Dia do Senhor 12

Texto: Dia do Senhor 12
Leitura: 2 Reis 21:1-18 e Apocalipse 19

Versão Original: https://theseed.info/sermon.php?id=2822

Amada congregação do nosso Senhor Jesus,

Dos três ofícios mencionados no Dia do Senhor 12, o ofício de rei é provavelmente o mais familiar para nós. Estamos cientes do conceito de realeza. Afinal, nosso país é uma monarquia constitucional. Temos um rei, o Rei Charles III. Portanto, o conceito geral de um rei ou governante real nos é bem conhecido.

No entanto, a ideia de um rei na Bíblia apresenta algumas diferenças significativas em relação à nossa situação moderna. Vivemos em uma monarquia constitucional, na qual o rei é mais uma figura cerimonial do que um governante de fato. Ele praticamente não toma decisões que influenciem diretamente nossas vidas diárias. O poder político real em nosso país está na capital, e não no Palácio de Buckingham. Mas, nos tempos bíblicos, especialmente em Israel, não existia monarquia constitucional. Em vez disso, havia uma monarquia absoluta. Os reis eram governantes de fato, com poder político real. Eles tomavam decisões concretas e faziam julgamentos nos assuntos do reino.

Esse é o contexto do ofício de rei conforme confessamos no Catecismo de Heidelberg. Quando afirmamos que Cristo é rei, certamente não estamos nos referindo à compreensão moderna de realeza. Não queremos dizer que Ele é um governante simbólico, mas sim um Rei verdadeiro, com poderes reais. Um Rei semelhante aos que lemos na Bíblia. Nesta tarde, estamos refletindo sobre sua realeza e a nossa participação nela. Veremos que Cristo é nosso Rei eterno e que compartilhamos de sua unção.

Vamos aprender sobre:

  1. O que envolve a realeza de Cristo;
  2. O que envolve a nossa realeza.

Vamos começar perguntando: onde a Bíblia nos ensina que Cristo é nosso Rei eterno?

Já havia indícios no Antigo Testamento de que o Messias vindouro seria um rei. Um desses indícios é o fato de que ele nasceria da linhagem de Davi, uma linhagem real. Podemos também pensar na profecia de Isaías 9. O menino que nasceria e seria chamado de “Deus Poderoso” teria o governo sobre os seus ombros. Isaías 9:7 profetizou que ele reinaria sobre o trono de Davi e que seu reinado duraria para sempre. Esse é apenas um exemplo, mas certamente um dos mais claros.

Quando chegamos ao Novo Testamento, encontramos o cumprimento dessas profecias. Em Lucas 1, o anjo Gabriel aparece à virgem Maria e lhe diz que ela dará à luz um filho, cujo nome será Jesus. Em seguida, ele declara em Lucas 1:32-33: “O Senhor lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim.”

Portanto, não há dúvida de que o nosso Salvador é um Rei eterno. A Bíblia ensina isso de forma clara e inequívoca.

No entanto, podemos nos perguntar: o que exatamente significa “eterno”? Isso não é algo imediatamente óbvio. Veja, “eterno” pode ter pelo menos dois significados diferentes. Pode significar que Cristo se tornou rei em um determinado momento do passado e continuará sendo rei para sempre no futuro. Ou pode significar que Cristo sempre foi rei desde a eternidade passada e continuará sendo rei pela eternidade futura. Percebe a diferença?

Se não, pense desta forma: como cristãos, temos a vida eterna em Cristo. Isso significa que viveremos para sempre por meio dele. No entanto, ter vida eterna não significa que existimos eternamente no passado. Nossa existência tem um ponto de partida definido: começamos a existir quando fomos concebidos. 

Cristo também tem vida eterna, o que significa que ele existirá para sempre no futuro. Mas, ao contrário de nós, ele também existiu eternamente no passado. Não há um momento em que ele tenha começado a existir. O Filho de Deus, sendo Deus, sempre existiu e sempre existirá. Sim, ele se tornou um ser humano em um ponto específico no tempo, mas isso não significa que ele não existisse antes disso como a segunda pessoa da Trindade.

Agora a pergunta: o que significa que Cristo é nosso Rei eterno? Aqui, podemos receber uma ajuda do artigo 27 da Confissão de Fé Belga. Esse artigo fala sobre a igreja. Confessamos no segundo parágrafo do artigo 27: “Essa igreja existe desde o princípio do mundo e existirá até o final, pois Cristo é Rei Eterno que não pode ficar sem súditos.” Este é um raciocínio brilhante com base no que a Bíblia ensina. Cristo é um Rei. Por definição, um rei tem pessoas sobre as quais ele reina. A realeza de Cristo está intimamente ligada àqueles sobre os quais ele reina. Portanto, a sua realeza começou quando a igreja começou.

Quando a igreja começou? Alguns dizem que a igreja começou em Pentecostes, mas isso não está correto. A igreja começou quando Deus criou os primeiros seres humanos. Adão e Eva formaram a primeira congregação de crentes. Eles foram os primeiros súditos de Cristo, o Rei. A realeza de Cristo, portanto, começa em um ponto específico no tempo. E é uma realeza que durará pela eternidade futura. Porque temos vida eterna por meio dele, ele sempre reinará e governará sobre nós.

A partir daqui, podemos seguir para considerar como ele governa sobre nós. Existem muitos aspectos do seu reinado. O nosso Catecismo destaca três deles.

Primeiro, ele nos governa por meio da sua Palavra e do seu Espírito. Com a sua Palavra, ele nos orienta sobre como conduzir nossas vidas como cristãos. Com o seu Espírito, ele nos torna ensináveis, nos torna moldáveis à sua vontade. Com o seu Espírito, ele nos capacita a reconhecer, entender e cumprir a sua vontade.

Segundo, ele nos defende em nossa redenção. Temos inimigos que desejam nossa destruição, sendo o mais poderoso deles o próprio Diabo. Cristo não permitirá que Satanás faça o que quer conosco. Se pertencemos a Ele, não podemos pertencer ao Diabo. O Maligno pode ainda nos oprimir, assim como ele o fez com Cristo, mas ele não pode nos possuir. Cristo não permitirá isso.

Terceiro, ele nos preserva em nossa redenção. Isso se refere à doutrina da preservação dos santos, que trata da nossa segurança eterna em Cristo. Se realmente pertencemos a Cristo e somos seus súditos, Ele nos manterá. Por meio da Sua graça, não podemos nos afastar d’Ele. Pense no que as Escrituras dizem em 1 Pedro 1:4-5. Pedro diz que, por meio de Cristo, temos uma herança que não pode perecer, estragar ou desaparecer. Ele afirma que estamos sendo protegidos pelo poder de Deus. Nada pode afastar os eleitos da salvação que têm em Cristo. Eles serão preservados de forma invencível pelo Rei.

O poder do nosso Rei eterno também é ilustrado no que lemos em Apocalipse 19. Em um momento de Sua vida, enquanto descia para a humilhação, o Rei montou em um humilde jumento. Mas aqui, em Apocalipse 19, o Rei glorificado cavalga em um majestoso cavalo branco. Sua vestimenta anuncia Seu título: “Rei dos reis e Senhor dos senhores.” Esse título também está escrito em Sua coxa. “Rei dos reis…” E como Rei, o que o vemos fazendo em Apocalipse 19? Julgando e fazendo guerra. O Rei dos reis é o Guerreiro e Juiz Divino. Ele tem uma espada que fere as nações. Em outras palavras, o que vemos Ele fazendo aqui é tomando vingança sobre aqueles que não conhecem a Deus e não obedecem ao evangelho. Quando Cristo retornar para julgar os vivos e os mortos, Ele estará cumprindo um aspecto de Seu ofício como Rei. Isso nos lembra novamente de viver à luz da eternidade. Isso nos lembra mais uma vez de ter certeza de que estamos olhando para Cristo como nosso Salvador, para que possamos nos posicionar atrás d’Ele e não na frente, enquanto Ele julga e faz guerra.

À medida que continuamos olhando para Ele em fé e confiando em Sua Palavra, sabemos que Ele é um bom Rei. No Antigo Testamento, houve alguns reis relativamente bons, mas também houve alguns realmente maus. Manassés foi um dos piores. Ele estabeleceu cultos pagãos no templo de Deus. Ele fez um sacrifício humano de seu filho, queimando-o em fogo para algum deus pagão, provavelmente Moloque. Ele afastou o povo de Deus. Os pecados abomináveis de Manassés foram uma grande parte da razão para o exílio na Babilônia. Manassés era um rei de Judá, da linhagem de onde o Messias deveria vir. Mas, obviamente, ele não seria aquele que venceria o pecado e o mal e pagaria pelos outros. Olhar para Manassés só levaria os fiéis entre o povo de Deus ao desespero, clamando por uma verdadeira libertação. Ele foi um rei ímpio, um completo fracasso. É verdade que em 2 Crônicas 33 lemos sobre seu arrependimento no final de sua vida. No entanto, o registro total de sua vida é um desastre. E mesmo os melhores reis de Judá e Israel tinham seus defeitos. Até o neto de Manassés, Josias, apesar de todas as suas ações fiéis em obediência à lei de Deus, até o rei Josias tinha sua falha fatal. Ele deveria ter se afastado da batalha contra o faraó Neco, mas não quis ouvir. Não houve nenhum rei em toda a história de Israel que fosse bom em todos os sentidos da palavra. Não havia um rei completamente bom. Até que Jesus veio.

Amados, Ele foi e é o bom Rei. Ele reina em justiça e retidão. Ele ama seus súditos. Ele ama você e sempre fará o que é bom para você. Podemos confiar em nosso bom Rei – Ele tem um histórico impecável como Rei, e temos a promessa da Palavra de Deus de que Ele sempre continuará sendo o mesmo. Estar sob seu domínio e reconhecer Sua Realeza sobre você sempre será uma bênção para você.

E quando olhamos para Ele com fé, compartilhamos da sua unção como reis. Seu Espírito Santo habita em nós e nos faz participar também deste ofício. O que isso significa exatamente?

Nosso Catecismo divide a resposta a essa pergunta em duas partes.

A primeira parte se refere ao presente. Agora mesmo, ser rei com Cristo significa que “lutamos com uma consciência livre e boa contra o pecado e o diabo nesta vida.” Em outras palavras, fazemos o que Manassés não fez e o que Cristo fez: lutamos contra a maldade. Na maior parte da vida de Manassés, não houve luta. Ele não enfrentou o mal — ao contrário, entregou-se completamente a ele e levou outros a fazerem o mesmo. Quando foi tentado, não houve momento de hesitação — ele simplesmente cedeu e seguiu qualquer mal que se apresentasse.

Que diferença em relação ao nosso Rei Jesus! Esse Rei também foi tentado. O Maligno tentou desviá-lo de seu compromisso com a bondade e a justiça. Mas Ele não se desviou nem para a direita nem para a esquerda. Ele permaneceu fiel. Ele lutou de verdade e foi vitorioso sobre a tentação. E Ele fez isso por nós. Sua obediência nos é imputada, e isso faz parte do evangelho. E, como resposta ao evangelho, vivemos em união com Ele. Damos ouvidos à Sua Palavra e lutamos contra o pecado.

Às vezes, ouço pessoas dizerem coisas como: “Como posso ser cristão se luto contra esse pecado?”

Essa é uma boa pergunta. A resposta é que você não pode ser cristão A MENOS que lute contra o pecado. Se não há luta nem combate contra a maldade em sua vida, isso é um problema. Um problema sério. Se você não está buscando e combatendo o mal em seu próprio coração e em sua vida, há motivos para se preocupar com sua saúde espiritual. Normalmente, uma de duas coisas será verdadeira se você não está lutando contra o pecado:

  1. Você está morto. Nesse caso, a batalha acabou. Você será aperfeiçoado e glorificado em Cristo, e não terá mais pecado para enfrentar.
  2. Você não é cristão. Isso significa que você não participa da unção de Cristo. Você não é membro de Cristo pela fé.

Irmãos e irmãs, permitam-me incentivá-los a odiar o pecado e a lutar contra ele — não de forma morna ou apática, mas com toda a medida da santa indignação e violência de seu Salvador. Você precisa se revoltar contra o seu pecado. Odeie-o como Deus odeia o diabo e faça o que for preciso para cravá-lo com uma faca. Como disse o puritano John Owen:

“Mate o pecado, ou ele matará você.”

Como reis, precisamos levar isso a sério.

A Bíblia tem mais a dizer sobre nosso ofício como reis no presente. Podemos pensar no mandato dado a Adão e Eva antes da queda no pecado. Esse mandato está em Gênesis 1:28, que diz:

“Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.”

Dominar é exercer o ofício real. Esse foi o mandato original dado aos nossos primeiros pais. E esse mandato ainda é válido para nós hoje. No entanto, muitas vezes, ele tem sido pervertido. Os seres humanos frequentemente governam mal a terra e se tornam tiranos sobre a criação.

Mas nós estamos em Cristo, o verdadeiro Rei, o Rei justo que foi tudo o que Adão deveria ter sido. Como somos membros de Cristo pela fé, olhamos para Gênesis 1:28 e o levamos a sério como o nosso chamado. Deus colocou a terra aos nossos cuidados. Somos seus vice-regentes. Podemos desenvolver a terra e utilizá-la para o bem das pessoas ao nosso redor.

No entanto, também temos uma responsabilidade real de cuidar dela. Isso significa que a conservação e a administração ambiental devem ser importantes para aqueles que compartilham a unção de Cristo como reis. Precisamos ser conscienciosos em relação ao que fazemos com o mundo e no mundo do nosso Pai.

Então, também olhamos para o futuro. A Bíblia ensina que, como reis, na era vindoura, nós reinaremos com Cristo eternamente sobre todas as criaturas. Em Mateus 25:34, Jesus fala sobre um reino preparado para nós desde a criação do mundo:

“Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do Reino que vos esta preparado desde a fundação do mundo.”

Esse é um reino em que viveremos, mas também um reino no qual reinaremos. E não será apenas uma restauração do modo como as coisas eram no Jardim do Éden, mas sim um desenvolvimento adicional. Será o modo como as coisas deveriam ter seguido.

No Jardim do Éden, Adão e Eva governavam sobre todas as criaturas. Da mesma forma, nos novos céus e na nova terra, também governaremos sobre todas as criaturas. Pense nisso por um momento, irmãos e irmãs. Nos novos céus e nova terra, haverá criaturas sobre as quais reinaremos. Não serão apenas seres humanos. Haverá outras criaturas, plantas e animais.

Assim como Adão e Eva tiveram a responsabilidade de cuidar delas no Jardim, nós também teremos. Eles governaram e nós também governaremos. Às vezes, as pessoas pensam que a vida eterna será apenas um tempo de lazer, como se estivéssemos deitados na praia para sempre. Mas essa visão está errada, pois parte da ideia de que o trabalho é algo ruim ou uma consequência da queda no pecado. No entanto, isso não é verdade.

Antes da queda no pecado, Adão e Eva trabalhavam no Jardim. Eles cultivavam e cuidavam de tudo o que havia nele, incluindo os animais. Isso envolvia trabalho. Do mesmo modo, será assim na era vindoura.

Nos novos céus e na nova terra, teremos trabalho a fazer. Mas será diferente. O trabalho não será cansativo ou frustrante. Não haverá atitudes ruins nem descontentamento em relação ao nosso trabalho. Pelo contrário, sempre encontraremos no trabalho satisfação e propósito.

Mas o mais importante: trabalharemos como reis sob o governo do nosso grande Rei, Jesus Cristo.

Essa perspectiva sobre o futuro também tem impacto na forma como vivemos o presente, não acha? O trabalho não é mau. O trabalho é simplesmente parte do que significa ser humano.

Se compartilhamos da unção de Cristo, e se Ele continua a trabalhar por nós como nosso Rei, e se temos um futuro que envolve trabalho eterno, não deveríamos olhar para o nosso trabalho diário de forma positiva?

Fomos criados para mais do que apenas “esperar pelo fim de semana”. Deus não nos colocou nesta terra apenas para aproveitarmos as poucas semanas de férias que temos ao longo do ano. Ele nos colocou aqui para glorificá-lo, inclusive por meio do nosso trabalho diário.

Essa vocação está diretamente ligada à nossa posição como reis agora e no futuro. Isso não significa que as férias ou os momentos de descanso sejam algo errado. Pelo contrário, o próprio Deus deu a seu povo o Sábado (Domingo Cristão) e também concedeu a eles muitos dias de festa no Antigo Testamento. Essas também são coisas boas.

Mas tudo se resume a perspectiva e equilíbrio:

  • Perspectiva: o trabalho não é algo mau ou ruim. Ele é uma parte essencial de quem somos como seres humanos.
  • Equilíbrio: para ser eficaz no seu trabalho e também para servir as pessoas ao seu redor (incluindo a sua família), como uma criatura frágil, você precisa de tempo para se refrescar e descansar.

Portanto, sim, as pausas e o descanso são necessários e fazem parte do plano de Deus. Mas o trabalho também é parte fundamental de nossa existência presente e futura. Trabalhar não é uma maldição, mas sim uma vocação real.

Amados, nosso Rei é Jesus Cristo, e Ele é tanto poderoso quanto bom. Seu reinado sobre nós é algo que deve ser valorizado e apreciado. É algo pelo qual podemos ser gratos.

E à medida que pensamos, com gratidão, sobre o fato de Ele ser nosso Rei, isso também moldará o nosso próprio ofício como reis sob Ele. Isso nos levará a desejar que nossas vidas se pareçam cada vez mais com a vida do Rei Adão II (Jesus Cristo).

E, pela graça de Deus, isso acontecerá.

AMÉM.

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wes bredenholf

Wes Bredenhof​

Wes Bredenhof é um pastor e teólogo canadense, atualmente servindo na Free Reformed Church of Launceston, na Tasmânia. Formado em Teologia pelo Canadian Reformed Theological Seminary, obteve um Doutorado em Teologia pela Reformation International Theological Seminary. Iniciou seu ministério como missionário entre os indígenas de Fort Babine, BC, e pastoreou igrejas no Canadá antes de se mudar para a Austrália. Autor de vários livros e artigos.

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.