1 João 01.08-10

Leitura: Salmo 51
Texto: 1 João 01.08-10

“Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (I Jo. 1.9).

Amada igreja do Nosso Senhor Jesus Cristo

Os apóstolos sempre cuidaram em combater as heresias de falsos mestres que estavam ameaçando a pureza da doutrina e da conduta dos crentes. O apóstolo João em sua primeira carta preocupou-se em guiar os irmãos na verdade do evangelho e guardá-los dos falsos ensinos que surgiram na época. Alguns falsos mestres estavam semeando ensinamentos e práticas contrárias ao evangelho que os apóstolos receberam de Cristo. João combateu os falsos mestres que negavam tanto a divindade quanto a humanidade de Cristo. Estes falsos mestres também ensinavam que é possível conhecer a Deus e viver em comunhão com Ele independente da maneira que vivemos. João rejeita esse falso ensino e ensina aos irmãos que devemos andar na luz para ter comunhão com Deus (vs. 6,7). João não somente apresenta e rejeita as heresias dos falsos mestres, mas também ensina aos irmãos o caminho que eles devem seguir.

Vemos isso também no nosso texto (7-10). Aqui João apresenta a atitude errada em relação ao pecado (algo que era ensinado pelos falsos mestres) e também atitude correta em relação ao pecado que deve ser tomada pelos irmãos.

Qual o ensino dos falsos mestres em relação ao pecado? Eles chegaram a ponto de negar a existência do pecado na natureza humana (v.8). Não existe pecado na vida dos homens. E por negarem a existência do pecado eles não reconheciam seus pecados. Eles diziam: “não temos pecado nenhum”; “não temos cometido pecado nenhum”. Mas será que essas afirmações são corretas? É claro que não. Por isso João combate esse falso ensino. Ele mostra quais são as conseqüências na vida daqueles que negam a existência do pecado:

v.8: Enganar-se a si mesmo e não está na verdade: Se os irmãos seguissem os falsos ensinos daqueles falsos mestres não só estavam sendo enganados, mas também estavam enganando-se a si mesmos, achando que eram perfeitos e não tinham pecado nenhum.

v.10: Fazer de Deus um mentiroso e negar a verdade da sua palavra: Afirmar que não cometemos pecado é fazer de Deus um mentiroso, pois sua palavra declara claramente que todos são pecadores. A Bíblia diz que o pecado veio da queda e desobediência de Adão e Eva e que todos os seus descendentes herdaram sua natureza pecaminosa (Gn. 3; 6.5; 8.21; Sl.14.3; Ec.7.20; Is.64.6; Rm.3.23). Afirmar que não temos pecado é negar e distorcer a palavra de Deus; é fazer dele um mentiroso e isso é obra de Satanás que é o pai da mentira. Aqueles falsos mestres estavam a serviço de Satanás e o propósito deles era enganar os crentes e desviá-los da verdade.

Será que este problema combatido por João existe também hoje? Em nossos dias, existe também a negação da realidade do pecado? É bem verdade que o contexto de hoje é diferente do contexto de João no primeiro século. Ele combateu um grupo específico de falsos mestres que abertamente negavam a existência do pecado na vida das pessoas. Dificilmente vamos encontrar hoje a negação aberta da existência do pecado. No entanto, ainda hoje há o perigo de se negar a realidade do pecado na vida das pessoas. O pecado não tem sido tratado como realmente é. Há idéias e práticas hoje que parecem negar a existência do pecado. Vejamos alguns exemplos:

Psicólogos modernos e não cristãos: No seu diagnóstico dos problemas psicológicos das pessoas, os psicólogos modernos não levam em conta a palavra de Deus. Não existe esse negócio de pecado. O pecado é visto com uma doença. O paciente não é responsável por seus atos, mas os seus problemas são causados não por causa de sua natureza pecaminosa, mas por causa dos meios sociais, fisiológicos, etc. (ex: homossexualismo; adultério, vícios).

Não pregar abertamente a doutrina bíblica do pecado. Há certas igrejas que não falam sobre o pecado em seus púlpitos. Não se diz que foi o pecado que causou toda miséria que há no mundo, provoca a ira de Deus (Sodoma e Gomorra, dilúvio) levou Cristo à cruz, seus efeitos e conseqüências – morte, inferno. Às vezes até se afirma que o homem tem alguma coisa boa para oferecer a Deus, que ele pode fazer algo de bom para agradar a Deus e ser salvo. Falar sobre pecado, inferno vai assustar as pessoas e afastá-las da igreja. É melhor entreter os ouvintes e falar coisas boas que eles gostam de ouvir.

Mas qual é o resultado disso? Não pregar sobre a profunda miséria do homem é contribuir para a criação de uma geração fria e incrédula que não vê a seriedade e o peso do pecado, mas o vê como algo normal. E a conseqüência disso é que muitos estão se enganando. “Meu pecado não é coisa séria, posso viver com ele e ainda estar com Deus”. Pensamento errado. Precisamos pregar sobre a doutrina do pecado, não para assustar as pessoas, mas para levá-las a Cristo por meio do arrependimento. As pessoas precisam urgentemente ouvir que são pecadoras, que o pecado provoca a ira de Deus, para que elas reconheçam seus pecados e voltem-se para Deus. Necessitamos de avivamento e este começa pelo reconhecimento do pecado. Os grandes avivamentos da história enfatizaram primeiramente a pregação da doutrina do pecado para levar o pecador a reconhecer a sua profunda miséria e sua real necessidade da graça de Deus para ser salvo do seu pecado.

Observe no nosso texto que João não só apresenta o falso ensino dos falsos mestres e suas conseqüências, mas também aponta para a atitude correta que os irmãos devem ter em relação ao pecado. João não nega a realidade do pecado na vida das pessoas, inclusive dos crentes, mas ele nos revela qual é a atitude cristã que o crente deve ter em relação ao pecado. Que atitude é esta? Não é tentar negar ou esconder o pecado, mas reconhecê-lo e confessá-lo a Deus (v.9). João mostra que somos pecadores e afirma que a condição para recebermos perdão dos nossos pecados é confessá-los a Deus.

O que significa confessar os nossos pecados? Confessar – dizer a mesma coisa, concordar com o que a outra pessoa está dizendo. No contexto do nosso texto significa concordar com o que Deus está dizendo a nosso respeito na Bíblia: que somos pecadores e cometemos pecados. Confessar os nossos pecados é reconhecer diante de Deus com profunda tristeza e sinceridade de coração, sem nada esconder, nossa culpa e pecado quando pecamos contra Deus. Foi essa a atitude correta do rei Davi no Salmo 51. Este Salmo é uma confissão sincera de Davi a Deus pelos graves pecados que ele cometeu (adultério e assassinato). Neste salmo, Davi reconhece a realidade natural do pecado na sua vida (v.5); ele reconhece que pecou contra Deus (3,4); ele clama pela misericórdia de Deus para receber perdão (1,2). O que vemos aqui não é uma confissão superficial de pecado, mas uma confissão sincera de um coração profundamente arrependido e entristecido por ter pecado contra Deus. Aquele que é nascido de novo pelo Espírito é levado a reconhecer seus pecados, chorar por eles e confessá-los a Deus. Deus quer isso de nós. Ele não quer que escondamos nossos pecados ou continuemos nele. Ele que ver arrependimento e tristeza pelo pecado. Ele se agrada disso (Sl. 51.17). Ele quer ouvir nossa confissão sincera e nos conceder o seu rico perdão.

Devemos confessar os nossos pecados a Deus. Mas há situações em que também devemos confessar nossos pecados uns aos outros. Alguns exemplos: devemos confessar nossos pecados e pedir perdão àqueles que foram prejudicados pelos nossos pecados. Existe também a confissão voluntária dos pecados uns aos outros para orar uns pelos outros (Tg. 5.16). Em casos de pecados públicos, é necessária a confissão publica de pecado (Ex: Sl. 51 é uma confissão pública de Davi do seu pecado de adultério com Bate Seba, pecado este que era conhecido por todo o Israel).

Pela confissão sincera dos nossos pecados somos beneficiados com perdão gracioso de Deus (v.9). O que é o perdão de Deus? Perdoar – abandonar, cancelar, esquecer os nossos pecados. Quando Deus nos perdoa, ele apaga as nossas transgressões e nos considera limpos e purificados. Por que Deus faz isso? Ele vê algo de bom em nós? Somos merecedores do seu perdão? Nada disso. A base e garantia do perdão que Deus nos dá não está em nós mesmos, mas nele somente. Deus nos perdoa porque ele é fiel e justo para nos perdoar.

Deus é fiel para nos perdoar os pecados: A fidelidade de Deus é a base do nosso perdão. Fidelidade é uma qualidade essencial de Deus (II Tm. 2.13). Fidelidade de Deus para com o seu povo se manifesta na sua aliança. Deus fez uma aliança com o seu povo e ele é sempre fiel. Ele cumpre a sua palavra. Ele prometeu perdão dos pecados para os seus filhos (Jr.33.8; Mq. 7.18-20). João se baseia nestas promessas ao afirmar que Deus é fiel. A fidelidade de Deus é um encorajamento para confessarmos a ele os nossos pecados e buscarmos nele o perdão que ele nos promete em sua palavra. Deus é fiel às suas promessas.

Deus é justo para nos perdoar os pecados: Deus sempre fará o que é justo. Falando sobre justiça, podemos pensar somente em termos de castigo e não de perdão para os pecadores. Deus não inocenta o culpado, pois ele é justo. Aquele que pecou tem de pagar pelos seus pecados. Mas aqui João liga a justiça de Deus ao perdão do pecado. Como pode Deus manifestar sua justiça ao perdoar os nossos pecados? A resposta a esta pergunta está na cruz do Calvário. Ali, o Filho de Deus cumpriu a justiça do Pai derramando o seu sangue para nos purificar de todo pecado. Deus é justo para nos perdoar os pecados, porque Cristo morreu em nosso lugar e pagou o preço da nossa redenção. Por meio da morte de Cristo, Deus manifesta a sua justiça ao perdoar os nossos pecados (Rm.3.23-26). Cristo levou sobe si as nossas iniqüidades, o castigo que nos traz a paz estava sobre ele e pelas suas pisaduras fomos sarados (Is. 53). Ao mesmo tempo em que derramou sobre seu Filho a sua justa ira por causa dos nossos pecados, Deus Pai derramou sobre nós sua grande misericórdia em nos perdoar (II Co.5.21).

Você reconhece o grande amor de Deus em entregar o seu Filho na cruz para morrer pelos seus pecados e te conceder perdão? Você crê que Deus te perdoa quando você confessa a ele os seus pecados? O que o evangelho do perdão gracioso de Deus significa para sua vida? Quando você reconhece os seus pecados e os confessa a Deus e tem a certeza de que ele te perdoou, então você só pode fazer o seguinte:

Alegrar-se e consolar-se com o perdão de Deus. O pecado tira a nossa alegria da fé e nos deixa com a consciência pesada diante de Deus. Quando o confessamos a Deus, ele nos dá alegria da salvação. Foi isso que Davi pediu a Deus e recebeu (Sl. 51.12; Sl. 32.1,2, 11). Como está sua vida? Há pecados ocultos que precisam ser confessados e abandonados? Não continuem a viver neles nem tentem escondê-los, mas reconheça-os, confesse-os a Deus e volte a receber do SENHOR a alegria da sua salvação. É um grande consolo saber que o sangue de Cristo nos purifica de todo pecado.

Abandonar os pecados para viver em gratidão a Deus pelo seu perdão gracioso (Pv. 28.13; Jo. 8.11). O perdão de Deus não é incentivo para continuarmos pecando, mas é uma manifestação da graça de Deus que nos motiva a viver uma vida santa.

Compartilhar da graça de Deus em nos perdoar com aqueles que ainda não conhecem o perdão de Deus (Sl.51.13-15). Somos chamados a proclamar a justiça e a fidelidade de Deus em perdoar pecadores por meio do Seu Filho Jesus Cristo. Devemos pregar e ensinar as pessoas ao nosso redor, a começar pelos nossos filhos, que eles são pecadores e que em Cristo há perdão e vida eterna para eles, se tão somente se arrependerem e crerem nele de todo o coração.

Amém.

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Elissandro Rabêlo

Bacharel em Teologia pelo CETIRB – Centro de Estudos de Teologia das Igrejas Reformadas do Brasil (Atual Instituto João Calvino) (1999-2004). Fez Convalidação de Teologia na Universidade Mackenzie em São Paulo (2017). Ministro da Palavra e dos Sacramentos da Igreja Reformada do Grande Recife (PE), servindo como Missionário da Igreja Reformada em Fortaleza (CE).

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.