, porque se você é uma dessas coisas, há grandes chances de você morrer antes do tempo. Então – “Não sejas demasiadamente perverso” – significa que podemos ser um pouco perverso? A resposta é não, claro. Usando a analogia da fé, que precisamos usar quando interpretamos as passagens mais difíceis da Escritura, das quais esta é certamente uma, não há absolutamente nenhuma base para dizermos que Salomão esteja defendendo algum tipo de “perversidade light.”

E isso fica claro em versículos 18 e 20. Em versículo 18, ele recomenda o temor do SENHOR – e o temor do SENHOR nunca pode ser igualado a alguma forma de desobediência leve que Deus simplesmente tolerará.

Ele vai dizer, em capítulo 8.12, “Ainda que o pecador faça o mal cem vezes, e os dias se lhe prolonguem, eu sei com certeza que bem sucede aos que temem a Deus.”

E então, na conclusão de Eclesiastes, em capítulo 12.13, “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem.”

E em versículo 20, ele diz: “Não há homem justo sobre a terra que faça o bem e que não peque.” Ele não está dizendo que não há tal coisa como um homem justo – lembre-se que em versículo 15 ele fala sobre um homem que é justo. Ele presume que existem aqueles que são justos – aqueles que são sábios, que servem a Deus. O que ele está dizendo é que até o homem mais justo no mundo vai tropeçar e cair em pecado durante a sua vida. O homem mais justo no mundo nunca será perfeito moralmente. Então, você nunca poderá reforçar Deus a abençoar você por viver uma vida justa – porque você nunca vai realizar o padrão perfeito de Deus.

Então, isso significa que você não deve se esforçar para ser justo? Absolutamente não. Mas, que você não deve se esforçar para ser “super-justo,” mais santo do que todos os outros, em prol das bençãos que você pode ganhar. Isto é o que os fariseus estavam fazendo – microgerenciando suas vidas, quebrando os mandamentos, adicionando a ele, criando um esquema de justiça que eles acreditaram forçaria Deus a lhes abençoar, para que Deus tivesse que resgatar Israel, para que Deus não tenha escolha senão abencoá-los. Mas em resposta a esses homens, que eram excessivamente justos, que eram sábios demais, Jesus disse:

“Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores” (Marcos 2.17).

Somos chamados a viver uma vida em temor do SENHOR; somos chamados à vida de sabedoria. E a sabedoria tem os seus benefícios, mesmo como a justiça. Mas o sabío morre, mesmo como o tolo. O justo pode sofrer e morrer jovem, enquanto o ímpio sucede. Isso é o jeito do mundo. Isso é a vida, debaixo do sol. No fim, Salomão diz, depois a provação de tudo isso por sabedoria, a única conclusão é isso, conforme uma tradução melhor do versículo 24:

“Longe está o que já se foi, e profundíssimo; quem o poderá achar?”

Por que é que jovens piedosos morrem? Deus tem as suas razões; e não as sabemos. Porque homens injustos vivem muitos anos, e recebem todos os prazeres do mundo? Deus tem as suas razões; e Ele não as revelou a nós.

Então, Salomão fala sobre a sua pesquisa científica, a sua busca lógica a encontrar o que fica no fundamento de todas estas coisas. E foi uma busca muito abrangente – ele diz em versículo 25 que ele aplicou-se a conhecer, e a investigar, e a buscar a sabedoria e seu juízo de tudo, e a conhecer que a perversidade é insensatez e a insensatez, loucura. E em versículo 27 ele disse que ele conferiu uma coisa com outra, para a respeito delas formar o seu juízo. Mas no fim das contas, o que ele estava buscando ele não conseguiu encontrar. Não poderia ser entendido.

E isso nos leva ao segundo versículo controverso, versículo 28. “Entre mil homens achei um como esperava,” ele diz. Mas o que é que esta frase significa? Se examinamos a maneira em que Salomão usa aquela palavra “achar” em Eclesiastes, geralmente ele fala sobre entendimento. Ele não achou a esquema de coisas – um padrão para a vida que forneceria respostas absolutas às suas perguntas. E quanto a raça humana, ele só achei um homem entre mil. Em outras palavras, ele entendeu só um homem em mil. Os caminhos de Deus são misteriosos, e a raça humana é misteriosa. 999 homens em mil Salomão não conseguiu entender – e quanto as mulheres, ele nem sequer poderia entender uma única. A vida é misteriosa, e a humanidade, a humanidade caída, é misteriosa também. Um comentador escreveu:

“A compreensão sistemática e abrangente de homens e mulheres particulares é evasiva e enigmática. O ser humano – o ser humano depravado e caído – não se renderá às suas investigações. O próprio homem caído é vapor ou névoa.”

Então, no fim, temos mistério. Temos perguntas sem respostas. Buscamos a sabedoria, e a sabedoria é boa, é benefício para a pessoa que tem, mas a sabedoria pode realizar somente coisas limitadas. E ser justo não garante que a vida será nada mas do que felicidade e alegria. A vida é mistério. Os outros seres humanos são misteriosos a nós – e se isso é a verdade, imagine quão misterioso nós somos para eles!

Mas por que? Esta pergunta permanece. Por que boas coisas acontecem a pessoas más, enquanto coisas más acontecem a boas pessoas? Por que é que este mundo é tão difícil a entender, ou até impossível a entender? No fim, Salomão diz, não é culpa de Deus. Deus criou o homem reto. Ele não é culpável. Mas o homem se meteu em muitas astúcias.

Até antes da queda, os seres humanos eram limitados no seu entendimento. Adão e Eva precisavam aprender muito; eles precisavem crescer em muitas maneiras. E como criaturas, o seu conhecimento e entendimento sempre teria sido limtiados em comparação com Deus, até se eles nunca tenham caído em pecado, até se as suas mentes, os seus corações, as suas vontades não tenham sido tão danificados como resultado do pecado. Mas agora, com pecado na cena, a situação é ainda mais difícil a entender.

As pessoas fazem coisas que não fazem sentido – nós a vemos nos outros, e também a vemos em nós mesmos. Nós dizemos coisas, fazemos coisas, e depois nos perguntamos, “Por que eu disse isso? Por que eu não poderia simplesmente ter calado a boca?” Nós fazemos algo tolo, no calor do momento, ou mesmo com previsão, e depois nos perguntamos como poderíamos ter tomado uma decisão tão tola, como poderíamos ter fez algo tão estúpido. O pecado faz tudo, e todos, mais difíceis a entender. Porque, como um comentador escreve, “O pecado é insano. A maldade é morônica e estúpida. Não faz sentido.” Às vezes, nas notícias, você vai ouvir um repórter falando sobre um “ato de violência sem sentido” – mas isso é pecado: não faz sentido.

Então, vivemos no mundo que é, de muitas maneiras, um enigma. No momento em que você acha que finalmente entende a situação, se lembra que você está longe de ter a compreensão firme sobre a situação. É imprevisível, você não pode descrever, você não pode fazer um gráfico que explique por que as coisas acontecem de maneira que eles acontecem. Você não pode fazer uma lista de causas. A vida não funciona assim.

E assim, nós somos lembrados novamente, é como Deus está nos dizendo, com cada surpresa, todo evento inesperado, cada choque, “Você deve confiar em mim.” Teme a Deus e manetenha os seus mandamentos – é o que podemos fazer. Confie que Deus providenciará, até quando nossas pequenas mentes não podem entender o que está acontecendo ao redor de nós, ou talvez o que está acontecendo conosco. Ore por sabedoria e percepção – a sabedoria e a visão que providenciam a maior vantagem quando você percebe que não é tudo na vida. Confie no SENHOR e busque a Sua força, de modo que você evite a loucura. Ore todos os dias pelo seu pão de cada dia – sabendo que, de dia em dia, Deus providenciará.

E agradeça a Deus, e se alegra. Porque no meio de todo o mistério, que o mundo não consegue entender, nós ficamos na rocha, no fundamento firme de Jesus Cristo. Num mundo onde a verdade é difícil de encontrar, e difícil de compreender, confiamos naquele que disse sobre si mesmo, “Eu sou o verdade.” Num mundo onde a sabedoria tem limites reais, temos Cristo Jesus, “o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (1 Cor. 1.30). Ele é o homem justo que pereceu por causa da sua justiça; Ele é o homem justo que faz o bem e nunca peca.

Entendimento compreensivo do propósito e significado de todos os eventos que acontecem debaixo do sol pode nos iludir ao curso desta vida. Mas Deus, no seu amor para conosco, fez o quadro geral claro. A vida pode ser mistério. Pessoas podem ser impossíveis a entender. Mas quanto a mensagem do evangelho, temos clareza: “A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração; isto é, a palavra da fé que pregamos. Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.”

Desde o início, a humanidade se meteu em muitas astúcias. Mas o plano perfeito de Deus trouxe à salvação, e ele esclareceu o caminho de salvação. No mundo caraterizado por confusão e desentendimento, por falta de comunicação e loucura e tolice, temos por âncora da alma, segura e firme, a nossa esperança em Jesus Cristo, sentado à direita do Pai, que governa todas as coisas, e que vai voltar, com certeza.

Bom é que retenhas isto, como Salomão diz em versículo 18. Tema a Deus. Entenda as suas próprias limitações, e as perfeições de Deus. Deixe tudo, e siga Cristo.

Amém.

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Jim Witteveen

Pr. Jim Witteveen é ministro da Palavra servindo como missionário da Igreja Reformada em Aldergrove (Canadá) em cooperação com as Igrejas Reformadas do Brasil. Atualmente é diretor e professor no Instituto João Calvino.

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.