1 Reis 3.1-15

Leitura: 1 Reis 3.1-5, Provérbios 2
Texto: 1 Reis 3.1-15

Irmãos em nosso Senhor Jesus Cristo,

O capítulo que lemos é uma história bem conhecida do Antigo Testamento. E uma das razões pelas quais é tão memorável para muitos de nós é que nos desafia. Tem um desafio implícito nesta história, que é: Será que nós teríamos escolhido como Salomão escolheu? Se Deus tivesse oferecido qualquer coisa que você quiser, será que você teria escolhido a sabedoria, como Salomão escolheu?

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Bom, já em capítulo dois, temos nossa primeira visão do novo Rei Salomão. É um capítulo difícil, porque Salomão faz algumas coisas que são difíceis de julgar se Salomão estava agindo justamente ou não. Por um lado, sabemos que Davi o amava e confiava nele – no capítulo dois, ele exorta Salomão a agir “de acordo com sua sabedoria” – e aqui no capítulo três, diz que Salomão “amava o Senhor.” Isso parece indicar que Salomão era um homem sábio e piedoso.

Mas no capítulo dois, não podemos deixar de notar a severidade de Salomão para com seus oponentes políticos. Primeiro, seu irmão Adonias pediu a ele aquela garota, Abisague, o shunamita, que havia sido serva de Davi durante seus últimos anos, se ela poderia ser dada a ele como esposa. O que você acha desse pedido? Como você interpreta isso? Salomão interpreta isso como uma segunda tentativa de retomar o Reino e logo manda executar seu irmão Adonias por ter pedido isso. Parece duro, né? Será que Salomão estava agindo com sabedoria? Ou será que ele estava procurando uma desculpa para matar seu irmão? É difícil dizer. Se Salomão estava certo ao interpretar da maneira que interpretou, então o que ele fez foi certo. Adonias havia sido avisado para não fazer mais nenhuma tentativa de subir ao trono. Mas nós não sabemos. O texto não nos diz se Salomão estava certo ou errado.

Podemos dizer a mesma coisa também sobre a forma que Salomão lida com seus outros inimigos políticos no capítulo dois. Será que ele está agindo com sabedoria e piedade? É muito difícil dizer. Alguns comentários dizem que Salomão está sendo um político de sangue frio e apenas procurando uma desculpa para executar seus inimigos políticos. E isso é possível. E então outros comentários dizem: “Não, se a interpretação de Salomão estava correta, então ele fez a coisa certa ao mandar executar ou banir essas pessoas.”

Esse mesmo problema de interpretação continua neste capítulo. O que achamos das ações de Salomão nos versículos 1-3? Agora que seus inimigos políticos estão mortos, a primeira coisa que ele fez foi casar com a filha de Faraó para fazer uma aliança com Egito. O que devemos pensar sobre isso? Deus advertiu estritamente os israelitas a não se casarem com os cananeus, porque eles desencaminhariam seus corações. Tecnicamente, a filha do Faraó não era cananéia, então Salomão não está infringindo a letra da lei, mas é claro que o mesmo risco existe com a filha de Faraó, a menos que ela seja crente, que não é provável.

E pior ainda, nós sabemos que esta não era a primeira esposa de Salomão. Ele já tinha casado com uma mulher amonita. Então podemos já notar um padrão aqui de Salomão se casar com mulheres estrangeiras.

Mas o que complica toda a questão é o que o versículo 3 nos diz: “Salomão amava ao Senhor”. Essa é a declaração mais clara que temos sobre o caráter de Salomão. Ele amava o Senhor. Agora ele não amava o Senhor perfeitamente … ele ainda sacrificava nos lugares altos, o que ele não deveria ter feito. Mas o texto diz claramente que ele amava ao Senhor, e Salomão é o único rei fora de Davi sobre o qual a Bíblia diz isso.

Então, o que podemos aprender com isso? Bem, por um lado, podemos aprender que a vida é complexa. É possível que alguém ame genuinamente o Senhor e ainda tome decisões seriamente erradas – pecaminosamente erradas.

E isso também significa que é possível para qualquer um de nós cometer erros semelhantes se nossas vidas não estiverem totalmente comprometidas com o Senhor.

Isso nos leva diretamente ao tema principal deste texto que quero apresentar a vocês, que é que a vida requer sabedoria. A vida requer sabedoria, e você e eu – tanto quanto Salomão – precisamos dela. Precisamos de sabedoria para navegar nas complexidades da vida. E precisamos de sabedoria ainda mais para reconhecer onde nossos próprios corações e desejos – como os de Salomão, neste caso – podem nos levar ao erro.

A vida requer sabedoria. Mas aqui está o problema: a sabedoria não é facilmente obtida. Você não pode simplesmente ir para a escola ou faculdade e fazer um curso sobre sabedoria, e depois de seis meses, se formar, e agora você é sábio. Não funciona assim. Não existe um manual para iniciantes para a sabedoria. Mas: a sabedoria vai fazer a diferença entre uma vida bem vivida e uma vida cheia de contradições e que termina em desastre.

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Versículo 4: 

1 Kings 3:4–5: “Foi o rei a Gibeão para lá sacrificar, porque era o alto maior; ofereceu mil holocaustos Salomão naquele altar. Em Gibeão, apareceu o Senhor a Salomão, de noite, em sonhos. Disse-lhe Deus: Pede-me o que queres que eu te dê.”

Esta é uma oferta incrível de Deus. Sem dúvida, havia muitas coisas que Salomão poderia pedir. Por exemplo, segurança. Havia muitas ameaças para o trono dele até dentro do Reino, e além disso, havia muitos inimigos ao redor. O Antigo Oriente não era um lugar seguro para se viver. Os impérios ao redor eram cruéis e aterrorizantes. Se eu estivesse no lugar de Salomão, talvez eu teria escolhido segurança.

Ou talvez riqueza. Ou longa vida.

Então, como já falei, este texto oferece um desafio implícito para nós, leitores. O que você teria escolhido?

Agora vamos considerar a resposta de Salomão.

Observe que Salomão começa sua resposta descrevendo a fidelidade de Deus a Seu pai Davi. Versículo 6:

“Respondeu Salomão: De grande benevolência usaste para com teu servo Davi, meu pai, porque ele andou contigo em fidelidade, e em justiça, e em retidão de coração, perante a tua face; mantiveste-lhe esta grande benevolência e lhe deste um filho que se assentasse no seu trono, como hoje se vê.”

Observe como Salomão começa reconhecendo a fidelidade de Deus, antes de seu pedido. Ele reconheceu que o que estava por trás do sucesso do seu pai Davi não era a sabedoria dele, a habilidade dele, ou a força militar dele, mas, em última análise, a fidelidade de Deus a ele.

Em segundo lugar, Salomão reconhece que a bênção e o favor de Deus estavam inextricavelmente ligados à fidelidade de Davi e à retidão de coração diante de Deus. Agora, isso não quer dizer que Davi ganhou o favor de Deus – de forma alguma! Salomão conhecia muito bem os pecados e falhas de seu pai. Mas ele reconhece aqui aquele princípio bíblico, tanto no Antigo Testamento quanto no Novo, que “os justo viverão pela fé.” Davi era um pecador, sim – até mesmo um adúltero e assassino! Então, como Salomão pode dizer que Davi andou diante de Deus em “fidelidade” e “retidão de coração?” Porque a justiça que Davi tinha, ele a tinha pela fé. Ele foi perdoado, ele foi limpo e foi restaurado para andar novamente em uma vida de fé e obediência a Deus.

Em última análise, é claro, a fidelidade de Deus a Davi não estava enraizada na obediência ou fidelidade de Davi. Estava enraizado na promessa de Deus, que ele havia feito a Davi. Mas o que Salomão reconhece aqui nesta oração é que a única resposta adequada à graça de Deus é uma resposta de fé, e essa é a única maneira de receber e participar das promessas de Deus. Lembre-se que três filhos de Davi já caíram fora da promessa de Deus: Amnom, Absalão e Adonias. Embora que foram herdeiros da promessa, eles não participaram dela, e em fim a perderam. Se Salomão iria ser diferente deles, ele também precisava aprender a viver pela fé, como Davi seu pai viveu.

E é isso que está por trás da oração de Salomão por sabedoria. Ele reconheceu que ele também seria testado, assim como seu pai David foi. Grandes responsabilidades como a realeza trazem muitas oportunidades de se arruinar e causar grandes danos ao povo de Deus.

E então Salomão continuou,

1 Kings 3:7–9: “Agora, pois, ó Senhor, meu Deus, tu fizeste reinar teu servo em lugar de Davi, meu pai; não passo de uma criança, não sei como conduzir-me. Teu servo está no meio do teu povo que elegeste, povo grande, tão numeroso, que se não pode contar. Dá, pois, ao teu servo coração compreensivo para julgar a teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal; pois quem poderia julgar a este grande povo?”

Tem várias coisas que precisamos observar no pedido de Salomão:

1. Primeiro, observe que ele está orando não apenas em seu próprio interesse, mas também no interesse do povo de Deus. Isso é importante. Ele queria fazer a coisa certa para o povo de Deus. Ele estava preocupado por eles. Como vimos antes, o versículo 3 diz que Salomão amava ao Senhor, e não é possível alguém amar ao Senhor sem também amar o Seu povo.

2. Em segundo lugar, observe que Solomon está profundamente ciente de sua própria insuficiência. Ele ora por sabedoria porque sabe que não a tem em si mesmo, e ele confessa isso diante de Deus. Este é o homem que escreveu aquelas famosas palavras de Provérbios 3:5,“Confia no Senhor de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento.” É exatamente isso que nós vemos ele fazendo aqui. Ele ficou profundamente impressionado com a grandeza e seriedade de sua responsabilidade perante Deus, e por isso roga a Deus por sabedoria.

Existem aqueles momentos em que nós entramos em alguma grande responsabilidade – seja a ordenação ao ofício, ou quando nos tornamos pais, ou sempre que qualquer grande responsabilidade é confiada a nós – esses momentos muitas vezes trazem consigo um profundo sentimento de inadequação. E é bom que sentimos isso. Essa é uma emoção saudável, e faríamos bem em cultivar essa emoção e mantê-la, lembrando a grandeza dos chamados que recebemos de Deus. Isso nos humilha e nos faz buscar a Deus com zelo, que é exatamente o que precisamos.

Jamais buscaremos sabedoria e orientação de Deus até que estejamos cientes do fato de que precisamos e não temos o suficiente. As pessoas não nascem sábias. Uma boa parte do livro de Provérbios é uma polêmica contra o tolo que confia em seu próprio entendimento; ou, em outras palavras, está contente com o que já sabe. Prov. 26:12: “Tens visto a um homem que é sábio a seus próprios olhos? Maior esperança há no insensato do que nele.”

Assim, vemos que (1) Salomão orou no interesse do povo de Deus, e (2) ele orou porque estava ciente de sua própria inadequação, e:

3. Em terceiro lugar, observe exatamente o que Salomão estava pedindo. Ele fala: “Dá, pois, ao teu servo coração compreensivo para julgar a teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal”. Literalmente, o texto hebraico diz: “Dê ao seu servo um coração que escuta”.

Às vezes nós pensamos em “sabedoria” como sinônimo de conhecimento. Igualamos as duas coisas. E sim, as duas coisas são interligadas. Mas a sabedoria é mais do que apenas conhecimento. Uma parte essencial da sabedoria é uma disposição de coração que deseja ouvir, aprender mais e compreender melhor. O apóstolo Tiago nos ensina, em James 1:19: “Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar.” Os tolos presumem que sabem tudo o que precisam saber e, portanto, são rápidos em tirar conclusões precipitadas e expressar suas emoções (especialmente sua ira). A sabedoria sabe que existem muitas coisas que ele ainda não sabe e está ansiosa para aprender.

Agora, a expressão “um coração que escuta” levanta a questão: “…escuta a quem?”

Por um lado, Salomão está falando de uma forma geral—ele está pedindo um coração que está disposta a escutar em geral. Como governante e juiz supremo sobre Israel, ele enfrentará muitos casos desafiadores e precisará ser muito bom em ouvir, com atenção, se quiser tomar as decisões certas. Prov. 15:22: “Onde não há conselho fracassam os projetos, mas com os muitos conselheiros há bom êxito.” A falta de escutar, em geral, pode arruinar seu legado e até levar à sua queda. Você pode pensar em Saul, que falhou em ouvir o conselho de seu filho Jônatas de aceitar a vontade do Senhor com respeito a Davi. Ele não escuta, e por isso insistiu em perseguir Davi, que em fim, o levou para sua ruína e desgraça. Ou você pode pensar no próprio filho de Salomão, Roboão, que falhou em ouvir as sérias queixas do povo com relação à carga de trabalho que foi colocada sobre eles e, finalmente, perdeu a maior parte do Reino por causa disso.

Mas há uma segunda resposta para a pergunta: “… escuta a quem?” Porque nem todo o escutar leva à sabedoria. Prov. 14:7 diz: Prov. 14:7: “Foge da presença do homem insensato, porque nele não divisarás lábios de conhecimento.” É necessário ter um coração disposto a ouvir, mas um coração sábio também discerne onde o conhecimento pode ser encontrado e onde não pode. E para fazer isso, a sabedoria precisa de um princípio superior, ao qual escute acima de tudo. Se ele apenas tivesse um coração disposto a escutar, não tem garantia de que se tornaria sábio, porque tem muito mais vozes proclamando loucura do que sabedoria. A verdadeira sabedoria precisa ser capaz de distinguir entre aquelas vozes que gritam tolices ou mentiras – as quais são muitas – e aquelas que contêm sabedoria e verdade. E para fazer isso, a sabedoria precisa de um princípio superior que julgue entre essas diferentes vozes. E qual é este princípio? O livro de Provérbios repete muitas vezes: É o temor de Deus. Prov. 1:7: “O temor do Senhor é o princípio do saber.”

“O temor do Senhor” – a palavra “temor” também pode ser traduzida como “reverência”. Não significa medo no sentido de que alguém está simplesmente “com medo” de Deus. Existe uma espécie de medo servil que surge de uma consciência culpada, mas esse não é o “temor do Senhor” de que falam as Escrituras. Não, é o temor, a reverência e o respeito cuidadoso que os pecadores devem ter diante de um Deus santo, poderoso, justo e perfeito, cujos caminhos são mais elevados do que os nossos e que se deleita na justiça, e sim também pune os malfeitores. O temor do SENHOR é o reconhecimento humilhante de que tudo o que fazemos, dizemos e até pensamos é feito diante de Deus. Como os pais latins antigamente falaram, nós vivemos “coram Deo”: diante do rosto de Deus. E o temor de Deus reconhece que Ele é quem nos criou e, no final das contas, nos julgará.

Isso, diz Provérbios, é o princípio da sabedoria. Portanto, quando Salomão ora aqui por “um coração que escuta”, é um coração que escuta, em primeiro lugar, o próprio Deus. Salomão reconhece que, para que seu reinado seja bem-sucedido, ele precisará de um coração que confie em Deus em todos os momentos; um coração cujo ouvido, por assim dizer, está sempre aberto à voz de Deus; sempre pronto para ouvir o que Deus vai falar. Isso é essencial para a verdadeira sabedoria.

O objetivo desta sabedoria, segundo o pedido de Salomão, é a capacidade de discernir entre o bem e o mal. Ou, mais literalmente, como diz o hebraico, “distinguir o bem do mal.” Não é apenas um conhecimento factual da diferença entre o bem e o mal, mas um abraço do bom e uma rejeição do que é mau.

Então essa é a oração de Salomão. E, como mencionei, o desafio implícito nesta história é: o que que você teria escolhido?

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O texto diz que estas palavras “agradaram ao Senhor.” Deus se agradou com a resposta de Salomão. E isso porque Deus se agrada da sabedoria. Ele ama a sabedoria. Ele ama a sabedoria porque a sabedoria é essencial para seu próprio caráter. Ele é a fonte de toda sabedoria. A sabedoria tem seu fundamento Nele. A sabedoria se alegra com a verdade, e Deus é a verdade.

Então sabedoria era a coisa certa para Salomão pedir. Foi o pedido correto. Salomão desejava a melhor coisa. E então Deus disse a Ele, versículo 11,

1 Kings 3:11–12: “Disse-lhe Deus: Já que pediste esta coisa e não pediste longevidade, nem riquezas, nem a morte de teus inimigos; mas pediste entendimento, para discernires o que é justo; eis que faço segundo as tuas palavras: dou-te coração sábio e inteligente, de maneira que antes de ti não houve teu igual, nem depois de ti o haverá.”

Irmãos e irmãs: Quando oramos por Sabedoria, Deus se agrada em dá-la a nós. A carta de Tiago nos ensina a mesma coisa. Tiago 1: 5: “Se, porém, algum de você necessita de sabedoria, peça-a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedido. ” Deus se agrada em dar sabedoria àqueles que dele buscam. Ele não é mesquinho [pirangeiro] com esse dom, mas generoso, se a gente levar a sério ir atrás e pedir a Ele.

Salomão desejou o melhor, e Deus se deleitou com isso, e foi honrado por isso, porque ao pedir sabedoria, Salomão estava alinhando seu coração com a vontade de Deus, desejando o que Deus deseja.

Quantas seitas existem hoje que têm como premissa a ideia de que nós, seres humanos, podemos fazer com que Deus alinhe seus desejos com os nossos? Precisamos orar com fé para que Deus queira nos dar um novo carro, um novo emprego, uma nova esposa ou qualquer outra coisa que nosso coração cobiçoso deseje. Quantas igrejas existem que estão ensinando, em vez disso, que somos nós que precisamos nos humilhar e trazer nossos corações rebeldes em linha com a santidade de Deus e os propósitos de Deus – conforme definido nas Escrituras?

Como resultado do pedido de Salomão, observe que Deus também prometeu dar a Salomão o que ele não pediu: riquezas e honra e vida longa, se Salomão andasse nos caminhos de Deus. Somos lembrados das palavras do Senhor Jesus: “Buscai primeiro o Reino de Deus e Sua justiça, e todas essas coisas – comida, bebida, roupas – serão acrescentadas a você.”

O resultado da sabedoria de Salomão foi que ele foi abençoado de milhares de outras maneiras. Uma vida vivida no temor do Senhor é uma vida bem vivida. A sabedoria, como mencionei, começa com o temor do Senhor, mas se estende a todas as áreas da vida. E é isso que vemos na vida de Salomão. Esse é o foco dos próximos capítulos – eles estão lá para destacar a sabedoria de Salomão e como essa sabedoria se estendeu a todas as áreas de sua vida.

Uma vida que começa com temor a Deus se manifestará então no amor por tudo que é verdadeiro e no deleite pelo que é correto, e a aplicação contínua de tal sabedoria leva a uma vida que é gratificante e que honra a Deus. O mundo define uma vida realizada como uma vida que experimenta a maioria dos prazeres ou adquire o máximo de posses, mas uma vida verdadeiramente realizada é aquela que encontra seu significado e propósito em Deus e então aprende a entender o mundo que Deus criou e com o qual trabalha para a Sua glória.

E uma vida assim, como regra geral, leva ao florescimento da pessoa. Ele funciona, porque ele abraça a verdade. A tolice não funciona porque não abraça a verdade e, portanto, não funciona dentro do mundo que Deus criou. A tolice usa uma chave inglesa para martelar um prego e um martelo para girar um parafuso, e não entende por que as coisas continuam quebrando. Isso é o que a loucura mundana faz. Tentando transformar homens em mulheres e mulheres em homens; rejeitando o desígnio de Deus para o casamento, o desígnio de Deus para os pais, o desígnio de Deus para a educação, o padrão de Deus para o trabalho e descanso – e então não entende por que as coisas continuam quebrando; por que as pessoas são tão miseráveis ​​e deprimidas.

A sabedoria abraça a Deus e, como resultado, também abraça o mundo que Deus fez e o estuda e, como resultado, vive bem no mundo que Deus criou, e floresce. Salomão tinha conhecimento de plantas, de animais, da natureza, de matemática, de leitura. E tudo isso começou no princípio do temor do Senhor.

Os próximos capítulos do livro dos Reis descrevem a sabedoria de Salomão como ela se manifestou de centenas de maneiras diferentes. A primeira parte do capítulo quatro descreve a sabedoria de Salomão nos assuntos econômicos, nos programas sociais, na organização militar; em seu aprendizado e em seu conhecimento da cultura. Sua sabedoria foi reconhecida por países estrangeiros; sua sabedoria ficou evidente nas centenas de detalhes da construção de seu palácio e do templo; sua sabedoria era evidente no esplendor e glória de seu reino; e até mesmo a Rainha de Sabá veio ouvir sua sabedoria, e quando ela o fez, ela exclama:

1 Kings 10:8–9: “Felizes os teus homens, felizes estes teus servos, que estão sempre diante de ti e que ouvem a tua sabedoria! Bendito seja o Senhor, teu Deus, que se agradou de ti para te colocar no trono de Israel; é porque o Senhor ama a Israel para sempre, que te constituiu rei, para executares juízo e justiça.”

Percebam como a sabedoria de Salomão se levou para a glória de Deus.

Então a sabedoria começa com o temor de Deus, se estende a todas as áreas da vida, e se leva a glória de Deus. Por causa da sabedoria de Salomão, Deus foi glorificado. Como a Rainha de Sabá disse: “Bendito seja o seu Deus!” Ou pense no caso das duas prostitutas neste capítulo. Nós não lemos esta parte do capítulo, mas acredito que os irmãos conhecem a história. É uma história que mostra a grande sabedoria de Deus. Recentemente, eu li esta história pra meu filho, mas eu não li a conclusão. Só apresentei os argumentos das duas mulheres, e aí eu perguntei meu filho: “E agora, hein? Como é que pode decidir qual está falando a verdade?” E ele ficou realmente perplexo. “É mesmo, Pai, não tem como saber.” Aí depois eu contei o final da história, como Salomão decidiu o caso, e ele ficou maravilhado, e disse, “Uau. Deus fez Salomão muito inteligente.” Até uma criança, ouvindo esta história, dá gloria pra Deus. E isso foi exatamente a resposta do povo também. Versículo 28:

1 Kings 3:28: “Todo o Israel ouviu a sentença que o rei havia proferido; e todos tiveram profundo respeito ao rei, porque viram que havia nele a sabedoria de Deus, para fazer justiça.”

Desde que a sabedoria vem de Deus e começa com o temor de Deus, então, sempre que ela é manifestada, ela tem o efeito de glorificar a Deus. Quando o povo de Deus é sábio, o próprio Deus é honrado.

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Agora eu quero, nos poucos minutos que nos restam, destacar alguns pontos de aplicação pra a igreja de hoje.

  1. Em primeiro lugar, quero retomar o ponto de que o temor do Senhor é o princípio da sabedoria. Se desejamos ser sábios, como Salomão foi sábio, devemos começar com uma profunda e santa reverência e amor a Deus. A sabedoria abraça a verdade e Deus é a verdade. Pedaços de sabedoria podem ser encontrados à parte Dele, desde que as pessoas ainda vivem em no mundo que Ele criou e podem fazer observações sábias da natureza do mundo que Ele fez, mas sem o conhecimento de Deus para dar luz à alma, mesmo os mais sábios e a maioria dos observadores perceptivos como Sócrates ou Buda ou Ghandi ainda estará perdida na escuridão, porque eles próprios não conhecem o Deus que é a Verdade.
  2. E isso nos leva ao nosso segundo ponto de aplicação: se quisermos encontrar sabedoria e sabemos que a verdadeira sabedoria vem de Deus, então onde podemos ir em busca dessa sabedoria? Onde vamos ouvir a voz de Deus? Vamos olhar para dentro de nós mesmos? Não, é exatamente isso que Salomão nos avisou para não fazer. Vamos sentar e esperar que Deus fale conosco de forma audível? Não, Deus nunca prometeu que faria isso. Então onde nós vamos? Vamos para a Palavra de Deus—as Escrituras, onde Deus nos disse qual é a Sua vontade para nós. E se formos às Escrituras, o que Deus nos diz muito claramente nas Escrituras é que a sabedoria é encontrada em Seu Filho, Jesus Cristo.
  • 1 Cor. 1:24: “mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus.”
  • Col. 2:3: “em Cristo todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos.”
  • Em outras palavras, se você deseja conhecer o caminho da sabedoria, ele se encontra no Evangelho de Cristo. Se você quer saber como viver (como Davi) com fidelidade e retidão de coração, comece com o Evangelho de Cristo. Se você quiser entender os planos e propósitos de Deus para este mundo (e para você), comece com o Evangelho de Cristo. É aí que o próprio Deus disse que a sabedoria deve ser encontrada.
  • Nossa tendência é procurá-lo em outro lugar – e principalmente, em nós mesmos. O que o antigo Evangelho da cruz de Cristo tem a me ensinar? Eu tenho livros, tenho acesso à educação e, é claro, tenho acesso à minha própria experiência e sentimentos interiores: por que estes não podem ser a luz do meu caminho?
    • Mas é o Evangelho de Cristo que nos leva de volta ao princípio da sabedoria: o temor de Deus. O Evangelho de Cristo nos ensina que o que nós, seres humanos, precisamos, mais do que qualquer outra coisa, é ser reconciliados com o Deus Santo e Justo, diante do qual somos pecadores. O Evangelho de Cristo nos ensina que não somos sábios, mas sim tolos e pecadores corrompidos. E a única maneira de nos tornarmos sábios é começar naquele lugar vergonhoso da cruz de Cristo, reconhecendo nossa grande necessidade diante de Deus de ser perdoado e restaurado, e reconhecendo nossa grande necessidade de sermos renovados pela transformação de nossas mentes.
  • Se você quer conhecer a Deus, se você quer aprender a amar a Deus, se você quer que sua vida seja moldada pela sabedoria de Deus, então comece com a Palavra de Deus e, acima de tudo, a sabedoria que a própria Palavra aponta para você : o Evangelho de Cristo.
  • Com o Evangelho como nosso fundamento, então, podemos começar a entender a sabedoria.
  1. E com isso como nosso alicerce, também podemos começar a aplicar essa sabedoria a todas as áreas da vida no mundo de Deus.
  • Solomon escreveu em Prov. 3:13–16: “Feliz o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento; porque melhor é o lucro que ela dá do que o da prata, e melhor a sua renda do que o ouro mais fino. Mais preciosa é do que pérolas, e tudo o que podes desejar não é comparável a ela. O alongar-se da vida está na sua mão direita, na sua esquerda, riquezas e honra.”
  • Isso é exatamente o que vimos na própria vida de Salomão. Ele reconheceu que sabedoria é a melhor coisa a se desejar. Ele escolheu isso em vez de riquezas, honra e vida longa, porque é melhor do que qualquer uma dessas coisas.
  • E o texto aqui nos convida a fazer a mesma escolha. Como povo redimido, vivendo na alegria do Evangelho de Cristo, agora que conhecemos a Deus, vamos também desejar a melhor coisa. Escolhem a sabedoria. Persigam-o acima de tudo. Deus se deleita em nossa busca por sabedoria, e Deus é glorificado por ela.
  • Nada é mais valioso do que um coração que escuta – primeiro (e acima de tudo) a Deus, e depois também às lições que o mundo de Deus nos ensina por meio da experiência e à sabedoria e conselho que Deus deu aos outros. Persiga isso, com todas as suas forças. Afinem seus corações acima de tudo à Palavra de Deus e vejam se Deus também não lhes dá sabedoria para todas as áreas da vida.
    • Da maneira que maridos e esposas se amam
    • Da maneira como criamos nossos filhos
    • Na forma como conduzimos nossos negócios
    • Na maneira como cuidamos uns dos outros dentro da igreja
    • Da maneira como amamos nosso próximo
    • Na forma como interagimos com a criação de Deus …
    • … em todos os sentidos, a Palavra de Deus, acompanhada pelo Espírito de Deus nos ensina o caminho da sabedoria e o caminho da vida.
  • Pense na maneira como Moisés descreveu a lei quando a deu ao povo de Israel, em Deut. 4:6–8:
    • “Guardai-os, pois, e cumpri-os, porque isto será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos que, ouvindo todos estes estatutos, dirão: Certamente, este grande povo é gente sábia e inteligente. Pois que grande nação há que tenha deuses tão chegados a si como o Senhor, nosso Deus, todas as vezes que o invocamos? E que grande nação há que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que eu hoje vos proponho?”
    • Ó, que isso também seja nosso testemunho neste mundo quebrado que nada conhece de beleza, sabedoria ou bondade. Que eles vissem nossas vidas renovadas e dissessem, “Que Deus sábio! Que Deus santo! Que Deus misericordioso, que essas pessoas conhecem!”
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Jonathan Chase

Jonathan Chase

O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020. 

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.