Dia do Senhor 06

Leitura: Hebreus 09:15-28
Texto: Dia do Senhor 06

Meus irmãos,

No último domingo, ouvimos uma pregação sobre a satisfação da justiça de Deus. Vimos que Deus precisa ser satisfeito nas exigências da sua justiça; e a justiça de Deus é que o perverso seja condenado e o inocente seja absolvido e isento de culpa. Sendo assim, a condição do homem diante de Deus naturalmente não é a de inocente mas a de culpado, visto rebelar-se contra Deus em seus pecados. Vimos também que, como punição pelo pecado, Deus estabeleceu o derramamento de sangue, a morte.

E aqui já quero fazer uma observação sobre o uso do AT para ensinar essas verdades. Infelizmente muitos rejeitam o AT e nem sequer o leem, mas é no AT que nós encontramos os fundamentos da verdade do evangelho; assim como aprendemos sobre essas verdades de modo concreto, vivo e visível.

Não foi à toa que Deus estabeleceu essa caminho, do AT para o NT, para nos ensinar sobre a nossa salvação em Cristo, e o assunto de nossa pregação nesta manhã irá nos mostrar isso. Iremos ver como Deus usou o AT para nos falar sobre o mediador.

O assunto de nossa pregação nesta manhã é a pessoa do mediador como o nosso salvador, como o instrumento de Deus para nos salvar de seu justo juízo e nos tornar perfeitos diante Dele. E neste tema de Cristo como o nosso mediador diante de Deus.

O capítulo 9 de Hebreus está falando sobre uma mudança de sacerdócio. No período do AT, Deus instituiu o ofício de sacerdote, que tinha um papel importante nos sacrifícios.

No início desse capítulo, o autor de Hebreus descreve em poucas palavras como acontecia o parte trabalho do sacerdote. Havia uma série de ações, objetos e pessoas envolvidas, cada um com seu papel. Mas o papel do sacerdote recebe um destaque aqui, como nos é descrito nos versos 6 e 7.

Como eu disse, o ofício de sacerdote foi instituído por Deus. Levítico 9 é a passagem que mostra como Deus instituiu oficialmente esse ofício. Lá lemos como os primeiros sacerdotes de Israel deveriam trabalhar. Foi ordenado ao povo trazer um animal para o sacrifício (v.3): “Dirás aos filhos de Israel: Tomai um bode, para oferta pelo pecado, um bezerro e um cordeiro, ambos de um ano e sem defeito, como holocausto”.

Depois foi dito a Arão que ele deveria fazer o sacrifício (v.7): “Depois, disse Moisés a Arão: Chega-te ao altar, faze a tua oferta pelo pecado e o teu holocausto; e faze expiação por ti e pelo povo; depois, faze a oferta do povo e a expiação por ele, como ordenou o SENHOR.”

Esses versos nos mostram como operavam normalmente os sacerdotes. Eles foram colocados no ofício para realizar sacrifícios diante do Senhor. O pecador chegava ao sacerdote com um animal, um cordeiro, um cabrito, ou até mesmo um pássaro para os mais pobres, e o entregava ao sacerdote. O sacerdote tomava o animal, realizava o sacrifício derramando o sangue do animal em lugar do ofertante, e o oferecia a Deus como expiação e pagamento pela culpa.

Na semana passado, nós nos concentramos na relação entre a oferta e o ofertante. A oferta, como representante do ofertante (lembrem do simbolismo de colocar as mãos na cabeça do animal), sofria as dores em lugar daquele que trazia o animal e, com o seu sangue, perfeito, (lembrar que o animal deveria ser perfeito, purificava o pecador, fazia a expiação (mas isso como um simbolismo, porque já ouvimos que isso não acontecia realmente, era apenas uma forma de apontar para o que iria acontecer com o corpo do nosso Senhor Jesus Cristo).

Mas hoje o texto de Hebreus 9:15-28 foca no trabalho do sacerdote (os versos anteriores mostram bem isso). E começa o texto com uma frase conclusiva: “Por isso mesmo, ele é o Mediador da nova aliança”. “Mediador” quer dizer “aquele se coloca entre”, e no caso aqui de Hebreus, destaca-se que Cristo é o mediador que se colocou entre Deus e o homem na aliança. A aliança é feita entre duas partes e Cristo se colocou entre essas partes.
Fica claro que Cristo assumiu o papel do sumo sacerdote e realizou a mediação. Essa é a razão para a conclusão do verso 15, quando diz: “Por isso…”. Do verso 1-9, do capítulo 9, se explica como o sacerdote e o sumo sacerdote fazia o seu trabalho de mediador entre Deus e os homens, e essa era a principal função do sacerdote, “intermediar”, “estar entre duas partes”.

O livro de Levítico sempre destaca que o sacerdote deveria fazer a oferta “pelo pecador”, ou seja, “em lugar de”, no lugar dele. É o que é destacado nos versos de 11-14 do capítulo 9. No verso 11, diz: “Quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote”, e completa no verso 12: “Entrou no Santo dos Santos”. Exatamente como faziam os sacerdotes.

Hb. 5:1 diz: “Porque todo sumo sacerdote, sendo tomado dentre os homens, é constituído nas coisas concernentes a Deus, a favor dos homens, para oferecer tanto dons como sacrifícios pelos pecados”. Cristo, como mediador, também foi profeta e rei, mas aqui a ênfase na sia mediação é como um sumo sacerdote que se coloca diante de Deus para impedir que o homem seja fulminado pela ira. Ele se colocou entre nós e Deus para que não fôssemos condenados, já que não conseguimos cumprir os termos da aliança com Deus.

Por isso, só ele pode levar o homem a Deus; só ele pode trazer você à presença do Senhor que santo. Ele intercede pelos pecadores como o mediador. Isso não é só um privilégio para você, mas é a sua salvação. Por que, como chegaria à presença de Deus sozinho? Trazendo o quê? Os seus pecados para justificar ainda mais a ira santa de Deus? Veja o que acontecia com pecadores que chegavam à presença de Deus sem um mediador, eram fulminados; inclusive sacerdotes que eram os próprios mediadores (veja o que aconteceu com Nadabe e Abiú, Lv. 10).

Vocês deveriam dar graças a Deus por Deus permitir que vocês cheguem à sua presença, neste culto. Porque isso só foi possível por meio de Cristo o mediador, somente por ele. Foi o que o apóstolo Paulo escreveu em 1Tm. 2:1-5: “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito. Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem”.

É do desejo de Deus que os homens se acheguem a ele para que sejam salvos e conheçam o pleno conhecimento da verdade. Então, ele enviou Cristo como o único mediador. Para que esses homens possam estar na sua presença com uma vida mansa, tranquila e piedosa. Isso é bom e agradável a Deus.

Por isso insistimos que os irmãos estejam presentes no culto solene porque, não vir, não é só perder um privilégio, mas é desprezar a mediação de Cristo feita para você. Quando os presbíteros questionam alguém por que não veio ao culto, não é só porque eles estão preocupados com a sua vida espiritual, mas é porque eles sabem o quanto deixar de estar na presença de Deus por qualquer outro motivo, que não seja de fato impedimento, é desprezar o que Cristo conquistou como nosso mediador.

Se Cristo não tivesse sido o nosso mediador, você iria sentir na pele o que iria ser não ter um mediador entre você e Deus. Você iria rogar a Deus para ter um mediador que te colocasse na sua presença. Não pense que iríamos chegar aqui na presença de Deus carregando os nossos pecados, a nossa hipocrisia, o nosso ódio, o nosso adultério, as nossas mentiras, a nossa idolatria aos bens deste mundo, a nossa arrogância e insubmissão.

Não você não estaria aqui sem o mediador. A palavra “mediador” aparece 6 vezes no NT, uma para Moisés e as outras referindo-se a Cristo. Moisés foi um mediador. Ele subia no monte Sinai para falar com Deus em lugar do povo; ele realizou sacrifícios em lugar do povo (é o que dizem os versos 19-21 do capítulo 9 de Hebreus).

Mas, apesar desse privilégio de Moisés, ele não pôde estar plenamente na presença de Deus. Ele não pôde nem ver a Deus. Em Êxodo 33:19-23: “Disse o SENHOR a Moisés: … Farei passar toda a minha bondade diante de ti e te proclamarei o nome do SENHOR; terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem eu me compadecer. E acrescentou: Não me poderás ver a face, porquanto homem nenhum verá a minha face e viverá. Disse mais o SENHOR: Eis aqui um lugar junto a mim; e tu estarás sobre a penha. Quando passar a minha glória, eu te porei numa fenda da penha e com a mão te cobrirei, até que eu tenha passado. Depois, em tirando eu a mão, tu me verás pelas costas; mas a minha face não se verá.”

Por isso, Moisés nem chegou perto da mediação que Cristo fez. O apóstolo João diz (Jo 1:17-18): “Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou.” Esse foi um dos propósitos da mediação de Cristo: que você conheça Deus, que por meio de Cristo você veja Deus.

Esse é o favor de Deus que não merecíamos: chegar à sua presença por meio do seu Filho e não sermos fulminados. Paulo fala em Gl. 3:19 que Moisés recebeu a lei por meio de Anjos. Você recebe o evangelho por meio do Filho, o herdeiro de todas as coisas, o criador do universo. Ele chama você para estar na presença de Deus. Você não tem nenhuma moral para estar na presença de Deus, mas o Seu filho te chama.

Ó meus irmãos, como somos tão ignorantes às vezes a respeito de estar na presença de Deus, como somos desatentos e negligentes nisso; como desprezamos; mas, se pararmos um pouquinho para pensar, veremos, só pelo fato de Deus mandar o seu único Filho para tornar isso possível, quão sério isso é. Que o Senhor nos dê um coração desejoso de estar na sua presença.

Amém.

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Iraldo Luna

É formado em Letras Vernáculas pela UFPE com pesquisas voltadas para a área de linguística de texto. Bacharel em Divindade pelo Instituto João Calvino. É pastor na Igreja Reformada de Brasília. Professor do curso on-line de introdução ao Grego Bíblico no Instituto João Calvino.

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.