Leitura: 01 João 02.07-11
Texto: 01 João 02.07-11
Vivemos numa época viciada em novidade. Os anunciantes adoram a frase, “novo e melhorado,” mesmo que o produto nem seja tão novo nem muito melhorado, porque todos estão interessados em algo novo. Talvez você conhece o nome de Steve Jobs, que era presidente de Apple – ele sabia melhor do que quase qualquer outra pessoa que o mundo está sempre atenta a algo novo – do iPod, do iPhone, do iPad… pessoas vão fazer filas nas ruas para comprar algo novo, se elas precisam ou não. E o fato é que, apesar de ser novo, você provavelmente não precisa daquela nova coisa.
O mesmo é verdade num grande segmento da igreja evangélica. Sempre tem que haver algo novo. Temos movimentos que vai e vem – as “mega-igrejas.” As igrejas domésticas. Os pequenos grupos – células. Novas técnicas, destinadas a atrair novos membros. Em outros contextos, pessoas estão sempre procurando novos movimentos do Espírito – se algo novo e estranho está acontecendo em algumas igrejas, as pessoas se reúnem para ver o que está acontecendo, não importa o quão estranho ou não bíblico possa ser.
Mas para muitos de nós, já experimentamos esta novidade, e reconhecemos as falhas. Mas esse desejo de novidade támbem pode ser encontrado nas igrejas reformadas. Nossos desafios podem ser diferentes, mas num mundo de mudanças rápidas, de avançamentos tecnológicos, de gratificação instantânea, de informações instantâneas na Internet, nós também enfrentamos o desafio de pessoas que procuram algo novo – novos estilos de adoração, novos formas de pregar, novas músicas, em geral, novas formas de fazer as coisas.
Neste mundo, com a constante demanda de novidade, temos uma mensagem velha, antiga. Às vezes, faço a piada que eu prego o mesmo sermão todas as semanas. E embora eu não sou totalmente sério quando eu digo isso, há um elemento de verdade nessa afirmação. Porque de semana para semana, mês a mês, ano a ano, a nossa mensagem é a mesma: precisamos desesperadamente de um Salvador. Jesus Cristo é aquele Salvador. Arrependa-se, e acredite, e você receberá a vida eterna. A sua vida será renovada. Você se tornará uma pessoa nova, e você viverá da maneira que você deveria viver – para glorificar a Deus e para viver por Ele. É isso aí. Essa é a mensagem antiga. Essa é a antiga história. Não há nada de novo lá.
E isso é o que João diz: “Amados, não vos escrevo mandamento novo, senão mandamento antigo, o qual, desde o princípio, tivestes. Este mandamento antigo é a palavra que ouvistes.”
Também havia um desejo de novidade na época de João – pessoas que queriam ouvir algo novo. Não foi tão fácil de obter naquela época, como está agora, mas até 2000 anos atrás, havia esse desejo de novidade. Podemos ver isso em Atos 17, onde Paulo está falando em Atenas. “Pois todos os de Atenas e os estrangeiros residentes de outra coisa não cuidavam senão dizer ou ouvir as últimas novidades” (v.21).
E os primeiros leitores de João enfrentaram o mesmo desafio – as pessoas afirmando que elas tinham um novo conhecimento especial, ou uma nova visão; as pessoas dizendo que elas receberam uma nova revelação. Para essas pessoas, João disse isso: “Não estou dizendo nada de novo. O que eu disse até agora apenas foi uma reiteração do que você já conheceu.” Dizer a seus leitores, “Ama seu próximo como a si mesmo,” não era algo novo e diferente; o Senhor tinha dito isso a Seu povo séculos atrás, em Levítico 19.
Então, num sentido, a notícia que João está nos dando é uma notícia antiga, o que o povo de Deus conheceu desde o início. Mas, em outro sentido muito real, há algo de novo nas boas notícias, algo que brilha uma nova luz nessas palavras antigas. Eu não estou escrevendo nenhum novo mandamento, mas um antigo mandamento, João escreve, mas, “ao mesmo tempo, é um novo mandamento que eu estou escrevendo para vocês.” Então, por um lado, a notícia é antiga. Mas, ao mesmo tempo, o mandamento é novo. Como podemos entender isso?
Bem, João esclarece o que ele quer dizer na segunda parte do versículo oito. Como é que este mandamento é novo? “É verdadeiro nele e em vós, porque as trevas se vão dissipando, e a verdadeira luz já brilha.”
Sob a Antiga Aliança, a realização de todos os sinais, símbolos e cerimônias da Antiga Aliança ainda não havia aparecida. Tudo estava lá, mas em sombras, em figuras. A substância estava lá, mas a verdadeira luz ainda não havia entrada no mundo. Mas agora, com a vida, a morte, a ressurreição, e a ascensão do Senhor Jesus, a glória do Pai foi revelada, a glória do único Filho do Pai, o Verbo feito carne que habitou entre nós. Nós o vimos caminhar, e somos chamados a seguirmos nos passos dEle. O Espírito foi derramado na Igreja, nos dando a vontade e a capacidade de andar como Ele andava. A lei da Antiga Aliança não poderia trazer a vida; somente Aquele que cumpriu essa Lei poderia trazer a vida – e isso é exatamente o que Ele fez.
E com a vinda de Cristo, uma nova era começou. Agora a escuridão está passando, e a verdadeira luz está brilhando. A serpente teve sua cabeça esmagada pela semente da mulher, e tudo o que Ele está fazendo agora é apenas um sinal de sua morte. A vítoria foi ganha, e o que resta é que a batalha seja completada de uma vez por todas. O Senhor Jesus Cristo cumpriu perfeitamente esse mandamento – Ele realmente amou o próximo como Ele mesmo. E ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos (João 15.13). Ele nos mostrou o caminho. Ele abriu o caminho. Ele nos chama a caminhar assim.
Esse é a novidade deste novo mandamento. Nosso Senhor falou sobre este novo mandamento em João 13.34,35, e, sem dúvida, João lembrou-se dessas palavras do Senhor quando ele escreveu esta carta. Jesus disse isso: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros.” O que há de novo? Nós devemos amar uns aos outros, seguindo o exemplo de Jesus Cristo – assim como Ele nos amou, também devemos amar uns aos outros.
Mas há outra maneira em que esse mandamento também é novo. Como o apóstolo Paulo escreveu em 2 Coríntios 5: “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas.” A mensagem é antiga, mas o impacto dessa mensagem é sempre novo. O mandamento é antigo, mas a forma como o mandamento é elaborado em nossa vidas é sempre nova. Se estamos em Cristo, somos uma nova criação, novas criaturas, criadas novas pelo Espírito de Cristo operando dentro de nós. Ele renova todas as coisas; Ele nos tirou da escuridão na Sua luz gloriosa, e andar naquela luz fará este mandamento, esse chamado, novo, ativo, e vivo dentro de nós.
Deixar entrar aquela luz tornará a mensagem antiga, nova; viver na luz assegurará que esta boa notícia nunca se torne uma notícia antiga para nós, notícias que não fazem nada além de nos fazer bocejar, e procurar algo mais novo e mais emocionante. Como esta mensagem é nova? Quando vemos crescimento, crescimento em santidade, crescimento em amor nas nossas vidas, é nova. Quando vemos que nós amamos nosso próximo, mesmo o próximo que é difícil de amar, isso é novo. Quando olhamos para Cristo, e quando a nossa fé não se limita a um processo intelectual ou a um consentimento, é sempre novo. É sempre motivo de alegria. É sempre motivo de excitação, quando vemos Deus operando em nós e através de nós, de novas maneiras.
E qual é o objetivo desse antigo e novo mandamento? Que amamos nossos irmãos. É simples assim. Está claro. Que vos ameis uns aos outros. Ama uns aos outros, porque Ele nos amou e se deu a si mesmo por nós. Na introdução desta carta, em 1 João 1.5, João escreveu, “Ora, a mensagem que, da parte dele, temos ouvido e vos anunciamos é esta: que Deus é luz, e não há nele treva nenhuma.” Mas nós sabemos, e a palavra de Deus nos ensina, e nós a experimentamos nós mesmos, que o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, “para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus” (2 Coríntios 4.4). O profeta Isaías disse isto em Isaías 50:
“Aquele que andou em trevas, sem nenhuma luz, confie em o nome do SENHOR e se firme sobre o seu Deus. Eia! Todos vós, que acendeis fogo e vos armais de setas incendiárias, andai entre as labaredas do vosso fogo e entre as setas que acendestes; de mim é que vos sobrevirá isto, e em tormentas vos deitareis.
O deus deste mundo cegou as mentes daqueles que se recusam a aceitar a mensagem do evangelho. E este mundo cego começou a fazer suas próprias tochas, a fornecer a luz pela qual eles poderiam caminhar. Eles tentam criar suas próprias luzes, falsas luzes, imitações da verdadeira luz, mas tochas que não podem fazer o que prometem, tochas que apenas oferecem uma ilusão de iluminação. Eles caminham à luz dessas tochas, e o que acontece? Paulo diz isso claramente em Tito 3:
“Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros.”
Essa é a descrição das Escrituras do mundo ao redor de nós: um mundo cheio de pessoas odiavas, de pessoas que odeiam. Mas, “quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos,… Ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que Ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna.”
Ele nos levou à verdadeira luz! E nessa luz, nós não somente nos vemos mais claramente, mas também vemos nosso próximo com mais clareza. Nós somos levados a ver o nosso próximo, cada vez mais, como Deus vê o nosso próximo. Um comentarista (Robert Candlish) escreveu o seguinte:
“A escuridão do mundo obscurece características e confunde distinções; o governante da sua escuridão faz o ar de uma espessura tão densa, e de um tom tão artificial, que os homens e as coisas parecem diferentes do que são. Se eu estou na luz, essa escuridão está passando.”
Eu vejo o meu próximo verdadeiramente, em Cristo. Eu vejo alguém que pode ser diferente de mim, alguém com quem eu possa não concordar em tudo, alguém que pode me irritar às vezes, alguém que possa provar a minha paciência. Mas eu vejo outro filho de Deus, salvo pela graça. Eu vejo alguém que é como eu. Como na parábola de Mateus 18 – Eu sou alguém que tem sido perdoado muito, estou no mesmo barco que meu irmão. Então, independentemente de nossas diferenças, independentemente de nossas lutas e provações e dificuldades, eu posso amar meu irmão e a minha irmã. Eu posso viver em harmonia com meu irmão. Posso apoiar meu irmão. Eu posso amar, como Ele primeiro me amou tanto.
E ao amar meu irmão, esse mandamento, essa Palavra, torna-se nova mais uma vez. Um cristão egocêntrico, alguém tão focado em si mesmo que não aproveita a oportunidade de amar o irmão, nunca sentirá a novidade desse mandamento. Um cristão que se mantém afastado de seus irmãos e irmãs nunca aproveitará a novidade desta vida. Um cristão que nunca amou a seu irmão nunca terá a alegria e a segurança da fé e da salvação que se glória à luz da vida que Deus nos deu, que vem da prática vitalícia de amar seu irmão. Um cristão que olha apenas para si mesmo e não para seus irmãos está empobrecendo-se, tornando-se mais pobre e perdendo toda a maravilhosa novidade deste novo mandamento.
Então, irmãos, quando expressamos a nossa comunhão e amor na mesa do Senhor, lembre-se de sua vocação: amar-nos uns aos outros. Lembre-se: a mesa do Senhor não é um lugar para a comunhão privada entre você e Deus; É o lugar para a comunhão dos santos juntamente com o nosso Deus, um sinal e selo da comunhão que temos uns com os outros, através da nossa comunhão com o Deus Triúno. Comer juntos e beber juntos é uma imagem viva da vida a quem fomos chamados: uma vida de amor – amor de Deus e amor de nossos irmãos e irmãs. Por isso, Paulo diz: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálica; pois quem come a bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si.”
Essa palavras, essa advertência, é bem séria, irmãos. “Discernir o corpo” significa reconhecer a vida do corpo, participar na vida do corpo, edificar o corpo, viver como membro vivo do corpo. Quando não discernimos o corpo, quando vivemos em divisão, em inimizade, sem comunhão, e ainda queremos mostrar a unidade na nossa participação na Santa Ceia, estamos expressando uma mentira. E não se engana – é pecado, e o resultado será julgamento. Por isso, Jesus disse, no sermão no monte:
“Eu, porém, vos digo que todo aquele que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo. Se pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então voltando, faze a tua oferta” (Mateus 5.22-24).
E quando você ama seu irmão, você permanece na luz, e em você não há motivo para tropeçar. Olhe para sua própria vida: pergunte a si mesmo: “Eu odeio meu irmão (e lembre-se, podemos odiar por omissão, bem como por comissão)? Desprezo a comunhão que temos? Prefiro andar na escuridão? Ou eu amo a luz?”
O fato é isto: é muito mais fácil falar sobre amor, do que amar. É muito mais fácil dizer o que é certo do que fazer o que é certo. Mas precisamos lembrar as palavras de João, em 1 João 3.18: “Filhinos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade.”
Pela graça de Deus, no poder do Espírito Santo, ame-se uns aos outros. Que esse amor seja mostrado, em palavras, em ações, em toda a sua vida. Ele nos amava. Ele deu a sua vida por nós. Ele nos dá a nova vida, a nova luz, todos os dias. Caminhe naquela luz, a luz do Salvador. As coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. Essa é a única novidade que precisamos.
Amém.
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.