Leitura: Salmo 5.4-6
Texto: Dia do Senhor 04
Amados irmãos no Senhor Jesus Cristo, nós vimos nos Domingos 2 e 3 do nosso catecismo que o ser humano foi criado bom, mas que, por sua própria culpa, ele adquiriu para si uma natureza pecaminosa. E esta natureza pecaminosa o impossibilita de obedecer integralmente a lei de Deus. A situação do homem depois da queda é tão ruim que a Escritura chega a dizer que o homem está morto em delitos e pecados (Ef 2.1). Então, a partir dessa verdade, o nosso catecismo faz uma pergunta que tem passado pela mente de muitas pessoas: “Mas, Deus não age injustamente com o homem ao exigir em Sua lei aquilo que o homem não consegue cumprir?”. Esta pergunta até parece lógica, pois se o homem não consegue mais cumprir a lei de Deus, então qual seria a razão de continuar exigindo algo impossível?
Como eu disse antes, esse modo de raciocinar “até parece lógico”. Contudo, o Deus Todo-Poderoso, o Deus imutável, não é homem para ficar mudando suas regras de acordo com as possibilidades das suas criaturas. Deus não muda, e sua lei não muda. O padrão de Deus é o mesmo. O que ele ordenou deve se cumprir a todo custo. A culpa da impossibilidade humana não está em Deus. A culpa é do homem. E este homem deve pagar por seus erros. Então, o nosso catecismo está certíssimo em responder o seguinte: “Não, [Deus não age injustamente com o homem ao exigir em Sua lei aquilo que o homem não consegue cumprir], pois Deus criou o homem de tal forma que ele era capaz de a cumprir”.
Portanto, meus irmãos, o problema não está na lei de Deus, o problema está na maldade do coração do homem. É por essa razão que o salmista anuncia as seguintes palavras esclarecedoras:
Pois tu não és Deus que se agrade com a iniquidade, e contigo não subsiste o mal. Os arrogantes não permanecerão à tua vista; aborreces a todos os que praticam a iniquidade. Tu destróis os que proferem mentira; o SENHOR abomina ao sanguinário e ao fraudulento.
Então, olhando para as palavras do Salmo 5.4-6, eu vos proclamo o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo por meio do seguinte tema:
A LEI DE DEUS É PERFEITAMENTE JUSTA
Pois,
- Ela procede da bondade de Deus;
- Ela condena o pecado;
- Ela estabelece a punição dos maus.
- A Lei de Deus é perfeitamente justa, pois ela procede da bondade de Deus.
Irmãos, olhemos mais uma vez para as palavras do versículo 4 do Salmo 5: “Pois tu não és Deus que se agrade com a iniquidade, e contigo não subsiste o mal”. Estas palavras mostram que Deus é bom, justo e santo. Deus não tem prazer no erro moral. Nele não existe nenhuma gota de maldade. Nós ficamos sabendo disso quando olhamos para os dois grandes livros criados por Deus. Que livros são estes? A Confissão Belga, em seu artigo número dois, nos mostra estes dois grandes livros criados por Deus:
Artigo 2. Como Deus se faz conhecido a nós. Nós o conhecemos por dois meios. Primeiro: pela criação, preservação e governo do universo, exposto aos nossos olhos como o mais magnífico dos livros, no qual todas as criaturas grandes e pequenas são como as muitas letras que nos levam a reconhecer claramente “os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade”, como nos diz o apóstolo Paulo em Rm 1.20. Todas essas coisas são suficientes para convencer os homens e torná-los indesculpáveis. Segundo: Ele se faz conhecer mais clara e plenamente através da Sua Santa de Divina Palavra – tanto quanto para nós é necessário nesta vida – para a Sua glória e nossa salvação.
Resumindo, existem dois grandes livros: O Livro da Natureza e o Livro das Sagradas Escrituras. Um e outro mostram que Deus é bom. Pela natureza podemos ver o quanto Deus é bom. Sua bondade fica clara nos inúmeros elementos da sua criação. Apesar de existirem coisas que causam sofrimento neste mundo, nós sabemos que essas coisas desagradáveis são uma exceção no mundo bom que Deus criou. Se colocarmos de lado os diversos males de natureza física que existem na terra, os quais são frutos da maldição que veio até nós por causa do pecado, então enxergaremos claramente a bondade de Deus em todos aqueles momentos em que ele cuida de cada um dos seres criados por sua mão poderosa.
Esta bondade de Deus fica ainda mais clara quando olhamos para as Sagradas Escrituras, as quais estão permeadas de palavras que afirmam claramente a bondade de Deus tal como podemos ver no Salmo 36.5-10:
A tua benignidade, SENHOR, chega até aos céus, até às nuvens, a tua fidelidade. A tua justiça é como as montanhas de Deus; os teus juízos, como um abismo profundo. Tu, SENHOR, preservas os homens e os animais. Como é preciosa, ó Deus, a tua benignidade! Por isso, os filhos dos homens se acolhem à sombra das tuas asas. Fartam-se da abundância da tua casa, e na torrente das tuas delícias lhes dás de beber. Pois em ti está o manancial da vida; na tua luz, vemos a luz. Continua a tua benignidade aos que te conhecem, e a tua justiça, aos retos de coração.
E por Deus ser bom, tudo que vem dele também é bom. Um exemplo disso é a sua santa lei. A lei de Deus é plenamente boa. E foi essa lei plenamente boa que Deus colocou dentro do coração de Adão e Eva. Deus fez isso para que o homem colocasse em prática um comportamento conforme a imagem e semelhança do seu Criador.
Isto significa que a lei de Deus tinha o propósito de ajudar o ser humano. Não era somente um conjunto de mandamentos que tinha sido posto no coração de Adão e Eva. Junto com os mandamentos impressos em seus corações, Deus também colocou dentro deles a capacidade de cumprir todos os seus preceitos. Portanto, a lei de Deus era boa porque ela vinha de um Deus bom, porque ela tinha como propósito ajudar o homem em ser imagem e semelhança de Deus, e porque vinha acompanhada de poder para ser executada com toda fidelidade.
E ainda que a lei de Deus continue dentro dos corações dos homens (Rm 2.14-15), mesmo assim não é possível obedecê-la integralmente, pois a força que Adão possuía para cumpri-la não se faz mais presente em nossas vidas. Sabemos o que deve ser feito, mas nossos impulsos carnais nos conduzem para o erro. Portanto, a Lei de Deus continua sendo perfeitamente justa, mas, infelizmente, nós somos maus.
- A Lei de Deus é perfeitamente justa, pois ela condena o pecado.
É isso que anuncia o Salmo 5.5 que diz: “Os arrogantes não permanecerão à tua vista; aborreces a todos os que praticam a iniquidade”. Ao dizer assim, o salmista está mostrando que Deus condena o pecado, pois ele não quer ver na sua frente os rebeldes que insistem em transgredir seus mandamentos. Deus se aborrece de modo terrível contra os ímpios. E uma vez que Deus condena assim os ímpios, então é obvio que a sua lei também proclame essa condenação. Ouçamos o que diz a Lei de Deus em Deuteronômio 27.15-26:
Maldito o homem que fizer imagem de escultura ou de fundição, abominável ao SENHOR, obra de artífice, e a puser em lugar oculto. E todo o povo responderá: Amém!
Maldito aquele que desprezar a seu pai ou a sua mãe. E todo o povo dirá: Amém!
Maldito aquele que mudar os marcos do seu próximo. E todo o povo dirá: Amém!
Maldito aquele que fizer o cego errar o caminho. E todo o povo dirá: Amém!
Maldito aquele que perverter o direito do estrangeiro, do órfão e da viúva. E todo o povo dirá: Amém!
Maldito aquele que se deitar com a madrasta, porquanto profanaria o leito de seu pai. E todo o povo dirá: Amém!
Maldito aquele que se ajuntar com animal. E todo o povo dirá: Amém!
Maldito aquele que se deitar com sua irmã, filha de seu pai ou filha de sua mãe. E todo o povo dirá: Amém!
Maldito aquele que se deitar com sua sogra. E todo o povo dirá: Amém!
Maldito aquele que ferir o seu próximo em oculto. E todo o povo dirá: Amém!
Maldito aquele que aceitar suborno para matar pessoa inocente. E todo o povo dirá: Amém!
Maldito aquele que não confirmar as palavras desta lei, não as cumprindo. E todo o povo dirá: Amém!
Nesse texto, nós encontramos doze vezes o termo “maldito”. Observem que essas maldições estão associadas ao pecado. Deus não está condenando nada que nós venhamos a reconhecer como algo bom. Tudo que está nessa lista também é mau diante dos nossos olhos. Ou seja, os preceitos de Deus são justos não somente para Deus, mas também para nós. O que Deus condena, nós também condenamos. Portanto, isso mostra inequivocamente que a Lei de Deus é justa, pois ela condena seriamente o pecado.
Assim sendo, não há cabimento algum para que alguém venha acusar Deus de ser injusto e arbitrário. A Lei de Deus é perfeita. Ela não apoia o mal. Pelo contrário, ela condena tudo o que prejudica a relação do homem com Deus e com o seu semelhante. Basta olharmos para as leis escritas por Moisés no Pentateuco. Mesmo que algumas daquelas leis tenham sido transitórias (leis civis e leis cerimoniais), ainda assim essas leis eram extremamente convenientes para o estabelecimento da justiça nos tempos em que a igreja ainda era uma criança.
Por causa disso, ninguém tem direito de questionar a vontade divina expressa nos mandamentos da antiga aliança, por mais que discordem deles. Deus é bom e sabe exatamente o que está fazendo. Se ele diz que algo é justo, é porque isso é justo. E não são meros pecadores que irão trazer Deus para um tribunal a fim de questionar sua justiça aplicada aos seres que ele criou.
- A Lei de Deus é perfeitamente justa, pois ela estabelece a punição dos maus.
Deus não somente condena o mau, mas também determina a destruição de todos os malfeitores. Nós podemos ver isso em toda a Bíblia, começando pelo livro de Gênesis. Neste primeiro livro da revelação divina, nós encontramos a punição de Deus para o pecado de Adão e Eva, para o pecado de Caim, para os pecados dos homens pré-diluvianos. Além desses relatos, nós encontramos muitas outras situações nas quais o SENHOR castigou severamente os homens por seus pecados.
Para vermos isso, é necessário lermos, por exemplo, o que aconteceu ao povo de Israel quando ele estava no deserto e também na terra prometida. São inúmeras as catástrofes, guerras, fomes e doenças lançadas contra a igreja do Antigo Testamento. Todos esses relatos mostram que Deus realmente pune os maus. Todavia, devemos lembrar que os juízos temporais que Deus tem lançado aqui na terra são apenas um anúncio, realizado em “alto e bom som”, daquele grande juízo que está destinado a todos que desobedecem a seus mandamentos. Ao anunciar o dia do julgamento final, o livro de Apocalipse diz o seguinte:
Vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja presença fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para eles. Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono. Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o Livro da Vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros. Deu o mar os mortos que nele estavam. A morte e o além entregaram os mortos que neles havia. E foram julgados, um por um, segundo as suas obras. Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo. (Ap. 20.11-15).
Desta forma, meus irmãos, não adianta tentar reclamar da justiça punitiva de Deus, alegando que o Senhor é misericordioso, e por isso ele não seria capaz de trazer tão grande punição sobre os homens. A respeito disso, o nosso catecismo é muito sábio em dizer as seguintes palavras: “Deus é verdadeiramente misericordioso, mas também é justo. A sua justiça requer que o pecado cometido contra a Sua suprema majestade seja castigado também com a pena mais severa, quer dizer, com o eterno castigo do corpo e da alma”.
Aqui na terra, os homens sofrem apenas os castigos temporais de Deus. Mas, depois da morte e do juízo final, estes homens terão que enfrentar a ira do Deus Todo-Poderoso que os lançará no lago de fogo para todo o sempre. Deus é justo juiz. E sua lei é perfeitamente justa, pois ela procede da bondade de Deus, condena o pecado e estabelece a punição dos maus. Portanto, o problema não está na Lei de Deus, mas no homem pecador.
Conclusão
Agora, eu gostaria de encerrar este sermão com algumas palavras de consolo. Este sermão ficaria incompleto se ele não nos levasse em direção ao Senhor Jesus Cristo. Falamos tanto da lei de Deus em seu aspecto justo, condenatório e punitivo, que seria muito desesperador se todo o aspecto da lei de Deus fosse somente condenar. Contudo, não é assim. A lei de Deus também contém normas que apontam para a nossa salvação. Isto é, a lei de Deus escrita por Moisés também prescreve os regulamentos dos sacrifícios substitutivos que havia na antiga aliança. Junto com as condenações e punições do código mosaico, também existia a lei que ensinava e apontava a salvação baseada na misericórdia de Deus.
Cada estipulação legal que mandava o povo de Deus se apresentar no tabernáculo, ou no templo, com uma vítima para ser sacrificada por ele, era um anúncio da misericórdia de Deus por meio do seu Filho Jesus Cristo. A lei não somente apontava a doença do homem, mas também a cura. E a cura para o homem perdido em seus delitos e pecados é o sacrifício de Jesus Cristo. O Senhor Jesus Cristo veio a este mundo plenamente ciente de que a lei de Deus é justa. Cristo sabia que a lei de Deus iria condená-lo e puni-lo pelos pecados do seu povo mesmo sendo ele plenamente inocente. Porém, mesmo assim, ele não desistiu da sua missão. Cristo cumpriu todas as exigências da lei e sofreu a punição mais severa: A ira de Deus na cruz do calvário. Ali, naquela cruz, a condenação do inferno esteve sobre ele. Não tinha outro jeito. A lei de Deus exigia isso. Por amor a cada um de nós, Cristo enfrentou a punição de Deus que viria sobre nossas vidas. Então, meus irmãos, sejamos gratos a Deus e abandonemos as obras infrutíferas das trevas.
Amém.
Laylton Coelho
É Bacharel em Direito pela UEPB, e Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Evangélico Congregacional de Campina Grande-PB (STEC). Serviu inicialmente como ministro da Palavra na Igreja Batista durante cinco anos na Paraíba. Foi pastor na Igreja Reformada do Brasil em Esperança-PB, e atualmente é ministro da Palavra na Igreja Reformada do Brasil no IPSEP (Recife-PE).
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.