Dia do Senhor 45

Leitura: Êxodo 32:7-14, Neemias 1, Lucas 11:1-13
Texto: Dia do Senhor 45

Amada congregação do Senhor Jesus Cristo,

Esta semana vamos começar estudando a Oração que Jesus Cristo nos ensinou, chamada o “Pai Nosso” ou a “Oração Dominical”. Cristo ensinou esta simples oração aos seus discípulos, não como um encantamento ou amuleto ou algo para se simplesmente se repetir, mas como um modelo para todas as nossas orações. A oração do Senhor nos mostra as prioridades de Deus e nos orienta em nossas orações, e por isso o nosso catecismo também inclui um estudo sobre esta oração. Então nas próximas semanas, nós vamos estudar a Oração do Senhor linha por linha e pensar sobre como isso deve moldar as nossas orações.

Mas hoje vamos primeiramente pensar sobre o lugar da oração na vida cristã, de modo geral. 

O catecismo diz que a oração é a parte “mais importante” da gratidão que Deus requer de nós; ou, em outras palavras, é a parte mais importante da vida cristã

Agora minha pergunta é: será que esta afirmação reflete em nossas vidas? Será que nossas rotinas demonstram esta prioridade?

Devemos começar examinando esta afirmação que o catecismo faz. Será que é verdade que a oração é a parte “mais importante” da vida cristã? Talvez alguém poderia objetar que isso coloca a oração acima de outras coisas igualmente importantes, por exemplo a obediência aos mandamentos de Deus. 

Mas veja o que as Escrituras dizem.

  • Em Atos 1:14, nós encontramos os discípulos reunidos, depois que Cristo subiu ao Céu. Eles estavam esperando a chegada da promessa do Espírito Santo. E o texto diz, “Todos estes perseveravam unânimes em oração, com as mulheres, com Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele.” Esta palavra “perseverar” no grego significa uma dedicação, uma devoção.
  • Encontramos a mesma palavra em Atos 2, depois que o Espírito foi derramado sobre os discípulos, e 3000 pessoas foram batizadas. Então Atos 2:42 descreve as atividades desta primeira igreja cristã, e diz: Acts 2:42: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.”
  • Isto também foi a prioridade dos apóstolos. Em Atos 6, encontramos uma situação em que algumas das viúvas não estavam recebendo o cuidado necessário da igreja, e os apóstolos ordenaram os primeiros diáconos para cuidar delas. E eles fizeram isso justamente para que eles mesmos pudessem continuar a se dedicar a “oração e ao ministério da Palavra”. Veja como eles viram a oração como uma prioridade muito alta, ao lado do ministério da Palavra.
  • O Apóstolo Paulo depois falou à igreja em Colosso (Col. 4:2): “Perseverai na oração, vigiando com ações de graças.”
  • E também à igreja em Tessalónica (1 Th. 5:16–18): “Regozijai-vos sempre. Orai sem cessar. Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.”
  • No Antigo Testamento também, Davi, em Salmo 116, quando ele reflete sobre toda a bondade que Deus demonstrou a ele, ele diz: Psa. 116:12–14: “Que darei ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo? Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor. Cumprirei os meus votos ao Senhor, na presença de todo o seu povo.” — Veja como a inovação do nome do Senhor fica antes dele cumprir os seus votos. A oração precede quaisquer atos de serviço ou obediência. A vida de gratidão e dedicação ao Senhor começa com a oração. 

É desta prioridade que o catecismo está falando aqui. Qual é a primeira e principal expressão da nossa gratidão a Deus? Servi-lo com nossos atos, ou falar com Ele como nosso Deus e Pai? Deus quer que nós primeiramente expressamos a nossa gratidão e amor por Ele com nossas palavras, porque Ele nos criou e nos salvou para nós vivermos em relacionamento com Ele. Nossa obediência não é a um Deus impessoal, mas ao nosso Deus e Pai que nos criou para ele. Confessamos isso em Dia do Senhor 3 no catecismo, que Deus nos criou para conhecê-lo, para amá-lo, e para viver com Ele em eterna felicidade para o louvar e glorificar. Deus não criou os seres humanos para ser seus “escravos”, para fazer as cosias por ele que ele não pode fazer por si mesmo—como os mitos pagãos da antiguidade representam seus deuses—mas ele nos criou como seus próprios filhos, em sua própria imagem, para O conhecer e amar. Em outras palavras, ele nos criou para ter relação conosco—uma relação profunda, feliz e abençoada.  

Então se fomos criados para se relacionar com Deus, então como fica esta relação? O Catecismo destaca corretamente: começa com a fala. Na verdade, como qualquer outro relacionamento. O que é um relacionamento sem comunicação? É a parte mais básica, mais essencial de qualquer relacionamento. Então Deus nos criou como nosso Pai, e agora em Cristo nos salvou para nos reconciliar a si mesmo, e nós, como filhos, devemos ir para o nosso Pai em oração e confiança, desejando falar com Ele e ouvir dEle em sua Palavra. O Cristão que diz, “não, eu obedeço os mandamentos, eu vivo uma vida moral, mas eu não faço este negócio de oração,”—simplesmente não é um cristão de verdade. Não tem um relacionamento com Deus. Deus não quer mera obediência. Como nós vimos na semana passada, estudando o décimo mandamento, Deus quer o nosso coração. O primeiro e principal dos mandamentos é: “amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração”. Expressamos este amor em nossas orações.

Nós vemos esta prioridade também na vida de Neemias. Neemias era um judeu exilado que vivia na Babilônia e servia como copeiro do rei da Babilônia – uma posição privilegiada para qualquer pessoa, especialmente para um judeu exilado. E lemos que, em um determinado dia, Neemias recebeu a visita de alguns homens de Judá, que relataram a ele a triste condição da cidade de Jerusalém, como ela estava destruída e em ruínas, e como o povo vivia em vergonha e miséria. Isso impactou profundamente Neemias. E veja o que ele faz. Nós conhecemos Neemias – se sabemos algo sobre ele – como um homem de ação. A expressão mais comum no livro de Neemias é “Eu fiz…” “Eu fiz isso, e então fiz aquilo.” E isso não é vanglória, mas apenas um registro honesto do que aconteceu.

Mas note a primeira coisa que ele faz no capítulo 1: Neh. 1:4: “Tendo eu ouvido estas palavras, assentei-me, e chorei, e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos céus.”
Por que Neemias orou? Aqui está o motivo; é muito simples. Porque ele acreditava que Deus, e somente Deus, poderia transformar a situação em Jerusalém. Ele acreditava nisso, e essa convicção estava tão profundamente enraizada nele que se tornou algo instintivo recorrer a Deus em oração.

Às vezes você escuta a expressão em uma situação difícil, “agora não tem mais o que fazer, a não ser orar”. Já ouviu isso? Se a pessoa já estava orando, então isto está certo. Às vezes chega o momento em que a única coisa que podemos fazer é orar. Mas às vezes tem que ser perguntado: antes deste momento, estávamos orando também? Ou só começamos a orar quando não tinha mais o que fazer? Será que nós nos consideramos gente de ação primeiramente, e de oração depois? 

Veja, Neemias era um “homem de ação”, par excêllançé. Mas ele entendeu que o fator decisivo seria a mão de Deus na restauração de Jerusalém. E ele entendeu então que o papel dele, a prioridade dele, era de ir a Deus em oração. 

Irmãos, nós também temos que compreender isso que Neemias entendeu. Como diz em Salmo 127:1: “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela.” Então todo o nosso trabalho, toda a nossa ação, não vai dar em nada se não temos a benção de Deus sobre nossos esforços, e para isso precisamos ter como prioridade a oração. 

E é isso que Deus também deseja de nós como o nosso Pai. Ele nos chama a orar. Jer. 33:3: “Invoca-me, e te responderei.” Is. 55:6: “Buscai o Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto.”  E ele promete que ouvirá as nossas orações. É isso que o Senhor Jesus Cristo também nos ensinou em Lucas 11:9: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á.” Como qualquer pai que ama seus filhos e se deleita em atender a seus pedidos, assim também nosso Pai nos chamar a cir a Ele em humildade e confiança.

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Agora, nós vamos falar em um momento sobre como Deus responde às nossas orações, mas primeiramente, devemos observar o que acontece quando oramos—algo que podemos ver também na oração de Neemias. 

A primeira coisa que acontece é que nós levamos as nossas preocupações diante de Deus, e somos lembrados e confortados que Ele nos ouve. Nós precisamos disso. Precisamos saber que nosso Pai nos ouve. Quando oramos, nós levamos as nossas preocupações diante de Deus, e as entregamos nas Suas mãos. Ele é capaz de cuidar de tudo que nos preocupa. Assim somos lembrados no momento de orar que nossa vida está na mão de Deus, que Ele nos ama, e que Ele cuida de nós. Precisamos desta lembrança. Pedro diz isso da seguinte forma em 1 Pedro 5:7: “lançai sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.” Paulo diz em Filipenses 4:6: “Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças.”

Quando diz, “sejam conhecidos diante de Deus” não significa que Deus não as conhece já antes. É claro que sim. Cristo também afirma isso: Matt. 6:8: “O vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais.” Não oramos para informar a Deus sobre coisas que Ele não conhece, mas oramos porque Ele quer que seus filhos levem suas preocupações a Ele, e nós mesmos precisamos lembrar que Ele as conhece. Assim a oração dá grande consolo para o cristão.

A segunda coisa que acontece na oração é que as nossas preocupações são alinhadas com a vontade de Deus. Você vê isso na oração de Neemias. Ele se apresenta diante de Deus angustiado e cheio de tristeza por sua cidade, e, ao longo dos dias de oração e jejum, ele não apenas leva suas preocupações a Deus, mas as preocupações de Deus tornam-se as dele. A preocupação de Neemias, conforme o versículo 3, é que o remanescente que estava em Judá vivia em grande miséria e vergonha, e que os muros da cidade estavam derrubados e os portões destruídos pelo fogo. Mas, ao longo dos dias de oração e jejum, as preocupações de Deus começaram a ser impressas no coração de Neemias, de modo que se tornaram as suas próprias. Assim, quando ele ora a Deus nos versículos 4-10, ele não começa orando sobre a condição da cidade, mas, ele começa confessando seu pecado, os pecados de sua família e os pecados do povo, que foram o motivo pelo qual Deus havia destruído a cidade e levado o povo ao exílio. Neemias reconhece o justo julgamento de Deus ao punir o povo e cumprir Sua Palavra. Deus havia advertido seu povo muito antes sobre isso, se eles quebrassem a aliança e adorassem a outros deuses. Assim, Neemias confessa o pecado e reconhece a fidelidade de Deus. Ele começa a enxergar a situação da perspectiva do Senhor. Então Neemias não somente levou as preocupações dele a Deus, mas também Deus o impressionou—por meio da oração e jejum—com as preocupações dEle.

Quando nós levamos as nossas orações a Deus, começamos a aprender quais são os interesses dEle, qual é a vontade dEle por nós. Nem sempre compreendemos suas propostas escondidas por trás de tudo que Ele faz em nossas vidas, mas sim começamos a enxergar com mais clareza a sua vontade revelada. E os nossos próprios desejos, por meio da oração, são levados em harmonia com a vontade de Deus. Começamos a desejar o que Ele mesmo deseja, e terminamos resolvidos com mais clareza e propósito fazer a vontade dEle.

Vemos depois da vida de Neemias como isso foi tão importante. Quando finalmente Deus providenciou um caminho para ele voltar à terra da promessa, liderando o primeiro grupo de exilados retornando para a terra, eles enfrentaram enorme oposição e dificuldade, além de muita infidelidade da parte do povo de Deus. Nos próximos anos, Neemias precisou desta clareza e firmeza para lidar com inimigos por fora e infidelidade por dentro dos judeus. Podemos ter certeza que Neemias jamais teria conseguido seguir uma linha reta por tudo isso sem voltar-se constantemente a Deus em oração.

E Neemias certamente não é a única figura na Bíblia cuja vida é marcada por esta constância em oração que produziu coragem e firmeza na prática. Podemos pensar em Daniel—que também estava em uma posição de poder e influência, e também era um homem de ação, mas que também, como Neemias, entregou todos os seus caminhos primeiramente ao Senhor em oração. Assim encontramos Daniel se ajoelhando em sua casa cinco vezes por dia, em oração. Se você ler Daniel 9, você encontra ali uma oração bem semelhante a de Neemias. Daniel lança suas ansiedades diante de Deus, e os interesses e preocupações de Deus se tornam se manifestam na oração de Daniel. 

Vemos a mesma coisa no rei Davi—outro homem de grande ação e coragem, um guerreiro temível. Em Salmo 55, Davi lança sobre Deus todas as preocupações e angustias do coração dele, e então ele chama aos demais crentes para fazer o mesmo: Psa. 55:22: “Confia os teus cuidados ao Senhor, e ele te susterá; jamais permitirá que o justo seja abalado.”

E qual será o melhor exemplo de uma vida de constante oração? Certamente seria do próprio Senhor Jesus Cristo. Quantas vezes ele se afastou sozinho, longe das multidões, longe até dos discípulos, nas montanhas ou no deserto, para passar um tempo em oração. Na noite em que ele foi traído, ele orou até muito tarde—os discípulos não conseguindo resistir o sono.

E talvez o exemplo de Cristo seja or mais surpreendente, porque se houvesse alguém que talvez não precisasse de orar, imaginamos que seria Cristo, o Filho de Deus, que conheceu a vontade de seu Pai tão perfeitamente, e que entendeu melhor de que qualquer um de nós o quanto que o Pai o amava! Mesmo assim, o encontramos em constante oração. Por que? Porque é justamente assim que o Filho perfeito expressa seu amor pelo Pai, e foi justamente por meio destas orações que Cristo saiu com a convicção e coragem que ele precisava para fazer a vontade do Pai todos os dias. 

Todos estes exemplos—Neemias, Daniel, Davi, e especialmente o Senhor Jesus Cristo—todos eles são homens de ação, mais de que qualquer um de nós. Tinham muitas responsabilidades e deveres, muita ocupação. Mas toda esta ocupação, longe de ser uma desculpa para não orar, foi justamente a razão pela qual eles precisavam de orar. Eles reconheceram que o resultado de todo o seu trabalho dependeu da benção do Senhor, e que sua própria fidelidade à vontade do Senhor dependia da clareza e convicção que vem da oração. 

Por estas mesmas razões, a oração sempre tem sido a prioridade mais alta na vida dos crentes: (a) Porque sabemos que Deus (e somente Deus) é capaz de realizar aquilo que precisamos; (b) e porque queremos ter certeza que a nossa vontade seja alinhada com a vontade de Deus. Somente então nós podemos nos levantar e agir, e podemos fazer isso com propósito, com confiança em Deus, e com tranquilidade de coração. Desta forma, a oração sustenta, direciona e define nossas ações. É somente depois de orar que nós podemos saber como agir.

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Agora muitas vezes as pessoas perguntam—talvez especialmente nas igrejas reformadas onde reconhecemos a soberania de Deus—por que orar, se Deus já sabe o que Ele vai fazer, e nada pode mudar os seus planos? Que diferença isso faz?

Nós já vimos como a oração nos transforma. Isso certamente é uma parte da reposta. A oração tem muito efeito sobre nós mesmos. Mas não podemos limitar o “efeito” da oração para isso. Mesmo que seja difícil ou até impossível para nós compreendermos como a oração possa “influenciar” a Deus, é isso que Deus mesmo diz na Sua Palavra. Deus não somente ouve, mas sim age em resposta às nossas orações. Nossas orações podem não mudar os planos secretos de Deus, mas certamente influenciam os atos visíveis de Deus. 

Podemos pensar sobre Moisés, quando Deus declarou que iria exterminar os Israelitas. Moisés implorou a Deus para repensar esta decisão, apelando para o efeito que isto teria no nome e na fama de Deus entre as nações. E o que as Escrituras dizem? “O SENHOR se arrependeu (!) do mal que dissera havia de fazer ao povo.” Que afirmação estranha! Deus se arrependeu de alguma coisa? Mas Moises—inspirado por Deus—usa esta linguagem, não porque ele imagina que os propósitos secretos de Deus tivessem se mudado, mas a postura e a intenção revelada de Deus mudou. 

Podemos pensar am Ana—em 1 Samuel 1—que apresentou diante do Senhor sua grande tristeza por não ter um filho—e o texto diz que o Senhor “lembrou-se” dela.

Podemos pensar no rei Ezequias, que recebeu uma palavra bem definitiva do profeta Isaías que ele não recuperaria de sua doença, mas “certamente” morreria. E ele se voltou ao Senhor, orando e chorando amargamente, e Deus mandou Isaías novamente a ele para dizer, “Ouvi a tua oração e vi as tuas lágrimas; eis que eu te curarei.” 

Deus ouve e Deus responde às nossas orações. É isso que Deus mesmo nos ensina. Se queremos tentar resolver isso em nossas mentes, o mais que podemos dizer é que mesmo que Deus tenha planejado tudo, seus planos incluem também as nossas orações. Mas Ele promete que ele responderá somente quando seu povo ora. 2 Crónicas 7:14: “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra.”

O presbítero Tiago também diz em Tiago 5:17: “Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo.”

E Cristo mesmo nos ensina—mesmo reconhecendo que Deus conhece as nossas necessidades de antemão—“Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á.”

Se não pedir, não espere receber. 

O catecismo afirma a mesma coisa: “Deus só concederá a Sua graça e o Espírito Santo àqueles que, constante e sinceramente, Lhe pedem esses dons e O agradecem por eles.”

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Agora, então, podemos perguntar: como Deus responde às nossas orações? 

Sabemos que Deus sempre ouve as nossas orações. É uma das promessas mais repetidas nos salmos. Salmo 145:18–19: “Perto está o Senhor de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade. Ele acode à vontade dos que o temem; atende-lhes o clamor e os salva.”

Agora, como ele responde às nossas orações?

  • Muitas vezes, Deus respondes nossas orações com um simples “Sim!” — concedendo misericordiosamente aquilo que pedimos. Deus se deleita em responder às orações dos seus filhos, dando-lhes aquilo que eles pedem. Isso é até a norma, como Cristo nos ensina. Quando oramos pela fé, confiando em Deus e alinhando os nossos pedidos com a vontade dEle, podemos esperar que ele sim atenderá a nossa oração. Como também Tiago diz, Elias orou a Deus para que não haja chuva, e por três anos e seis meses não houve chuva. Então ele orou novamente, e choveu.
    • Poderíamos achar injusto este exemplo, porque Elias era um profeta, diferente de nós. Mas também Tiago não está imaginando que os membros de sua igreja estariam orando por este tipo de coisa—que não haja chuva por três anos e seis meses. O ponto que ele quer destacar é a fé do crente. Nosso ofício é diferente do de Elias—então as coisas que vamos pedir também serão diferentes—mas a nossa fé deve ser a mesma. 
  • Outras vezes, Deus responde com um “não”. Às vezes o que queremos não é para o nosso bem, ou Deus tem algo melhor preparado por nós, ou Deus tem um plano especial que nós não compreendemos ainda.
    • Os pregadores de prosperidade e muitos pastores pentecostais afirmam que isso não existe. Que quando nós oramos com fé, Deus sempre concede aquilo que pedimos. Eles citam palavras de Cristo e das outras escrituras, totalmente fora de contexto, e distorcem estas promessas para transformar Deus em pouco mais de que um génio de lâmpada. Então quando Deus não dá aquilo que a pessoa pediu—a cura de uma doença, a salvação de um ente querido, um emprego, ou outra coisa—eles culpam a própria pessoa por sua falta de fé. Isto é uma terrível distorção do ensino Bíblico.
    • Estes pregadores deveriam então avisar o apóstolo Paulo sobre sua falta de fé. Pois Paulo também fala em 2 Coríntios 12 sobre alguma aflição corporal que ele recebeu do Senhor, e pelo que ele orou três vezes para que Deus tirasse, e Deus respondeu a ele, “A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza.” Então Deus não concedeu o alívio que Paulo desejava. 
    • Ou eles devem acusar o próprio Cristo, pois ele também orou ao Pai, “Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice!” e Deus o Pai não o tirou. Será que foi pela falta de sua fé? Parece que estes pregadores tem mais fé de que Cristo! Mas é claro que Deus o Pai não tirou o cálice porque foi necessário que Cristo passasse por este sofrimento, e que este mal seria transformado em bem. E Cristo, fazendo sua oração, se submeteu inteiramente à vontade do Pai. Ele não subjugou a vontade do Pai à vontade dele, mas se submeteu ao Pai, confiando na vontade dEle. Assim também os crentes devem fazer em suas orações: Sim, orando com fé pelas coisas que são de acordo com a vontade de Deus, e especialmente aquelas coisas que Deus nos prometeu em sua Palavra e que são de acordo com os ofícios que recebemos; mas sempre, sempre, nos submetendo inteiramente à boa e perfeita vontade do nosso Pai.
    • Às vezes então Deus diz “não”, e isso não é por causa da nossa falta de fé em orar, mas porque Deus tem um plano melhor, e conhece melhor de que nós mesmos as nossas necessidades. Em nossa fraqueza, o poder dEle se manifesta.
  • E outras vezes ainda, Deus responde com um “ainda não”. Às vezes Deus concede o nosso pedido só depois de muitos anos e muitas orações. E as razões por isso, também, só Deus conhece. Talvez nós não estamos prontos ainda. Talvez neste momento não nos fará bem. Talvez ainda precisamos aprender confiar nEle. Talvez precisamos aprender primeiramente se contentar com Ele.
    • Na minha primeira igreja, lembro de uma mulher que orou por 10 anos para ter um filho, e não teve. E finalmente ficou em paz com a decisão de Deus. E então, depois de todos estes anos, Deus concedeu o filho inesperadamente. Imagine a alegria da congregação no dia deste batismo!
    • Não digo que será sempre assim, ou que o “não” de Deus sempre significa algum descontentamento ou falta de fé da nossa parte. Os planos de Deus são misteriosos, e temos que aceitar isso. Não precisamos especular, mas podemos confiar que quando Deus diz “não” ou “ainda não”, é porque os planos de Deus são perfeitos, e melhores de que os nossos.
  • E ainda às vezes, Deus responde por meio da própria oração, mudando e transformando os nossos desejos. Às vezes chegamos diante de Deus em oração, com o coração pesado por algum motivo; e lendo sua palavra, levando nossas preocupações diante dele, meditando na sua vontade, começamos a perceber que os nossos desejos são errados, ou nossos motivos são errados. E assim, Deus mesmo, por meio das nossas orações, alinha os nossos desejos com sua própria vontade.
    • Salmo 37:4–5 diz: “Agrada-te do Senhor, e ele satisfará os desejos do teu coração. Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e o mais ele fará.” Quando os nossos desejos são todos nesta terra, nós precisamos aprender novamente a desejar o Senhor como nosso único e supremo desejo. Então Deus finalmente concede aquilo que desejamos, que é ele mesmo. “Agrada-te do Senhor, e ele satisfará os desejos do teu coração.” 

——

Agora voltando ao Catecismo, o catecismo faz mais um pergunta que merece nossa atenção, pelo menos bem brevemente. Ele faz a pergunta, “O que é preciso para que nossa oração agrade a Deus e por Ele seja ouvida?” E ele responde destacando três coisas, que nós podemos resumir em três simples frases:

  • Devemos conhecer a Deus.
  • Devemos conhecer a nós mesmos.
  • E devemos conhecer o evangelho.

Temos que conhecer a Deus. Este é o fundamento da oração. Não devemos orar a Deus como nós imaginamos que Ele é, ou como nós gostaríamos que Ele fosse, mas como Ele é, como Ele se revelou em sua Palavra. Temos que conhecer o nosso Pai. Fazemos isso por meio de Sua palavra, lendo e estudando e meditando. 

Quando fazemos isso, então muitas vezes a nossa oração vai ser uma reposta àquilo que Deus está nos ensinando em sua Palavra. Não devemos somente apresentar os nossos pedidos a Deus, mas devemos ouvir o que Ele diz, e em nossas orações meditar sobre isso e pedir a sua ajuda para obedecer isso. 

Se as suas orações estão se tornando muito repetitivas—sempre pedindo as mesmas coisas com as mesmas palavras—então você deve se perguntar: será que eu estou ouvindo a Deus? Estou lendo sua Palavra e meditando nela, e permitindo que Deus fale ao meu coração por meio dela? Se de fato estamos fazendo isso, então não vai faltar coisas novas para levar para Deus em oração.

Vocês que são pais de família, temos que pensar sobre isso. Admito minha fraqueza nisto também: muitas vezes minhas oração de família são repetições das mesmas palavras. Não deve ser assim. Temos que pensar mais, e ser mais conscientes em liderar a nossa família em oração pessoal e sincera a Deus o nosso Pai. Uma coisa que pode nos ajudar nisso é a leitura que também fazemos juntos: podemos meditar na leitura que fizemos, conversar sobre ela, e então orar justamente sobre estas coisas. 

E devemos fazer o mesmo também em nossas orações particulares. Nossas palavras devem sempre ser informadas e moldadas pela Palavra de Deus. E assim que realmente comunicamos com Deus e vivemos em relacionamento verdadeiro com Ele.

Segundo, devemos conhecer a nós mesmos. Temos que lembrar que somos criaturas dependentes do cuidado constante de Deus. Temos que lembrar da nossa fragilidade, nossa fraqueza e nossa completa dependência dEle. Somente quando sabemos disso — como diz o Salmo 127: “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam” — é que a oração se tornará uma realidade necessária e constante em nossas vidas.

Também precisamos saber que somos pecadores dependentes da graça de Deus. Por um lado, somos filhos de Deus, e Ele nos convida a nos achegarmos a Ele e lançarmos sobre Ele todas as nossas preocupações. Por outro lado, sabemos que não nos aproximamos “casualmente” ou “levianamente” do trono da graça. Lembramos que, à parte de Cristo, não teríamos nenhum direito de acesso a Ele, e nossa atitude diante dEle deve sempre ser marcada pela mais profunda humildade e submissão. Vemos isso na oração de Neemias e na oração de Daniel, onde ambos se referem a si mesmos diante de Deus como “teu servo.” Eles se conheciam.

Terceiro, precisamos conhecer o Evangelho. Precisamos saber que, por causa da vida perfeita de Cristo em nosso lugar e de Sua morte obediente para pagar o preço pelos nossos pecados, somos bem-vindos diante do trono da graça de Deus. Ele nos chama a “vir.” Por causa de Cristo, quem vem a Ele, Ele jamais lançará fora (João 6:37). Precisamos saber que nosso Pai Celestial nos ama por causa de Cristo. Ele nos ama, apesar de todos os nossos pecados e indignidade. Ele se alegra em nos ouvir chegando diante dEle, e Ele se deleita em às nossas orações, envolvendo-nos com Sua paz e assegurando-nos do Seu amor. Às vezes, isso é tão difícil de acreditar porque pensamos: “Eu não sou digno da atenção de Deus.” Não, você não é. Mas Cristo é. E Cristo fez com que você pertencesse a Ele, o que significa que Deus o Pai também fez de você Seu filho amado, a quem Ele ama e cuida com um amor que o melhor pai terreno jamais poderia comparar.

Portanto, irmãos e irmãs, aproximem-se de Deus. Foi para isso que Ele os criou. Foi para isso que Ele enviou Cristo para salvá-los, para que vocês O conhecessem, se aproximassem dEle e vivessem em relacionamento com Ele.
Nas próximas semanas, vamos mergulhar profundamente na oração que o próprio Senhor nos ensinou, para descobrir as coisas que Ele quer que oremos e as preocupações dEle e que Ele deseja que se tornem nossas. Convido vocês, irmãos e irmãs, a se juntarem a mim em orar novamente por essas coisas, aprofundando e ampliando nossas orações ao nosso Pai Celestial, que nos ama como Seus filhos queridos em Cristo, e que se deleita em falar com Seus filhos e em ouvi-los falar com Ele.

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Jonathan Chase

Jonathan Chase

O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020. 

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.