Dia do Senhor 07

Leitura: João 9.1-41
Texto: Dia do Senhor 07

Amados irmãos no Senhor,

Uma verdade bem clara para todos que pregam o evangelho é esta: Nem todos os que ouvem a Palavra de Deus são salvos pelo Senhor Jesus Cristo. Quantas e quantas pessoas que nós conhecemos ouvem as nossas explicações sobre o caminho da salvação e não estão nem ai para elas? Algumas dessas pessoas são simpáticas e nos deixam falar o quanto quisermos, mas depois fica somente nisso. Outros não gostam muito de iniciar um diálogo religioso conosco, e por isso eles nos interrompem, ou nos contestam ou fogem de nós.

Entretanto, apesar de nos sentimos frustrados com a rejeição das pessoas, nós devemos sempre nos lembrar de que o próprio Jesus Cristo foi aceito por alguns e rejeitado por muitos outros. A leitura bíblica de hoje é um bom exemplo desse duplo resultado. Diante da reação do cego de nascença, que creu nele, e dos fariseus, que o rejeitaram, Jesus disse: “Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos”.

Estas palavras esclarecem muito bem a missão de Jesus em sua primeira vinda a este mundo. De fato, ele não veio trazendo o Juízo Final, mas veio trazendo junto consigo a obrigação de que todos aqueles que se encontrassem com ele teriam que tomar uma decisão: Ou ele é o caminho, a verdade e a vida, e por isso eu vou segui-lo; ou ele é um mentiroso, um falso messias, e por isso eu não quero nada com ele. A decisão das pessoas em relação a Jesus preanunciava o juízo de Deus sobre as suas vidas.

Vejamos como isso aconteceu no texto de hoje. A leitura do evangelho de João nos apresenta a cura de um cego de nascença. Quando os discípulos viram aquele cego, eles perguntaram a Jesus: “Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?”. A pergunta era lógica para os discípulos de Jesus. Eles aprenderam com seus antigos mestres que a doença e as incapacidades físicas eram frutos do pecado. Portanto, se aquele homem estava cego, então isso tinha a ver com o pecado de alguém, isto é, com o pecado dos seus pais ou dele mesmo.
Com relação ao pecado dos seus pais, a pergunta dos discípulos fazia até certo sentido, pois a lei diz que Deus castiga as iniquidades dos pais nos filhos. Mas, como alguém que tinha nascido cego poderia ter pecado antes disso? A resposta é que muitos mestres judeus ensinavam que era possível um bebê cometer pecados dentro da barriga da sua mãe. E talvez fosse essa a resposta para a cegueira daquele homem.

Mas acontece que todos esses conceitos não se aplicavam àquele cego, pois Cristo disse: “Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestassem nele as obras de Deus”. Ou seja, Deus decidiu em sua soberania fazer com que aquele homem nascesse cego, pois ele faz todas as coisas como lhe apraz. Ao mesmo tempo, Deus também decidiu em sua soberania fazer com que aquele homem cego se encontrasse com o seu Filho e fosse curado. As obras de Deus, a vontade soberana do Senhor, são visíveis tanto na cegueira quanto na cura daquele homem.

Após Cristo dar essa explicação, ele cuspiu na terra e fez lodo com a sua saliva. Em seguida, ele colocou aquela solução pastosa nos olhos do cego, e o enviou para se lavar no tanque de Siloé. A palavra Siloé significa “Enviado”. Portanto, Jesus mandou aquele homem se lavar num tanque que anunciava a chegada do Messias como o “Enviado de Deus”. E quando aquele homem se lavou no tanque de Siloé, ele saiu de lá enxergando tudo. Um novo mundo se abriu para ele. Aquele homem chamado Jesus tinha de fato realizado um grande milagre em sua vida.

As pessoas que o viram ficaram impressionadas. Mas outros chegaram até mesmo a duvidar de que ele era aquele cego que eles conheciam desde menino. E diante da dúvida sobre a identidade dele, ele mesmo interveio e disse: “Sou eu”.

Aquele era realmente um grande milagre. Mas como podia ser isso? O homem que tinha sido curado estava dizendo que foi Jesus quem realizou aquele milagre, ou seja, quem tinha feito aquele grande sinal era alguém que estava sendo acusado de ser um falso messias. No entanto, como um mentiroso poderia fazer um milagre daqueles? A lógica era que somente um enviando da parte de Deus poderia fazer isso. Então a solução foi levar o homem que tinha sido cego para que os líderes religiosos de Israel julgassem o caso. E foi isso que aconteceu.

Durante o interrogatório, os fariseus tentaram descaracterizar o milagre ao questionar se realmente aquele homem tinha mesmo sido cego desde o seu nascimento. Eles ouviram o depoimento dele e dos seus pais. Então, diante dos fatos que tinham sido narrados, os fariseus ficaram divididos entre duas opiniões.

De um lado, havia aqueles que afirmavam que Jesus não podia vir da parte de Deus, mesmo operando um milagre, pois alguém que vem da parte de Deus não podia quebrar a lei do sábado. A questão da quebra do sábado tinha a ver com o fato de Jesus ter feito uma pasta com a sua saliva e com um pouco de terra a fim de curar um homem no dia de descanso. Do outro lado, havia aqueles que ficaram com receio de negar que a mão de Deus estava agindo em prol de Jesus. Era muito estranho que um mentiroso invocasse o nome de Deus e o próprio Deus confirmasse a palavra desse homem por meio de um milagre.
No final, prevaleceu a opinião daqueles mestres que condenavam Jesus por ele ser um falso enviado da parte de Deus. Pois, afinal de contas, Deus jamais poderia estar ao lado daqueles que quebram os seus mandamentos. Além disso, Jesus Cristo não combinava muito bem com os demais conhecimentos teológicos daqueles professores de Israel.

Para os fariseus, Jesus também possuía outros defeitos: Ele negava a doutrina de que Deus é somente um, ao dizer que ele era igual ao Pai; ele não se encaixava com a doutrina de que o Messias traria uma época de paz, tranquilidade e de salvação nacional para o povo judeu, conforme tinha sido anunciado pelos profetas; e ele também trabalhava sem nenhuma autorização da liderança religiosa de Israel.

Contudo, irmãos, se existiam pessoas que deveriam estar preparadas para receber Jesus Cristo como o Messias, então deveriam ser aqueles homens. Eles eram os pastores da igreja; eles eram os teólogos daquela época; eles eram professores da Bíblia; eles conheciam todas as profecias. Mas o que aconteceu? Eles rejeitaram a Cristo enquanto as pessoas mais simples do povo o receberam como o Filho de Deus.

A razão pela qual isso aconteceu foi bem explicada pelo Senhor Jesus Cristo quando ele disse as seguintes palavras em Mateus 11.25-27: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”.

Os fariseus eram considerados pelas demais pessoas da sua época como verdadeiros sábios e homens de grande entendimento. E eles próprios pensavam isso de si mesmos. Porém, Deus em sua soberania lhes ocultou a verdade do evangelho de que Jesus é o Messias e as revelou aos pequeninos dentre os homens, tais como aquele cego de nascença. Então esse é o motivo para nós termos um duplo resultado na pregação do evangelho. Alguns são deixados por Deus na dureza dos seus corações, e outros são iluminados para a salvação.

Para o cego de nascença tudo estava “claro como água”. Se Jesus fez aquele grande milagre, então era porque ele vinha da parte de Deus. Diante da insistência dos professores de Israel, o homem que tinha sido cego disse: “Sabemos que Deus não atende a pecadores; mas, pelo contrário, se alguém teme a Deus e pratica a sua vontade, a este atende. Desde que há mundo, jamais se ouviu que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Se este homem não fosse de Deus, nada poderia ter feito”.

Essas palavras eram ofensivas demais para os fariseus. A situação estava passando dos limites. Além de ter que achar uma boa explicação para o milagre de Jesus, ainda por cima eles tinham que ouvir um ensinamento teológico de um simples morador de Jerusalém. Quem ele pensava que era? Então em resposta a intrepidez daquele homem, eles disseram: “Tu és nascido todo em pecado e nos ensinas a nós? E o expulsaram”.
Aquele homem foi expulso da sinagoga por confessar publicamente que Jesus vinha da parte de Deus. Ele enxergava Jesus como um grande profeta do Senhor. Entretanto, Jesus Cristo era muito mais do que um grande profeta. Por isso, a fim de deixar aquele homem inteiramente ciente de quem realmente era ele, Jesus o procurou e fez a seguinte pergunta a ele: “Crês tu no Filho do Homem?”. Esta pergunta era bastante reveladora, pois “Filho do Homem” era um dos títulos do Messias.

Aquele homem que tinha sido curado entendeu claramente o que Jesus estava perguntando, pois logo em seguida ele disse: “Quem é, Senhor, para que eu nele creia?”. Então, em resposta, Jesus lhe disse: “Já o tens visto, e é o que fala contigo”. Em outras palavras, Jesus estava dizendo que o Filho do Homem, o Messias, o Filho de Deus, era ele mesmo. Essa verdade ficou tão clara na mente e no coração daquele homem, que logo em seguida o evangelho de João registra as seguintes palavras: “Então, afirmou ele: Creio, Senhor; e o adorou”.

Aquele homem agora estava enxergando não somente com os seus “olhos carnais”. Agora os seus “olhos espirituais” também estavam abertos para ver que aquele homem ali na sua frente era o Salvador tão esperado pelo povo de Israel. Porém, ao contrário dele, aqueles fariseus eram verdadeiros cegos espirituais. Tudo isso confirmava as seguintes palavras de Jesus Cristo: “Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos”.

Os fariseus compreenderam muito bem que Jesus Cristo também estava falando deles, pois, logo em seguida, eles perguntaram: “Acaso, também nós somos cegos?”. E em resposta, Jesus lhes disse: “Se fôsseis cegos, não teríeis pecado algum; mas, porque agora dizeis: Nós vemos, subsiste o vosso pecado”. Ou seja, se eles admitissem que eram ignorantes espirituais, e que por isso precisavam de ajuda, então eles não teriam pecado algum. Mas, uma vez que eles se achavam sábios e entendidos, e que compreendiam muito bem as coisas espirituais, então eles eram culpados ‘sim’ de rejeitar o Messias.

Meus irmãos, todas essas coisas registradas no evangelho de João exemplificam muito bem a doutrina exposta no Domingo 07 do nosso catecismo. Na história da cura do cego de nascença, nós encontramos um bom exemplo de que nem todos aqueles que ouvem o evangelho serão salvos. Portanto, isso confirma as palavras do nosso catecismo que diz o seguinte na resposta número 20: “Só são salvos os que, pela verdadeira fé, foram enxertados em Cristo e aceitaram todos os seus benefícios”.

Foi exatamente isso que aconteceu com aquele homem que tinha sido cego desde o seu nascimento. Ele creu verdadeiramente em Cristo como o Messias, e o adorou como o Filho de Deus. Aquele homem aceitou com grande convicção toda a verdade a respeito de Jesus Cristo como o Enviado de Deus. Ele manifestou a verdadeira fé, tal como está descrita na pergunta e resposta 21 do nosso catecismo. Realmente, o Espírito Santo realizou a verdadeira fé sem seu coração por meio do evangelho anunciado por Jesus Cristo.

E, com toda certeza, a fé que havia no coração daquele homem não era uma fé passageira, mas uma fé duradoura. Uma fé que tornou possível que ele enxergasse com seus olhos físicos e espirituais o restante da vida de Jesus Cristo aqui na terra. E ao contemplar o final da história de Jesus Cristo em sua primeira vinda, aquele homem podia dizer de todo o coração as seguintes palavras:

Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra; e em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor; que foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu da virgem Maria; padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu ao inferno; no terceiro dia ressurgiu dos mortos; subiu ao céu e está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso; de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo; na santa igreja universal de Cristo, a comunhão dos santos; na remissão dos pecados; na ressurreição do corpo e na vida eterna. Amém.

Portanto, meus irmãos, façamos como aquele homem que foi curado pelo Senhor Jesus. Confessemos o nome de Jesus Cristo independente da reação das pessoas. Jesus Cristo também abriu os nossos olhos espirituais para que crêssemos nele e vivêssemos para glória do seu nome. Então, não sejamos ingratos com o nosso Mestre.

Que o SENHOR nos abençoe.

Amém.

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Laylton Coelho

É Bacharel em Direito pela UEPB, e Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Evangélico Congregacional de Campina Grande-PB (STEC). Serviu inicialmente como ministro da Palavra na Igreja Batista durante cinco anos na Paraíba. Foi pastor na Igreja Reformada do Brasil em Esperança-PB, e atualmente é ministro da Palavra na Igreja Reformada do Brasil no IPSEP (Recife-PE). 

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.