Dia do Senhor 23

Leitura: Efésios 02.01-10; Apocalipse 20.11-15
Sermão: Dia do Senhor 23

Amada congregação do Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo,
O homem pode perceber bem que ele é um pecador e a terra é maldita pelo Deus Santo. Vemos as consequências da rebeldia contra Deus: Homens e mulheres, escravizados pelo seu mestre, o diabo, vivem cada dia na tristeza, violência, raiva, descontentamento e temor do dia do juízo final. Os que estão presos aos hábitos dos pecados percebem esse peso de forma intensa, e muitos estão procurando um caminho de escape. Lemos na Bíblia sobre a condenação de todos os pecadores, e reconhecemos que a mesma incluirá todos os que, com o seu coração, não servem a Deus na terra – ou membros em algum grupo que se chama igreja, ou outro nome.

Você já pensou sobre esse dia? Como está sua vida? O que vai acontecer quando você ficar em pé perante o trono do SENHOR? Às vezes são dúvidas difíceis para nós, porque conhecemos a Bíblia, reconhecemos que somos pecadores, e também reconhecemos aquilo que pecadores merecem como é revelado em Apocalipse 20 – as nossas consciências nos acusam destas coisas. Conhecemos que merecemos condenação, porque a Bíblia diz que pecado contra o Altíssimo Criador, Deus majestoso, merece castigo severo para seu corpo e sua alma durante toda a eternidade. Assim diz a Bíblia sobre todos os que não são justos, e a nossa consciência nos mostra que merecemos esta punição. O ensino da Bíblia e a Confissão da igreja deixam bem claro esta verdade. Deus, no entanto, me deu o que não mereço; deu o dom do seu Filho, o dom da fé e o dom da esperança para esta vida e a vida que vem. E a luz do evangelho brilha nas nossas lutas, iluminando as nossas situações e encorajando os nossos corações pesados. Trago o evangelho de Cristo sob o seguinte tema:

Tema: Deus, no entanto, nos dá o que não merecemos.

Veremos os dons de Deus que são:

  1. O seu Filho
  2. A verdadeira fé
  3. A esperança eterna.
  4. O dom que é o seu Filho.

Amados irmãos, é difícil os Cristãos compreenderem o evangelho em todas as partes. Na verdade, o evangelho de Cristo é uma mensagem estranha para a maior parte dos habitantes deste mundo! A nossa sociedade distorceu as palavras “misericórdia” e “graça”, e muitas vezes pessoas ligam estas palavras com o conceito de recompensa. Na opinião de muitas, a gente dá dons ou presentes apenas aos que merecem esses dons… os nossos presentes estão reações às qualidades que achamos na recipiente. Quando damos presentes? Geralmente nos aniversários dos nossos amigos, porque ficamos felizes com as suas vidas, e para mostrar que apreciamos e somos gratos a eles. Até nas fábulas famosas isso acontece. Papai Noel, por exemplo, não dá presentes aos meninos desobedientes. O homem sempre reage à bondade dos outros, então, pessoas ensinam e acreditam a mesma coisa de Deus. Elas concluem: Se Deus Santo e Justo nos mostra favor e bondade, então, merecemos esse amor. Muitas pessoas acham que é assim, pois até no meio dos que se dizem Cristãos existem pessoas que realmente acreditam que podem merecer e ganhar a graça de Deus como uma recompensa. O evangelho de Cristo é tolice para os que estão perecendo.

Mas, se cremos na mensagem da cruz; se cremos que Cristo foi crucificado, há proveito para nós? Que proveito há para você que agora crê nisso? O Espírito Santo diz claramente: mas para nós, que somos salvos, a palavra da cruz é poder de Deus (1Coríntios 1.18). Confessamos: “Em Cristo sou justo diante de Deus e herdeiro da vida eterna”! Irmãos e irmãs, Cristo Jesus veio ao mundo para salvar pecadores. O Único Filho do Criador dos céus e da terra, veio ao mundo, em favor de nós que éramos sobrecarregados com vidas pecaminosas. O Messias, Jesus, chegou aqui para salvar a Sua vida, lutando, pregando, amada igreja! Reconhecemos esta realidade? Percebemos o que significam estas palavras? Jesus Cristo se esvaziou da glória que Ele tinha com o seu Pai, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz; obedeceu à vontade e à palavra de Deus, perfeitamente; continuando através do sofrimento, escárnio e vergonha até a cruz – e lá na cruz sofreu por pecadores. Jesus foi castigado pelos seus pecados – assumiu sua vergonha na humilhação da cruz; foi maldito por Deus pelos pecados contra os quais vocês lutam; Ele satisfez a justiça de Deus a fim de que Deus não deseje nos castigar. Na verdade, Ele nunca precisa nos castigar para sempre. Cristo viveu de forma santa – Cristo amava o seu povo. Cristo comprou a sua igreja com o seu próprio sangue. O Espírito Santo nos ensina sobre Jesus Cristo, escrevendo essas promessas pela mão do apóstolo Paulo em Efésios 2. Sim, estávamos mortos nos nossos delitos e pecados (v. 1). Mas veja o que diz o versículo 4: mas Deus, ou seja, Deus, no entanto… [notamos que as palavras do catecismo estão imitando ou repetindo as palavras e argumentos de Paulo]. “Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo – pela graça sois salvos”.

Quem é o dom é Jesus Cristo. Que proveito há para você que agora crê nisso? Não podem salvar a si mesmos… Não são salvos de obras, para que ninguém se glorie (v.9). São salvos por Cristo! “(…) juntamente com ele nos ressuscitou e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; para mostrar nos séculos vindouros a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus (…)”. (vs.6-8). Assim é a alegria que a nossa confissão nos traz – todos os membros do corpo de Cristo podem dizer: em Cristo, eu, o pecador que sempre luta contra pecados horríveis, eu sou justo perante Deus por causa do Seu gracioso dom! Antes de fazer qualquer coisa, boa ou má, eu sou justo em Cristo! Isto é o evangelho de Cristo… n’Ele há salvação do julgamento de Deus – a igreja de Cristo, adora o seu salvador por causa desta verdade.

  1. O dom que é a verdadeira fé.

Os que creem em Jesus Cristo são declarados justos perante Deus – somos justificados. Não há condenação para os que crerem em Cristo, juntando-se ao seu corpo – à igreja – e submetendo-se à Sua palavra! A Bíblia ensina e assim cremos que o homem é justo perante Deus: “Somente pela fé em Cristo Jesus”. Pela fé em Jesus Cristo, partilhamos em tudo que Ele ganhou em nosso favor, “como se nós jamais tivéssemos tido ou cometido pecado”. Conhecendo os nossos pecados, Deus “imputa em nós a perfeita satisfação, justiça e santidade de Cristo”. Deus disse que tudo que Cristo cumpriu, fizemos também, porque Cristo realmente o cumpriu para nós e em nosso lugar “se tão somente aceitarmos esse dom, crendo fielmente com o coração”. Veja bem, somente os que crerem em Jesus Cristo serão salvos. Fé é o instrumento que é necessário para nos ligar às riquezas de Cristo; fé é como a corda que nos amarra a Cristo para que, aquilo que Ele fez, é considerado ser o nosso feito; aquilo que Ele recebe, recebemos juntamente com Ele. Se tivermos o laço, que é a fé, temos também as riquezas de Cristo.

E de onde vem a fé? É triste afirmar, mas existem pessoas arrogantes que acham que fé é uma boa obra que podemos alcançar – elas acham que Deus não pode infundir na vontade do homem nenhuma nova natureza, capacidade ou dom e, por causa disso, a fé não é uma qualidade nem um dom concedido por Deus, mas apenas um ato do homem (cf. Os Cânones de Dort, III/IV, Refutação dos erros #6). Arminianos ensinam que o homem caiu em pecado, sim, mas mesmo caído, pode escolher servir ao SENHOR. Os falsos profetas explicam que, realmente, o homem está somente doente ou dormindo no seu pecado; que ele não está morto. Então, os arminianos ensinam que o homem pode e deve produzir a fé; se ele não fizesse isso, ele não chegará a ser salvo – a salvação fica na decisão e capacidade do homem. Mas lembrando das palavras de Paulo em Efésios 2.1, perguntamos: O homem que está morto nos seus pecados pode produzir a fé? O homem morto no sepulcro pode ressuscitar a si mesmo? Não é o orgulho do homem caído que sugere que ele não está morto, que Deus depende dele e que Jesus fez um trabalho que não é necessário?

A igreja de Cristo conhece bem esse orgulho, então os crentes fazem uma pergunta importante enquanto leem a Bíblia e o Catecismo dizendo: “Por que você diz que é justo somente pela fé?” Ou seja, “Minha fé faz-me justo?” Deus soberano reage à fé das suas criaturas? Deus toma decisões com base na nossa fé? Lemos Efésios 2.8, porque não é possível explicar o fato de forma mais clara usando as nossas próprias palavras: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus”. Fé é dom de Deus, e não somente um dom que Deus nos ofereceu como uma opção que temos que pegar pela nossa própria força. Veja o que Paulo diz em Filipenses 2.13: “Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”.

Irmãos e irmãs, fé é dada aos que Deus escolheu já antes da fundação do mundo – cristãos creem em Cristo somente pela graça de Deus. Fé não é algo que o homem pode produzir, não! Nós não somos salvos por causa da nossa fé, não! Não podemos contribuir para obtermos a salvação. A nossa salvação repousa somente em Cristo – somente Deus pode nos salvar, e Ele precisa fazer tudo! Que conforto para o pecador que luta contra o pecado! Reconhecemos o que a Bíblia diz: “Fé é um dom do SENHOR”, que é Ele quem efetua em nós. E Deus usa essa fé para nos ligar a Cristo – “somos justificados pela fé” (Romanos 3.28), porque fé é como um instrumento que usamos para abraçarmos Cristo. Assim, pois, Jesus Cristo é nossa justiça. “E a fé é o instrumento que nos mantém com ele na comunhão de todos os seus benefícios” (Confissão Belga, Artigo 22). Fé é como uma corda que Deus bota na sua cintura para ligá-Lo à montanha que é Cristo. Fé é comparável a abraços que abraçam o nosso Salvador com alegria e amor. Por isso, oramos juntamente com os discípulos: Ó Senhor, aumente a nossa fé! Dê-nos uma ligação vivida com Cristo no meio de todas as nossas dificuldades, para que tenhamos sempre esperança! Consideramos isso um ponto final.

  1. O dom que é esperança.

Nesta congregação há muitos que estão lutando nas suas vidas. Muitos carregam o peso da culpa pelos pecados que cometeram no passado; muitos continuam sofrendo as tentações que veem do mundo; muitos nunca aprenderam como tratar as consequências dos acontecimentos no seu passado – abuso, as mágoas das pessoas em quem confiavam, a morte dos seus amados, famílias misturadas. E agora, muitos ainda vivem nas rotinas que os prejudicam e escurecem seus dias. Às vezes lutamos contra o orgulho e temos dificuldades em confiar em Deus. Vícios nos seduzem a entrar na forma da escravidão que tentamos escapar, mas a luta sempre continua. Conhecemos que Deus está com grande tristeza por causa dos nossos pecados. Como achamos esperança? Estamos presos no abismo das escolhas erradas e queremos sair, mas as águas sobem até os nossos pescoços… e somos ineficazes. Não podemos alcançar obediência perfeita; não podemos ganhar favor e salvação de Deus! Mas o evangelho é que a nossa fraqueza não pode limitar Deus. O SENHOR não é conquistado pelos nossos pecados. O SENHOR é onipotente, e os que permanecem n’Ele não precisam ganhar a sua própria salvação. Há justiça que vem para nós, e nós não precisamos fazer nada! Somos justos em Cristo; temos esperança n’Ele que tem o poder para nos salvar.

A mensagem alegre para nós é que há proveito em crer em Cristo. Todos que creem em Cristo não vão perecer, porque, aos olhos de Deus, todas as obras que Cristo tem feito, são as nossas próprias obras. Confessamos que Deus, somente pela Sua graça, nos imputa a perfeita satisfação, justiça e santidade de Cristo. É importante que entendamos a palavra “imputar”. A palavra “imputar” descreve o primeiro passo de Deus para nós; a palavra “imputar” significa “creditar”. Conhecemos sobre cartões de credito – a ideia é que uma empresa com muito dinheiro empresta dinheiro à pessoa que não tem dinheiro disponível para fazer compras. Ela tem que devolver o dinheiro à empresa depois de algum tempo, mas, por enquanto, os lojistas vão tratá-la como uma pessoa que tem dinheiro disponível. Esse cartão de crédito pode ser chamado “um cartão de imputação”. O cartão de credito é uma declaração da empresa de cartão ao dono da loja, dizendo que o dinheiro realmente está disponível. Entendem o conceito de imputação? Uma pessoa que não tem o que é necessário, é tratada como se ela tivesse. Confessamos que Deus imputa justiça aos homens que não têm justiça e não podem ganhar justiça. Deus imputa a justiça de uma outra pessoa aos que não merecem; Deus declara que os membros de Cristo são justificados por causa do trabalho de Jesus Cristo. Crentes são santos aos olhos de Deus, como se eles jamais tivessem tidos ou cometido pecado. Em Cristo, Deus dá uma resposta à oração de Salmo 144.7 “Estende a mão lá do alto; livra-me e arrebata-me das muitas águas e do poder de estranhos”. Deus estende a mão lá do alto para nos livrar do abismo de tristeza, culpa e vergonha, e nos leva para sua graça e pureza.

Entendem o que Cristo fez? Sem Cristo e abandonados nos nossos pecados, o propósito da vida na terra é simples: a gente tem que sofrer por enquanto, até o momento da morte, e continuar no sofrimento eterno no inferno. Mas os que creem em Cristo têm muito mais benefícios para esta vida e para a eternidade – não há condenação para os que permanecem em Cristo; Deus os declara justos. Somos justificados porque Deus nos deu uma cartão de imputação – o sangue de Cristo paga os nossos pecados, porque Deus colocou todos os méritos de Cristo Jesus na nossa conta. Em Cristo, escapamos da punição que merecemos. Deus tem nos dado esperança! Isso é a doutrina que é defendida de forma tão maravilhosa e poderosa na nossa Confissão.

A verdadeira igreja de Cristo vive com esperança. Tudo que fazemos é para mostrar gratidão ao Senhor. Em Cristo, temos confiança de mostrar a nossa gratidão; de vivermos como pessoas renovadas.

Ampute e corte o homem velho, culpável e quebrado; cansado e queimado; envergonhado e cheio de segredos – ampute estas coisas pecaminosas e esta casca de morte, e seja quem você é, em Cristo. Mostre o seu coração renovado por Cristo; abrace Cristo com aquela fé que Deus dá por meio do Seu Espírito e da sua Palavra – ache esperança no poder de Cristo, e na Sua capacidade de fazer tudo.

Em Cristo, somos livres de todos os efeitos tristes dum passado pecaminoso; temos um novo começo. Deus não ignora os nossos pecados, mas Ele nos vê considerando o trabalho de Cristo, e nos chama santos, vitoriosos, puros e reformados.

Que proveito há para você que agora crê em Jesus Cristo com todo o seu coração, alma e mente? O trabalho d’Ele cobre seus pecados; o trabalho d’Ele obtém justiça e vida para os que creem. Na verdade, meus irmãos, esta promessa muda a aparência do Dia de Juízo para você – cristãos não receberão o que eles merecem; não é a coisa lógica que vai acontecer, mas verão com os seus olhos a realidade da misericórdia que sempre acreditavam durante a sua vida. Ouvirão a voz chamando: “Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, a quem quiser receba de graça a água da vida (Ap 22.17). Bem aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que lhe assista o direito à arvore da vida, e entrem na cidade pelas portas”. Em Cristo, estaremos lá também – conquistadores dependentes da graça do SENHOR em Cristo. Vencedores que reconheceram que foram mortos e colocaram a sua confiança completamente em Deus Altíssimo – o Deus que nos resgatou. Tantos pecados, tantas tentações, tantas lutas – mas Deus… Deus, no entanto, nos dá o que não merecemos. Louvai ao Senhor pelo Seu amor para conosco em Cristo Jesus – é a mensagem da graça, do amor e da misericórdia – que o Seu nome seja glorificado!

Amém.

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Julius VanSpronsen

Julius VanSpronsen

O pastor Julius VanSpronsen é Bacharel em Artes (B.A.), Trinity Western University, Langley, B.C., Canadá, 1998; Mestre em Divindade (M.Div.), Theological College of the Canadian Reformed Churches, Hamilton, ON, Canadá, 2002. Foi missionário pelas Igrejas Reformadas do Canadá no Brasil de 2007 a 2016. É ministro da Palavra das Igrejas Reformadas Canadenses. Professor no Instituto João Calvino e na FitRef.

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.