Leitura: 1 Reis 19
Texto: 1 Reis 19
Irmãos em nosso Senhor Jesus Cristo,
Ao olharmos para o texto à nossa frente, devemos lembrar o propósito para o qual este livro dos Reis foi escrito. Eu já falei outra vez, mas vou repetir agora: Uma das principais razões pelas quais o livro dos Reis foi escrito foi para que o povo de Deus pudesse se encontrar na história mais ampla do que Deus está fazendo e reconhecer a mão dEle trabalhando em nossos tempos também. O livro dos Reis apresenta um Deus que age na história humana e que tem seus propósitos em todos os eventos da história – tanto os eventos grandes como também os pequenos. Ele está trabalhando no levantamento de reis e governos, e também na alimentação de viúvas gentias. Nós, a ler este livro, queremos ter nossos olhos treinados para reconhecer a mão de Deus na história, e aprender sobre seus planos e propósitos: que tipo de reino Ele está construindo e que ferramentas ele usa para fazer isso – para que possamos dar a Ele a glória, e encontrar nosso próprio lugar em Seu plano.
Dentro dessa história mais ampla, este capítulo é um pouco diferente – parece uma pausa na história. É também um capítulo muito íntimo—uma conversa entre Deus e seu profeta. Normalmente, o Livro dos Reis apresenta os profetas como o porta-voz de Deus, falando publicamente para o povo, dirigindo-se a reis e pessoas importantes na sociedade. Mas aqui nós temos uma conversa íntima entre Deus e seu profeta. Tudo o que está acontecendo ao redor fica na pausa, porque neste momento não é o povo que precisa ouvir a voz de Deus, mas o profeta que está esgotado, que está perdendo a esperança, que trabalhou muito para o reino de Deus, desejando ver mudança no mundo, mas agora encontrando-se totalmente desanimado. E por isso é um capítulo para nós também. Para aqueles que viram o mal, que viram o que Satanás é capaz de fazer, que viram os poderes constituídos aparentemente se aliando aos injustos e punindo os justos. É um capítulo para aqueles que estão orando, como Jesus nos ensinou a orar, “venha o teu reino, seja feita a tua vontade”, mas que não estão vendo o reino de Deus chegar, e que olham em volta e não veem a vontade de Deus sendo feita . É um capítulo para aqueles que sofrem, que lamentam, que se perguntam o que Deus está fazendo.
Então o tema deste sermão é: encoraja seu servo que anseia o desmoronamento do reino de Satanás. E ele faz isso de cinco maneiras, que veremos no texto que temos diante de nós.
Este capítulo segue logo após o capítulo 18, aquela grande disputa no Monte Carmelo entre Elias e os profetas de Baal. Podemos dizer que esse foi o ponto mais alto do ministério de Elias, aquele momento em que ele conquistou todos os profetas de Baal, mostrando como seus deuses eram vazios e impotentes. Foi o momento em que ele finalmente ouviu aquela confissão nos lábios do povo de Deus, para qual ele tinha trabalhado muito: “Javé, Ele é Deus; Javé, Ele é Deus. ” Que momento encorajador deve ter sido. Não só isso, mas a chuva voltou para a terra depois de trés anos de seca. Não só isso, mas vemos até Acabe obedecendo a Elias. Elias diz: “Vá para casa, corra para o seu palácio porque a chuva está caindo atrás de você”, e Acabe pega suas roupas e corre em obediência ao profeta. Os quatrocentos profetas de Baal foram executados. Parece que as coisas estão finalmente mudando.
Mas o que acontece depois? Capítulo 19, versículo um, Acabe vai e conta a Jezabel sobre isso e Jezabel envia um mensageiro a Elias, dizendo: 1 Kings 19:2: “Façam-me os deuses como lhes aprouver se amanhã a estas horas não fizer eu à tua vida como fizeste a cada um deles—[que dizer, dos profetas de Baal que morreram].”
Então, depois de todo o “arrependimento” de Israel, por se livrar dos profetas de Baal, Acabe continua rei, Jezabel continua rainha e Elias continua um refugiado. Muito entusiasmo, mas pouca, pouca mudança.
Olhem para Jezebel. É uma imagem realista do pecado, não é? Você pensaria que, depois do que aconteceu no Monte Carmelo, que finalmente Jezabel iria quebrar, que ela admitiria que Deus é o único Deus verdadeiro, que ela abandonaria seu programa de liderar o povo na adoração de Baal e Asera. Mas não. Ela se endurece. Ela fica irada contra Elias. Todo esse programa do culto de Baal era o programa dela, o bebê dela. Era o que ela devotou sua vida a construir em Israel, e ela não vai deixar Elias derrubá-lo. Um comentarista colocou desta forma, “o fogo de Javé consumiu tudo, exceto a cegueira da mente de Jezabel e a recalcitrância em sua vontade.”
Mas não é essa a natureza do pecado? É o que nós já vimos repetidas vezes. À parte do Espírito de Deus, levando-nos ao arrependimento, nós não mudamos. Não importa quantas evidências vemos. Não importa o quanto Deus confronta nossos reinos que estamos construindo. Não vamos mudar a menos que o espírito de Deus nos transforme.
E assim, Elias estava justamente com medo por sua vida. Há algum debate sobre qual é a palavra correta no versículo 3: alguns manuscritos dizem que Elias estava “com medo” e outros simplesmente dizem que ele “viu.” As duas palavras são escritas de maneira muito semelhante no hebraico. Então, se Elias realmente estava com medo, ou se ele simplesmente “viu” que não era mais seguro ficar por lá, o versículo 3 nos diz que ele se levantou e correu para salvar sua vida e veio para Berseba, que pertencia a Judá. E então, quando ele chegou lá, ele ainda não parou, mas deixou seu servo para trás e foi um dia mais longe para o deserto. Assim ele ficou muito longe do alcance de Jezabel, em um país diferente, sob o governo de um rei diferente, e até lá, escondido no deserto.
Agora, vamos supor que a tradução esteja correta que diz que Elias estava com medo. Será que Elias tinha razão pra ficar com medo? Eu li vários comentários que criticam Elias, dizendo que ele não deveria ter ficado com medo. Mas devemos ter cuidado antes de criticar Elias aqui. Alguns dos comentaristas em particular são realmente injustos com Elias, dizendo que neste capítulo, você o encontra “só sentindo pena de si mesmo”, “dando desculpas para si mesmo” ou “envolvendo-se em si mesmo”.
Antes de criticá-lo, pensam no que ele está passando:
- Primeiro, Elias tinha toda razão para acreditar que aquela Jezabel realmente iria matá-lo, e provavelmente de uma maneira cruel. Ela já havia matado centenas de profetas de Deus.
- Em segundo lugar, Deus nunca disse a Elias que ele tinha que ficar em Israel. Elias tinha todo o direito de fugir. Às vezes nós encontramos na igreja um certo pensamento que se realmente confiarmos em Deus, não vamos fugir daqueles que nos perseguem. Mas a igreja sempre reconheceu a opção legítima de fugir da perseguição. A igreja muitas vezes se escondia quando havia perseguição. Não há obrigação de se apresentar às autoridades para ser morto se você tiver a capacidade de fugir. O governo não tem autoridade legítima para perseguir a igreja. Portanto, não devemos criticar Elijah por ter fugido em um momento em que ele sabia que sua vida estava realmente em perigo. Não nos esqueçamos, este é o mesmo Elias que apenas no último capítulo teve a coragem de aparecer diante de Acabe, sabendo o quanto Acabe o odiava. Que teve a coragem de enfrentar todos os quatrocentos profetas de Baal. Não é falta de coragem, é bom senso.
- Terceiro, Elias está dizendo a verdade quando diz no versículo 10 e novamente no versículo 14: “Tenho sido zeloso pelo Senhor, Deus dos Exércitos.” Alguns dos comentaristas dizem que Elias está sendo orgulhoso neste momento. Mas será que ele está? Temos todos os motivos para acreditar que ele está dizendo a verdade. É exatamente o que nós vemos no capítulo anterior.
- Quarto, Elias também estava, na maior parte, correto em sua acusação contra Israel. Ele diz que eles abandonaram a aliança de Deus. Foi mesmo. Eles demoliram seus altares. Foi mesmo. Eles mataram seus profetas com a espada. Tudo isso é verdade. Agora, é verdade que Elias só conta o lado negativo e parece ter esquecido das coisas boas que Deus realizou por meio do seu ministério. Certamente ele está errado por dizer que é o único profeta restante. Lembre-se, Obadias disse a ele um capítulo atrás como ele escondeu os profetas de Deus em cavernas por volta dos anos cinquenta. Então Elias sabia que havia outros profetas de Deus lá fora. Mas, na maioria do que ele fala pra Deus contra Israel, ele está certo.
Então devemos ter cuidado para não julgá-lo muito rapidamente por ter fugido para salvar sua vida ou por ter reclamado desta forma contra Israel. Quando o Senhor lhe pergunta em versículo 9 e de novo em versículo 13: “Que fazes aqui, Elias?” pode ser talvez uma certa repreensão aí, mas não necessariamente. Pode também ser que Deus está lhe convidando para expressar seu sofrimento diante dEle. Este não é um capítulo sobre a ira de Deus com Elias … Não vemos Deus mostrando nada além de misericórdia e compaixão para com seu servo Elias neste capítulo.
Agora, certamente é verdade que Elias tinha caído em desespero. Ele implora a Deus para tirar sua vida. Ele acabou-se. Ele não quer mais ser profeta. E como resultado desse desespero, você pode ver que Elias não consegue nem mesmo se lembrar do bem que Deus fez por meio dele. Ele está tão sobrecarregado por fracassos, contratempos, hostilidade, perseguição que perdeu a esperança. Ele perdeu de vista sua missão como profeta. Às vezes isso acontece mesmo. À medida que experimentamos oposição, experimentamos reveses, ou irmãos ou irmãs dentro da igreja se voltando contra nós, pode acontecer que chegamos ao ponto de desespero. Encontramos tanto mal que não conseguimos mais enxergar o bom.
Assim, em total desânimo, Elias buscou refúgio no deserto. Inicialmente, o texto não diz para onde ele estava indo. Parece que ele não estava indo para lugar nenhum em particular, mas só queria ficar o mais longe possível de Acabe e Jezabel e morrer sozinho. Então viajando pelo deserto, ele sentou de baixo de um zimbro – uma daquelas árvores solitárias que crescem sozinhas no deserto – e ali ele implorou a Deus para tirar sua vida. Ele diz, “Basta; toma agora, ó Senhor, a minha alma, pois não sou melhor do que meus pais.” Podemos ver a frustração que ele sentiu nestas palavras: “não sou melhor do que meus pais.” De que isso vale? Não adianta. Está tudo em vão.
Assim chegamos ao nosso primeiro ponto: vemos Deus, em primeiro lugar, lembrando Elias de sua provisão para ele no passado. Enquanto Elias se deitou e dormiu, um anjo o tocou e diz “levante-se e coma.” Elias olhou e eis que na sua frente um bolo assado em pedras quentes e uma jarra de água. Com aquela pequena refeição, Deus não só sustentou seu servo, mas aquela mesma refeição serve como uma lembrança da provisão de Deus no passado, por meio de Elias. Por vários anos, Deus sustentou uma mulher viúva pela presença de Elias com aquela comida bem simples. Nada de especial, mas sempre foi suficiente. Elias tinha o privilégio de ministrar ao povo de Deus, cuidando de todas as suas necessidades; e agora Deus está cuidando dele.
Elias comeu e bebeu, mas ainda assim ele se deitou novamente. Ele ainda não estava pronto para se levantar. Mas Deus mostra sua paciência com ele. Versículo 7: “Voltou segunda vez o anjo do Senhor, tocou-o e lhe disse: Levanta-te e come, porque o caminho te será sobremodo longo.”
Esta é a primeira vez que ouvimos sobre uma viagem. Não sabíamos até este ponto que Elias estava caminhando para algum lugar específico. Mas se você olhar para frente, podemos ver que ele termina no Monte Sinai. Então agora percebemos que é para lá que Elias estava caminhando o tempo todo.
O Monte Sinai é o lugar onde Deus fez sua aliança com Israel. É onde os Dez Mandamentos foram dados, onde Deus estabeleceu sua aliança com eles. E então podemos imaginar que Elias está indo lá para apresentar uma reclamação contra o povo de Deus.
Quando Elias chegou ao Monte Sinai, ele primeiro entra numa caverna. Ali a palavra de YHWH veio a ele dizendo: “Que fazes aqui, Elias?” Novamente, não precisamos ver isso como uma repreensão. É uma pergunta. É um convite para Elias abrir seu coração diante de Deus. E assim Elias fez. Ele diz, versículo 10,
1 Kings 19:10: “Ele respondeu: Tenho sido zeloso pelo Senhor, Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram a tua aliança, derribaram os teus altares e mataram os teus profetas à espada; e eu fiquei só, e procuram tirar-me a vida.”
Podemos ver que esta é uma reclamação pactual. É uma acusação contra Israel. “Eles deixaram tua aliança.” E é um grito por justiça. “Eles mataram teus profetas.” É um clamor para que Deus intervenha. Os poderes de Satanás eram fortes demais para Elias. Após o evento no Monte Carmelo, Elias tinha feito tudo que se podia imaginar para retornar o povo a Deus, mas enfim ele percebeu que não fez diferencia nenhuma. Enquanto Acabe permaneceu rei e Jezabel continuou rainha, a confissão do povo realmente não importava em nada. Enquanto eles não se levantaram e responsabilizaram seus governantes por suas ações, todas as suas palavras foram apenas palavras. Então agora Elias apresenta sua renúncia.
Assim Deus diz no versículo 11:“Disse-lhe Deus: Sai e põe-te neste monte perante o Senhor.” E enquanto ele estava lá, diz: “Eis que passava Javé; e um grande e forte vento fendia os montes e despedaçava as penhas diante de Javé, porém Javé não estava no vento; depois do vento, um terremoto, mas Javé não estava no terremoto.”
Quando o texto diz que “Javé não estava nestas coisas, isto se refere a uma manifestação pessoal. Obviamente o Senhor estava por trás destes terríveis eventos.
Então esta é o segundo encorajamento de Deus para Elias: Ele mostrou a Elias seu terrível poder. Podemos só imaginar como isso foi aterrorizante para Elijah: ventos terríveis com força de vendaval, destruindo a montanha, arrancando pedras e quebrando-as em pedaços … Elias deve ter se sentido como se a montanha inteira iria se desmoronar. Mas por mais aterrorizante que tenha sido, de alguma forma, esta demonstração do poder terrível de Deus também teria sido exatamente o que Elias precisava ver. Não há nada como a experiência de ver o mundo ao nosso redor sendo dilacerado por tempestades e desastres naturais para nos lembrar da santidade absoluta de Deus, da majestade de Deus. Ele é um Pai íntimo e cuidadoso para com aqueles que o temem. Mas sua ira é um fogo consumidor. Ele não é um Deus com quem se brincar. Ele é perfeitamente justo e todo poderoso.
E essa é uma visão de Deus que nós precisamos também, não é? Uma visão que nosso mundo precisa. Um Deus santo. Um Deus poderoso. A justiça pode ser pisoteada por um tempo. Pessoas más podem escapar por um tempo com o mal que fazem na Terra. Mas o dia da justiça de Deus chegará e o mundo precisa saber disso. A igreja precisa saber disso. Quando vemos a justiça sendo violada, o mal sendo chamado de bom, o bom sendo chamado de mau, os profetas de Deus sendo mortos ou presos, a aliança de Deus sendo profanada, precisamos ser lembrados do poder de Deus. Precisamos ter certeza de que Deus não está ausente neste mundo. Deus está apenas esperando o tempo certo. Mas o julgamento virá e será realmente terrível, muito pior do que nós mesmos desejaríamos.
Bem, depois do vento, veio um terremoto. Depois do terremoto, veio um fogo. Todos esses são lembretes, é claro, do que aconteceu na primeira vez que Israel esteve antes do Monte Sinai. Os ventos, as tempestades, o fogo, a presença de Deus naquela montanha que eles viram há muitos anos.
Ainda assim, nosso texto diz que o Senhor não estava “em” nenhuma dessas coisas. Ele estava, é claro, por trás dessas coisas. Mas ele não falou nem apareceu no meio deles. Com Moisés, Ele havia falado do meio do fogo. Mas aqui, ele permaneceu em silêncio apesar de todo o vento, terremoto e fogo. Se Elias esperava que Deus falasse no meio da tempestade, ele ficaria perplexo. Em vez disso, veio (literalmente, em hebraico) um silêncio fino e, depois, a voz de Deus. Nosso texto traduz isso como um cicio tranquilo e suave, mas não precisa ser um cicio; o hebraico apenas diz uma voz, ou som, e um silêncio fino.
Qual foi o propósito dessa voz e silêncio fino depois da tempestade, e por que o texto faz questão de notar que Deus não estava no vento, ou no terremoto, ou no fogo?
Acho que o ponto aqui é que Deus lembrou Elias de algo que ele precisava se lembrar: mesmo que Deus pudesse intervir neste mundo por meio de vento, terremotos e fogo, e julgamento catastrófico, e destruir todos os Seus inimigos, da maneira às vezes desejamos quando estamos em guerra conta o mal – embora Deus pudesse intervir dessa forma, tudo o que precisamos é Sua voz – Sua Palavra. Isso é suficiente para nós. E o profeta de Deus, especialmente, precisava se lembrar disso. Se Deus prometeu que destruirá o reino de Satanás, então está tudo certo, porque essa é uma promessa que vem de Deus, que poderia facilmente cumpri-la hoje, por meio de vento, terremoto, fogo. A Palavra de Deus é suficiente. Ele não precisa aparecer no vento, terremoto e fogo para que tenhamos plena confiança em Sua Palavra. Se ele prometeu construir seu reino e destruir o reino de Satanás, então Ele o fará.
Quando Elias ouviu aquela voz, ele envolveu seu rosto em sua capa – com medo de ver a face de Deus – e ele saiu e parou na entrada da caverna – então ele deve ter recuado para a parte de trás enquanto a tempestade passava . E então Deus falou com ele, com a mesma pergunta: “O que fazes aqui, Elias?” E Elias repetiu a mesma acusação:
1 Kings 19:14: “Ele respondeu: Tenho sido em extremo zeloso pelo Senhor, Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram a tua aliança, derribaram os teus altares e mataram os teus profetas à espada; e eu fiquei só, e procuram tirar-me a vida.”
Desta vez, Deus respondeu com uma ordem para Elias:
1 Kings 19:15–17: “Disse-lhe o Senhor: Vai, volta ao teu caminho para o deserto de Damasco e, em chegando lá, unge a Hazael rei sobre a Síria. A Jeú, filho de Ninsi, ungirás rei sobre Israel e também Eliseu, filho de Safate, de Abel-Meolá, ungirás profeta em teu lugar. Quem escapar à espada de Hazael, Jeú o matará; quem escapar à espada de Jeú, Eliseu o matará.”
Aqui estava a Palavra de Deus para Elias – a resposta à reclamação de Elias. Lembre-se de que Elias veio com uma acusação pactual contra Israel, pedindo que Deus os julgasse. E é isso que Deus prometeu fazer. Não viria por meio de vento, terremoto e fogo, mas sim por meios que talvez fossem menos espetaculares, mas certamente não menos devastadores e terríveis. Deus levantaria forças políticas que derrubariam o reino ímpio de Acabe e Jezabel, e não apenas isso, mas também destruiria todo o reino de Israel. Talvez isso fosse ainda mais julgamento do que Elijah estava pedindo. Nos lembra do profeta Habacuque, que também trouxe sua acusação de aliança contra Deus, esperando pelo julgamento … mas depois ficou chocado com o terrível julgamento que Deus estava realmente planejando. Foi ainda mais do que ele pediu. Mas ali, e aqui também, era um julgamento que já estava para acontecer há muito tempo. E a tempestade que Elias acabara de ver era como um selo sobre aquela palavra de Deus. A palavra de Deus – sua promessa de destruir o reino de Satanás – é tudo de que precisamos para viver pela fé e continuar engajados na batalha.
Irmãos, em nossos dias, também estamos esperando que Jesus Cristo cumpra sua promessa. Jesus disse: “Eu edificarei minha igreja.” Ele prometeu que os portões de Hades não resistirão ao avanço de sua igreja. Ele prometeu “Eu colocarei todos os meus inimigos sob meus pés.” Ele prometeu que o reino dos céus encherá a terra. E certamente podemos ver que isso aconteceu nos últimos dois mil anos à medida que a igreja cresceu. Mas certamente também podemos olhar para este mundo e ver que ele tem um longo, muito caminho a percorrer. Até os lugares que talvez pensávamos ser as fortalezas do reino de Deus (na América do Norte e na Europa) parece que o reino de Deus está se desmoronando ali. Vemos Satanás ainda muito forte. Vemos o reino de Satanás reino parecendo até crescer. O alcance da igreja parece ter diminuído. O governo parece estar se tornando cada vez mais hostil à igreja. Podemos ser tentados, como muitos cristãos, a levantar as mãos e simplesmente dizer “Este lugar inteiro está caminhando para o inferno. Que Jesus volte e nos resgate dessa bagunça logo. As coisas só ficam pior todo dia. O fim deve estar próximo.”
Mas é isso que Cristo nos chamou para fazer? A palavra de Cristo aos seus discípulos foi: “Eu edificarei minha igreja, e as portas de Hades não prevalecerão contra ela.” A igreja de Cristo ainda tem muito a crescer. O reino de Satanás ainda tem muito que se desintegrar. E temos uma convocação e uma promessa de que Cristo sempre estará conosco. Cristo não vai abandonar sua igreja. Será que estamos desesperados como Elias, pensando que este país, que Cristo disse ser meu…que este país está perdido demais para Cristo salvar? Será que estamos desesperados, mesmo sem ter feito o mesmo tipo de sacrifício que Elias fez? Será que nós consideramos a palavra de Deus, a promessa de Cristo, suficiente? Será que essa voz—ainda pequena—é o suficiente para nós?
Então Deus encoraja seu servo desesperado (1) lembrando-o de Sua provisão no passado, (2) mostrando-lhe Seu poder terrível, (3) apontando para a suficiência de Sua Palavra, e (4) quarto, agora também prometendo a Ele que Ele já estava, e continuaria, preservando Sua igreja, mesmo que Elias não pudesse ver. Versículo 18:
1 Kings 19:18: “Também conservei em Israel sete mil, todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda boca que o não beijou.”
Vejam, a acusação de Elias foi quase totalmente correta, mas não foi totalmente correta, porque ele está errado ao dizer que ele é o único que restou. Deus ainda estava preservando um remanescente. E Deus promete que depois que a tempestade passar, depois que o julgamento passar, ele continuará a preservar aquele remanescente. Nos dias de Elias, a comunidade de crentes era pequena, muito pequena, quase inexistente. Mas ainda estava lá. O Espírito Santo ainda estava trabalhando. Havia sete mil crentes que não dobraram os joelhos a Baal. E isso, junto com a palavra da promessa de Deus, era tudo que Elias precisava para continuar esperando, para continuar trabalhando. É tão fácil se tornar cínico e às vezes até cínico em relação à igreja. Vemos todas as fraquezas da igreja e nos perguntamos o quanto há de bom até mesmo na igreja? E começamos a acreditar que Deus não está trabalhando em lugar nenhum. Bem, isso não era verdade na época de Elias, e muito menos em nossos dias, depois da ascensão de Jesus para o trono de Deus e do Pentecostes. Nos dias de Elias, ainda havia milhares que não dobraram os joelhos a Baal, que amavam o Senhor, que devotaram suas vidas a ele. Hoje, não são milhares, mas milhões na terra que amam o Senhor de todo o coraçãoe que o servirão, não importa quanta oposição e hostilidade enfrentem do mundo. Não podemos permitir que nosso cinismo nos roube nosso conforto. Deus estava trabalhando então, e Deus está trabalhando agora, e de fato muito mais agora na igreja hoje.
Agora, observem que esta revelação de Deus abalou tanto Elias que parece trazê-lo de volta à perspectiva. Deus tem sido paciente, Deus tem sido gracioso com Elias, e agora Deus está enviando Elias de volta para a batalha.
E assim, lemos, Elias se levantou e foi para Abel-Meholah, onde Eliseu morava. Entendam, irmãos e irmãs, que isso foi bem no território de Acabe e Jezabel – na verdade, apenas cerca de 30 km da capital, Samaria, onde eles moravam. Imaginem quanta coragem isso deve ter exigido, enquanto a busca por ele ainda estava em pleno andamento.
Agora, este encontro com Eliseu é lindo. Elias veio e o encontrou arando no campo, e ele passou por ele e lançou sua capa sobre ele. Ele não o ungiu exatamente como Deus ordenou – talvez isso acontecesse mais tarde – mas o ponto era claro: Elias o estava chamando para segui-lo e, eventualmente, para assumir seu papel de profeta. E o texto diz que Eliseu deixou os bois e correu atrás de Elias. Ele estava ansioso para assumir esse chamado. Mas primeiro, ele diz, “deixe-me dar um beijo de adeus em meu pai e em minha mãe” – um pedido razoável, você pensaria. Mas Elias não reage bem a esse pedido – ele parece irritado com isso, e pergunta: “Por que, o que foi que eu fiz para você?” Evidentemente, ele ainda não perdeu todo o seu cinismo. Claramente ele não acha muito deste jovem Eliseu ainda, e ele interprete este pedido como uma indicação de que Eliseu já não estava realmente comprometido com a causa.
Mas vejam o que o jovem Eliseu fez: ele deu um banquete para sua família, e ele pegou os bois que estavam arando seu campo, e ele os matou ali mesmo, e notem que ele até usou o jugo para o fogo. Em outras palavras, ele destruiu completamente seu meio de vida. Foi uma decisão definitiva e irreversível de atender ao chamado que Deus lhe havia dado. Não importa o que Elias possa ter pensado sobre ele, Eliseu estava pronto para aceitar este chamado.
E nisso está mais um encorajamento de Deus. Os Seus preparativos invisíveis e despercebidos de para o futuro, nos corações da próxima geração da igreja. Enquanto tudo o mais acontecia, Deus trabalhava no coração daquele jovem da próxima geração, Eliseu, preparando-o para seu chamado. Espero que isto seja encorajador para vocês, irmãos e irmãs, e especialmente para a geração mais idosa que às vezes se pergunta: “O que está acontecendo para esta geração?” Deus está trabalhando. Deus está trabalhando no coração de seus filhos e netos, e continuará a trabalhar no coração dos filhos deles também. Quando Elias chega ao fim de seu ministério e se pergunta “como a missão será cumprida?” – nesse ínterim, Deus já estava preparando Eliseu para assumir esse chamado.
Nunca podemos nos desesperar dos objetivos de Deus, porque não temos ideia do que Deus está fazendo, mesmo de forma não-observada, nos bastidores, preparando os próximos homens e mulheres para pegar o bastão e continuar a corrida. Em outras palavras, é descrença pensar que a causa está perdida. Não sabemos o que Deus está fazendo na próxima geração. Já, apenas nas últimas duas décadas, vimos a ascensão de um grande movimento para reforma em nosso país—e não só em nosso país, mas o mundo inteiro. Sim, o movimento para a reforma está cheia de imperfeições e fraquezas. Mas ainda assim nós vemos uma nova geração abraçando as doutrinas da graça e a supremacia da glória de Deus; também, especialmente nos últimos 10 anos, vemos um renascimento de salmodia. Sim, a igreja como um todo pode estar encolhendo na América do Norte e na Europa (pelo menos aquela que se identifica como a igreja). Mas as igrejas que permanecem depois parecem estar se tornando mais fortes e mais fiéis. Enquanto isso, a igreja de Cristo na China e em muitos outros países está avançando cada dia. Uma atitude de desespero e cinismo é uma atitude de descrença. Deus disse “minha glória cobrirá a Terra como as águas cobrem o mar.” Então essa é a nossa missão.
Por que devemos parar de orar por nosso país? Supomos que Deus permitirá que suas fronteiras permaneçam fechadas para sempre? Houve um tempo em que o povo de Deus se desesperou desta forma da União Soviética, e então o Muro de Berlim caiu. E mesmo assim, quando tivemos nossos primeiros vislumbres do que restou daquele país, muitos se desesperaram com o ateísmo prevalecente que se estabeleceu na União Soviética, e nos perguntamos o que poderia ser feito para penetrar nesses países novamente com o evangelho? E depois o que aconteceu? Aquelas igrejas que nunca dobraram os joelhos a Baal naqueles países se levantaram novamente. E então os missionários começaram a trabalhar lá. E Jesus tinha ovelhas lá que ouviriam sua voz. E eles continuam a se reunir, até hoje.
O futuro do reino de Deus ainda está sendo elaborado. Deus não terminou de trabalhar. E parte desse trabalho será realizado pelas criancinhas que estão aqui hoje na igreja entre nós. Eles vão levar a missão adiante. Parece impossível? Parece improvável? Você sabe o que Deus fará por meio deles? Como Deus os moldará e os preparará para o trabalho que planejou para eles?
Portanto, irmão, irmã, a chamada para você é esta: Faça o seu trabalho na esfera que Deus lhe deu. Lembre-se do que Deus fez no passado. Considere novamente seu poder terrível. E confie nEle para fazer a obra que prometeu que fará, porque Ele deu a Sua Palavra, e isso deve ser tão certo para nós como fogo do céu. Cristo está reinando nas alturas. Ele colocará todos os seus inimigos sob Seus pés. E não perca de vista a igreja que já existe, que Ele até agora tem preservado e continuará a preservar e até mesmo a crescer. As portas do inferno não prevalecerão contra Sua igreja, embora Satanás ataca muito a igreja, e o reino das trevas pareça mil vezes mais forte do que o reino de Deus, mesmo dentro da igreja. Cristo terá a vitória. E reconheça que Cristo já está trabalhando, de muitas maneiras que nós nem observamos – no coração de algumas dessas crianças aqui neste lugar, preparando-as para fazer a vontade dEle. Aceite promessas dEle e acredite nelas. Um dia a terra se encherá da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar.
Jonathan Chase
O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020.
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.