Leitura: 2 Reis 5
Texto: 2 Reis 5
Irmãos e irmãs em nosso Senhor Jesus Cristo,
Neste capítulo, vemos um dos exemplos mais surpreendentes de Deus alcançando em graça pessoas inesperadas em nações fora do povo de Israel. Talvez esquecemos, quando lemos o Antigo Testamento, e vemos toda a atenção especial dada a Israel, que o propósito final de Deus por Israel sempre era pra usar Israel para a conversão de todas as famílias da terra—como Deus prometeu a Abraão. Vemos isso tão claramente na história de Naamã.
A conversão de Naamã tem muito a nos ensinar sobre a obra poderosa de Deus de conversão dos corações de pessoas incrédulas, levando-os ao conhecimento de Sua graça e à adoração de Seu nome. E é isso que queremos traçar aqui na história de Naamã. Quero destacar quatro coisas que Deus faz aqui para humilhar Naamã e trazê-lo ao conhecimento de Deus.
1. Ele humilha seu orgulho
Em primeiro lugar, irmãos, observem como Deus expõe nossa fraqueza e carência humana. Ele vê por trás da nossa demonstração externa de força e importância e expõe nossa verdadeira condição: como criaturas e como pecadores.
Veja o contraste pintado entre Naamã e a serva no versículo 2. O que lemos sobre Naamã?
- Ele era comandante do exército do rei da Síria!
- Um grande homem com seu mestre!
- Em alto favor.
- Um homem poderoso de valor.
Tudo nele diz força, poder, poder, posição, influência. Este era um homem poderoso para os padrões humanos.
Mas, o que mais? Ele era um leproso. Um leproso. E esse único fato destrói tudo o mais que esse homem tinha. Ele era um leproso. A lepra na Bíblia provavelmente não é a mesma coisa que a lepra hoje; era o nome dado a uma condição de pele que fazia com que a pele ficasse branca, escamosa e manchada. Pode ser mais ou menos grave em pessoas diferentes. Para Naamã, sua lepra aparentemente não era tão grave que ele não pudesse funcionar como comandante do exército – pelo menos não ainda – mas teria sido muito desconfortável, feio e doloroso.
E é exatamente nesta condição que Naamã precisava estar. Quando Deus converte o pecador, Ele quebra sua demonstração externa de força, para expor sua fraqueza e carência. As pessoas orgulhosas não têm acesso à graça de Deus.
O texto traça um contraste claro entre Naamã e essa serva no versículo 2. Nós nem sabemos o nome dessa menina. Diz que ela era uma “menina” e trabalhava como serva de esposa de Naamã. Tudo sobre sua vida mostra sua falta de controle. Ela foi sequestrada em um ataque do exército sírio. Provavelmente, a mãe e o pai dela foram mortos naquele ataque. Sua pequena vida foi levada embora pelos sírios e levada para uma terra estrangeira. Ela teria que aprender uma nova língua. E ela passaria o resto de sua vida como uma escrava.
E ainda assim, Deus usou ela para trazer a cura a Naamã que Naamã não poderia obter por si mesmo, e, ainda mais, Deus usou ela para trazer o conhecimento de Seu nome para Síria. Como diz o apóstolo Paulo, Deus usa os fracos para envergonhar os poderosos.
Certamente, essa menina poderia clamar a Deus que sua vida era injusta. Se alguma vez houve um caso em que um membro da aliança pudesse ter uma razão legítima para abandonar o Senhor e ir servir a outros deuses, não seria essa menina? Mas veja, embora ela vivesse como uma escrava em uma terra distante, entre um povo que adorava deuses estrangeiros, ela não abandonou o Deus de Israel – o seu Deus por aliança. Que instrução fiel esta menina deveria ter recebida por seus pais! Que cultos domésticos ela deveria ter testemunhado durante sua infância! Vejam, irmãos, como os meios ordinários são poderosos, que um filho da aliança pode passar por tudo isso e não deixar de se apegar ao Deus da aliança.
E o que logo descobriremos é que, embora sua vida estivesse fora de seu controle, e muitas coisas más tivessem sido feitas contra ela, nada foi um acidente, mas Deus estava governando tudo para realizar através do testemunho dela coisas poderosas. Ela estava exatamente onde precisava estar para servir no reino de Deus. Deus não precisa de força e poder humanos para realizar seus propósitos. Deus trabalha através daqueles que confiam nEle e obedecem a Ele. Ele usa a fé humilde dos pequenos, fracos e impotentes para realizar grandes coisas que estão além do alcance das pessoas mais poderosas da terra.
Então essa é a primeira coisa que Deus fez na vida de Naamã: Ele humilhou seu orgulho e expôs sua fraqueza. Se você acha que sua força, sua inteligência, seu dinheiro ou sua influência significarão que você está no controle de sua vida, você não está. E um dia você vai descobrir isso. O poder de Deus é demonstrado na fraqueza humana. Ele usa os fracos para envergonhar os fortes.
——
Assim vemos Deus já trabalhando na vida de Naamã, humilhando-o, e assim preparando-o para a conversão.
Ao mesmo tempo, o texto nos leva de volta a Israel, a terra do povo de Deus. E aqui precisamos observar o outro lado da questão: muitas vezes quando Deus traz pessoas de fora para dentro da igreja, para o conhecimento de Sua graça, isso se torna um desafio e uma prova para a igreja.
Podemos estar tão acostumados a pensar sobre os que estão fora da nossa fé como nossos inimigos, que podemos perder de vista o fato de que nós mesmos fomos salvos pela graça de Deus, e que Deus tem ovelhas eleitos entre aqueles que são, atualmente, nossos inimigos.
E é exatamente isso que vemos no rei Jeorão. Quando Naamã soube da possibilidade de ser curado por Eliseu, ele foi e obteve permissão de seu rei, e o rei da Síria então enviou uma carta a Jeorão, rei de Israel. E quando Jeorão recebeu a carta, ele imediatamente pensou que isso era apenas um ardil, uma estratégia para começar uma briga; então ele rasgou suas vestes em desespero. Ele nem mesmo passou a mensagem a Eliseu.
Então aqui temos uma pequena serva, que conheceu o poder de Deus através de Eliseu; e o Rei de Israel, que não o conheceu. Parece que o rei sabia menos do poder de Deus do que esta pequena serva. É uma imagem triste da condição espiritual de Israel neste momento. O poder de Deus estava tão longe de sua mente que nem imaginou que Deus poderia salvá-lo. Sua reação é teologicamente correta: que somente Deus é capaz de matar e vivificar, ou trazer esse tipo de cura—mas praticamente ele não acreditava que Deus realmente poderia curar esse homem – e isso é ainda mais decepcionante porque Jeorão conhecia Eliseu e já viu Deus fazer coisas maravilhosas por meio de Eliseu.
——
Voltando agora para Naamã. Vimos que Deus primeiro expõe suas fraquezas.
Em segundo lugar, Ele humilha seu orgulho.
Podemos apenas imaginar a cena na humilde aldeia onde Eliseu morou. Uma comitiva de oficiais sírios, com carruagem e tudo, aparece em sua porta da frente. Como o chefe das forças armadas sírias, Naamã teria exigido respeito e deferência. Mas você percebe, Eliseu nem saiu para saudá-lo pessoalmente. Em vez disso, ele enviou seu servo, Geazi. Imagine o insulto que isso teria sido para Naamã! Mas isso é exatamente o que ele precisava: Deus estava humilhando Naamã. Ele precisava aprender que, aos olhos de Deus, ele não era o poderoso comandante do exército, mas apenas um pecador, e um pecador gentio. Afastado de Deus, sem esperança no mundo.
Naamã não estava pronto para reconhecer essa realidade. Então ele fica extremamente chateado com este encontro com Eliseu, e ele saiu até furioso. Ele explica exatamente por que estava chateado: primeiro, ele diz: “Pensava eu que ele sairia a ter comigo”. Ele se ofendeu com o fato de que o próprio Eliseu nem mesmo saiu para encontrá-lo
Em segundo lugar, ele diz: “[Eu pensei] que ele pôr-se-ia de pé, invocaria o nome do SENHOR, seu Deus, moveria a mão sobre o lugar da lepra e restauraria o leproso.” Em sua mente, isso é o que os profetas deveriam fazer. Ele já havia determinado em sua mente como a cura deveria ocorrer.
Em terceiro lugar, ele reclamou, e este é o grande problema, há muitos rios melhores para lavar. O Jordão é um rio meio lamacento, fedido e não impressionante. Era totalmente impróprio para ele como um homem digno e civilizado.
Mas irmãos, é exatamente assim que a graça de Deus se manifesta. As águas barrentas do rio Jordão são exatamente a imagem correta de nossa condição pecaminosa. A graça de Deus não é encontrada em lugares altos e exaltados, mas na vergonha e na humildade, quando o pecador descobre sua verdadeira condição. O Jordão estava lamacento e vergonhoso para se banhar nele, mas pelo menos ali o chão é plano. Não há pessoa superior e inferior. E assim é com a cruz de Cristo. A cruz de Cristo proclama publicamente nossa culpa e nossa vergonha, e é ali, e somente ali, que os pecadores encontrarão a misericórdia de Deus. Quer sejam pessoas dignas e importantes aos olhos dos homens, ou meninas escravas; sejam eles religiosos ou gentios e estranhos à aliança, é para lá que todos devem ir.
Tudo na mensagem de Eliseu ofendeu Naamã, porque exigia uma humilhação de Seu orgulho. E é assim que a graça de Deus se manifesta. O que Deus pediu através de Eliseu é exatamente o que Deus exige no Evangelho. O Evangelho é boas novas, sim: a vida eterna, o perdão dos nossos pecados, a comunhão com Deus, a entrada no reino de Deus, a participação no Espírito Santo: dons maravilhosos e imerecidos, valendo tudo o que alguém poderia dar. Mas o caminho para recebê-lo, o caminho da fé, é um caminho de humildade. Temos que reconhecer que não o merecemos, e que nosso dinheiro e nossa influência não o pode comprar. Temos que aceitar que não podemos obtê-lo por nossa própria força. Somos tão indignos de sua graça e tão completamente perdidos quanto qualquer outro pecador. E assim devemos nos juntar à comunidade de pessoas quebrantadas que não têm nada a oferecer a Deus, a não ser o pecado pelo qual Cristo veio para morrer. Precisamos confessar que não somos nada em nós mesmos. Precisamos enfrentar nossa pequenez e carência diante de Deus. Você precisa ser essas coisas se quiser receber a Cristo. Não há pessoas orgulhosas no céu. Deus se opõe aos orgulhosos, mas dá graça aos humildes. Se há uma frase que ocorre repetidamente nas cartas de Paulo, é: “para que ninguém se glorie”. Paulo entendeu isso, como um ex-fariseu que tinha muito do que se gabar. Ele veio a entender, através da cruz de Cristo, que tudo o que ele tinha anteriormente era lixo e precisava ser descartado, para que ele pudesse ser contado com Cristo. Esse é o Evangelho de Cristo. Isso é ofensivo para você? Você acha que merece a vida eterna? Se assim for, você precisa olhar novamente para a cruz de Cristo, porque essa é a sua cruz, onde você pertence por direito.
Esta é a lição que Naamã teve que aprender e no início foi muito ofensiva para ele.
Mas o argumento dos servos dele é convincente: a cura não vale a pena? Se lhe pedissem para fazer uma centena de outras obras impressionantes, você não teria feito? E agora, por causa do seu orgulho, você vai abandonar a única esperança de cura? Isso faz sentido?
Você tem que admirar a ousadia que esses servos mostraram ao enfrentar o Naamã tão indignado. E deu certo. Naamã teve que admitir que eles tinham razão.
E então ele foi ao Jordão, e mergulhou nele sete vezes.
E quando ele fez isso, a lepra se foi, e sua pele foi restaurada, o texto diz, como a pele de uma criança. Talvez um pouco demais, né, para um homem militar, ter a pele de uma criança. Mas não é assim mesmo quando conhecemos a graça de Deus e entramos na igreja? Ficamos como crianças na fé. Temos muito a aprender a amadurecer. E a humildade que aprendemos na cruz nos permite a aceitar isso.
E o que aconteceu para a corpo de Naamã, aconteceu também para sua alma. Foi um novo nascimento. Ele emergiu do Jordão como um homem inteiramente novo, não apenas fisicamente, mas também espiritualmente.
E essa é a terceira coisa que queremos observar na conversão de Naamã: Deus realizou uma transformação total. Observe como Naamã foi totalmente mudado. Toda a indignação foi se embora. E veja a humildade que ele mostra para Eliseu. Toda a deferência e respeito que ele exigiu um momento atrás, se foi. Cinco vezes nos versículos seguintes, ele se refere a si mesmo como “seu servo” diante de Eliseu.
E considere a confissão que Naamã faz:
“Eis que, agora, reconheço que em toda a terra não há Deus, senão em Israel.”
Que confissão do comandante do exército sírio!
Agora, após a conversão de Naamã, ele fez três pedidos.
Em primeiro lugar, ele queria oferecer um presente a Eliseu. Não devemos supor que isso tenha sido feito por errados motivos pagando pelos serviços de Eliseu, porque ele mesmo diz que foi um “presente”, não um pagamento. No entanto, vemos que Eliseu recusa o presente, para evitar qualquer impressão de que ele estava trabalhando por pagamento, a serviço do rei ou de qualquer outra pessoa; e para mostrar que a graça de Deus é gratuita.
Em segundo lugar, Naamã faz um pedido estranho. Versículo 17:
“Peço-te que ao teu servo seja dado levar uma carga de terra de dois mulos; porque nunca mais oferecerá este teu servo holocausto nem sacrifício a outros deuses, senão ao SENHOR.”
Certamente é um pedido estranho, e você não encontra nada parecido na Bíblia ou na tradição judaica. Nenhum dos judeus levaria um “pedaço” da terra prometida com eles quando se mudassem para que assim pudessem estar na terra prometida. O que vemos aqui parece mais um reflexo da mentalidade pagã com qual Naamã foi criado.
E há uma lição importante para nós: quando Deus converte o coração de um incrédulo, isso não significa que toda a sua cosmovisão será substituída por uma cosmovisão bíblica de uma só vez. Leva tempo e requer discipulado e comunhão com o resto dos santos. Por quanto que podemos julgar, Naamã era um verdadeiro crente; mas ele tinha muito a aprender. Como vimos, embora ele fosse um homem adulto, espiritualmente era apenas uma criança.
E esta é uma lição importante para a igreja de hoje. Talvez a resposta de Eliseu nos surpreenda, que Eliseu permitiu Naamã fizesse isso, levasse essas cargas de terra com ele. Esperaríamos que Eliseu corrigisse o modo de pensar pagão de Naamã. Mas Eliseu permitiu, porque Eliseu reconheceu que ainda haverá muito para aprender, e essas coisas levam tempo. Ele entendeu que a mentalidade pagã ainda iria se manifestar em muitos aspectos. Para os pagãos, cada Deus foi ligado à sua terra local, e Naamã não podia imaginar orar a um deus sem estar na terra que pertence àquele Deus. Mas isso não quer dizer que a confissão de Naamã era sem valor e que ele continuou politeísta como antes. Ele entendeu e confessou que o Deus de Israel era, de fato, o único Deus em toda a terra. Mas ele ainda sentiu que seria necessário levar um pedaço da terra que pertence exclusivamente a Deus para poder adorá-lo. E Eliseu entendeu que isso não era questão de primeira importância. Estas coisas levam tempo. Então Eliseu o permitiu. E devemos aprender com esse exemplo de paciência. Se nós, como igreja, queremos ser um lugar onde os pecadores possam encontrar o perdão dos pecados e a nova vida em Cristo, isso exigirá paciência, tolerância, e sabedoria para reconhecer quando é a hora certa de tratar um assunto e quando é melhor esperar. É preciso um espírito de humildade que reconheça que nós mesmos tivemos muito a aprender, e ainda temos muito a aprender, e de fato até hoje Cristo continua muito paciente conosco. Então devemos estender a mesma tolerância e paciência com a imaturidade dos outros; caso contrário, acabaremos por expulsá-los e tornar a igreja um lugar inóspito para novos cristãos. Confie que Deus trabalhará neles, e se a oportunidade certa para ensinar vier, então podemos ensinar, com calma e respeito, e não de uma só vez.
Agora, o que fazemos com o versículo 18? Talvez este versículo seja ainda mais preocupante.
Naamã continuou:
“Nisto perdoe o Senhor a teu servo; quando o meu senhor entra na casa de Rimom para ali adorar, e ele se encosta na minha mão, e eu também me tenha de encurvar na casa de Rimom, quando assim me prostrar na casa de Rimom, nisto perdoe o Senhor a teu servo.”
Deixe-me apenas dizer duas coisas sobre isso.
Em primeiro lugar, devemos reconhecer que isso que Naamã está falando não é mesmo adorar o Deus Rimmon. O que Naamã está falando tem a ver com seu papel como comandante do exército. No antigo Oriente Próximo, era uma prática comum que certos oficiais acompanhassem o rei quando ele ia adorar os deuses, e eles atuavam essencialmente como braço para ele se apoiar. Você pode ver uma coisa semelhante no capítulo 7:2, onde o rei de Israel descansou seu braço sobre seus oficiais enquanto estava no portão. Isso fazia parte do dever oficial, como um ato de subordinação ao rei. Então ele não está falando de um ato de adoração ao deus Rimmon, mas um ato de submissão ao seu rei.
Ao mesmo tempo, certamente não é uma questão fácil. Imagino que se fosse hoje em dia, muitos cristãos iriam dizer que não tem como Naama continuar na sua posição com integridade, e teria que deixar de ser comandante do exército para não participar neste ato de adoração.
Mas não foi o que Eliseu disse. Novamente, ele disse, “vá em paz.”
De fato, muitas questões semelhantes enfrentam os cristãos de hoje, e os cristãos de todas épocas. Já no tempo do novo testamento, os cristãos debatiam se era aceitável comer carne sacrificada aos ídolos…isso não é uma participação na idolatria? E eles poderiam citar o caso de Daniel, que recusou de comer carne por causa disso. Os Cristãos de hoje também lutam com muitas questões que tem a ver com a nossa convivência com descrentes. O Cristão pode ser político? O Cristão pode fazer um voto de lealdade a uma constituição muito imperfeita? O Cristão pode votar no domingo, ou tem que se abster de votar por causa do dia do senhor? Não são perguntas fáceis.
E Eliseu não tenta resolver a pergunta por Naamã. Ele só diz, “vá em paz.” Ele reconheceu que a conversão de Naamã foi uma obra do Espírito de Deus, e então o Espírito de Deus vai continuar a guiá-lo e orientá-lo.
Pelo menos o que devemos reconhecer em Naamã aqui em versículo 18 é um homem com uma consciência sensível. Ele é um homem mudado, mesmo que ainda não seja um homem perfeito. Que nós também tenhamos esta mesma sensibilidade de consciência, sobre todas as nossas ações! Às vezes os novos crentes, recém-convertidos, podemos nos envergonhar com sua sensibilidade de consciência e sua humildade—mesmo com todas as suas imaturidades. Quem dera todos tivéssemos essa mesma consciência sobre todos os atos da nossa vida!
5. Ele adverte aqueles cujos corações são frios para Ele
Agora, há mais uma parte desta história que exige nossa atenção antes de encerrarmos. Naamã voltou para a Síria, regozijando-se na graça de Deus. E agora o texto passa para o servo de Eliseu, Geazi.
Como vimos, Eliseu mostra paciência e tolerância com Naamã, porque Eliseu reconheceu a obra de Deus na vida de Naamã, e Eliseu valorizou a salvação da alma de Naamã. Foi por esta mesma razão que Eliseu se recusou firmemente a aceitar qualquer pagamento de Naamã, para deixar bem claro que a graça de Deus não pode ser comprada com dinheiro.
O que vemos em Geazi é um homem que não se importa com a salvação dos ímpios e a honra de Deus. Na verdade, parece que a graça de Deus para o incomoda.
Podemos ver em Geazi dois sérios problemas espirituais: Um é um profundo senso de superioridade espiritual. E o outro é um coração distante de Deus e apaixonado pelo mundo. Talvez você pensaria que esses dois problemas não poderiam coincidir no mesmo coração, mas acontece, e não infrequentemente. Foi o erro dos fariseus também. O próprio Senhor Jesus disse: “você já recebeu sua recompensa”. Por toda sua religião, a recompensa que eles buscam era apenas no aqui e agora.
Você pode ver a superioridade espiritual de Geazi no que ele diz a si mesmo no versículo 20:
“Eis que meu senhor impediu a este siro Naamã que da sua mão se lhe desse alguma coisa do que trazia; porém, tão certo como vive o Senhor, hei de correr atrás dele e receberei dele alguma coisa.”
Veja o desgosto na sua boca quando ele diz, “este siro Naamã.” E veja como ele jura em nome do senhor, que ele não vai deixar Geazi escapar sem pagar. Os Sírios não tinham direito a salvação de Deus, e muito menos sem pagar. São inimigos de Deus e do seu povo.
Mas essa superioridade espiritual também foi uma desculpa para Geazi, uma desculpa para ir atrás daquilo que ele realmente amava, que era o ganho mundano. Em vez de se regozijar com um pecador perdido que veio a conhecer o verdadeiro Deus, Geazi estava disposto a colocar a honra de Deus e a vida espiritual desse novo crente em risco por causa de dois talentos. Ele estava disposto a trocar a alma deste novo crente por dinheiro que perece.
Até a forma como a conversa se desenrola expos a mentira de Geazi. Ele inventou esta história sobre dois visitantes que de repente vieram a Eliseu e que Eliseu pediu um talento. Mas quando Naamã ofereceu dois talentos, ele rapidamente aceitou, expondo até pra Naamã que não era pra cuidar destes visitantes. Naamã, a caminho de casa, deve ter se perguntado: por que o profeta mentiria sobre ter recebido visitas? Por que inventar uma história quando antes já ofereci o dinheiro? Então Geazi desfez todo o cuidado que Eliseu havia tomado para garantir que Naamã não pensasse que a graça de Deus pudesse ser comprada e, pior ainda, ele prejudicou a reputação de Eliseu. Mas ele não se importava com a vida espiritual daquele “sírio.” Ele estava apaixonado pelo dinheiro.
E é por isso que Eliseu o repreende tão duramente no versículo 26: “Era isto ocasião para tomares prata e para tomares vestes, olivais e vinhas, ovelhas e bois, servos e servas?” Geazi deveria saber que a honra de Deus entre os sírios é muito mais importante do que um pequeno ganho financeiro. Mas ele não se importou.
Há uma advertência aqui também para nós como o povo da aliança de Deus. Quando testemunhamos a graça de Deus chegando aos incrédulos, nos regozijamos com Deus, ou nossos corações estão muito apaixonados pelas coisas terrenas para se importar? Somos orgulhosos demais, pensando que “essas pessoas” lá fora não merecem a graça de Deus num status igual conosco?
Para Geazi, a vida de Naamã não valia a pena ser salva. E a glória de Deus não valia dois talentos de ouro.
E assim Deus deu a Geazi a aflição que ele havia tirado de Naamã. Ele aprenderia por meio de uma experiência dolorosa quão preciosa é a graça de Deus. Em Israel, a lepra também significava exclusão de participação na vida do povo da aliança. Geazi teria que viver fora da cidade e seria banido do templo. Em nenhum lugar lemos sobre a recuperação de Geazi; podemos supor que ele viveu com essa condição o resto de sua vida.
Irmãos, que Deus nos poupe de perder de vista Sua graça como Geazi fez. Que Deus nos poupe de sermos pessoas da aliança apaixonadas pelo mundo.
Deixe esta história da graça de Deus para este pecador perdido ser um lembrete da graça que Deus lhe mostrou. Como Ele viu em você, não uma pessoa forte e importante, como você se apresentou aos outros, mas um pecador fraco e quebrantado. Como Ele humilhou seu orgulho. Como Ele te chamou para o lugar vergonhoso da cruz, e lá te revelou a profundidade de Sua misericórdia em Cristo. Como Ele mudou você, e fez de você um novo homem.
Que nossos corações não sejam frios como os de Geazi, mas cheios de gratidão e prontos para compartilhar essa graça com outros pecadores indignos como nós.
Jonathan Chase
O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020.
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.