1 João 01.05-07

Leitura: 1 João 01.01-10
Texto: 1 João 01.05-07

“Deus é luz, e não há nele treva nenhuma” (I João 1.5).

Amada congregação do Nosso Senhor Jesus Cristo

No início de sua carta, João deu testemunho sobre a divindade e humanidade de Jesus a fim de guiar os irmãos na verdade e preservá-los dos falsos mestres que ensinavam doutrinas estranhas sobre a pessoa de Cristo. João deseja que os irmãos permaneçam firmes e unidos na doutrina de Cristo e dos apóstolos. Mas João não está preocupado somente com a firmeza e unidade doutrinária dos crentes. Ele também se preocupa com a conduta dos irmãos. Na sua primeira carta, Ele também chama os irmãos a guardar os mandamentos de Deus, andar na luz e praticar a verdade.

Vemos essa preocupação de João com a conduta dos irmãos já aqui no nosso texto. Ele afirma que Deus é luz e somente têm comunhão com Deus os que andam na luz e não os que andam nas trevas. João dá importância ao andar dos crentes. Ele nos ensina que doutrina e vida devem caminhar de mãos dadas na vida dos crentes. João está preocupado em conduzir os irmãos à prática do verdadeiro cristianismo. Para ele, não basta apenas crer e defender a doutrina bíblica ou simplesmente afirmar que tem comunhão com Deus, mas é preciso mostrar com nossa vida que verdadeiramente temos comunhão com Deus. Vejamos o que João nos ensina sobre a conduta do crente em nosso texto.

A primeira coisa que vemos é que o apóstolo João não está inventando uma nova mensagem, mas está repetindo o ensino que aprendeu de Cristo. “Ora, a mensagem que, da parte dele, temos ouvido e vos anunciamos é esta:” (5 a). João anuncia à igreja a mensagem que recebeu de Cristo. “Da parte dele”, quer dizer, da parte de Jesus Cristo. João faz questão de dizer aos irmãos que a origem e a base de sua mensagem é o ensino de Cristo. João não é mais um mestre ensinando de acordo com as suas idéias e pensamentos. Ele é um apóstolo de Cristo, aquele que recebeu diretamente do Senhor a vocação e autoridade para pregar o seu evangelho. Seu ensino deve ser recebido com humildade pela igreja porque deriva da autoridade de Cristo. A palavra de Deus tem autoridade sobre a nossa vida. Ela é a nossa única regra de fé e prática, o que significa que nossa doutrina e conduta devem estar baseadas apenas na palavra de Deus. Para o nosso bem e salvação, devemos dar ouvidos e praticar a mensagem dos apóstolos, a qual eles receberam de Cristo.

Qual é a mensagem específica que o apóstolo João recebeu de Cristo e agora transmite para nós em nosso texto? A mensagem é esta: “Que Deus é luz, e não há nele treva nenhuma” (5b). Onde Cristo ensinou esta verdade sobre Deus? O que esta mensagem de que Deus é luz tem a ver com o andar dos crentes? João e os demais apóstolos receberam essa mensagem de que Deus é luz do próprio Cristo quando viveram com ele aqui na terra. Mas em nenhum lugar dos evangelhos encontramos Jesus afirmando aos seus discípulos literalmente que Deus, o Pai, é luz. Ele disse que ele era a luz do mundo (Jo. 8.12; 9.5); que os seus discípulos são a luz do mundo (Mt. 5.16), mas não que Deus é luz. Então, João está inventando uma nova mensagem? Não. Precisamos entender o que João está nos ensinando quando afirma que Deus é luz. Para isso é importante entendermos o sentido da palavra luz na Bíblia. A palavra “luz” pode ter mais de um sentido na Bíblia, dependendo do contexto em que ela se encontra. Sentido literal (luz do sol e das lâmpadas – Ap.22.5; Lc.8.16); sentido figurado: salvação (Sl. 27.1), conhecimento da verdade (Mt.5.16), vida (Jo.8.12).

Além disso, a palavra “luz” aparece na Bíblia para expressar algumas qualidades que há em Deus. Luz aponta para a glória de Deus, o seu resplendor (Is. 60.19,20) e também para a sua santidade e perfeição. Este é o sentido no nosso texto. Quando João diz que Deus é luz, ele está se referindo ao caráter santo e perfeito de Deus, ele está apontando para a pureza moral que há em Deus. Ele está transmitindo a mensagem de Cristo. João ouviu da boca de Jesus que Deus Pai é santo, justo e perfeito (Jo.17.11,25; Mt.5.48). Ele usa a figura da luz para falar da santidade e pureza absoluta que há em Deus.

Essa é a mensagem que precisamos ouvir: “Deus é luz…”, ou seja, ele é santo, perfeito e puro. Ele é separado de todo e qualquer pecado. Ele não tem comunhão com o pecado, mas ele odeia todo e qualquer pecado. Nele não há treva nenhuma. Em Deus não existe erro, mal ou pecado algum. Ele é perfeitamente santo e puro assim como a luz é pura. Deus é luz (santo, puro, perfeito). Qual a importância dessa mensagem para a vida dos crentes? O que a santidade de Deus tem a ver com o nosso andar como filhos de Deus? Se Deus é luz, seus filhos devem refletir a sua luz em sua vida prática do dia a dia. Em outras palavras, os filhos de Deus devem ser santos assim como o Seu Pai é santo (I Pe.15,16). Ser santo significa ser separado do pecado e do mundo para andar na presença de Deus e viver em comunhão com ele. É claro que não temos em nós mesmos a santidade absoluta que há somente em Deus. Somos pecadores. Mas Cristo nos santifica por seu Espírito e nos chama e capacita a andar na luz do Senhor, isto é, viver uma vida santa, uma vida longe do pecado e perto de Deus. Os verdadeiros filhos de Deus não são aqueles que andam nas trevas do pecado, mas aqueles que andam na luz da santidade de Deus.

Como você sabe que é filho de Deus? Como você sabe que tem verdadeira comunhão com ele? Quando você participa com Deus de algumas coisas em comum. Quando você anda na luz, assim como Deus está na luz. Quando você mostra em seu viver que ama o seu Pai e quer agradá-lo por meio de uma vida santa. Ter comunhão com Deus é ter um relacionamento íntimo e comum com ele. Em outras palavras, é se identificar com o que Deus é e com o que ele faz. Deus é luz (santo) e a conseqüência prática dessa verdade é que devemos andar na luz (em santidade). Andar na luz é o chamado de todos os verdadeiros filhos de Deus (Ef. 5.8). Andar como filhos da luz é mostrar em nossa vida que nós parecemos com Deus, Nosso Pai que é Santo. O filho de Deus que anda na luz é aquele que odeia e abandona o pecado e, ao mesmo, busca uma vida santa e reta diante de Deus (andar na luz = confessar o pecado (v.9); deixar o pecado (Ef.5.3,4); praticar o que é bom (Ef.5.9; 2.10). Quem vive assim mostra que ama a Deus e tem verdadeira comunhão com Deus.

Por outro lado, os que apenas afirmam que têm comunhão com Deus e não se preocupam nem se esforçam para agradar a Deus por meio de uma vida santa, mas vivem no pecado, estão se enganando e, de fato, não têm verdadeira comunhão com Deus. Ouça o que João nos diz no verso 6: “Se dissermos que mantemos comunhão com ele e andarmos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade”. João fala aqui sobre “andar nas trevas”. Enquanto que andar na luz significa viver em santidade diante de Deus, andar nas trevas significa viver uma vida dominada por pecado, isto é, uma vida longe de Deus, pois o pecado causa separação entre Deus e os homens. Andar nas trevas é praticar as obras das trevas (Rm. 13.13). A verdade é que quem pratica as obras das trevas não tem comunhão com Deus, pois Deus é luz. João defende essa verdade contra os falsos mestres que estavam afirmando que conheciam a Deus e tinham comunhão com Ele, mas ao mesmo tempo, estavam vivendo no pecado. As palavras daqueles falsos mestres não eram coerentes com sua maneira de viver. Eles estavam mentindo, pois afirmavam uma coisa que não correspondia à realidade. Eles diziam ter comunhão com Deus, mas estavam andando nas trevas. Eles estavam se enganando, pois mentiram e não praticaram a verdade.

João dirigiu estas palavras primeiramente aos falsos mestres, mas elas se aplicam também na vida de todos aqueles que afirmam que são crentes, que amam a Deus, que tem comunhão com Ele, mas que, ao mesmo tempo, não largam o pecado na sua vida. É impossível viver em comunhão com Deus quando o pecado toma conta da nossa vida (Sl. 5.4; Is. 59.1,2). Pode haver comunhão da luz com as trevas? Não! Eu posso participar dos cultos na igreja e até ser membro, mas se eu vivo no pecado, se ando nas trevas, estou enganando a mim mesmo e não pratico a verdade. Preciso abandonar as obras das trevas e andar na luz para que então eu viva em comunhão com Deus, pois Deus é luz e não há nele treva nenhuma. O Senhor deseja que vivamos em comunhão com Ele andando na luz. Ele abençoa aqueles que andam na luz.

João conclui a mensagem do nosso texto no verso 8 apontando para os benefícios daqueles que, ao contrário dos que andam nas trevas, andam na luz do Senhor: “Se, porém, andarmos na luz, mantemos comunhão uns com os outros e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado”. O primeiro benefício daqueles que andam na luz é desfrutar da comunhão com os outros irmãos. A comunhão que temos com os nossos irmãos não se limita apenas à unidade doutrinária, mas também com a unidade na vida, no comportamento. Cremos na mesma verdade e devemos andar todos juntos de acordo com esta verdade. Temos em comum a participação na luz do Senhor e, portanto, devemos viver em santidade e amor uns para com os outros (Ef. 4.2,3).

O outro benefício dos que andam na luz é a purificação dos pecados pelo sangue de Cristo: “… e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado”. Esta é uma promessa maravilhosa e consoladora para o povo de Deus. O sangue de Jesus é eficaz para purificar de todo pecado aqueles que andam na luz. A verdade é que os que andam na luz, às vezes podem tropeçar e cair. Eles não são perfeitos ainda e, portanto, podem cometer pecados. Ao contrário dos que andam nas trevas, os quais vivem em seus pecados, os que andam na luz, quando pecam, buscam a purificação dos seus pecados no sangue de Cristo. O sangue precioso de Jesus é a provisão de Deus para limpar-nos de todo e qualquer pecado que mancha a nossa comunhão com Deus. O pecado quebra a nossa comunhão com Deus, mas Deus quer viver em comunhão conosco. Por isso ele entregou o seu único Filho na cruz para derramar o seu sangue e garantir para nós o perdão completo dos nossos pecados e a restauração da nossa comunhão com Deus. Por meio de Cristo, temos comunhão com Deus. Ele nos livra da culpa e do poder do pecado e nos santifica para andarmos na luz.

Vamos, então, nos esforçar para andar na luz e viver em gratidão a Deus por nossa salvação. Se porventura, cairmos no pecado, não vamos entrar em desespero nem tampouco continuar no pecado. Vamos correr para Cristo e buscar nele a purificação dos nossos pecados. Seu sangue é poderoso para nos purificar de todo e qualquer pecado. Vamos nos alegrar com o seu perdão e em gratidão, vamos também andar na luz, vivendo em verdadeira comunhão com Deus e com os nossos irmãos.

Amém.

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Elissandro Rabêlo

Bacharel em Teologia pelo CETIRB – Centro de Estudos de Teologia das Igrejas Reformadas do Brasil (Atual Instituto João Calvino) (1999-2004). Fez Convalidação de Teologia na Universidade Mackenzie em São Paulo (2017). Ministro da Palavra e dos Sacramentos da Igreja Reformada do Grande Recife (PE), servindo como Missionário da Igreja Reformada em Fortaleza (CE).

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.