2 Reis 17:1-23

Leitura: 2 Reis 17:1-23
Texto: 2 Reis 17:1-23


Irmãos em nosso Senhor Jesus Cristo,

Este é um capítulo crítico no livro de 1 e 2 Reis. Cada capítulo que vem antes dele em 1 e 2 Reis conduz a este capítulo, onde tudo culmina aqui.

Neste sentido, é um capítulo difícil de se pregar em um sermão só. Tem muito que poderia se falar sobre este capítulo, que não teremos tempo para nos aprofundar. Muitos dos pontos levantados neste capítulo são ilustrados mais detalhadamente em outros capítulos anteriores.

Mas em vez de olhar para todos os detalhes, devemos olhar—como o texto nos orienta—ao processo geral do que aconteceu para Israel. Devemos pensar sobre o trágico declínio e decadência espiritual que ocorreu em Israel que levou a este dia do julgamento, e fazer a pergunta: “como é que isto aconteceu?” Como isso aconteceu em Israel, entre o povo que Deus amou e tirou do Egito? Este é o foco do capítulo também. Ele descreve o cerco e a queda de Samaria em apenas alguns versículos curtos (versículos 1-6), e depois diz: “isto aconteceu porque…” e depois conta toda a história da decadência espiritual de Israel. É nisso que devemos pensar. Como isso aconteceu?

Devemos entender como isto é uma questão muito relevante para a igreja hoje. Não somente relevante, mas até assustador. Como é que o povo da aliança de Deus — o povo a quem Deus amava e que (pelo menos por um tempo) parecia amar a Deus — caiu em uma apostasia e desgraça tão grande, para chegar a um ponto em que Deus os expulsou de sua vista para sempre? Como isso aconteceu? Se isso pudesse acontecer com eles, será que poderia acontecer conosco?

O autor de Hebreus escreve em Hebreus 3:12: “Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo.” O que diz naquele versículo terrível é o que vemos neste capítulo e em todo o livro.

É um aviso que a igreja como um todo deve prestar atenção; e é uma advertência que o autor de Hebreus diz que deve ser levada a sério por “cada um” de nós também individualmente. O que aconteceu com Israel aconteceu em outros momentos da história com o povo da aliança; com nações que eram (em nome) cristãos; com a igreja de Cristo em alguns lugares; com denominações e federações de igrejas; e no nível individual, com muitas pessoas também. Como é que aqueles que uma vez amaram e temeram ao Senhor agora se foram para tão distantes dele? É uma pergunta que podemos perguntar também aos nossos vizinhos. Encontramos muitas pessoas que foram criadas dentro da igreja (católica ou evangélica) mas deixaram isso para trás, e já se passaram 20, 30, 40 anos desde que frequentaram regularmente a igreja. Eles perderam a identidade cristã. Como isso aconteceu?

A resposta que vemos neste texto, é: gradualmente. Aconteceu gradualmente, e aconteceu porque o “coração de incredulidade” de que Hebreus fala não foi percebido ou enfrentado. Neste caso, com a nação de Israel, isto aconteceu ao longo de vários séculos, e a nação continuou a se deteriorar em decadência espiritual até chegarmos a este estado abismal. Se isso não for um aviso assustador para cada um de nós e para todos nós juntos como igreja, então estamos em maior perigo do que imaginamos.

Então, o que aconteceu com Israel? Como eles alcançaram tal nível de decadência espiritual e impiedade que Deus os expulsou de sua vista? Podemos observar vários fatores aqui no texto:

1. Primeiro, eles esqueceram-se das bênçãos de Deus no passado.

Versículo 7:

2 Kings 17:7: “Tal sucedeu porque os filhos de Israel pecaram contra o Senhor, seu Deus, que os fizera subir da terra do Egito, de debaixo da mão de Faraó, rei do Egito; e temeram a outros deuses.”

O primeiro passo no caminho para a apostasia foi esquecer o que Deus tinha feito por eles no passado. O povo de Israel esqueceu, ou não acreditou mais, no que Deus tinha feito por eles ao tirá-los do Egito. Talvez muitos séculos tenham se passado, talvez as histórias contadas por seus pais não parecessem mais credíveis para eles; mas seja qual for a causa, esqueceram-se das obras de salvação de Deus e, com isso, perderam a sua identidade como povo redimido por Deus.

Assim também conosco: o cristão que perdeu de vista a grande salvação que foi comprada para ele pelo sangue de Cristo perdeu seu fundamento e sua identidade, e está flutuando em águas perigosas. É fácil, com o passar dos anos, permitir que as boas novas da graça e do perdão de Deus envelheçam e, assim, permitir que os nossos corações esfriem. Mas isso é mortal. Não é à toa que o imperativo principal que se-encontra no Novo Testamento às igrejas cristãs foi “regozijai-vos” e “dai graças”. A gratidão pela misericórdia de Deus para conosco é o escudo mais seguro que proteje a nossa fé e nos permite não apenas perseverar na graça, mas também viver conforme a graça que recebemos ao serviço de Cristo.

Quantas vezes isso acontece! Muitos de nós conhecemos pessoas assim. Pessoas que antes pareciam cheias do espírito de Deus, que adoravam com alegria, que permaneciam firmes na palavra de Deus, que ao longo dos anos, esqueceram do valor das boas novas do Evangelho.

Quantas vezes acontece que igrejas e confederações eclesiásticas lentamente, gradualmente, deixam as boas novas do evangelho para trás, porque cansaram desta história, e se apaixonaram por outras coisas: ativismo, causas, ou simplesmente pelo mundo. Como isso destrói a identidade daquela igreja! Quão rapidamente isso leva à pregação de um novo evangelho.

Mas, para o povo de Israel, se a história do Êxodo é verdadeira, então nunca deveria se tornar uma história antiquada ou irrelevante. Todo homem e mulher israelita deveria ter acordado todos os dias com o primeiro pensamento sendo: “Louvado seja Deus que eu não sou um escravo no Egito, como foram meus antepassados!” “Se não for pela intervenção de Deus em me tirar dali e me fazer parte de um povo pertencente a ele, eu estaria ali ainda, servindo a mestres cruéis e deuses falsos.”

Assim também todo cristão hoje deveria acordar com o pensamento: “Louvado seja Deus que eu, que por natureza pertencia ao Reino das trevas, escravizado ao pecado, perdido espiritualmente e destinado ao julgamento, fui liberto, e levado a conhecer Cristo, para receber através dele o perdão dos pecados e o dom transformador do Espírito Santo!”

O Evangelho nunca deveria se tornar uma noticias antiga para nós. No momento em que isso acontecer, estamos em perigo.

Então, como é que Israel se encontrou neste lugar escuro, como um povo totalmente indistinguível das nações ao seu redor? Tudo começou com eles esquecendo ou tratando como coisa barata o que Deus fez por eles. No momento em que você esquecer o que Deus fez por você, você esquece também quem você é. Você perde sua própria identidade.

Então esse é o primeiro passo no caminho para a decadência espiritual.

2. Segundo, eles imitaram exemplos ímpios.

Versículo 8:

“Andaram nos estatutos das nações que o Senhor lançara de diante dos filhos de Israel e nos costumes estabelecidos pelos reis de Israel.”

A bíblia, desde os dias de Moisés, conta sobre o desejo de Israel para ser igual “às nações ao seu redor.” Embora Deus os tivesse separado para Si mesmo e os abençoado de todas as maneiras, eles nunca pararam de desejar que pudessem ser mais parecidos com as nações ao redor. Desde os dias dos juízes, eles adoraram os deuses dos filisteus. Nos dias de Samuel, eles pediram um rei, para serem semelhantes às nações ao seu redor. E se aprendemos alguma coisa em nosso estudo nos livros de Reis, é que a tentação perene de Israel tem sido imitar as nações ao seu redor e adorar os seus deuses. Salomão construiu templos para os deuses de suas esposas. Jeroboão criou os bezerros de ouro — uma forma de adoração comum nas nações vizinhas. Acabe e Jezabel popularizaram a adoração de Baal. Oséias – um dos últimos profetas a falar antes da queda de Israel – falou sobre Israel como uma mulher infiel correndo atrás de seus amantes, as nações ao seu redor e seus deuses.

Assim, o povo de Deus esqueceu-se, ou desvalorizou, as Suas bênçãos no passado, e assim perdeu a sua própria identidade; e, sem identidade própria, eles imitaram os exemplos das nações ao seu redor. Quando a graça de Deus vale pouco para você, então a opinião e aprovação do mundo vale muito. Quando Deus é pequeno para você, as pessoas serão muito grandes. Se você não temer a Deus, você temerá ao homem.

Você, irmão. Você imita exemplos ímpios?

Quem você admira? Quem são seus heróis? Quem está nos cartazes que você pendura em seus quartos ou no mural do Facebook?

Quem canta as músicas que você escuta?

Quem tem sua atenção no entretenimento?

Quais vozes você permite que entrem em sua vida para pregar para você ao longo da semana? Não importa quais regras nós, como igreja, temos para quem ocupa este púlpito. Falamos muito sobre isso – e com razão. Mas a questão é: quem prega no púlpito do seu coração quando não estiver aqui no culto? – através dos livros que você lê, da música que você ouve ou dos sermões ou podcasts que você ouve? São pessoas que se submetem à Palavra de Deus, que temem ao Senhor, que andam com integridade e que chamam você a um compromisso e fidelidade mais profundos a Ele? Ou será que a linguagem que usam, as questões que lhes interessam, os valores que defendem, se assemelham cada vez mais à linguagem, às questões e aos valores do mundo?

Quem você imita? Com quem você quer se parecer mais?

Em quais grupos você gostaria de participar?

Quem são os amigos e as pessoas com quem você mais gosta de estar?

Davi diz no Salmo 16:

“Quanto aos santos que há na terra, são eles os notáveis nos quais tenho todo o meu prazer.”

Esse é o seu testemunho? Você se deleita na companhia daqueles que temem e amam o Senhor, ou você prefere a companhia dos ímpios?

Quem você imita?

Como cristãos, é claro, somos chamados a imitar o Senhor Cristo acima de todos os outros. É nos passos dEle que devemos seguir. Somos os discípulos dEle.

Mas à medida que seguimos o nosso Senhor, há outros que também imitamos. Se seguirmos os passos de Cristo, também seguiremos os passos daqueles que vieram antes de nós seguindo a Cristo. Assim, o apóstolo Paulo diz em Filipenses 3:17: “Irmãos, sede imitadores meus e observai os que andam segundo o modelo que tendes em nós.”

Olhando ao redor, que exemplos aqui na terra você respeita e deseja imitar? São homens e mulheres de fé e coragem em Cristo? Ou são pessoas que pertencem ao reino das trevas? Todo mundo tem exemplos que ele deseja seguir e imitar.

Como Israel chegou a este ponto onde os encontramos aqui no capítulo 17? Primeiro, eles esqueceram ou desvalorizaram a graça de Deus que lhes foi mostrada no passado. Em segundo lugar, seguiram exemplos ímpios.

Terceiro, eles recusaram a correção divina. Versículo 13:

“O Senhor advertiu a Israel e a Judá por intermédio de todos os profetas e de todos os videntes, dizendo: Voltai-vos dos vossos maus caminhos e guardai os meus mandamentos e os meus estatutos, segundo toda a Lei que prescrevi a vossos pais e que vos enviei por intermédio dos meus servos, os profetas. Porém não deram ouvidos; antes, se tornaram obstinados, de dura cerviz como seus pais, que não creram no Senhor, seu Deus.”


Eles se recusaram a correção piedosa. Vimos isso repetidamente no livro dos Reis. Lembra-se do profeta, lá em 1 Reis 13, que interrompeu a cerimonia religiosa de Jeroboão em frente ao seu novo altar em Betel e o repreendeu por isso? Lembra-se de como o braço de Jeroboão murchou quando ele o apontou para o profeta e ordenou ao povo que o prendesse, e como ele teve que implorar ao profeta pela restauração de seu braço?

Lembra-se de como Elias confrontou Acabe e o povo de Israel no Monte Carmelo?

Lembra-se de como Micaías repreendeu Acabe e os falsos profetas, e como ele foi jogado na prisão por causa disso?

Lembra-se de quantas vezes Eliseu chamou o povo de Israel de volta a Deus e como Jeorão finalmente tentou matá-lo?

Basta abrirmos as nossas Bíblias e descobrirmos que grande parte do Antigo Testamento consiste das palavras dos profetas confrontando, corrigindo, admoestando e alertando o povo de Deus para sair do seu mal caminho.

E este versículo aponta ainda mais para trás. Aos dias dos videntes, antes dos profetas, que foi o tempo de Samuel. Também naquela geração Deus advertiu seu povo a se arrepender. Na verdade, podemos voltar ao próprio Moisés, que deu uma advertência tão severa para não seguir os caminhos das nações que Deus expulsava de diante deles, nem adorar os seus deuses.

Mesmo assim, aqui estamos.

A palavra usada aqui no versículo 14 para “obstinado” significa literalmente “de pescoço duro”. A imagem de um “pescoço duro” faz a gente pensar em uma cabra ou a um jumento que, se você puxa-o para frente, ele endurece o pescoço e recusa-se a se mover.

A correção enviada por Deus é a última linha de defesa contra a apostasia espiritual. Por isso, temos que estar dispostos e ternos a recebê-lo. Depois disso, não há mais nenhuma proteção.

Por isso a sabedoria para receber correção é um dos maiores temas de Provérbios:

Prov. 3:11: “Filho meu, não rejeites a disciplina do Senhor, nem te enfades da sua repreensão.”

Prov. 6:23: “As repreensões da disciplina são o caminho da vida.”

Prov. 9:7–9: “O que repreende o escarnecedor traz afronta sobre si; e o que censura o perverso a si mesmo se injuria. Não repreendas o escarnecedor, para que te não aborreça; repreende o sábio, e ele te amará. Dá instrução ao sábio, e ele se fará mais sábio ainda; ensina ao justo, e ele crescerá em prudência.”

Prov. 15:10: “O que odeia a repreensão morrerá.”

É sabedoria e é uma bênção receber admoestação e correção daqueles que amam o Senhor.

A correção dada por Deus é a última linha de defesa contra a apostasia espiritual e o endurecimento no pecado. Então, novamente o autor de Hebreus escreve:

“Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo; pelo contrário, exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado.”

A história da apostasia de Israel é uma história cheia de correção que não foi recebida.

Irmãos e irmãs, vocês recebem correção?

Você ouve quando outros cristãos — especialmente os pastores e presbíteros que Deus colocou sobre você — quando eles te corrigem ou admoestam? Você se humilha diante da correção e se submete a ela?

Ou é como cutucar um urso? Você recua contra a correição? Você vai na ofensiva? Você dá trabalho e tristeza para aqueles que tentam te corrigir?

A correção é difícil de dar. É a responsabilidade mais difícil de um presbítero, e sempre seria mais fácil deixar as coisas pra lá e não falar nada. Assim certamente teria sido para os profetas em Israel. Mais fácil é ficar calado. E às vezes os presbíteros fazem todo o esforço para escolher palavras suaves, para demonstrar amor e preocupação, para não tirar conclusões precipitadas e para ouvir com ouvidos abertos, e mesmo assim são recebidos com hostilidade e oposição, argumentos, desculpas, justificativas, e queixas antigas—resumindo, com uma indisposição de ser corrigido. É como cutucar um urso. 

Às vezes é mais sutil. Você também pode ver isso nos reis.

Às vezes, a correção pode ser recebida graciosamente, mas depois totalmente ignorada. Não produz fruto.

Às vezes a correção é ignorada porque o povo de Deus simplesmente desprezam os profetas. Eles os consideram antiquados, fanáticos, ou mente-fechados.

Mas independente de como o irmão foge da correição, seja com hostilidade ou indiferença, o resultado é o mesmo: ele o faz para seu próprio prejuízo. “O que odeia a repreensão morrerá.” Não nos ajudamos. Essa correção pode muito bem vir de homens que você considera menos inteligentes ou menos “modernos”, mas eles têm pelo menos um histórico comprovado de fidelidade a Deus e de amor ao próximo. E ainda mais importante, eles foram dados por Cristo para pastorear você, e terão que prestar contas a Cristo por isso. Isto merece o seu respeito. Lembre-se de que Deus não tem obrigação de nos corrigir. Muitos ímpios, ele deixa em sua ignorância, testificando apenas que o conhecimento que eles tem é suficiente para os condenar. Então quando Deus nos manda alguém para nos corrigir, é uma grande misericórdia. Que nós tenhamos um coração pronto para receber a correição e não rejeitá-la ou ignorá-la. Ignorar ou rejeitar a correção é assinar uma sentença de morte espiritual. Sem um coração humilde o suficiente para receber correção, estamos perdidos. É a última linha de defesa.

A nação de Israel falhou em receber correção até o fim. O Senhor Jesus olhou para a cidade de Jerusalém, cerca de 40 anos antes de sua destruição final, e clamou:

Matt. 23:37: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes!”

Assim, o diácono Estêvão pregou ao povo de Judá em Atos 7, contando a longa, longa história de sua relutância em receber correção. E concluiu com estas palavras:

Acts 7:51–53: “Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim como fizeram vossos pais, também vós o fazeis. Qual dos profetas vossos pais não perseguiram? Eles mataram os que anteriormente anunciavam a vinda do Justo, do qual vós agora vos tornastes traidores e assassinos, vós que recebestes a lei por ministério de anjos e não a guardastes.”

E como eles responderam?

Versículo 54: “Ouvindo eles isto, enfureciam-se no seu coração e rilhavam os dentes contra ele.” E acabaram apedrejando-o até a morte.

Como Israel chegou aqui, neste lugar tão triste onde os encontramos em 2 Reis 17?

Primeiro, eles esqueceram ou desvalorizaram as bênçãos passadas. Segundo, eles imitaram exemplos ímpios. Em terceiro lugar, eles recusaram a correção.

E finalmente, Deus os entregou ao seu pecado. Israel tornou-se um povo desconhecido. Seus pais, Abraão, Isaque e Jacó, não teriam reconhecido seus próprios filhos. Eles se tornaram indistinguíveis das nações que Deus havia expulsado antes deles. Houve altos construídos para culto ilegítimo em todo o país. Colunas e Aserim em cada colina alta e debaixo de cada árvore verdejante, junto com os prostitutos de culto masculinos e femininos que trabalhavam nesses lugares (1 Reis 14). Eles foram atrás de falsos ídolos. E, versículo 16:

“Desprezaram todos os mandamentos do Senhor, seu Deus, e fizeram para si imagens de fundição, dois bezerros; fizeram um poste-ídolo, e adoraram todo o exército do céu, e serviram a Baal. Também queimaram a seus filhos e a suas filhas como sacrifício, deram-se à prática de adivinhações e criam em agouros; e venderam-se para fazer o que era mau perante o Senhor, para o provocarem à ira.”

Aqui está a realidade: se não estivermos vigilantes e ativamente vivendo na graça e verdade do evangelho, a apostasia espiritual é gradual e inevitável. “Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo.”

Agora você pode perguntar, mas nós reformados não cremos na perseverança dos santos? Sim, aqueles a quem Deus escolhe, em quem ele opera a fé, Ele não permitirá que se afastem. Mas aqueles a quem Deus escolhe são aqueles que, por causa de sua fé, por causa do temor de Deus no seu coração, também constantemente vigiam, e ouvindo correição, agradecem a Deus e respondem com seriedade. Sua vigilância, humildade e arrependimento são justamente os meios que Deus usa para os preservar.

Mas tem muitos outros que acreditam ser salvos, que não vigiam, não zelam, e não gostam de ser corrigidos, e assim um coração incrédulo e mau é permitido endurecer a tal ponto que eles nem sequer reconhecem mais quem são—certamente não as mesmas pessoas que antes eram!—e perdem a herança que era deles. Não é possível cair da eleição, mas é possível abandonar a aliança e afastar-se do Deus vivo, e a lista de igrejas, denominações, e cristãos individuais que fizeram isso não é curta. Tome cuidado. Esteja atento. Seja humilde.

O triste final da história de Israel é que, uma vez que eles finalmente se tornaram indistinguíveis das nações ao seu redor, Deus os expulsou de Sua vista.

Versículo 18:

2 Reis 17:18: “Pelo que o Senhor muito se indignou contra Israel e o afastou da sua presença; e nada mais ficou, senão a tribo de Judá.”

E são más notícias para Judá também, porque cada uma das coisas que são mencionadas aqui sobre Israel também são mencionadas sobre Judá. Israel, por sua parte, nunca voltou do exílio. Nunca houve uma recuperação. Eles foram espalhados entre as nações e deixaram de existir. O julgamento de Deus é real. Ele está falando sério.

O resto do livro dos Reis agora é sobre Judá. E infelizmente, mostra o mesmo declínio constante.

Mas é importante notar que não existe um capítulo como este para Judá. O capítulo 24 fala sobre o exílio de Judá na Babilônia. Mas o livro dos Reis termina sem conclusão.

Isso é devido a promessa que Deus fez a Davi. Ao olharmos para a história de Israel, vemos, por um lado, a desesperança da condição humana, vendo que até mesmo o próprio povo de Deus não puderam ser desviados de seu caminho e acabaram de volta ao mundo; mas em Judá, nós vemos a preservação por Deus do trono de Davi e a constante lembrança da promessa que Deus fez a Davi. Se olharmos ao homem, não tem esperança. Mas quando olhamos à fidelidade de Deus, ainda há. 

Judá não foi expulso para sempre. Diferente de Israel, eles retornaram depois de 70 anos. Embora eles fossem igualmente culpados como Israel em todos os sentidos, Deus tinha planos para Judá, para preservá-la de qualquer maneira, porque através dela viria o Messias que nos libertaria deste miséria.

E é aí que precisamos terminar. Irmãos e irmãs, o julgamento de Deus é real. Veja aqui e trema. Porque isto seria você mesmo, à parte da graça de Deus. Se você não vê e sente isso, então você está mais perto disso do que imagina.

Mas é justamente por causa da desesperança da nossa condição e da nossa impotência para nos salvarmos ou evitarmos cair, que o próprio Deus veio ao nosso mundo como o Filho de Davi, Jesus Cristo, para ser o Israel que Israel falhou em ser e para criar, por Sua vida perfeita e morte sacrificial, um novo povo, ao qual nós hoje pertencemos.

Quando Moisés advertiu o povo de Israel com palavras duras para não seguirem este caminho, eles prometeram que jamais fariam isso. Mas o próprio Moisés, em Deuteronômio 31, profetizou que esse dia chegaria, quando eles se encontrariam no exílio, e eles se lembrariam de todas as suas palavras contra eles. E Josué disse ao povo a mesma coisa, em Josué 24:19–22:

“Josué disse ao povo: Não podereis servir ao Senhor, porquanto é Deus santo, Deus zeloso, que não perdoará a vossa transgressão nem os vossos pecados. Se deixardes o Senhor e servirdes a deuses estranhos, então, se voltará, e vos fará mal, e vos consumirá, depois de vos ter feito bem. Então, disse o povo a Josué: Não; antes, serviremos ao Senhor. Josué disse ao povo: Sois testemunhas contra vós mesmos de que escolhestes o Senhor para o servir. E disseram: Nós o somos.”

No final, Moisés e Josué estavam certos. Os Israelitas não eram capazes de guardar a lei, apesar das suas melhores intenções…eles seguiram o caminho da apostasia.

Mas foi justamente por isso que Deus enviou Cristo. Para sermos as pessoas que não poderiamos ser por nós mesmos, pelo poder do Espírito dele, unidos com Cristo.

E é por isso que, no final das contas, este livro de Reis foi escrito para direcionar nossos olhos para Cristo: para que possamos conhecer a desesperança de nossa própria condição espiritual e fugir para Deus, o Único que pode nos salvar—e ao Seu Messias, Jesus Cristo.

Portanto, irmãos e irmãs, temos o privilégio de ler este livro como aqueles que conhecemos a Cristo. Ele nos trouxe das trevas para a luz. Ele nos fez pertencer a Ele e perdoou o nossos pecados. E isso significa que o fracasso não é final inevitável de nossa. A luta da fé na qual você está engajado é uma luta que pode ser vencida, pelo poder dEle. É possível conquistar a carne. É possível abrir um novo capítulo em sua vida. É possível crescer na graça, e não retroceder.

Mas então—tremendo ao ver o que aconteceu com Israel—vamos nós ficar sempre perto de Sua graça, guardando nós mesmos, para que o coração incrédulo que existia neles não existisse em nós—ou se exista, que seja enfrentado—para que não nos faça cair da graça.

  1. Cuide-se para não esquecer do que você recebeu de Deus em Cristo, mas antes, todos os dias, regozije-se nesta graça e dê graças a Deus por ela.
  2. Observe cuidadosamente quem você imita e de quem você busca aprovação.
  3. Cuide-se para receber a correção com humildade e seriedade, como um presente de Deus, como a última linha de defesa contra a apostasia.

E depois, com alegria e confiança, entregue-se ao cuidado de Deus, que em Cristo sim te ama e é capaz de fazer com que você persevere até o fim. Vou encerrar com as últimas palavras do livro de Judas: “Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados diante da sua glória, ao único Deus, nosso Salvador, mediante Jesus Cristo, Senhor nosso, glória, majestade, império e soberania, antes de todas as eras, e agora, e por todos os séculos. Amém!”

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Jonathan Chase

O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020. 

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.