2 Reis 3

Leitura: 2 Reis 3
Texto: 2 Reis 3

Irmãos e irmãs em nosso Senhor Jesus Cristo ,

Um dos desafios ao ler o livro de Reis é que as lições que Deus quer que aprendamos com essas histórias nem sempre são explicitadas. Sabemos que esses livros foram escritos não apenas para registrar os fatos da história, mas para nossa instrução. Às vezes as lições são muito fáceis de discernir – como o julgamento de Deus sobre Acabe por ter matado Nabote, por exemplo. Outras vezes, Deus deixa para nós refletir e entender ao meditar no texto sagrado. Isso exige um tempo para reflexão e meditação, para começar a entender o que Deus quer que aprendamos com isso.

Isso é bom, porque assim os autores de Reis nos preparam para ler nossa própria história. A sabedoria não simplesmente cai do céu. Deus não declara do céu o que Ele pensa sobre tudo o que acontece na terra. Ele nos dá Sua Palavra e nos ordena a ler, meditar e orar sobre essas coisas, para que, com tempo e sabedoria, comecemos a entender a perspectiva divina sobre aqueles tempos antigos, e sobre nossos tempos hoje.

O que este capítulo destacou, para mim, são duas coisas, ao mesmo tempo: Por um lado, a majestade de Deus—por diversos motivos; e, ao mesmo tempo, o horror do pecado. Vou explicar isso ao passarmos pelo texto, e creio que os irmãos vão entender por que destaco estas duas coisas.

1. A distância que Deus mantém do pecado

Primeiro, observem a majestade de Deus, da forma que Deus responde ao pecado. Vemos que Deus se recusa a fazer as pazes com o pecado, e se-recusa a chamá-lo nada menos do que é: pecado.

Jeorão é o filho mais velho de Acabe e Jezabel. Ele é o irmão de Acazias, que morreu no capítulo 1. Seu reinado traz uma pergunta difícil para nós: como lidamos com um “menor de dois males”? É uma frase que nós usamos muito no tempo de eleições. Cristãos que quererem apoiar um certo candidato dizem que é o menor de dois males; e outros dizem que não votar nele porque ainda é mal. Ao pensar sobre este filho de Acabe, posso só imaginar como os adoradores de Deus ficaram felizes ao ver Jeorão ascender ao trono. Este homem era, pelo menos no nome, um devoto adorador de Yahweh. Seria um grande alívio ver um rei das Dez Tribos do norte finalmente voltando para Javé, ordenando que os pilares de Baal fossem removidos e restabelecendo a adoração verdadeira e exclusiva de Yahweh. Comparado com seus pais, Acabe e Jezabel, Jeorão era um rei muito melhor.

Ao mesmo tempo, Jeorão manteve os bezerros de ouro que Jeroboão erigiu e, se nos lembrarmos bem, Jeroboão foi claramente condenado por Deus por ter instituído este culto aos bezerros. Era errado naquela época, e vemos que—aos olhos de Deus—continua errado agora, um século depois. A justiça de Deus não muda com o passar do tempo.

Assim, embora Deus reconheça tal coisa como o menor de dois males, veja que Ele ainda a chama pelo nome: mal.

Irmãos e irmãs, nós adoramos um Deus que não muda! O que Ele chama de mal em um século, ele chama de mal em todos os outros séculos. Quando Deus fala, ele fala palavras de verdade eterna. Ele não tem padrões duplos. Ele não se rende ao mal e deixa de condená-lo só porque é o melhor que pode esperar. Sua justiça é imutável.

Então, vemos que Deus se mantém totalmente afastado do mal. Ele não o tolera, ele não o desculpa. 

Podemos ver isso novamente em Seu relacionamento com Jeorão.

Primeiro, o contexto. Moabe se rebelou contra Israel. Eles estiveram em sujeição a Israel sob o rei Onri e durante todo o reinado de Acabe, e o versículo 4 nos diz que eles tinham que pagar um tributo a cada ano de 100.000 cordeiros e a lã de 100.000 carneiros. Agora, o texto não diz se essa subjugação de Moab foi uma coisa boa ou não, e não devemos pressupor que seja. Na verdade, Israel foi especificamente ordenado não fazer isso com Moabe. Somente a terra de Canaã foi dada a Israel. Eles tinham que remover os habitantes da terra de Canaã por causa dos seus pecados. Mas em Dt 2:9, o Senhor disse a Moisés: Deut. 2:9: “Não molestes Moabe e não contendas com eles em peleja, porque te não darei possessão da sua terra; pois dei Ar em possessão aos filhos de Ló.”

Então isso já leva em questão a legitimidade desta guerra.

Surpreendentemente, o rei Josafá de Judá (um Rei justo e piedoso) decidiu se juntar rei Jeorão. É incrível, porque este é exatamente o mesmo erro que Josafá cometeu com o rei Acabe (o pai d Jeorão) em 1 Reis 22. Se você se lembra, foi quando eles consultaram o profeta Micaías, mas depois o colocaram na prisão porque ele não lhes falou o que eles queriam ouvir. Há ecos ao longo deste capítulo daquele evento. Josafá até usa as mesmas palavras que usou com Acabe. Ele diz (versículo 7): “Subirei; serei como tu és, o meu povo, como o teu povo, os meus cavalos, como os teus cavalos.”

Na verdade, desta vez é ainda mais surpreendente porque, pelo menos da última vez, Josafá teve o bom senso de perguntar ao Senhor primeiro se ele deveria ir. Desta vez, ele nem fez isso.

Talvez ele estivesse com medo de consultar a Deus por causa do que aconteceu da última vez com Miquéias. Talvez ele estivesse com medo de causar uma cena. Ou talvez ele já suspeitasse que Deus não apoiaria essa campanha.

Acontece, às vezes, não é, quando estamos lutando com uma certa decisão, que não oramos sobre ela, porque, na verdade, já sabemos o que Deus pensa sobre aquilo. Como uma criança que não quer pedir permissão aos pais, porque sabe que eles vão dizer não, às vezes nos não levamos certas assuntos diante de Deus porque já sabemos o que Ele pensa. Mas esquecemos que mesmo quando Ele nos convence do pecado, é para o nosso bem.

De qualquer forma, Josafá ou esqueceu de Deus neste momento, ou decidir deixar Deus fora deste assunto, e se juntou ao rei Jeorão.

Então, do nosso ponto de vista, a campanha já começou mal.

(Lembre-se que eu quero mostrar a majestade de Deus em se manter longo do pecado. Estou ainda preparando a cena, explicando a história, mas é isso que quero mostrar.)

Os dois reis seguem uma rota pela terra de Edom. Lá, o rei de Edom se juntou a eles, e isso é porque Edom havia sido submetido a Judá, e então era um tipo rei-marionete que serviu a Josafá. Foi também por isso que eles tiveram acesso à terra de Edom, que ficava ao sul de Moabe. 

Mas rapidamente, a campanha se tornou um desastre. Os três exércitos de Israel, Judá, e Edom se encontraram no meio do deserto, sem água. Eles estavam marchando ao longo do leito de um riacho, então talvez eles imaginaram que teria água no riacho, mas aconteceu que não tinha.

Imediatamente, Jeorão, o rei de Israel, se desesperou. Ele exclamou: “Ai, o Senhor chamou esses três reis para entregá-los nas mãos de Moabe”. 

Veja, irmãos, o coração do descrente. Ele nunca consultou a Deus no início da campanha, e provavelmente nem se interessava em saber o que Deus pensa; mas agora, na adversidade, ele ja presume que Deus está contra ele. E de fato, Deus estava. Mas vejam irmãos, como o desconte pensa. Vemos aqui uma consciência pesada. Um desespero da misericórdia de Deus. Mesmo na adversidade, o descrente não se humilha diante de Deus e busca sua misericórdia, mas desespera da sua graça. O pensamento do descrente, na hora da adversidade, é, “já sei que Deus não aprova de mim. Já sei que sou condenado.” Ele não busca seu perdão, ele não implora sua graça. Ele prefere morrer condenado na sua incredulidade de que se humilhar diante de Deus.

Josafá, porém, na hora da adversidade, voltou para Deus – o Deus que ele conhecia – e orou a Ele. Mesmo que Josafá devesse ter feito isso antes, no início da campanha, agora na hora da adversidade ele reconhece seu erro e implora a misericórdia de Deus. Ele se volta para Deus porque conhece a Deus. Então ele faz, ironicamente agora, a mesma pergunta que ele havia feito antes na corte do rei Acabe: “não há um profeta de Javé a quem possamos consultar?”

Os servos do rei de Israel responderam, no versículo 11: “Aqui está Eliseu, filho de Safate, que deitava água sobre as mãos de Elias.” Isso é obviamente algum tipo de gíria referindo-se a um servo próximo ou um melhor amigo (já que eles não tinham torneiras para lavarem as mãos, se você quisesse lavar as mãos, você teria que pedir ao seu amigo pegar uma jarra e derramar a agua sobre suas mãos)… o ponto é, este é o tipo de relacionamento que Eliseu teve com Elias. 

Então o rei de Israel e Josafá e o rei de Edom desceram a Eliseu.

E agora, mais uma vez, somos confrontados com a recusa total de Deus de se associar com o pecado. Ele não apenas chama o mal pelo nome, como nós vimos, mas Ele lembra do mal que foi feito, mesmo que seja muito tempo atrás, e Ele insiste em nada menos do que arrependimento verdadeiro e total. A realidade é que o rei de Israel, Jeorão, somente estava buscando a Deus neste momento porque não tinha outra opção—não porque era um novo homem, arrependido do pecado dele e do pai dele. Ele pode ter removido a coluna de Baal, mas não restaurou a terra de Nabote, não demonstrou publicamente seu arrependimento pelos pecados de seu pai e mãe, e ainda estava adorando os bezerros de ouro de Jeroboão. Ele também ainda manteve aqueles profetas falsas de Javé, que nós vimos em 1 Reis 22, que profetizaram falsamente em nome de Javé aquilo que o Rei desejava ouvir. O fato de que ele era um adorador de Javé era apenas uma decisão política. Ele pode ter sido em alguns aspectos melhor de que seu pai e da sua mãe, mas não houve arrependimento sincero, nenhuma roupa rasgada, nenhum pano de saco e cinzas, e nenhuma restituição de terras roubadas. 

Se nós achamos que Deus deveria estar satisfeito com isso, só porque não se pode esperar mais de um rei de Israel, então não conhecemos nosso Deus. Seu ódio pelo pecado é muito mais profundo do que nós compreendemos. Pra Ele, o pecado cometido muito tempo atrás é como se fosse hoje, porque Ele é eterno e não sujeito ao passar do tempo como nós.

Então, quando Jeorão mandou chamar Eliseu, a palavra de Deus foi: “Que tenho eu contigo? Vai aos profetas de teu pai e aos profetas de tua mãe.”

Mas Jeorão insiste: “Não, porque o SENHOR é quem chamou estes três reis para os entregar nas mãos de Moabe.”. Agora não temos como saber quão sincero Jeorão foi. Ele realmente acreditava nisso, ou estava apenas dizendo isso para obter uma palavra favorável de Eliseu?

Mas em qualquer caso, arrependimento que vem sem confissão; arrependimento que vem sem reconhecer o quão longe a pessoa caiu da graça de Deus – não é arrependimento de forma alguma. 

Jeorão aparentemente acreditava que se ele apenas começasse a falar e fazer as coisas certas agora, Deus poderia deixar o passado pra lá. Mas não é assim que funciona. Arrependimento envolve o reconhecimento do nosso pecado e quão desesperada é nossa condição. Quão indignos nós somos de receber a graça de Deus. Quanto merecemos ser condenados.

Nada disso é evidente na confissão de Jeorão. 

E vemos que nosso Deus rejeita esse arrependimento superficial, porque de fato não é arrependimento nenhuma. Este filho de Acabe não tinha a mínima ideia de quão longe ele e toda a sua nação haviam caído da graça.

Então Eliseu diz no versículo 14: “Tão certo como vive o Senhor dos Exércitos, em cuja presença estou, se eu não respeitasse a presença de Josafá, rei de Judá, não te daria atenção, nem te contemplaria.”

É uma palavra pesada. Mas é um lembrete de quem nosso Deus realmente é. Ele detesta o pecado a um grau que nós não podemos compreender, e ele se recusa a aceitar qualquer coisa que não seja arrependimento verdadeiro, que é marcado, antes de tudo, por humildade e confissão, sem ressalvas.

2. A graça que Deus mostra para com os pecadores (e a única razão para isso)

Agora nesta palavra, por quão duro que seja, vemos uma nota da graça de Deus. E nisso também observamos a majestade de Deus—agora não em relação a sua distância do pecado, mas em sua fidelidade às suas promessas. 

Nós vemos nesta palavra de Eliseu, “se eu não respeitasse a presença de Josafá, rei de Judá, não te daria atenção” que em fim Jeorão vai ser ouvido—mas não por causa de nada que vem dele mesmo.

Existe uma razão pela qual pecadores indignos podem encontrar a graça de Deus. E isso é por causa das promessas de Deus no Filho de Davi. 

Jeorão e toda a nação de Israel mereciam ser expulsos da graça de Deus e deixados para morrer no deserto de Edom. Pelo monte de pecados e ofensas cometidas diante de Deus, eles não mereciam nada melhor do que isso, e mesmo seu “arrependimento” não era digno da atenção de Deus. No entanto, vemos que eles encontraram graça por causa da fidelidade de Deus a Josafá – e não por causa da dignidade de Josafá também, mas por causa das promessas de Deus a Davi.

Entendam isso, irmãos e irmãs. Todos nós somos dignos, como Jeorão, de condenação. O único lugar seguro, o lugar onde há esperança de receber a graça de Deus, é na presença do Filho de Davi, porque Deus guarda suas promessas e vai realizar o seu plano de salvação.

Deus o Pai é leal a um nome, que é nome de Cristo, o prometido Filho de Davi. Nós que conhecemos sua graça, a conhecemos por um motivo só: porque Deus pretende magnificar sua glória e majestade ao cumprir suas promessas em Cristo. À parte de Cristo, não somos ninguém; estaríamos em baixa da sua ira.

3. A astúcia com que Deus confunde os pecadores

E é exatamente isso que vemos em nosso terceiro ponto, com respeito a Moabe. Moabe sofre a justa, santa, punição de Deus por causa dos seus pecados. Se Israel deveria estar em guerra com Moabe em primeiro lugar não é relevante aqui: Deus usou Israel como uma ferramenta em suas mãos para punir o povo de Moabe por seus pecados.

E vemos nesse julgamento um fenômeno interessante, um padrão até comum na história da redenção, que Deus usa a mesma água que salva seu povo para condenar seus inimigos. Assim como a água do dilúvio levou Noé e sua família em segurança acima das montanhas, enquanto afogou o resto do mundo; assim como a agua do Mar Vermelho separou Israel dos Egípcios e também afogou Faraó e seu exército; assim como a água do batismo marca o povo de Deus em Cristo e ao mesmo tempo condena o mundo não-batizado; da mesma forma, aqui, a água que desceu do monte de Edom trouxe vida para o povo de Israel no leito seco do riacho, e morte para o povo de Moabe.

Primeiramente, Eliseu chamou um músico. Não está claro qual foi o papel da música na profecia de Eliseu, mas evidentemente a música foi usada como um instrumento para levar o coração e mente do profeta para meditar nas coisas de Deus. De fato, não é tão diferente de como nós usamos a música para levantar nossas mentes e corações para louvar a Deus. Poderíamos apenas recitar as palavras dos Salmos e Hinos, mas não é a mesma coisa. A música tem um poder para provocar o coração e chamar atenção às palavras que cantamos.

Então o músico tocou, e a mão de Deus veio sobre Eliseu, e ele falou: “Fazei, neste vale, covas e covas. Porque assim diz o SENHOR: Não sentireis vento, nem vereis chuva; todavia, este vale se encherá de tanta água, que bebereis vós, e o vosso gado, e os vossos animais.”

As covas serviriam a um duplo propósito. O propósito mais óbvio, até onde os israelitas sabiam, era capturar a água que Deus enviaria pelo leito seco do rio, para que eles tivessem algo para beber. Senão, a torrente de água iriar só passar e logo desaparecer no solo. Se cavern buraquinhos no chão, eles poderiam capturar a água para eles e seus cavalos.

Mas o que os israelitas não sabiam, e o que só Deus poderia ter planejado, é que aquelas mesmas covas, que se tornaram poças de água, também serviriam para destruir os moabitas. Ao nascer do sol, os moabitas teriam olhado para o sul, em direção a Edom, onde os israelitas estavam acampados, e o sol, nascendo no leste, teria refletido um brilho vermelho nas poças de água. Não pensem num tipo de mar enchendo a terra – se fosse o caso, todos os israelitas iriam ficar afogados – mas a ideai é centenas de milhares de pequenas poças de água por toda a terra onde os israelitas estavam acampados. Do ponto de vista dos moabitas, apenas uma coisa poderia explicar esses milhares de pequenas poças de água no acampamento israelita: os exércitos de Israel, Judá e Edom – uma aliança frágil já – se voltaram uns contra os outros e mataram uns aos outros.

E assim, os moabitas ímpios, adoradores de ídolos e sacrificadores de crianças foram levados à destruição pelos mesmos meios que Deus usou para salvar o povo de Israel. E vemos nisto também a majestade de Deus: não apenas em sua justiça para executar justiça sobre uma nação ímpia, mas também em sua sabedoria e astúcia que, como o Apóstolo Paulo diz (citando Jó 5:13), “Ele apanha os sábios na sua própria astúcia.” Ou como diz o Salmo 18, “com o puro te mostras puro; e com o perverso te mostras torto.”

Assim Deus pega esta nação idólatra, cujo pecado havia chegado ao limite, e os confunde em sua sabedoria, os engana, e os destrói.

Ainda falando sob a mão de Deus, Eliseu continua: “Isto é ainda pouco aos olhos do SENHOR; de maneira que também entregará Moabe nas vossas mãos. Ferireis todas as cidades fortificadas e todas as cidades principais, e todas as boas árvores cortareis, e tapareis todas as fontes de água, e danificareis com pedras todos os bons campos.” Foi uma destruição absoluta e total de uma terra que estava sob a maldição de Deus.

Então os israelitas fizeram exatamente isso. Percorreram a terra e a destruíram, cortando toda árvore boa, tapando todas as fontes de água e arruinando com pedras todo bom pedaço de terra. Todo agricultor aqui sabe que tipo de devastação isso traria à terra, para semear os campos com pedras – especialmente quando eles tinham que arar suas terras com cavalos ou bois em vez de tratores. A seriedade deste julgamento deve nos dizer algo sobre a seriedade da impiedade, imoralidade e maldade que viviam na terra de Moabe. Os moabitas eram famosos por sua impiedade, e o auge de sua impiedade estava em sua prática de oferecer os seus próprios filhos para serem queimados vivos como sacrifício a seus deuses. 

Então Deus amaldiçoou a terra de Moabe e todos seus habitantes pelo pecado que foi cometido nela. Os Israelitas destruíram a terra e mataram todos os moabitas que encontraram pelo caminho. Podemos apenas começar a imaginar o horror e tristeza deste dia de julgamento para os moabitas.

Irmãos e irmãs, precisamos ver a perfeita justiça e majestade de Deus para trazer julgamento horrível sobre uma nação cujo pecado chegou a sua plenitude. Se queremos conhecer verdadeiramente o nosso Deus—o Deus que mandou Jesus Cristo—precisamos ver sua justa ira contra o pecado, e quão ofensivo este pecado realmente é diante de seus olhos, para merecer uma punição desta.

Quando os Israelitas finalmente chegaram à cidade de Quir-Haresete, ficou muito evidente para os moabitas que eles estavam prestes a ser destruídos totalmente. Então, neste momento de desespero, o rei de Moabe cometeu um ato de impensável: como um apelo desesperado ao seu deus Quemos, ele tomou seu filho primogênito, o pendurou no muro, e o incendiou. 

A próxima linha neste versículo é difícil de interpretar. A ARA diz: “pelo que houve grande ira contra Israel; por isso, se retiraram dali e voltaram para a sua própria terra.” 

A questão é o que se refere com esta “ira”? É a ira de Deus? Não faria sentido, porque foi o rei de Moabe que cometeu este pecado, não os soldados de Israel. Poderia ser talvez a ira do próprio deus Quemós: afinal, sabemos que por trás de todo falso deus existe um demônio real com poder real. Poderia ser talvez a ira dos soldados Moabitas: que vendo o rei sacrificando seu amado filho, se voltaram contra Israel com ainda mais furor. 

Mas a própria tradução dos judeus nos primeiros séculos—a tradução em grega chamada a septuaginta, que foi usado pelos primeiros cristãos também—não traduz a palavra como “ira,” mas como tipo repugnância ou horror. De fato, às vezes esta palavra hebraico significa isso.  Josefo, um historiador judeu do primeiro século, também entende o versículo assim, dizendo que os Iraelitas “se arrependeram” de ter vindo quando viram este ato do rei. 

Acho que esta é a interpretação correta. Os Israelitas, quando viram este ato horrível que o rei de Moabe fez a seu filho, ficaram tão horrorizados que se arrependeram de toda esta guerra e se retiraram da terra. Lembrem-se de que o motivo por toda esta guerra era porque Moabe parou de pagar tributo a Israel (100.000 cordeiros e a lã de 100.000 carneiros). Só isso. Embora Deus estava usando o exército Israelita para punir a nação de Moabe por seus pecados, os próprios Israelitas não estavam nem pensando nisso. Estavam só atrás do tributo. Mas quando eles viram o pecado tão grave do rei de Moabe, eles se arrependeram da guerra inteira e resolveram sair logo daquela terra maldita. Eles não queriam mais nada com Moabe. O tributo não valia a pena por se meter numa nação maldita como essa.

Em outras palavras, Deus permitiu que eles vissem a depravação do pecado – a profundidade do mal que o pecados é capaz de fazer – e isso os despertou ao ponto que eles se arrependeram da batalha inteira.

Às vezes nós precisamos ver o pecado em todo seu horror para nos dar um senso apropriado de repulsa e até náusea, para nos lembrar como o pecado é detestável e abominável diante de Deus. Deus usa estes momentos em que testemunhamos a depravação do mal para despertar a nossa consciência e nos fazer fugir de volta a Ele e implorar sua misericórdia. 

Quando os soldados aliados derrotaram a Alemanha e descobriram os campos de concentração pela primeira vez: eles tiveram esta mesma sensação de horror; todos diversos países entraram na guerra por suas próprias razões: seja autopreservação ou a preservação de outras nações aliadas; mas quando eles viram os campos de extermínio, tal sentimento de choque e horror veio sobre eles que eles tiveram que repensar todas as suas razões por ter entrado na guerra, e refletir na extremidade do mal que o ser humano é capaz de realizar.

E de fato, o pecado que testemunhamos aqui em nosso texto—o sacrifício dos seus próprios filhos—é reconhecido nas Escrituras como a manifestação mais extrema de impiedade e idolatria. Nenhum pecado foi mais detestável ou despertou mais a ira de Deus do que a prática do sacrifício de crianças. Em Deuteronômio 12, os israelitas foram avisados:

“Não farás assim ao Senhor, teu Deus, porque tudo o que é abominável ao Senhor e que ele odeia fizeram eles a seus deuses, pois até seus filhos e suas filhas queimaram aos seus deuses.”

Foi por causa desse tipo de impiedade que os cananeus foram expulsos de sua terra e massacrados. 

E isso deve nos levar a pensar seriamente sobre nosso país também. Se o sacrifício de crianças é o ápice da impiedade e o ponto em que o pecado de uma nação está cheio até a borda, e então Deus age para exterminar tal nação; então nós devemos temer por nossa nação também. Graças a Deus, o aborto—que tem se tornado uma prática comum entre os países ocidentais da europa e da america do norte (e cada vez mais na america do sul)—graças a Deus que ainda é crime aqui no Brasil. Mas sabemos que existe um movimento muito forte para legalizar o aborto. E então nosso país estaria debaixo desta mesma contenção. Se o Moab está sob julgamento, quanto aos países do mundo moderno? Eles antigamente sacrificaram seus filhos a Moloque e Quemós. Hoje estes países os queimam em banhos salinos nas hospitais e clínicas de aborto, como sacrifícios aos deuses do dinheiro, das carreiras, da liberdade de responsabilidade. Nós, como, parte deste mundo moderno, devemos termer do julgamento de Deus; e devemos lutar para que nosso país, por todos seus outros pecados, não seja culpado por Deus por mais este.

Devemos orar – todos nós – pela misericórdia de Deus para este país e para os países onde nossos irmãos residem que permitem estas coisas.

——

Quando Israel testemunhou o pecado de Moabe, isso os encheu de tanto horror e repugnância que eles não queriam mais nada com aquele povo amaldiçoado. Eles reconheceram neste momento que existem coisas muito mais sérias de que cordeiros e lã—questões económicas. E em nossa política, devemos sempre ter isso em mente também.

De certa forma, o versículo 27 é uma advertência e prenúncio para Israel. A realidade é que o horror de Israel serviria de testemunha contra eles nas gerações posteriores, porque eles mesmos eventualmente iriam cair nesta mesma depravação.

Irmãos, Cristo é a única resposta para tal mal. Ele é a única esperança para a humanidade. Cristo veio voluntariamente para levar a culpa da nação e de toda a raça humana. Foi Seu sacrifício que abriu um caminho para pecadores culpados, condenados e maus a retornarem a Deus. 

A história humana só pode seguir em duas direções. Ou somos renovados e santificados por meio de Cristo, ou descemos a esse tipo de depravação. Foi isso que nossos países observaram no holocausto. E podemos ver isso hoje também em países próximos a nós. 

Irmãos, reconheçam neste capítulo a grande majestade de Deus; o Deus que nunca faz as pazes com o mal, nem o chama da nada menos do que é; o Deus que se afasta do mal, que não se associa com ele, e que no final o lançará no inferno para sempre. E reconheçam neste capítulo, irmãos, o horror do pecado: o seu pecado e o meu pecado; o pecado que habita dentro de nós, o que nós somos capazes de fazer a parte da graça de Deus. Deixem esta visão o incentivar com cada vez mais urgência a voltar para o nosso Deus, a implorar a sua misericórdia, e a encontrar em Cristo o nosso perdão, a nossa nova vida, e a esperança para nossa raça humana.

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Jonathan Chase

Jonathan Chase

O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020. 

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.