Leitura: Deuteronômio 10:12-22, Ezequiel 11:14-21, João 3:1-21
Texto: Dia do Senhor 33
Irmãos e irmãs em nosso Senhor Jesus Cristo,
Será que você é um cristão? Você é cristão?
Se você disser “sim, claro”, então deixe-me também perguntar: como você sabe? Como você sabe?
Talvez nós respondemos: “bem, sou membro de uma igreja cristã. É assim que eu sei.” Mas todos nós sabemos que é possível ser membro de uma igreja cristã sem ser verdadeiramente um cristão interiormente.
Então, você é cristão? E como você sabe?
Esta tarde, queremos pensar sobre o significado de “verdadeiro arrependimento e conversão”. O que significa mesmo se arrepender e se converter a Cristo – e como isso molda o nosso entendimento do que significa ser verdadeiramente um cristão?
A Necessidade desta Conversão
Vamos começar pensando sobre esta conversa que teve entre o Senhor Jesus e o fariseu Nicodemos, em João capítulo 3. Aqui nesta conversa, o Senhor Jesus ensinou claramente a necessidade de arrependimento e conversão —ser “nascido de novo”—para ver o Reino de Deus.
Nicodemos fazia parte do grupo de judeus religiosos conservadores conhecidos como os “fariseus”. Agora, não devemos pensar que isso necessariamente significa que ele era um dos hipócritas e inimigos de Jesus. Embora Jesus muitas vezes repreendeu os fariseus por causa de sua hipocrisia e orgulho, isso não significa que eles eram todos iguais. Os fariseus eram simplesmente aqueles judeus devotados à Lei de Deus e convencidos de que o Messias só viria quando o povo de Judá voltasse à lei. Agora, havia muitos problemas com essa teologia, principalmente o fato de que sua compreensão da “lei” de Deus foi completamente ultrapassada por suas próprias tradições humanas, e muitas vezes à custa dos aspectos mais importantes da lei.
E um problema ainda maior – que se manifesta nesta conversa com Nicodemos – é que, apesar de todo o seu estudo das Escrituras, eles por maior parte falharam a natureza da salvação que Deus prometeu para seu povo, que é a salvação de Deus dos nossos pecados, e não dos nossos inimigos terrenos, como o império Romano.Eles entenderam a lei como um meio de se auto-justificar, e assim eles se consideraram justos. Eles eram muito estudiosos—poderiam falar sobre os detalhes minúsculos das leis, e eles poderiam dizer o que cada rabino dos últimos três séculos disse sobre algum assunto; mas eles não estavam famintos e sedentos de justiça; eles não foram humildes diante de Deus; eles não praticavam a justiça e misericórdia de Deus, mas trocaram tudo isso por uma observação externa e ritual da lei. Eles também esqueceram das promessas que Deus havia feito sobre a salvação das nações, e eles viram as nações por fora como apenas inimigos dos quais eles precisavam libertação. Então eles perderam a essência da fé bíblica, e esqueceram do propósito das promessas do Antigo Testamento. Tudo foi trocado por uma religião legalista e centrado em si mesmos.
Então, este homem Nicodemos, um dos fariseus, veio a Jesus de noite. Claramente, havia algo em Jesus que chamava sua atenção; algo que ele reconheceu era mais consistente com as Escrituras de que sua própria religião. Mas, ao mesmo tempo, este Nicodemus temia por sua reputação. Os fariseus como um todo já haviam decidido que este Jesus era uma ameaça e um problema, e já estavam expulsando de suas sinagogas qualquer um de seus seguidores. Nicodemos foi ter com ele de noite e disse: Rabi, sabemos que és mestre vindo de Deus, porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele.
Agora, a resposta de Jesus a Nicodemos pode parecer que veio do nada. Mas vamos ver que não foi sem motivo. Então Jesus lhe respondeu, versículo 3: “Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”.
Agora, por que Jesus falou isso a Nicodemus?
Jesus respondeu assim, porque era exatamente isso que os fariseus não conseguiam ver, mesmo com todo o seu estudo das Escrituras. Eles acreditavam que o Messias virá e o Reino de Deus se inaugurará quando todo Israel conseguir cumprir as 613 leis deles. So faltou isso. Assim, Deus iria livrar Israel dos Romanos e re-instituir o Reino de Deus como foi nos dias de Davi e Salomão.
A resposta de Jesus mostra que Nicodemus e os demais fariseus nem entenderam o que é o Reino de Deus, nem como o alcançar.
A Lei de Deus nunca tratou de mera obediência a mandamentos, ou o cumprimento de cerimonias. A Lei tratou, sempre, em primeiro lugar, do coração. “Ouve, Israel, o Senhor teu Deus, o Senhor, é o único Deus. Amarás o Senhor teu Deus com todo teu coração, com toda a tua alma, e com todo o teu entendimento.” Todo Israelita poderia examinar seu coração e perceber quão longe ele estava de cumprir isso. O que os fariseus fizeram com a Lei é eles reduziram a Lei de Deus para meros rituais que podem ser cumpridos. E então eles perderam de vista a essência do Reino de Deus. O Reino de Deus não consiste em uma estrutura política e um território físico. Consiste, antes de mais nada, na obediência dos homens, do coração, a Deus—a restauração entre Deus e o homem. Mas se Deus não converter o coração, não tem como ver este reino. Toda a historia de Israel testemunhava disso. Uma geração após outra, eles falharam. Os melhores dos Reis ainda eram longes de alcançar a justiça de Deus. Toda a história de Israel testemunhava a necessidade do Espirito de Deus para converter e renovar o coração do homem.
Então Jesus lhe disse: “Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”.
O que Cristo está ensinando aqui é que a menos que uma pessoa seja transformada no nível do coração— na verdade, radicalmente transformada em uma nova pessoa — ela não pode ver o reino de Deus. A frase “nascido de novo” na verdade não ocorre com muita frequência nas Escrituras – mesmo no Novo Testamento – mas se você procurar a frase “nascido de Deus,” você encontra isso em muitos lugares. E esta é a idéia que Jesus estava falando: a menos que uma pessoa seja feita nova, nascida de Deus, ela não pode ver o Reino de Deus.
Agora, é bom nós observamos que Jesus não está ensinando algo novo. É algo que Nicodemos deveria ter entendido. Por isso, quando Nicodemos ficou perplexo, e perguntou como é que alguém pode nascer de novo, Jesus lhe perguntou: “Como é que você é um mestre em Israel e não entende essas coisas?”
De fato, essa necessidade de um novo nascimento—ou uma renovação radical de Espírito Santo—é claramente ensinado no Antigo Testamento.
Lemos anteriormente em Deuteronômio 10, e lá vemos a necessidade absoluta de um sincero amor e reverência por Deus. Deut. 10:12: “Agora, pois, ó Israel, que é que o SENHOR requer de ti? Não é que temas o SENHOR, teu Deus, e andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração e de toda a tua alma, para guardares os mandamentos do SENHOR e os seus estatutos que hoje te ordeno, para o teu bem?” Nenhum sistema religiosa, legalista, ou ritualista vai “fabricar” este amor. Nenhum conjunto de regras ou tradições, por si só, pode produzir esse coração que é essencial para a verdadeira obediência. O que é necessário é uma transformação da pessoa, o que só Deus pode fazer.
Veja então o que Moisés disse em versículo 16:
Deut. 10:16: “Circuncidai, pois, o vosso coração e não mais endureçais a vossa cerviz.”
Moisés aqui está ensinado a mesma coisa que Cristo. A circuncisão era um símbolo da remoção do velho homem para ser um povo santo e pertencente a Deus. E o que moisés está dizendo aqui é que esta remoção não pode ser meramente exterior, mas deve ser acompanhado com a realidade interior: a remoção do velho homem e um “nascimento espiritual” como o povo de Deus.
É a mesma coisa que o Senhor Jesus disse a Nicodemos. Para servir a Deus, amá-Lo e guardar Seus mandamentos, o velho homem precisa morrer. A velha natureza deve ser removido, no nível do coração. E assim um novo homem entra em vida.
É por isso que o Senhor Jesus se maravilhou com a ignorância de Nicodemos e perguntou: “Você é um mestre de Israel e ainda não entende essas coisas?” Como é possível que você dedique sua vida ao estudo das Escrituras e não veja a necessidade do novo nascimento?
E este texto em Deuteronômio não é um texto isolado. A mesma expressão “circuncidai vossos corações” ocorre em Deuteronômio 30 e também nas profecias de Jeremias. E a mesma ideia está presente em todas as Escrituras. Nenhuma quantidade de observância da lei pode mudar o coração humano, e nada menos que uma mudança de coração pode qualificar uma pessoa para ver o reino de Deus. Isso é algo que só Deus mesmo pode fazer.
Vemos isso também nas profecias de Ezequiel. Neste livro, Deus clama contra o povo de Judá por sua rebelião e incredulidade, que era o motivo que o Reino de Judá estava prestes a desmoronar. Mas no mesmo livro, o profeta Ezequiel esperava a vinda de um novo reino, que começaria com a transformação dos corações do povo de Deus. E queremos reconhecer que isto é um ato soberano. Assim, Deus declarou em Ezequiel 11, versículo 17:
“Dize ainda: Assim diz o SENHOR Deus: Hei de ajuntá-los do meio dos povos, e os recolherei das terras para onde foram lançados, e lhes darei a terra de Israel. Voltarão para ali e tirarão dela todos os seus ídolos detestáveis e todas as suas abominações. Dar-lhes-ei um só coração, espírito novo porei dentro deles; tirarei da sua carne o coração de pedra e lhes darei coração de carne; para que andem nos meus estatutos, e guardem os meus juízos, e os executem; eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus.”
É sobre isso que o Cristo estava falando para Nicodemus. A verdadeira conversão – uma mudança de coração operada pelo próprio Deus – é absolutamente necessária para uma pessoa ver o Reino de Deus. Ele precisa nascer de novo. Ser membro da igreja, por si só, não é suficiente, assim como ser descendente de Abraão não era suficiente na Antiga Aliança. Ele precisa ser feito uma nova criação por Deus, e somente Deus pode fazê-lo. “O vento sopra onde quer e você ouve seu som, mas não sabe de onde vem nem para onde vai. Assim é para todo aquele que é nascido do Espírito”.
O Reino de Deus não pode ser fabricado se apenas seguimos certos passos, nem por leis e tradições humanas. Só pode vir pelo poder soberano de Deus nos fazendo novos, para que possamos verdadeiramente amar, temer e obedecer a Ele. Isso era o caso já no Antigo Testamento. E agora é verdade, ainda mais gloriosamente, no Novo Testamento, à medida que o Espírito faz essa obra nos corações de incontáveis números em todo o mundo, derrubando o orgulho humano, a rebelião e o pecado, e trazendo uma nova criação em cada um. Mas ninguém entra sem esta conversão. Ninguém entra pelo pai ou pela mãe, ou pela membresía na igreja, ou por seu conhecimento teológico. Precisa ser um novo homem.
O Tempo desta Conversão
Agora hoje em dia aparecem muitas perguntas sobre o tempo desta conversão. Quando é que isto acontece na vida de uma pessoa, e como é que sabemos que aconteceu?
Alguns entre nós podem testemunhar de uma experiência única, um momento único na sua vida, quando Deus os converteu. Eles podem dizer o dia e a hora que aconteceu, e era um momento inesquecível. Deus os trouxe das trevas para a luz, quebrando o coração rebelde e ímpio e fazendo um coração novo. Esta experiencia foi tão memorável e transformador, que aparece uma certa tentação de pensar que assim deve ser para todos os verdadeiros crentes. Quem não passou por isso, não é crente de verdade.
De fato, a Bíblia testemunha de tais experiências. Pensamos sobre o Apóstolo Paulo, um “fariseu dos fariseus,” homem religioso mas ímpio, quando ele estava no caminho para Damasco em missão de perseguir a igreja cristã, e Deus derrubou-o do cavalo e o fez cair de joelhos, quebrou seu orgulho e o levou ao arrependimento. Foi uma conversão dramática.
E certamente não é o único caso de uma conversão tão dramática. O Novo Testamento registra várias outras conversões desse tipo: como Zaqueu, o cobrador de impostos, que foi levado ao arrependimento quando Jesus visitou sua casa; ou o carcereiro filipense em Atos 16 que foi levado ao arrependimento depois de descobrir Paulo e Silas na prisão, cantando e louvando a Deus mesmo depois de Deus ter quebrado as portas da prisão em um terremoto. Existem essas conversões dramáticas, por meio de quais Deus nos lembra de Sua soberania absoluta. O vento sopra onde quer. Os menos prováveis, os menos esperados, às vezes são aqueles a quem Deus escolhe salvar.
Mas nem sempre aconteceassim. Na verdade, estes casos são a menoria. As Escrituras estão repletas de exemplos daqueles santos que, desde a infância— na verdade, desde o nascimento!— conheceram e experimentaram o amor de Deus como seu Deus e seu Pai Celestial. Podemos pensar em Timóteo, que Paulo diz que “desde a infância” estava familiarizado com as Sagradas Escrituras e tinha a mesma fé que estava presente em sua mãe Eunice e sua avó Lóide. Ou podemos pensar em Davi que, no Salmo 22, diz:
“tu és quem me fez nascer;
e me preservaste, estando eu ainda ao seio de minha mãe.
A ti me entreguei desde o meu nascimento;
desde o ventre de minha mãe, tu és meu Deus.”
Ou ainda novamente no Salmo 71:
“Pois tu és a minha esperança, SENHOR Deus,
a minha confiança desde a minha mocidade.
Em ti me tenho apoiado desde o meu nascimento;
do ventre materno tu me tiraste,
tu és motivo para os meus louvores constantemente.”
De fato, este é exatamente o desígnio de Deus para Sua aliança: que Seu povo tenha o privilégio de desfrutar de relacionamento com Ele, e que seus filhos, à medida que cresçam, o conhecessem como seu Pai Celestial e sejam criados no temor do Seu Nome. Os pais, por sua parte, foram comandadas a instruir seus filhos no temor e tremor do nome de Deus, com o conforto de saber que o Espírito de Deus estaria trabalhando através de sua instrução, tornando-os uma nova Criação, nascida de Deus e não do homem.
Então não podemos criar uma distinção entre o povo de Deus em base da experiência da sua conversão, tentando forçar o Espirito dentro de um molde. Julgamos uma verdadeira conversão por seus frutos (fé verdadeira, amor a Deus, amor ao próximo), e não por suas circunstâncias ou forma de chegada. Como Cristo disse: o vento sopra onde (e como) deseja. O vento pode levar o mesmo objeto cem kilometros em uma única tempestade, ou pode levar o mesmo objeto a mesma distância por meio de uma brisa suave durante muitos dias.
O Fruto da Conversão
E isso nos leva ao nosso ponto final: o fruto da conversão – que é a única medida pela qual julgamos uma verdadeira conversão. Como é o verdadeiro arrependimento e conversão?
É, por um lado, uma profunda tristeza pelo pecado. É lamentar que ofendi a Deus por meu pecado e, cada vez mais, odiá-lo e fugir dele. Você pensa nas palavras de Davi em Salmos. 51:3–4:
Pois eu conheço as minhas transgressões,
e o meu pecado está sempre diante de mim.
Pequei contra ti, contra ti somente,
e fiz o que é mau perante os teus olhos,
de maneira que serás tido por justo no teu falar
e puro no teu julgar.
Você também pensa na ordem de Deus ao povo de Israel no texto que lemos, de Deuteronômio 10: “não mais endureçais a vossa cerviz”. É uma mudança da teimosia e rebelião para a rendição e submissão ao Deus que é Santo e Bom. É o reconhecimento de que as coisas que eu estava vivendo e guardando em meu pecado são profanas e ofensivas aos olhos de Deus e merecem Seu julgamento, e é um abandono dessas coisas e entrega ao julgamento de Deus.
Você também pensa na ordem de Deus ao povo de Israel em Joel 2:12: “Ainda assim, agora mesmo, diz o SENHOR: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, com choro e com pranto. 13 Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao SENHOR, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal.”
Esse tipo de tristeza pelo pecado é obra de Deus, mas você pode reconhecê-lo quando o vê. Quando alguém deixa de defender o seu pecado ou desculpá-lo ou minimizá-lo, mas confessa e fica quebrantado por causa dele. Quando ele denuncia se mesmo, e se apega somente a cruz de Cristo como sua única esperança. Só Deus pode fazer isso.
E o outro lado do verdadeiro arrependimento é uma alegria sincera em Deus e por meio de Cristo que vem do Evangelho. É a alegria que flui do Evangelho. Aqueles que foram verdadeiramente castigados por Deus e levados ao arrependimento também encontram uma alegria profunda em Cristo, no conhecimento e na confiança de que Deus remove verdadeira e totalmente sua culpa por causa do sangue de Cristo.
Assim, o verdadeiro arrependimento e conversão evangélicos são marcados tanto pela profunda tristeza por causa do pecado quanto pelo profundo conforto e alegria por causa do perdão de Deus em Cristo.
E esse tipo de arrependimento também leva a uma mudança de vida. Quando João Batista estava pregando no deserto, preparando o caminho para a vinda de Cristo, ele chamou a multidão não apenas para se arrepender, mas para “dar fruto de arrependimento”. O verdadeiro arrependimento leva a uma mudança duradoura. Onde houver uma verdadeira tristeza pelo pecado e ódio pelo pecado, haverá um desejo sincero de combatê-lo e fugir dele. E onde há conforto e alegria em Cristo, também será acompanhado por um amor por Deus e Sua justiça, e um desejo de ter sua vida reformada segundo Sua vontade.
As Escrituras descrevem as mudanças práticas em mil lugares e maneiras diferentes, mas algo que devemos reconhecer é que sempre começa na adoração. Começa adorando a majestade e a justiça de Deus e desejando imitá-lo. Vemos isso muito claramente no texto que lemos em Deuteronômio 10. Então, no versículo 16, havia o chamado para “circuncidar o prepúcio de seu coração e não ser mais teimoso. E então o versículo 17 diz:
Deut. 10:17-19: “Porque o Senhor teu Deus é Deus dos deuses e Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e temível.”
Começa com adoração, e esta adoração produz imitação. Moises continua
[Ele] não é parcial e não aceita suborno. Ele faz justiça ao órfão e à viúva, e ama o estrangeiro, dando-lhe comida e roupa.
Amai, pois, o peregrino, pois fostes peregrinos na terra do Egito”.
Entenda então o que acontece no arrependimento: quando vemos a santidade e a majestade beleza de Deus, torna-se nosso desejo sincero ser reconstruídos segundo Sua imagem. Assim perguntamos: o que é que Deus valoriza? O que é que Deus ama? Essa será o meu desejo e o meu amor também. Se Deus executa justiça para o órfão e a viúva, e ama o estrangeiro – assim eu farei também.
O convertido reconhece: o caminho por onde andei antes era vazio e ofensivo a Deus. Não quero mais. Não somente por causa da consequências do pecado, mas o próprio pecado, eu detesto. Quero que minha vida reflita a beleza e a bondade de Deus, e quero andar em Seus caminhos, que são muito, muito mais elevados do que os meus.
Este arrependimento se expressa em inumeráveis formas. Por exemplo, em Efésios 4:
- Ef. 4:25: “Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo.”
- Ef. 4:28: “Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado.”
- Ef. 4:29: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem.”
- Ef. 4:31-32: “Longe de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia. Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou.”
E, como você pode ver, isso significa que o verdadeiro arrependimento e conversão não é apenas um evento único que acontece em algum momento da vida de um cristão, mas sim toda a vida cristã – deixando o pecado, voltando-se para Deus, e aprendendo a andar em Seus caminhos. Nas famosas “95 Teses” de Martinho Lutero que foram pregadas na porta da catedral de Wittenberg, dando início à grande Reforma, a primeira dessas teses visava o sistema de “penitência” que existia na Igreja Romana, e declarou o seguinte:
Quando nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo disse: “Arrependei-vos” (Mt 4:17), ele quis que toda a vida dos crentes fosse de arrependimento”.
Enquanto vivemos neste mundo, somos chamados, como filhos de Deus, a mostrar ao mundo como é esta vida de arrependimento, quando nos voltamos do pecado para Deus. Não é, como alguns pensam de “arrependimento”, uma vida de miséria e auto-aflição. É antes uma vida de regozijo – mesmo quando nos entristecemos com o pecado – porque conhecemos a alegria de experimentar o Espírito de Deus trabalhando em nós, mudando-nos e renovando-nos dia a dia para mais perto do objetivo de Sua perfeita justiça.
Irmãos, poem em prática este arrependimento. Se há pecados que você nunca confessou, confessa-os, e se livre deles. Vejam como seus pecados ofendem a Deus e causam sofrimento ao seu proximo—não somente pecados de comissão mas também os seus muitos pecados de omissão—e arrepende-se enquanto você vive. Se você perceber que de fato nunca se arrependeu mesmo, hoje você está aqui, está respirando ainda, e não é tarde.
E irmãos, vocês que estão lutando contra seu pecado, que odeiam seu pecado e desejam a justiça de Deus e a transformação da sua vida, descansem e se regozijem na graça de Cristo. O perdão que temos em Cristo é a única base de qual podemos lutar contra o pecado e extingui-lo. Se regozijem, irmãos, porque estas falhas e fraquezas que você observa em sua vida e tanto se entristece por causa delas, não podem te separar do amor de Cristo. O Espirito de Deus, que lhe fez um novo homem ou mulher, não vai abandonar a Sua obra, mas vai continuar a aperfeiçoá-la e fazê-la mais bela e mais gloriosa.
Jonathan Chase
O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020.
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.