Salmo 11

Texto: Salmo 11.

Amados irmãos em nosso Senhor Jesus Cristo, ao lermos este Salmo, imagino que vocês devem ter percebido que este Salmo está relacionado com um período de crise.

Este é um Salmo de Davi, por isso alguns estudiosos tem sugerido que a crise aqui mencionada refere-se ao período em que Davi fugia de Saul que o queria matar.

Já outros, dizem tratar-se do tempo em que Absalão, um dos filhos de Davi, promoveu uma rebelião para assumir o reino.

Mas a verdade é que não há como chegarmos a uma conclusão sobre o período específico com o qual o Salmo possa estar vinculado.

No entanto, todos concordam: o Salmo descreve um período de crise. A vida de Davi estava em perigo, inimigos o queriam destruir, amigos lhe ofereceram conselhos desanimadores, os fundamentos estavam ruindo aponto de surgir a pergunta: Numa situação de crise como esta, o que o justo pode fazer?

Ao ouvir esta palavra, “crise”, talvez você pense sobre a situação pela qual o Brasil passa neste momento. Talvez você diga: estamos em uma crise moral e social. A impunidade, a injustiça, a violência, a imoralidade se apresentam de formas cada vez mais evidentes. Há dificuldades no que diz respeito a economia, o dolar aumentou, a bolsa despencou. E talvez, o que mais assusta não só os brasileiro, mas o mundo inteiro, é o coronavírus.

Nossa fragilidade fica cada vez ais evidente. Os fundamentos da nação parecem prontos a ruir.

Numa situação de crise como esta, o que os justos podem fazer?

Ou pode ser que ao ouvir esta palavra “crise”, você tenham pensado sobre situações específicas de sua vida, no passado ou no presente. Talvez você esteja vivendo um momento em que sua impressão é de que sua vida está ruindo. E uma pergunta provável é esta: O que posso fazer em meio a uma crise como esta?

No Salmo 11, temos uma resposta. Por isso, devemos voltar a nossa atenção a este Salmo. Observem que este Salmo tem duas partes principais:

Em primeiro lugar, nos vv. 1-3, temos uma descrição da crise. É onde encontramos conselhos desanimadores;
Em segundo lugar, nos vv. 4-7, temos uma reação confiante e uma esperança final.

Por isso, eu vos anuncio a Palavra de Deus nesta tarde sob o seguinte tema: Deus é refúgio em tempos de crise.

  1. A crise experimentada pelo salmista (vv.1-3, ler).
    Nos versículos 1-3, tomamos conhecimento da crise vivenciada por Davi, através dos conselhos que ele recebe.

Não nos é dito de forma direta se os conselheiros são amigos ou inimigos. Se considerarmos os vv.2-3 como parte do conselho, chegaremos à conclusão que apesar desses conselhos não serem sábios, eles foram formulados por amigos.

A vida de Davi estava em perigo. Seus inimigos são descritos como “ímpios”. Este termo aparece nos vv.5 e 6 (perversos). Descobrimos assim que a crise aqui descrita está relacionada com a antítese, a oposição dos ímpios contra os justos.

Os ímpios são descritos como aqueles que “amam a violência” (v.5), por isso, estão prontos para atacar e destruir a vida de Davi. Esta prontidão para fazer o mal, é descrita através da seguinte metáfora: é como se Davi fosse um pássaro, e os ímpios fossem caçadores. O perigo não era pequeno.

No v. 2, a imagem é de um caçador que pisa no arco a fim de dobrá-lo para colocar a corda, que depois coloca a flecha na corda, e mira no seu alvo. Como caçador, ele fica à espreita, não se revela, mas dispara às ocultas.

Em termos mais modernos poderíamos dizer, os ímpios inimigos de Davi, eram como um sniper, escondido na vegetação e pronto para atirar.

Os conselheiros de Davi estavam lhe dizendo, você está sob a mira dos caçadores, eles estão escondidos e vão acertar você.

À luz desse grande perigo eminente, a solução apresentada é esta: fuja. Assim como um pássaro ao perceber a presença de caçadores foge para as montanhas, fuja você também para a montanha. Aqui hebraico temos um plural, e por isso, tem sido sugerido que Davi deveria fugir com os que lhe estavam mais próximos, talvez para algum esconderijo específico.

A expressão “Foge como pássaro para o teu monte” pode ter relação com um tipo de provérbio popular, como que a indicar, que numa situação assim, a única coisa a fazer é fugir.

Davi é encorajado a fugir não somente por causa da violência dos inimigos ímpios, mas também por causa da gravidade da situação. No v. 3, se diz: “Ora, destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo?”

“Fundamentos” se referem à fundação, aquilo que é elemento básico, essencial. Em Isaías 19.10, a mesma palavra hebraica aparece, ali lemos em uma profecia contra o Egito, o seguinte: “Os seus grandes serão esmagados, e todos os jornaleiros andarão de alma entristecida.” “Grandes” refere-se aos líderes, aqueles que sustentavam a sociedade egípcia.

“Fundamentos” aqui no Salmo 11 refere-se aos fundamentos da sociedade, seus líderes e toda estrutura social. Os conselheiros de Davi estão dizendo os fundamentos da sociedade estão destruídos, o que o justo pode fazer diante disso se não fugir? Ou colocando de outra forma: Quando a anarquia é dominante, nenhum esforço vale a pena.

Pode ser que os conselhos foram bem intencionados. Porém, são conselhos ruins, conselhos desanimadores. Conselhos que apresentam uma perspectiva pessimista, que apresentam como motivos para a fuga, tanto a violência dos inimigos como o abalo das estruturas mais básicas. Conselhos que dizem: não há o que fazer, senão fugir.

Como Davi respondeu a esses conselhos? O que podemos fazer quando nos encontramos em perigo? Quanto temos de enfrentar a oposição e o confronto com os ímpios? O que fazer quando os fundamentos da sociedade estão em ruínas?

Aos conselhos do medo, Davi respondeu com confiança. Ele rejeitou esses conselhos como irracionais. Ele não precisava fugir ou temer, não precisava de outro refúgio. Neste momento de crise, Davi confessou: “No SENHOR me refugio.” Davi sabia estar seguro em Deus.

Amados irmãos, o que podemos fazer quando as leis não são respeitadas, quando a moralidade é prejudicada e o mal não é controlado? O que podemos fazer quando tudo ao nosso redor parece estar cedendo? Alguns dirão, devemos nos esconder, mas a resposta de Davi foi esta: devemos nos refugiar em Deus.

O que os justos podem fazer em tempos de crise? Eles podem continuar sendo justos. E eles podem resistir ao mal de sua sociedade se refugiando em Deus. Vivendo nEle e para Ele. Assim sendo, mesmo que o mal nos atinja, não será capaz de nos destruir de forma completa final, Deus é nosso refúgio e não permitirá que nada nos aconteça que não esteja dentro de Seus planos muito sábios e bons para nós.

  1. A confiança demonstrada pelo salmista (vv.4-7).
    Enquanto nos versículos anteriores, Davi confessou o SENHOR como seu refúgio, nesses versículos ele oferece as razões para sua confiança.

Nos Salmos se espera depois de uma descrição de perigos, uma oração. Porém temos aqui uma confissão.

A resposta de Davi, utiliza os termos do conselho recebido, isto é, o de buscar refúgio. Ele diz: Não fugirei para a montanha, mas para o SENHOR.

O Salmo abra a cortina para que vejamos o que está por trás das coisas e revela uma escala diferente de valores e uma compreensão da realidade.

Davi nos faz olhar para o céu. O SENHOR, o Deus da aliança está no seu santo templo. Aqui refere-se à sua habitação celestial. Templo também pode ser traduzido por palácio. O SENHOR está assentando no trono do universo. Ele é Rei, é governante soberano. As coisas não sairão como desejam os inimigos de Davi, mas como o Rei Todo-Poderoso determinar. Ele é o verdadeiro Rei, e está assentado no trono, não precisa se refugiar. O trono de Deus não vacila.

Este Rei, apesar de ter Seu trono nos céus, conhece tudo que acontece na terra. Os seus olhos estão atentos. A imagem aqui é aquela quando nós fechamos um pouco os nossos olhos para fixar a vista em determinada direção. O SENHOR é Onisciente, Ele sabe todas as coisas.

Mas Davi também nos diz que as pálpebras do SENHOR sondam os filhos dos homens. Isto quer dizer que seu olhar é capaz de ver muito além das meras ações. Sondar é um termo usado para o processo de verificar a pureza do ouro, ele é provado. Deus sonda as intenções do coração dos homens. Ele é Justo Juiz.

Ele sonda (coloca à prova) não somente os ímpios, mas também os justos. Ele sabe quem são, e Ele os descrimina. O fato dele sondar, mostra que Ele sabe de tudo. Sua paciência, a aparente demora em agir, oferece oportunidades tanto para o ímpio quando para o justo revelarem o que são.

Como Juiz ele abomina àqueles que amam a violência, Ele os rejeita do mais íntimo do seu Ser. Por isso, Ele fará chover sobre os ímpios (perversos) brasas ardentes e enxofre incandecente.

Fogo e enxofre são referências a Gênesis 19.24, foram meios pelos quais Sodoma foi destruída. Você já deve ter percebido que quando a Escritura faz menção a Sodoma, o faz para trazer a lembrança que o juízo de Deus pode chegar de forma final e repentina.

O vento abrasador, descreve um vento quente, apontado aqui como uma porção que cabe ao ímpio receber como parte do juízo de Deus.

Os ímpios se preparavam para atacar, mas eles é que seriam atacados. Assim o mesmo juízo chegará a todos os ímpios.

Ao medo imposto pela crise, aos maus conselhos, ao perigo iminente, se sobrepõe as perfeições do Ser de Deus. Ele está acima de tudo isso.

O rei que se assenta no trono do Universo não é só Onisciente e Todo-Poderoso, Ele é Justo e ama a justiça. Por isso, os justos que nele se refugiam, podem ter a certeza de que estão seguros, de que o SENHOR lhes preservará.

A expressão “lhe contemplarão a face”, indica que o SENHOR se revelará a eles por meio da salvação que lhe concederá. Mas, isso aponta para a vitória final, quando contemplaremos a Deus na face de Jesus Cristo.

Ao olhar para os vv. 4-7, a cena desesperadora dos vv.1-3 fica reduzida a nada. O nome do SENHOR (YHaWeH, o Deus da aliança) aparece aqui de forma enfática, duas vezes, a fim de nos encorajar a romper com a incredulidade e a incerteza, e a olhar para a realidade de que há um trono nos céus e o que se assenta sobre Ele é o Justo Juiz.

A pergunta “O que pode fazer o justo” pode ser respondida agora. De si mesmo, nada. Mas o justo pode confiar me Deus. O Deus que é Todo-Poderoso e Justo. Soberano e Juiz. Os fundamentos da vida estão nas mãos firmes de Deus e não ruirão. Ele tem seus olhos nos homens, Ele sabe tudo que acontece e dirige tudo.

Aqui nos é útil saber a origem da palavra “crise”. É uma palavra grega, usada pelos médicos antigos com um sentido particular. Quando o doente, depois de medicado, entrava em crise, era sinal de que haveria um desfecho: a cura ou a morte. Crise significa separação, decisão, definição.

Assim, podemos dizer que quando enfrentamos uma crise, isso revelará quem somos, em quem confiamos, quais os fundamentos de nossa vida, qual a disposição do nosso coração. Na crise se evidencia se somos capazes de olhar para além dos recursos terrenos. Quem é nosso Deus de fato.

Irmãos, quando vocês tiverem de enfrentar crises, não temam, nem se desesperem com conselhos amedrontadores. Corram para Deus, refugiem-se nEle.

Ainda que os fundamentos se abalem, Deus está no trono, ainda que os inimigos estejam na escuridão, Deus vê, ainda que os perversos hajam impunemente, o juízo cairá sobre eles.

Portanto, não há porque fugir ou temer aqueles que se encontram sob o julgamento do SENHOR. Deus é o nosso refúgio seja no âmbito pessoal, seja no âmbito da nação. Não sabemos o desfecho do que sucederá ao nosso país nos próximos meses. Há um clima de incerteza, há injustiça, ameaças, riscos, medo e muito mais. Mas apesar de não sabermos o futuro, sabemos isso: Deus é nosso refúgio, e Ele é o Juíz de toda terra.

Mas como Ele pode ser o refúgio de quem merecia brasa de fogo e enxofre? Como nós que éramos ímpios, podemos ser considerados justos e termos o privilégio de nos refugiarmos em Deus? A resposta é Cristo.

O nosso Salvador que foi odiado pelos ímpios, que lhe armaram armadilhas, e que às ocultas dispararam contra ele. O nosso Salvador que sendo provado por Deus não se achou nEle dolo algum. Mas que mesmo assim, foi rejeitado na cruz com os violentos.

Nosso Salvador que buscou refugio, mas teve de confessar: Deus meu, Deus meu, por que me desamparastes? O nosso Salvador que experimentou o juízo de Deus contra os ímpios. Caíram sobre Ele brasas de fogo e enxofre. Ele bebeu até a última gota o cálice amargo da ira de Deus em nosso lugar.

Sim, porque o SENHOR ama a justiça, Ele precisou satisfazer a justiça do SENHOR. Isso para que o SENHOR nos fosse um Refúgio, e que pudéssemos contemplar Sua face.

Então sejam quais forem os resultados das crises pelas quais você passar, você pode ter a certeza de que o SENHOR será para você um refúgio. Na vida e na morte. Ele nunca lhe desamparará, Ele promete no Evangelho ser para sempre o teu Refúgio.

Então não temas. Não desanime. Em Cristo Jesus, o Rei que é Juiz, o Justo que ama a justiça, o Onisciente e Todo-Poderoso é teu Refúgio. De modo que você pode ter certeza, que mesmo que todos os fundamentos se abalem, mesmo que os ímpios armem o arco, mesmo que você recebe maus conselhos, mesmo que você seja fraco e limitado, você está seguro: Deus é um Refúgio suficiente, hoje, amanhã e sempre.

Amém!

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Elienai Batista

O Pastor Elienai Batista está servido como ministro da Palavra desde dezembro de 1998. Até o momento, pela graça de Deus, ele tem contribuído para a plantação de três igrejas reformadas: Igreja Reformada em Cabo Frio-RJ (2001-2013); Igreja Reformada do IPSEP, Recife-PE (2013-2016); Igreja Reformada em Paulista-PE (2016-2019). Atualmente possue um trabalho missionário na cidade de Campinas-SP.

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.