Leitura: 2 Reis 11
Texto: 2 Reis 11
Irmãos e irmãs em nosso Senhor Jesus Cristo,
Uma das razões pelas quais os cristãos às vezes evitam essa parte da Escritura é que ela está tão cheia de violência e maldade. Em uma cultura onde a Bíblia é usada como um livro de motivação pessoal e inspiração diária, certamente estes capítulos não servem. Pelo contrário, são capítulos feios. Às vezes chega a ser horrível, faz que a gente passa mal.
A realidade que nós precisamos reconhecer é que a violência e o mal que encontramos aqui são é a nossa violência e maldade. É o mal que existe no coração humano caído, quando é dada a oportunidade de se expressar. Sim, o Antigo Testamento nem sempre é um livro agradável. Nem sempre é o novo. Mas a violência, crueldade, e perversidade que encontramos aqui, por maior parte, não é de Deus. Claro, existe violência que vem de Deus—Ele às vezes derrama sua ira sobre as nações idolatras e sobre pecadores impenitentes (Jesus, no Novo Testamento, fala sobre o inferno mais do que qualquer outra pessoa na Bíblia). E isso é uma violência justa e merecida. Mas a maior parte da violência no Antigo Testamento é a violência dos seres humanos um contra outro. Deus às vezes usa esta violência para ensinar, entregando pecadores ao seu próprio pecado para experimentar as consequências naturais. Mas as atos cruéis que nós encontramos são apenas manifestações da violência, crueldade, malícia e horror que surgem de dentro do coração humano caído. É a violência de pessoas como Atalia, que matou todos os seus netos, incluindo os bebês, junto com suas amas que, sem dúvida, estariam implorando misericórdia aos guardas para não machucar as crianças indefesas. É a violência de todos os pecadores dedicados vivendo pela lema, “venha o meu reino, faça-se a minha vontade” e, portanto, fazendo tudo o que podem para se opor ao reino de Deus, incluindo o massacre de inocentes. As coisas terríveis que nós lemos em textos como este são coisas que você e eu somos capazes de fazer quando estamos comprometidos com nossos próprios reinos. A história e a psicologia mostraram também são testemunhas disso. Você olha para todas as crueldades e torturas que os membros de gangues fazem um contra outro. E não adianta dizer, “é porque eles são animais, eu nunca faria tal coisa.” A única coisa que separa você deles não é a natureza humana, que é a mesma, mas a circunstância e a criação. Dado o mesmo compromisso absoluto com meu próprio reino, e a parte da graça de Deus, eu faria as mesmas coisas. Se você não se reconhece lá, então você não está prestando atenção à história, nem ao seu próprio coração.
Nosso capítulo desta manhã nos mostra alguns dos anos mais precários na história da redenção. A promessa que o autor de Reis tem nos apontado repetidamente é a promessa que Deus fez a Davi, de que Ele levantaria um de Seus descendentes para assumir o trono e, por meio Dele, estabelecer um reino permanente de justiça e retidão que se-estenderia para toda a terra. Essa foi a promessa dada a Davi, e essa foi a promessa que o povo de Deus manteve durante todos esses anos terríveis.
E essa esperança ficou por um fio quando Atalia subiu ao trono.
1. Compromissos tolos
Atalia era filha de Acabe e Jezabel — o rei e a rainha mais ímpios da história do Reino do Norte. Jezabel havia se mostrado a própria personificação do mal desde o início até o fim de sua vida, levando Israel à adoração de Baal, assassinando o inocente Nabote e provavelmente seus filhos também, e massacrando os profetas de Deus. Atalia é a filha desta mulher perversa.
E surpreendentemente, ela também era a esposa de Jeorão, rei de Judá no sul. Então houve uma aliança de casamento entre a linhagem de Davi e a detestável linhagem de Acabe e Jezabel.
Você tem que perguntar, Como isso aconteceu? Como é que pode? A bíblia não nos conta como isso aconteceu, mas lembre-se de que naquela época, era geralmente os pais que organizavam os casamentos. E neste caso, tudo indica que o pai de Jeorão, ou seja, o rei Josafá, rei de Judá, foi responsável por este casamento.
Josafá era um rei piedoso, mas que fez algumas decisões muito tolas durante seu reinado. E aqui já é uma lição muito importante para nós: É possível isso acontecer. É possível alguém que ama o Senhor sinceramente, ainda fazer decisões tolas e comprometedoras—ou por falta de escutar aos conselheiros e sábios na sua vida, ou por falta de levar a questão em oração ao Senhor, ou simplesmente por teimosia e orgulho—é possível isso acontecer, e, às vezes, essas decisões terão consequências que durarão por muito tempo, e até por gerações. Às vezes os pais cristãos toleram coisas do mundo em sua casa que não deveriam. Ou eles decidem mandar os filhos para uma escola pública, por questão de custa ou conveniência, não enxergando ou levando a sério o perigo espiritual a qual eles estão expondo seus filhos. Ou eles permitem que seus filhos namorem com descrentes. Seja que for, o ponto é que é possível ser crente e ainda fazer decisões tolas, com consequências graves. Isso deve ser motivo de temor para todos nós, e motivos de buscar sempre a sabedoria de Deus em sua Palavra, e a ajuda de conselheiros sábios e piedosos.
Então esse foi o problema de Josafá. Duas vezes ele fez alianças militares com Israel – uma vez com Acabe e outra com o filho de Acabe; em ambos os casos, Josafá falhou em buscar o conselho de Deus antes de tomar essas decisões, e ambas as vezes terminaram em desastre. Provavelmente foi Josafá o responsável por este casamento de seu filho com Atalia, filha de Jezabel. Assim, a maldita linha de Jezabel se juntou com a família real de Davi. Foi um compromisso tolo.
Agora, quando chegamos ao capítulo 11, quase toda a família real de Davi já foi exterminada. Assim que Josafá morreu, seu filho Jeorão – o casado com Atalia – foi e matou o restante de seus irmãos e seus filhos para garantir que não houvesse nenhuma competição pelo trono – e então, depois de alguns anos, ele também foi morto. Logo depois, o seu filho Acazias foi morto por Jeú, como nós vimos na semana passada.
E agora, Atalia, a rainha avó do inferno, filha de Jezabel, viu sua oportunidade de assumir o trono para si mesma, e é isso que ela faz nos primeiros versículos de nosso capítulo.
2. Ataques Satânicos
Como eu já disse, a crueldade de Atalia nos dá uma imagem do mal de que somos capazes quando nos comprometemos a estabelecer nossos próprios reinos a todo custo. Ela é a imagem de sua mãe Jezabel—é a própria imagem do mal e da crueldade. Ela imediatamente se levantou e ordenou a destruição de toda a família real, ou seja, de todo o resto de seus próprios filhos e netos, já que eram os únicos restando na família real.
Assim, ela imita todos os ditadores idolatras antes dela. Não é a primeira vez que o infanticídio em massa acontece nas Escrituras. Acontece repetidamente com ditadores dedicados a preservar seu próprio trono. Pensamos no faraó, ordenando aos israelitas que jogassem seus bebês no Nilo. Pensamos em Hamã, tentando organizar a matança em massa de todos os judeus. Pensamos em Herodes, no Novo Testamento, ordenando a matança de todos os meninos de Belém de dois anos ou menos. É uma história que se repetiu várias vezes na história.
Por um lado, reconhecemos isso como obra de Satanás, lançando todo ataque que pode contra o reino de Deus. O infanticídio é algo profundamente demoníaco e satânico. Fazia parte do culto dos deuses de Canaã—Moleque e Quemos—e de outras religiões pagãs na antiguidade. E é mais satânico ainda quando é especificamente direcionado contra a linhagem do Messias — a linha da promessa por meio da qual Deus traria o Messias.
Com certeza, a própria Atalia não se viu como uma agente de Satanás. Ela estava simplesmente trabalhando para o número 1, ela mesma.
Mas aqui está a realidade: todos que vivem por se mesmos, acabam vivendo para Satanás. Todo reino que é estabelecido em oposição ao reino de Deus é um sub-reino do domínio de Satanás. Todo indivíduo que se dedica ao estabelecimento de seu próprio reino se coloca contra o reino de Deus e se torna uma ferramenta na mão de Satanás, que é o primeiro rebelde contra Deus.
3. Fidelidade corajosa
Agora, devemos pensar sobre estes eventos da perspectiva da igreja daquela época—dos homens e mulheres de Judá que ainda esperavam em Deus e aguardavam o cumprimento das promessas. Nós olhamos para trás e sabemos como a história terminou; mas claro que eles não sabiam. Eles tiveram que viver em seu próprio tempo, sem saber como a história iria terminar.
E como homens e mulheres de fé, pense em quão pouco eles tiveram que se apoiar. Tudo o que eles tinham eram as velhas promessas de Deus feitas há muito tempo a Davi por meio do profeta Samuel – promessas que foram passadas de uma geração para outra. É só isso. Só promessas antigas que eles tinham que aceitar pela fé.
Havia claramente muitas pessoas em Judá que há muito haviam desistido dessas promessas. O fato de que Atalia foi capaz de realizar esta matança em massa, e depois reinar por seis anos, revela que havia muitas pessoas que já desistiram dessas promessas. O sumo sacerdote e sua esposa – Joiada e Jeoseba – seriam considerados por muitos em Judá como fundamentalistas religiosos, muito fora dos tempos, que confiaram em velhas lendas e mitos, e incapazes de viver em um mundo moderno. O mundo em Judá já mudou muito. Havia ameaças maiores ao redor que Davi nunca conheceu—os grandes impérios da Síria e da Assíria. Para muitos em Judá, era hora de deixar as velhas profecias e viver no mundo moderno; e eles aceitaram o novo reino de Atalia, e permitiram que ela matasse os últimos descendentes de Davi.
Saber disso nos ajuda a apreciar a coragem e a fé dessas duas pessoas, Jeoseba e Joiada.
No meio da matança, enquanto os guardas estavam entrando nos quartos reais e matando todas as crianças e bebês da família real, Jeoseba—uma irmã do falecido rei Acazias, esposa do sumo sacerdote Joiada—entrou no meio da confusão, e sequestrou um dos meninos, Joás, e o escondeu, junto com sua ama, em um quarto no templo. Na verdade, a palavra hebraico usada aqui não se refere nem a um quarto, mas um tipo de despensa ou guarda-roupa. E ali a criança ficou escondida por seis anos. Imaginem, crianças, ficar escondido em um quarto por seis anos, sem nunca conhecer o mundo lá fora!
Agora, nós temos que perguntar: porque essa mulher Jeoseba fez isso? Ela colocou sua vida e a vida de seu marido em grande risco, para salvar um menino da linhagem de Davi. Porque?
A resposta: porque ela esperava em Deus. Embora ela não tivesse nada além da promessa antiga de Deus para Davi, Jeoseba—cujo próprio nome significa “Javé Jurou”—ela e seu marido acreditaram e construíram suas vidas sobre essa promessa.
Jeoseba e seu marido decidiram edificar sua vida sobre as promessas de Deus. Então deixe-me perguntar a vocês: Sobre o que você vai construir sua vida? Que tipo de homem ou mulher você vai ser?
Porque um ato corajoso como este, em um momento tão perigoso, não acontece por acaso. É o fruto de uma vida de fé.
Ao longo da vida e principalmente nesses momentos críticos onde decisões precisam ser tomadas, os alicerces de nossa vida tornam-se claros e o significado duradouro de nossa vida é determinado. É nesses momentos críticos que não temos nem tempo para pensar, mas simplesmente agimos em base dos nossos valores, que nós mostramos o que realmente importa para nós.
Vejo três tipos de pessoas neste texto, e podemos ver os mesmos tipos de pessoas hoje. Existem os Atalias, que estão apenas vivendo para seu próprio reino, abusando, trapaceando, mentindo, destruindo os outros ao seu redor.
Depois, há a maior parte do reino de Judá, que professa o nome do Senhor, mas estas promessas não tem muito peso na sua vida—e nos momentos críticos e perigosos, e nas grandes decisões de suas vidas, eles demonstram que eles se importam mais com seus próprios campos e empregos, a economia do país ou as ameaças das outras nações ao seu redor. E é por causa da passividade deles, que não queriam arriscar suas próprias vidas ou bens, que Atalia chegou ao trono e permaneceu no trono por seis anos.
Mas também existem os Jeosebas e Joiadas, que colocaram sua esperança nas promessas de Deus e fizeram disso o fundamento e o propósito de suas vidas. E é em momentos como este, quando decisões precisam ser tomadas na hora sem tempo para pensar que os fundamentos de nossas vidas são evidentes, e é nessas momentos críticos, que não tem como refazer diferentemente depois, que o legado duradouro de nossas vidas também é determinado.
Neste caso, é somente séculos depois que agora podemos olhar para trás e reconhecer o significado do que Jeoseba fez naquele dia (e pelos próximos seis anos, enquanto cuidou do menino Joás escondido no templo).
Você não pode manter sua vida aqui na terra. Nenhum de nós pode mantê-la. Mas você pode usá-la para coisas que têm significado eterno. Jeoseba e Joida estavam vivendo à luz dessa verdade.
Aqui tem outro motivo também pelo qual é muito bom os cristãos lerem e meditarem nos livros históricos da Bíblia, mesmo por toda a violência que eles contem. Estes livros nos orientam para as realidades eternas, para o reino de Deus que é maior de que nós mesmos. Nossa tendência natural é de preocupar só com nossas próprias vidas, e geralmente com coisas muito passageiras. Até em nossos estudos da bíblia, muitas vezes nós queremos apenas a aplicação pessoal para nós mesmos. Mas nestes livros históricos da bíblia, nós vemos Deus trabalhando não só por 5, 10, ou 20 anos—o prazo das nossas preocupações—mas por séculos em direção aos Seus planos para a salvação de Israel e do mundo, e vemos – nos profetas, na comunidade da igreja, na vida de crentes individuais – homens e mulheres dando suas vidas por um propósito e uma esperança que estava muito maior do que eles mesmos. Assim estes livros colocam a nossa vida curta e passageira em perspectiva. Todos os homens morrerão. Nenhum de nós pode guardar a nossa vida. Seja longa ou curta, na grande perspectiva, é passageira. Mas os santos tem o privilégio de usar as nossas vidas passageiras para contribuir ao reino de Deus que é eterno.
Jesus Cristo nos ensinou a Oração do Senhor (o “Pai Nosso”), e a primeira metade desta oração é voltada para os grandes propósitos globais de Deus: que Seu nome seja santificado, que Seu reino venha sobre toda a terra e que Sua vontade seja feita por todos os homens e mulheres em todos os lugares deste mundo. Jesus nos ensina a orar por estas coisas antes de chegarmos às nossas próprias necessidades e preocupações. Da mesma forma, Jesus ensinou a seus discípulos: busquem primeiro o Reino de Deus e a Sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
A Bíblia não é apenas sobre nós. Não devemos procurar o que a bíblia tem de oferecer a mim, mas como Deus está trabalhando para a salvação do mundo, e como eu me encontro dentro deste plano de redenção, para a gloria de Deus.
É por isso que Jeoseba colocou sua vida em risco para salvar esse bebê da linhagem de Davi, e o escondeu, debaixo do nariz da rainha, por seis anos. A promessa de Deus era que o Messias viria da linhagem de Davi, e assim ela viu o lugar dela na história e reconheceu que foi dado a ela para garantir que a linhagem de Davi fosse preservada.
E que papel importante ela desempenhou! Quantos de nós ainda conheceram o nome de Jeoseba antes de ler este texto esta manhã? Mas pela graça de Deus, somos endividados a ela por salvar o ancestral do Senhor Jesus quando era apenas um bebê. Por causa da fé e coragem dela—claro, dentro do plano e providência de Deus—Jesus nasceu. Somos gratos a ela porque ela viu sua vida como uma coisa pequena à luz do reino de Deus e das promessas de Deus, ela reconheceu seu tempo e ela agiu.
Assim todos nós devemos perceber o nosso lugar na história da salvação de Deus. Talvez não somos destinados a cumprir um papel tão significante como ela cumpriu, mas todos nós temos uma função e uma vocação. Jeoseba mesma não sabia do significado do papel ela iria cumprir, até a hora que surgiu; antes disso, era só fidelidade, obediência, e fé. Assim nós também estamos chamados para viver não para nós mesmos, mas buscar primeiro o Reino de Deus, para proclamar o nome de Cristo, para servir à edificação da igreja, e para viver com Cristo como profeta, sacerdote e rei; e nenhum de nós sabe se Deus pode nos chamar para desempenhar um papel crítico como Jeoseba fez. E temos a promessa de que nossos trabalhos, pequenos e simples, se forem feitos pela fé, não serão em vão.
——
Então, depois de seis anos, Joiada o sumo-sacerdote reuniu os capitães da guarda real, que foram tinham a responsabilidade de preservar o trono de Davi, e ele mostrou a eles o menino Joás, e ele fez uma aliança com eles, e os ajuramentou para cumprir sua responsabilidade diante de Deus. Então ele organizou a tropas ao redor do palácio, trouxe para fora as espadas e os escudos reais que foram guardados, e proclamou o menino o Rei.
Este texto levanta muitas questões sobre o quinto mandamento e a nossa responsabilidade para com as autoridades civis. Alguns poderiam acusar Joiada de traição (e de fato, é isso que Atalia faz) e de desobediência ao quinto mandamento. Afinal, mesmo que Atalia é mulher ímpia, ela não é a autoridade? Mas Joiada não é condenado pelo que ele fez. Pelo contrário, Joiada agiu de acordo com o ofício e responsabilidade que ele tinha de Deus. O sumo-sacerdote teve a responsabilidade de preservar e defender a Lei de Deus em Israel, junto com o Rei. Pode ser que muitos em Judá justificaram sua inação diante da matança dos filhos de Davi, e durante os seis anos seguintes, porque, afinal, Atalia era a autoridade, e temos que simplesmente nos submeter aos autoridades.
Mas não foi assim que Joiada viu a situação. Atalia poderia ser “rainha” de fato, mas Judá era uma nação da aliança, cuja suprema autoridade era Deus, e que foi governada por sua “constituição” (por assim dizer) sendo a Lei de Deus. Da mesma forma como as nossas autoridades precisam fazer um juramento solene para defender a constituição, assim também o rei seria coroado debaixo da autoridade da lei, e tinha que escrever, como seu primeiro ato de rei, uma cópia pessoal da lei de Deus. Então o rei não era a suprema autoridade terrena, mas a lei de Deus.
Então Joiada não estava sendo um rebelde, mas um fiel ao ofício que foi conferido a ele. Foram os homens de Judá que tinham abandonado suas responsabilidades quando permitiram o golpe de Atalia. A restauração de ordem por Joiada foi um ato de obediência ao quinto mandamento.
A Bíblia não nos ensina uma submissão absoluta aos autoridades. Em Judá e Israel naquele tempo, tinha uma autoridade acima dos reis, que era a lei (escrita) de Deus. E nossos países foram estabelecidos com este mesmo princípio. Por isso que temos uma constituição, que é a autoridade suprema em nosso país. Os magistrados que possuem autoridade não a possuem absolutamente, mas eles devem estar em submissão à constituição que está por cima deles. Igualmente, todos os oficiais do estado, bem como soldados e policiais, prestam juramento e devem fieldade não à pessoa do presidente em primeiro lugar, mas à constituição—e ainda por cima disto, à Cristo o Rei dos Reis.
Então, embora certamente a Bíblia, em geral, é muito contra rebelião e revolução, porque as revoluções humanas produzem apenas desordem e mais injustiça, mas a autoridade dos magistrados civis não é absoluta. Os Cristãos sempre devem mostrar honra, submissão, e obediência às autoridades, e não devem ser amigos de revoluções; mas também precisamos ser sábios em reconhecer quais são, de fato, as autoridades, e devemos ser corajosos em nossa submissão às autoridades legitimas. Especialmente os cristãos que possuem um ofício civil ou precisam reconhecer os limites de sua fieldade aos magistrados superiores, e ser corajosos até pra resistir as autoridades que agem não de acordo com a constituição.
Então as ações de Joiada não podem ser usadas para apoiar um espírito de revolução e desobediência; mas elas também demonstram que existe circunstâncias em que os magistrados civis que temem a Deus precisam resistir até seu próprio governo, em submissão às autoridades ainda mais superiores, sendo a constituição do país e, por cima ainda, a Lei de Deus.
5. Preservação divina
Neste texto, também não podemos deixar de ver a fidelidade de Deus em cumprir Suas promessas. Este capítulo não é, em última análise, sobre o que as pessoas fizeram, mas o que Deus fez através deles. Foi Ele quem levantou Jeoseba. Foi Ele quem deu a ela e ao marido a convicção e a coragem para agir. Foi Ele quem os colocou onde estavam. E por meio deles, Deus se mostrou fiel à Sua promessa e preservou a linhagem de Davi.
Quando Satanás quase conseguiu eliminar aquela linhagem de Davi e extinguir a esperança das promessas de Deus – e depois, durante os seis anos seguintes quando o menino Joás estava escondido no templo, correndo o risco de ser descoberto a qualquer dia, e as promessas de Deus estavam por um fio, contudo, Deus não permitiu que a linhagem de Davi fosse apagada, por causa de Seu compromisso com Suas próprias promessas e porque, o tempo todo, Deus estava trabalhando para o dia em que Jesus Cristo nasceria nessa linhagem e traria a salvação de Seu povo.
Portanto, este capítulo é um testemunho da fidelidade e do compromisso de Deus com Suas promessas e com a realização, até a conclusão, da salvação que Ele preparou para nós. É um testemunho da determinação inflexível e inabalável de Deus de salvar um povo que não merece a salvação, redimi-lo, perdoá-lo, renová-lo e trazê-lo à eternidade para conhecê-lo e amá-lo. E pela graça de Deus, você e eu pertencemos a esse povo, junto com os santos daquele dia, enquanto nos apegamos a Cristo. Deus pretende cumprir Suas promessas. As promessas de Deus, que Ele jurou com seu próprio Nome, são uma fundação digna de construir a vida por cima dela. Cristo não abre mão daqueles que se apegam a Ele.“Aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus.” (Fil 1:6)
E assim nosso texto também é um lembrete de que quando Deus sela Seus compromissos com uma promessa, seja séculos ou mesmo milênios atrás, Ele nunca quebrará Sua Palavra; que por causa de Seu próprio nome e Sua própria integridade, Ele levará essa promessa até o fim. E isso deve ser um grande consolo para nós, sabendo que pela graça de Deus nós também fomos trazidos para o reino de Cristo e feitos herdeiros dessas promessas.
6. Renovação da aliança
E isso nos leva à última coisa que também devemos ver neste texto, e isso é uma renovação da aliança. Versículo 17, depois que Joás foi trazido e feito rei, e a Rainha Avó do Inferno foi condenada à morte (aliás, espero que você tenha apreciado a ironia em suas palavras, “traição, traição!” – vindo da verdadeira traidora que quase destruiu a linhagem davídica); depois que ela foi morta e Joás foi colocado no trono, lemos no versículo 17:
“Joiada fez aliança entre o Senhor, e o rei, e o povo, para serem eles o povo do Senhor; como também entre o rei e o povo.”
Jehoida reconheceu que a aliança precisava ser renovada. Foi pela misericórdia de Deus e pela própria fidelidade de Deus à Sua promessa que a linhagem de Davi não foi extinta, mas essa não é uma misericórdia que deveria ser tomada como garantida.
Foi a falta de fidelidade à aliança que levou a essa situação. Começando com Josafá o rei, por permitir o casamento com a família de Jezabel. E estendendo-se para todos os oficiais e soldados em Judá, e todo o povo, que permitiram este golpe e não fizeram nada.
A linhagem de Davi estava quase extinta, e a culpa por isso era inteiramente da falta de fidelidade e obediência por parte do povo de Deus. Se não fosse pelo compromisso de Deus com Suas promessas, a apatia do povo de Deus os teria perdido completamente de suas promessas.
E assim este capítulo termina com uma renovação da aliança. Duas alianças foram feitas: uma entre o Senhor de um lado e o rei e o povo do outro, um tipo de renovação da constituição da nação, para ser fiel à lei de Deus; e outra aliança entre o rei e o povo. O texto não diz qual foi o conteúdo desta segunda aliança entre o Rei e o povo, mas certamente seria que os dois lados iriam servir ao Senhor—no caso, os dois mostrariam uma certa submissão. O Rei não iria reinar absolutamente, mas ele mesmo debaixo da autoridade da Lei de Deus; e o povo iriar defender e preservar esta ordem constitucional, e defender o trono de Davi contra todos os ataques futuros.
Foi uma espécie despertar por parte do povo de Deus, e uma re-dedicação ao Senhor; uma renovação de sua esperança em Suas promessas. Uma das consequências dessa renovação da aliança foi também que eles derrubaram a casa de Baal e mataram o sacerdote de Baal. Eles removeram os ídolos que haviam tolerado por muito tempo em sua terra e mataram os sacerdotes que promoveram a idolatria.
E esse é um lugar apropriado para terminarmos também. Vemos em nosso texto o compromisso de Deus com Suas promessas para nosso salvação, não nos basta simplesmente ver isto. precisamos também nos examinar se nós também iremos construir as nossas vidas sobre as promessas de Deus, e não seguir o caminho da transigência que levou Judá a este momento tão perigoso. Seremos um povo que espera em Deus, que olha para Ele, que busca Seu reino e justiça e que dedica sua vida ao avanço e cumprimento do Evangelho e do reino de Cristo?
Se for, também precisamos reconhecer os ídolos que existem em nossa terra – em nossas casas, em nossos corações – e derrubar esses templos e guerrear contra essas vozes também: sejam eles os templos e vozes de materialismo, de confortos terrenos, de prazeres vazios e imorais, ou dos deuses e lealdades do mundo ao nosso redor – as ideologias e prioridades que o mundo espera de nós em troca de sua aprovação. Se quisermos ser um povo dedicado ao Senhor, então devemos— não há como fugir disso — devemos ser um povo de guerra: empenhados, em guerrear contra a idolatria generalizada que existe ao nosso redor e constantemente procura uma entrada em nossos corações e vidas também. Ser um cristão envolve uma luta (como diz DS 12 do catecismo) com uma consciência livre e boa contra o pecado e o diabo nesta vida, para depois reinar com ele eternamente sobre todas as criaturas”.
E essa é a promessa. Os que esperam n’Ele e lutam com Ele agora, com a boa e livre consciência que Ele conquistou para nós com Seu sangue, eles também reinarão com Ele eternamente. Eles descobrirão, ao lutar, que é Ele quem está trabalhando dentro deles, tanto para querer quanto para trabalhar; que Ele é o próprio autor de sua fé; e que Ele certamente os sustentará até o fim, por causa de Seu compromisso absoluto com Suas promessas àqueles que pertencem a Ele.
Jonathan Chase
O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020.
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.