Leitura: Mateus 3.1-12, Romanos 6.1-11, 1 Pedro 3.18-22
Texto: Dia do Senhor 26
Irmãos em nosso Senhor Jesus Cristo,
Semana passada nós começamos este estudo sobre os sacramentos da igreja Cristã. Como vimos na semana passada, os sacramentos são os “rituais” ou “cerimónias” que Cristo ensinou aos seus discípulos para ensinar à igreja, e funcionam como “sinais” e “selos” da aliança.
Hoje de manhã, vamos estudar o sacramento do Batismo. Queremos entender o significado do Batismo, e especialmente quero destacar a importância do Batismo na vida do Cristão.
Hoje em dia, muitos cristãos que não veem muito valor em seu batismo. Tem vários motivos por isso. Às vezes é uma reação contra a superstição dos séculos passados. Às vezes é uma reação contra a presunção de muitos cristãos que imaginem que o batismo já é tudo que precisam pra ser salvos, e não vivem pela fé em Cristo numa vida santa. Isso é até compreensível.
Claro, pra outros ainda, o desprezo pelo batismo faz parte de uma rejeição geral da fé cristã. Talvez culturalmente eles se identifiquem como cristãos porque nasceram em famílias cristãs, e foram batizadas em uma igreja cristã, mas eles não seguem a fé dos seus antepassados. Esses são o que chamamos de cristãos “nominais”: cristãos apenas de nome. Sem dúvida, existem muitos cristãos nominais aqui no Brasil.
Mas às vezes também existem cristãos que realmente levam sua fé a sério, que leem as Escrituras e oram regularmente, que genuinamente confiam em Cristo diariamente, mas que ainda não veem muito valor em seu batismo. Eles simplesmente não enxergam como o batismo faz uma diferencia em sua vida. É apenas algo que aconteceu. Confesso que por muitos anos, eu pensei da mesma maneira.
Estou convencido, porém, pelo valor muito alto que a própria Escritura dá a este sacramento, o que nos mostra que o batismo é algo muito sério aos olhos de Deus.
Podemos ver isso em vários lugares nas Escrituras. Já lemos alguns.
Observem em primeiro lugar, irmãos, o simples fato de que o próprio Cristo Jesus ordenou aos discípulos que administrassem este sacramento. Ele não disse: “vá e faça discípulos, e se vocês acham legal, fica à vontade para batizá-los.” Não, Ele ordenou que todos os convertidos sejam batizados. Da mesma forma em Atos 2, quando Pedro pregou às multidões em Jerusalém e os judeus perguntaram e ele: “o que devemos fazer?” A resposta de Pedro foi: “arrependem-se e sejam batizados para o perdão dos seus pecados”. E naquele dia, 3.000 pessoas foram batizadas. Imagine quanto tempo isto teria levado, para batizar todos aqueles 3.000 pessoas. Mas eles fizeram porque Cristo mandou e porque os apóstolos valorizaram este sacramento. Assim, desde o início, de acordo com o mandamento de Cristo, os primeiros cristãos valorizavam batismo como algo muito importante.
Vemos isso mais fortemente ainda quando chegamos às Epístolas no Novo Testamento, onde o sacramento do batismo continua surgindo de novo e de novo, e os apóstolos, escrevendo no Espírito, falaram muito sobre do sacramento. Em nosso texto em Romanos 6, Paulo escreve,
Rom. 6:3–4: “Porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida.”
Veja como Paulo viu algo muito importante que acontece em nosso batismo. Pelo batismo, fomos feitos participantes na morte e na ressureição de Cristo. Você pode ver a mesma coisa em muitos outros lugares nos escritos de Paulo. Gal. 3:27: “porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes.”
Você pode ver o mesmo também no apóstolo Pedro, como no texto que lemos anteriormente de 1 Pedro 3. Lá ele diz: “O batismo, que corresponde a isso [a arca de Noé], agora vos salva, não como o remoção da sujeira do corpo, mas como um apelo a Deus por uma boa consciência por meio da ressurreição de Jesus Cristo”. Em outras palavras, o batismo funciona como a prova da nossa salvação porque ele proclama nossa participação na morte e ressurreição de Cristo – o mesmo ponto que Paulo fez em Romanos 6.
Então, irmãos, é muito claro que os apóstolos – e o Espírito de Deus escrevendo através deles – assim como o resto da igreja primitiva dava um valor muito alto ao sacramento do batismo.
Eles não fizeram isso supersticiosamente – como talvez imaginamos – porque Pedro deixa muito claro, não se trata do poder da água que simplesmente remove a sujeira do corpo. O batismo vale porque proclama a nossa participação na morte e na ressurreição de Cristo.
Então, devemos perguntar nós mesmos: “será que nós valorizamos nosso batismo da mesma forma como os apóstolos e os primeiros cristãos o valorizavam?” E se não, o que é que eles entenderam sobre o batismo que nós talvez tenhamos esquecido ou talvez nunca realmente entendemos? Essa é a questão que queremos tratar agora.
Para entender o significado do batismo, temos que começar com a imagem que o sacramento de batismo apresenta, que remonta ao Antigo Testamento. Já lemos sobre um “tipo” de batismo do Antigo Testamento, em 1 Pedro 3, que é o dilúvio de Noé. Pedro faz esta analogia: assim como o mundo dos dias de Noé foi inundado com água, que removeu toda a impureza daquele mundo, mas levou Noé e sua família na arca para a segurança – assim o batismo funciona como um sinal de que fomos separados do mundo e levados dojulgamento para a graça. A velha humanidade morre e uma nova humanidade ganha vida dentro de nós.
Paulo faz uma analogia semelhante em outro lugar onde compara o batismo com a travessia do Mar Vermelho (quando os israelitas fugiam do exército de Faraó), e disso vemos um ponto semelhante: as águas que afogaram Faraó e seu exército tornaram-se as águas que resgatou o povo de Israel e o separou do resto do mundo como um povo pertencente a Deus.
Tem um outro prenúncio do Batismo em 2 Reis 5, que é a história da conversão do general sírio Naamã. Esse capítulo descreve a primeira ocasião de um batismo, realizado pelo profeta Eliseu. O incrédulo general sírio Naamã veio a Eliseu para se curar da lepra, e Eliseu ordenou que ele fosse se lavar sete vezes no rio Jordão. Se você conhece a história, deve se lembrar que este importante e poderoso general do exército Naamã ficou muito chateado com essa ideia, porque o rio Jordão era um rio sujo, diferente de que os rios do seu país – seria humilhante ser batizado naquele rio. Mas, eventualmente, seus servos o persuadiram de que, se funcionasse para curá-lo de sua lepra, obviamente valeria a pena, e então Naamã finalmente foi lá e fez o que o profeta mandou. E naquele momento, ele emergiu da água limpo, e não somente limpa da lepra exteriormente, mas também um novo homem interiormente. Purificado, não só de sua lepra, mas também de sua idolatria e pecado, porque ele foi a Eliseu e disse: “Eis que agora eu sei que não há Deus em toda a terra, senão em Israel” e “desde agora, teu servo não oferecerá holocausto nem sacrifício a outro deus senão ao Senhor.” Então foi realmente um momento de regeneração.
Neste evento, vemos um claro prenúncio do batismo cristão: este gentio incrédulo foi trazido para a água, foi purificado, e saiu da agua um novo homem, tanto literalmente quanto fisicamente. Foi uma morte e ressurreição.
Este primeiro batismo no Jordão estabeleceu o padrão para o ministério de batismo de João Batista. Nos anos antes do ministério de Jesus, João Batista começou a batizar no deserto — no rio Jordão, onde Naamã foi batizado. João Batista foi um profeta enviado por Deus, e seu batismo foi chamado de “batismo de arrependimento”. Ele ensinou que o Reino de Deus estava próximo e chamou o povo de Deus—a nação de Israel—a se arrepender de seus pecados e se preparar para o Reino de Deus.
Agora, precisamos parar e entender que há claramente uma diferença de significado entre o batismo de João e o batismo de Jesus. O próprio João Batista deixou isso muito claro em sua pregação. Ele disse ao povo: “Eu os batizo com água, mas virá após mim um que os batizará com o Espírito Santo e com fogo”.
Agora, temos que perguntar: “o que João quis dizer com isso?” Porque sabemos que Jesus também instituiu o batismo com água. Então João claramente não quis dizer, eu te batizo com água, mas Ele não vai te batizar com água. Em vez disso, o que João quis dizer foi que meu batismo é apenas um batismo com água. É apenas um sinal. Este batismo não concede o Espírito, diferente do batismo de Jesus que vem após mim.
Então não devemos igualar o batismo de João Batista e do Senhor Jesus, como se fosse essencialmente a mesma coisa. O próprio João Batista disse que não é a mesma coisa. Resumindo, João Batista disse: “Estou apenas lhe dando o sinal. Ele lhe dará, junto com o sinal, também a realidade que ele significa.” Tanto o fogo do julgamento para aqueles que não crêem (como as águas do dilúvio de Noé) quanto o Espírito para aqueles que crêem.
Então fica claro que o batismo de Jesus significa muito mais do que o batismo de João Batista.
Somos adotados no Nome do Pai
E isso nos leva então à instituição do batismo pelo próprio Senhor Jesus. Aqui, fica muito claro que esse batismo foi muito mais do que o batismo de João. Veja o que Jesus disse em Mateus 28:19: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;” Esta frase “em nome” é super-importante, porque é exatamente nisso que nós vemos a diferencia entre o batismo de Jesus e de João Batista. O batismo de Jesus, diferentemente do de João, é o batismo em um Nome. Isso é muito importante.
Agora, tem uma dificuldade na língua Portuguesa que pode causar confusão neste ponto. Quando nós dizemos “em nome,” de alguém, isso geralmente significa “sob a autorização” daquela pessoa. Mas não é isso que Jesus está dizendo, o que está muito claro na palavra grega usada em Mateus 28. A palavra grega é “para,” não “em.” Então a tradução certa é “batizando-os para o nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo.” E isso é importante, porque o significado do batismo é exatamente que aquela pessoa sendo batizada está recebendo o nome de Deus em si. Este é o ponto.
O batismo é o sinal da aliança. Ele significa que nós pertencemos a Deus—Pai, Filho, e Espírito Santo.
A aliança de Deus (também chamado o “Pacto”) é o relacionamento formal entre Deus e seu povo. Como nós temos alianças aqui na terra—por exemplo o casamento, ou a adoção de uma criança—podemos ver que uma aliança tem elementos formais e informais. Quando marido e mulher se casa, eles são oficialmente casados. Oficialmente pertencem um a outro. E claro, deve ter também o amor sincero entre marido e esposa, que é o elemento informa. Ou quando um casal adota um filho, tem um elemento “formal” (vai assinar os papeis de adoção para que a criança legalmente pertence a eles) e tem elementos “informais”—o amor dos pais para seu novo filho, o amor da criança para seus pais, etc.
Desde o Antigo Testamento, quando Deus fez uma aliança com Abraão, Deus se relaciona com seu povo redimido através de uma aliança. E esta aliança tem elementos formais e informais. Formalmente, somos adotados por Deus como seus filhos através do sinal da aliança—no AT, a circuncisão, e no NT, o batismo. E informalmente Deus nos mostra seu amor em Cristo, e nós o amamos e confiamos nEle pela fé.
Então, irmãos, é exatamente disso que o Batismo também se trata. O batismo de Jesus é um ato de adoção na aliança de Deus. Somos batizados no Nome (ou “para o Nome”) de Deus, o que significa que naquele momento formalmente, oficialmente, nós pertencemos a Deus Pai, Filho e Espírito. É paralelo à assinatura de papéis de adoção por Deus, tornando-nos formalmente, oficialmente e publicamente seus filhos. É disso que Jesus está falando aqui.
Se entendermos isso, podemos começar a entender por que os apóstolos e os primeiros cristãos viam o batismo como um momento tão importante. Não é sobre a água em si ou o ritual em si: é sobre o que ela significava, que é que, naquele momento, eles foram tirados do mundo e adotados por Deus como Seus próprios filhos. Assim como uma criança adotada sempre olhará para trás no momento em que esses papéis foram assinados como o momento que mudou sua vida e sua identidade para sempre, foi assim que os apóstolos e os primeiros cristãos viram seu batismo. Por isso o viram como um momento tão importante: porque naquele momento se tornaram filhos de Deus.
Vemos então que pelo Batismo, Deus separa oficialmente seus filhos do mundo. Por isso que o Batismo e a consequente membresía na igreja é algo de suprema importância. Cristo não apenas disse que os seus seguidores serão marcados pela fé. Eles seriam marcados pelo batismo, e assim separados do mundo. Hoje me dia, existem muitas pessoas que estão contentes em ser apenas visitantes na igreja, e passam anos se se importar com o batismo e a membresía. Entendam bem, irmãos: Aqueles que não são batizados ou não entram na igreja estão desvinculado de Cristo. Estão fora da aliança, onde não há salvação. Os sacramentos marcam visivelmente quem são os filhos de Deus.
É por isso que o batismo começa com o Nome de Deus Pai, porque neste momento Deus se torna o nosso Pai, e nós os Seus verdadeiros filhos.
Desta forma, o batismo funciona como a circuncisão no Antigo Testamento, como sinal de nosso pertencimento à aliança de Deus. Veremos isso com mais detalhes nas próximas semanas, quando lidarmos com a questão do batismo infantil.
Então esse é o primeiro ponto que queremos reconhecer sobre o significado do batismo, que torna o batismo de Jesus muito diferente do de João, e isso ajuda a explicar por que os apóstolos e os primeiros cristãos o valorizavam tanto.
Somos lavados com o sangue de Cristo
Mas as Escrituras dizem ainda mais sobre o significado do batismo na vida de um cristão. Porque não somos apenas batizados no Nome do Pai, também somos batizados no Nome do Filho.
O que então significa que somos batizados no Nome do Filho?
Ou para perguntar de outra forma: se já somos batizados no Nome do Pai, por que Jesus ainda acrescenta que somos batizados no Nome do Filho?
Se tudo que o batismo significava era adoção na aliança de Deus, então poderia ter sido suficiente para nós sermos batizados no Nome do Pai ou apenas no Nome de Deus.
Mas Jesus ordenou que fôssemos batizados no Nome do Filho também, e nisso vemos outra razão pela qual o batismo era tão importante para os Apóstolos e primeiros cristãos: porque sendo batizados no Nome do Filho, estamos unidos a Cristo e feitos participantes com Ele em tudo o que Ele fez.
Isso é tão importante, e vemos isso destacado em muitos lugares do Novo Testamento. Mas eu quero olhar com vocês especialmente em Romanos 6. Neste contexto, Paulo está sendo perguntado: “se já somos salvos pela graça, por que não viver em pecado?” E Paulo responde a isso apontando especificamente para o nosso batismo em Cristo. Ele diz: “Vocês não sabem que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados em sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo, para que, assim como Cristo ressuscitou dentre os mortos pela glória do Pai, também nós andemos em novidade de vida”.
O que Paulo está nos ensinando é que em nosso batismo, somos unidos a Cristo e feitos participantes de Sua morte e ressurreição. O batismo não apenas declara que pertencemos ao Pai e participamos da aliança; o batismo também declara especificamente que participamos da morte e ressurreição de Cristo, pelas quais somos salvos da ira de Deus. O batismo é o momento de nossa libertação do julgamento que está vindo a este mundo, e é o sinal de que fomos separados para a salvação pelo sofrimento, morte e ressurreição de Cristo.
Isso é exatamente o que Pedro descreve no texto que lemos em 1 Pedro 3. Ele diz: “O batismo, que corresponde a isso [a salvação de Noé e sua família do dilúvio], agora os salva – não como uma remoção de sujeira do corpo, mas como um apelo a Deus por uma boa consciência por meio da ressurreição de Jesus Cristo.” Isso é linguagem bem forte, né? Ele diz, “o batismo os salva” e podemos talvez pensar, “per aí, Pedro, cuidado com esta linguagem tão forte porque pessoas vão tomar a conclusão errada…” Mas Pedro faz todo o cuidado para esclarecer imediatamente depois que ele não quer dizer que a água em si carrega qualquer poder especial. Ele está falando sobre aquilo que o Batismo representa. E o que ela representa é a nossa participação na morte e ressurreição de Cristo, que é a base (e a única base) para podermos ter uma “boa consciência” aos olhos de Deus.
Assim, embora os apóstolos e os primeiros cristãos entendessem bem que o ato do batismo em si não nos salva, ainda assim eles reconheceram que Cristo havia dado o batismo como o sinal ao qual Ele atribui a promessa, que aqueles que são batizados são verdadeiramente salvos da ira de Deus.
Isto é proclamado nas próprias imagens do batismo também. Em seu significado mais básico, o batismo é uma imagem de lavagem, e isso significa que fomos lavados no sangue de Cristo, ou seja, no batismo somos purificados da mancha do pecado e tornados limpos e santos aos olhos. de Deus.
Agora, é claro, nada disso significa que aqueles que são batizados com água são automaticamente salvos. Como membros da aliança, somos chamados a viver pela fé de acordo com as obrigações aliança.
Mas não devemos por isso (como muitos cristãos fazem) desprezar o Batismo. Vejam, irmãos, como as Escrituras honram e afirmam o valor real de pertencer à aliança de Deus pelo batismo. Não apenas Pedro diz que “o batismo vos salva”, mas, como vimos anteriormente, Paulo também diz: “todos os que foram batizados se revestiram de Cristo”. É linguagem forte porque o batismo representa algo muito sério.
Agora, claro, reconhecemos que existem hipócritas dentro da aliança. Pertencer à aliança por si só não salva ninguém; deve sempre ser acompanhado pela fé. Mas isso não muda o fato de que as Escrituras valorizam muito este aspecto “formal” da aliança de Deus. Dentro da aliança é o lugar da salvação. O Batismo como sinal da aliança, como os votos que o marido e mulher fazem no casamento, ou como os papeis que os pais assinam na adoção, é a declaração de amor e compromisso de Deus. Aqueles que quebram esta aliança e se afastam de Deus – mesmo que talvez nunca tenham tido a fé interior que deveriam – eles ainda estão perdendo algo precioso. É igual a uma esposa que abandona seu marido e assim quebra a aliança. Mesmo se nunca tinha o amor verdadeiro que deveria, não iríamos dizer que ela “não perdeu nada pois nunca tinha mesmo.” Perdeu sim. Perdeu muito. Da mesma forma, a aliança, mesmo que não garante a fé interior que deveríamos ter, ainda é muito valioso, porque é o lugar certo da segurança e da salvação.
Então, irmãs, podemos dizer que o batismo é o sinal e o selo de que somos verdadeiramente trazidos à aliança com Deus. É o “voto de casamento” de Deus, por assim dizer – ou, como vimos na semana passada, é a “aliança de casamento” que Cristo dá como penhor de sua fidelidade constante e amor permanente. Assim, no batismo, somos formalmente adotados por Deus Pai, e somos verdadeiramente (oficialmente) feitos participantes da morte e ressurreição de Cristo. Nossos nomes estão escritos, por assim dizer, no livro da vida.
Se alguém se afastasse de tudo isso e abandonasse a aliança, não seria culpa da aliança. Não seria falta de fidelidade de Deus. Seria devido à sua própria incredulidade. E eles realmente perderiam o que oficialmente lhes pertencia. É por isso que as Escrituras falam de nomes sendo até “apagados” do Livro da Vida. Por isso que a excomungação da igreja é algo muito sério. Quando uma pessoa está excomungado porque recusa de abre mão do seu pecado, ele é cortado fora da aliança. Não é mais contado entre os filhos de Deus, e perde o lugar da salvação, que é a aliança. E Cristo disse claramente, “tudo o que ligardes na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra terá sido desligado nos céus.”
Aqui, também é importante que façamos uma distinção entre o que as Escrituras dizem sobre a eleição e o que as Escrituras dizem sobre a aliança– falaremos mais sobre isso nas próximas semanas. Precisamos reconhecer que nas Escrituras essas são duas coisas diferentes. Aqueles a quem Deus escolheu desde a eternidade para serem finalmente salvos, serão verdadeiramente salvos – ninguém se perderá. E eles são atraídos a Deus por meio de Sua aliança e desfrutam de pertencer à Sua aliança. Mas nem todos os que estão na aliança são eleitos. As Escrituras também falam de pessoas que quebram a sua aliança—aqueles que abandonam a aliança e demonstram ao longo do tempo que não foram eleitos e nunca tiveram interiormente a fé que pertence à aliança.
Tendo dito isso, então, podemos entender por que as Escrituras falam em uma linguagem tão forte sobre o batismo, e por que os apóstolos e os primeiros cristãos o valorizavam tanto: porque no batismo somos verdadeiramente e oficialmente lavados no sangue de Cristo e separados o mundo para a salvação. Todo aquele que é batizado se revestiu de Cristo. Isso é tanto sua condição como também sua obrigação. Por isso os apóstolos disseram, àqueles que já foram batizados: “revesti-vos de Cristo.” Seja revestido de Cristo não apenas formalmente ms também espiritualmente.
Somos vivificados pelo poder do Espírito
E isso nos leva então ao terceiro e último significado do batismo, que está relacionado ao Nome do Espírito no qual também somos batizados.
Já vimos que João Batista distinguiu o batismo que ele administrou com o de Jesus especificamente dizendo: “ele os batizará com o Espírito e com fogo”. Não deve nos surpreender, então, que o Senhor Jesus, na instituição do batismo, também fale dele como um batismo no Nome (ou “para o nome”) do Espírito Santo.
Isso também é proclamado no simbolismo do ato do batismo. Seja por imersão na água ou aspersão com água, essa água não é apenas uma imagem do sangue de Cristo que nos purifica de nosso pecado, mas também do Espírito de Cristo que nos dá uma nova vida. Através das Escrituras, Antigo e Novo Testamento, a água sempre foi usada como símbolo do Espírito Santo. Podemos pensar especialmente na imagem que aparece muitas vezes de um rio fluindo do templo em Jerusalém, por exemplo em Salmo 46 e Isaías 7. Este “Rio” representava a constante presença de Deus com seu povo que dava vida espiritual a eles.
Vemos esta mesma imagem nas visões que o profeta Ezequiel teve, particularmente em Ezequiel 47. Ali, naquela visão, Ezequiel vê um rio fluindo do templo de Deus, crescendo em tamanho e profundidade à medida que flui, e inundando (ou você pode dizer, “batizando”) o mundo inteiro à medida que flui e cresce. E não há dúvida de que naquela visão, aquele rio representa o Espírito de Deus. Por onde quer que fluísse, dava vida a todas as criaturas, e nas suas margens cresciam árvores, que todos os meses davam frutos, e cujas folhas eram para a cura das nações. É uma visão do derramamento do Espírito.
O batismo é o sinal de que fomos santificados por esta água vivificante, ou seja, pelo Espírito. No batismo, o Espírito é derramado sobre nós – ou somos imersos Nele (ambas são metáforas bíblicas), e Ele faz vivo o que antes estava morto. É por isso que o batismo é chamado de “lavagem da regeneração” – porque no sacramento do batismo, somos santificados e separados pelo Espírito para ser uma nova criação.
Por isso a heresia do pentecostalismo é tão perigoso, porque ele separa o batismo do batismo do espírito, como se fossem duas coisas distintas. Sim, durante a era dos apóstolos, às vezes os dons especiais do espírito vieram em algum momento depois, mas todos os que foram batizados já foram batizados no espírito, pois foi assim que Cristo instruiu a igreja: “batizando-os em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo.”
Agora, novamente, isso não significa que o ritual do batismo de alguma forma “funciona” por si só ou que o Espírito cria automaticamente um novo coração em cada pessoa batizada. Não, como é o caso com o batismo em nome do Pai e do Filho, o batismo para o nome do Espírito é um sinal pactual, ou seja, que significa a nossa pertença ao Espírito e Seu compromisso de produzir uma nova vida dentro de nós à medida que respondemos com fé.
Agora, é possível se perder na lógica aqui, porque afinal, não é o Espírito que produz fé? Então como é que o Espírito pode exigir a fé? Irmãos, aqui nós nos enfrentamos com a antiga dilema entre a soberania de Deus e a responsabilidade humana, que não vamos resolver. É Deus quem converte o coração, mas é a obrigação de cada pessoa se converter. Não vamos resolver isso, mas devemos confessar o que as Escrituras nos ensinam.
Mas o Espírito Santo sim nos promete que à medida que respondemos com fé, Ele sim regenerará a nossa vida, e nos fará verdadeiros participantes com Cristo.
Se alguém for batizado e depois ele se afasta da fé, ele não pode culpar o Espírito por não cumprir Sua parte no acordo. Ele não teria ninguém para culpar, mas só ele mesmo.
O que o Espírito promete no batismo é que Ele nos separou do mundo para pertencer a Si mesmo, para ser uma nova criação, para viver pelo Seu poder, contanto que O recebamos com fé, O busquemos por fé, e andar com Ele pela fé. As promessas que Deus nos faz no batismo são promessas pactuais e demandam uma resposta de fé. Assim, somos verdadeiramente separados do mundo em nosso batismo, e feitos para pertencer a Deus como uma nova criação, mas também somos chamados e obrigados por este novo status que recebemos, a viver pela fé e buscar o poder e a orientação do Espírito todos os dias.
Então, irmãos, não desprezem o sinal externo, como se a realidade interna fosse tudo o que importasse. Embora sim o sacramento do batismo nos obriga a uma vida de fé e não vai nos beneficiar senão pela fé, ele não deixa de ser um sacramento pelo qual Deus realmente nos separa do mundo como Seu próprio povo. E aqui é a consequência prático disso: por causa de nosso batismo, podemos dizer com confiança que somos verdadeiramente filhos de Deus, podemos invocá-Lo como Pai; podemos ensinar nossos filhos a invocá-Lo como Pai. Nossa fé não fica apenas algo invisível; é algo que mostramos publicamente diante de Deus e do mundo. Nós, e nossos filhos, tem a segurança e a liberdade de invocar a Deus de forma que o mundo não tem: como o Nosso Pai em Cristo. Por isso também podemos apelar para o sangue de Cristo que foi derramado por nós; e por essa razão podemos responder à presença e poder do Espírito em nossas vidas com uma resposta de fé e gratidão, e ter certeza de que somos salvos e verdadeiramente herdeiros da vida eterna.
Então, irmãos, não é sem razão que os apóstolos e os primeiros cristãos falaram com tanta frequência e de forma tão elevada sobre seu batismo. Não é que eles fossem supersticiosos ou considerassem o batismo de forma elevada demais; é porque que eles entenderam o que o batismo significava e entenderam que todas as promessas de Deus em Cristo foram realmente dadas e seladas para eles neste sacramento, para que pudessem dizer verdadeiramente: “pelo batismo, fomos salvos”.
Jonathan Chase
O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020.
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.