Marcos 15.34

Leitura: Salmo 22; Dia do Senhor 15; Marcos 15.16-37
Texto: Marcos 15.34

Amados irmãos no Senhor Jesus Cristo

Toda a vida de Jesus foi marcada por sofrimento e humilhação. Da manjedoura em Belém até a cruz do Calvário, ele sofreu. Ele nasceu entre os animais enquanto nascemos em bons hospitais. Ainda bem pequeno, teve de fugir com seus pais para o Egito a fim de não ser morto pelo rei Herodes. Foi tentado por Satanás no deserto. Sofreu oposição dos líderes religiosos da época e não foi recebido pelo seu próprio povo. Foi abandonado por seus discípulos. Um deles o traiu e outro o negou. Angustiou-se profundamente no jardim do Getsêmani, pois sabia que sua hora estava se aproximando. Foi condenado inocentemente e entregue para ser crucificado.

Puseram-lhe uma coroa de espinhos na sua cabeça para machucá-lo. Bateram nele. Deram-lhe chicotadas. Cuspiram no seu rosto. Uma terrível humilhação. Colocaram uma cruz pesada sobre seus ombros e ele foi cambaleando pelas ruas de Jerusalém. Precisou da ajuda de Simão Cireneu para carregar a cruz. As mulheres que assistiam seu sofrimento ficaram chocadas e choraram diante de sua dor. Mas ele disse pra elas: “Filhas de Jerusalém! Não chorem por mim; chorem por vocês e por seus filhos”! (Lc. 23.28). Chegando ao Calvário, Jesus foi pendurado na cruz. Cravaram-lhe pregos nas mãos e nos pés e o penduraram na cruz. Das nove da manhã ás três da tarde, ele continuou sofrendo na cruz. Oh! Quanta dor e agonia o Senhor passou naquele dia!

Depois de toda a humilhação sofrida nas mãos dos judeus e romanos, o Senhor teve ainda de suportar em cima daquela cruz maldita, seis horas de angústia e aflição. Na cruz, Jesus foi blasfemado e escarnecido pelos principais sacerdotes e escribas, pelos soldados romanos e pelos dois ladrões que foram crucificados com ele, antes de um deles se arrepender (29-32). Seus discípulos fugiram e o abandonaram. Tudo isso foi muito doloroso para o Senhor. Mas o pior de tudo ainda estava por vir. Jesus não foi abandonado somente pela terra. Ele também foi abandonado pelo céu. Em outras palavras: O Seu próprio Pai o abandonou naquela hora de grande aflição. Isso é evidente no seu grito de dor: “Meu Deus! Meu Deus! Por que me desamparaste?”

Você já parou para refletir neste clamor de dor que Jesus proferiu na cruz? Por que Jesus falou estas palavras? Por que ele foi abandonado por Seu Pai? O que essas palavras de Cristo tem a ver conosco? Aqui nós temos a quarta palavra da cruz proferida pelo Senhor um pouco antes de dar seu último suspiro. Essas palavras são surpreendentes porque elas não foram ditas por homem algum, mas pelo próprio Filho de Deus que esteve com o Pai na eternidade e a quem o Pai amava com amor infinito. Essas palavras nos revelam o profundo sofrimento pelo qual Cristo passou naquela cruz. Elas indicam que Jesus desceu ao inferno, que ele veio para sofrer e que ali na cruz foi o ponto máximo do seu sofrimento.

Meus irmãos! Na cruz, em meio à dor e ao sofrimento, Jesus sentiu-se totalmente abandonado por Seu Pai. Por isso, o seu grito de angústia e agonia: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”. Vejamos as seguintes observações sobre este grito agonizante do Senhor Jesus:

Em primeiro lugar, o clamor agonizante de Jesus na cruz foi o cumprimento da profecia messiânica do Salmo 22. O grito de dor do Senhor constitui as palavras iniciais deste salmo (Sl. 22.1). Este salmo foi escrito pelo rei Davi num momento de desprezo e zombaria diante dos seus inimigos, onde Davi sentiu-se desamparado por Deus. Mas este salmo traz uma mensagem além de Davi. Embora descreva seu próprio sofrimento, Davi está profetizando o sofrimento do Messias. Salmo 22 é um salmo messiânico que expressa os sofrimentos de Cristo que morreu nas mãos de homens perversos. Jesus conheceu a realidade de um abandono total da parte de Deus, o que foi apenas parcial no caso de Davi. No lugar de Davi e de todo povo de Deus, Jesus, o Filho de Davi, suportou a ira de Deus sobre o pecado. Até naquela hora de angústia e dor, Jesus lembrou que seu sofrimento era o cumprimento das profecias do AT em favor da redenção do seu povo.

A segunda coisa que aprendemos desse grito de dor de Jesus na cruz é que o mesmo foi motivo de zombaria e humilhação pelos que o ouviram. Jesus gritou em alta voz palavras claras e conhecidas. Ele gritou em aramaico que era um idioma conhecido e falado pelos judeus da sua época. Evidentemente que os judeus que ali estavam entenderam o que Jesus falou, pois conheciam o aramaico e também o salmo 22. Mas qual foi a reação deles ao ouvirem o clamor de Jesus? (ler versos 35 e 36). Juntamente com os soldados romanos que ali estavam, os judeus incrédulos continuaram zombando do Senhor. Eles transformaram o clamor de Jesus numa piada de mau gosto. Jesus gritou: “Eloí, Eloí; e eles disseram: “Vede, chama por Elias!”. Eles trocaram a palavra “Eloí” (Deus de mim) pela palavra parecida “Elias”. O clamor de Jesus não os levou ao arrependimento nem a reconhecer fidelidade de Deus em cumprir a profecia do Salmo 22. Mas eles continuaram escarnecendo do Senhor. “Vejamos se Elias vem para tirá-lo”.

Em terceiro lugar, aprendemos que o grito de dor de Jesus na cruz indicou que o desamparo que ele recebeu do Pai foi o inferno para ele. “Por que me desamparaste?” Quem pode compreender essas palavras? Jesus havia vivido com o sorriso do Pai sobre ele por toda a sua vida. Na noite anterior à sua morte ele havia dito que os discípulos o deixariam, mas o Pai estaria com Ele (Jo. 16.32). Mas agora se sente totalmente desamparado por todos. Seus amigos o deixaram. Não havia nenhum anjo para ampará-lo como aconteceu no Getsêmani e no deserto após a tentação.

E o pior de tudo. Seu próprio Pai virou o rosto para ele e o desamparou na cruz. Você sabe o que significa ser abandonado por Deus? Isso não é outra coisa senão o próprio inferno. Jesus foi desamparado pelo Pai. Ele desceu ao inferno. Alguns dizem que ele foi literalmente ao inferno depois da sua morte. Mas a Bíblia afirma que ao morrer, Jesus entregou seu espírito a Deus (Lc. 23.43). Seu espírito foi para o céu. Mas na cruz, Jesus experimentou o inferno. Alguns dizem que o inferno não existe e, se existe, significa a ausência de Deus. Mas como isso combina com o fato de Deus ser onipresente, ou seja, estar em todo lugar? Podemos dizer que o inferno é a ausência de Deus em sua graça e misericórdia. Porém, o inferno é também a presença de Deus em sua ira e castigo contra os pecados. Que lugar terrível é o inferno. É um lugar de choro e ranger de dentes! Um lugar de agonia! Um lugar de intenso e constante sofrimento! Como é terrível pensar que qualquer um de nós poderia estar lá! Não podemos imaginar quão terrível é o inferno! Mas Jesus sabe o que é o inferno. Ele foi desamparado corpo e alma por seu Pai e recebeu sua ira e castigo. O inferno é uma terrível realidade e somente os que se apegam a Cristo pela fé serão libertos do inferno de fogo. Quem não tem o Filho, sobre Ele permanece a ira de Deus, mas o que nele crê terá a vida eterna (Jo. 3.36).

Outra coisa que aprendemos é que o abandono de Jesus pelo Pai foi necessário para nossa salvação. Quando abandonou Seu Filho na cruz, teria o Pai de amor deixado de amar Seu Filho Amado em quem ele tinha prazer? Deus odiou a Cristo naquele momento? Não é isso! Não foi falta de amor da parte de Deus. O Pai sempre amou o Filho. Jesus sabia que seu Pai o amava. Mas ele também sabia porque estava sendo desamparado por Seu Pai naquela hora de angústia e dor. Seu grito não foi um grito de desespero ou de falta de confiança no Pai. Ele gritou por causa da dor e do sofrimento que o afligia na hora da sua morte. Pois ele estava carregando sobre si o peso dos nossos pecados. Ele estava bebendo o cálice da ira de Deus contra os nossos pecados. “Ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is. 53.4). Por isso ele foi desamparado. Para sermos redimidos do pecado.

Jesus sabia que fora enviado para aquele momento. Ele veio para sofrer o castigo de Deus pelos pecados do seu povo e entregar sua vida por eles a fim de que fossem salvos. Ele sabia que o cálice da ira de Deus cairia sobre Ele e voluntariamente se submeteu a isso. Por isso ele foi desamparado pelo Pai. Sua morte não aconteceu por um acidente, mas foi o resultado do plano redentivo de Deus para nossa salvação. Ao desamparar seu Filho na cruz, Deus fez cair sobre ele a sua ira a fim de derramar sobre nós, pecadores culpados e dignos da condenação eterna, sua graça e misericórdia. Por seu sofrimento e morte, Cristo nos livrou da condenação eterna e conquistou para nós eterna salvação. Ele foi desamparado em favor da nossa salvação. O profeta Isaías disse que “ao Pai agradou ao moê-lo”… (Is. 53.10). Por quê? Porque agradou ao Pai salvar pecadores. Porque foi da vontade graciosa de Deus nos reconciliar consigo por meio do sacrifício e da morte do Seu Filho! Quão grande é o amor e a graça de Deus por nós pecadores! Quão grande o amor de Cristo por nós!

Meus irmãos! Jesus foi punido em nosso lugar. Por isso ele clamou em agonia: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” O evangelho responde: Porque Deus é justo e castiga o pecado! Porque Deus nos amou e entregou seu Filho para morrer em nosso lugar a fim de nunca mais sermos abandonados por Deus. Para nos tornar filhos de Deus. Para nos livrar do inferno e nos levar ao paraíso um dia. Ele foi abandonado na cruz pelo Pai, para você ser recebido no céu. Ele tomou cálice da ira de Deus para dar a você o cálice da benção e da salvação. Seu sangue foi derramado e seu corpo entregue na cruz para te dá perdão e vida eterna. A santa ceia nos testifica essa realidade graciosa e salvífica.

Você tem refletido no amor de Cristo por você? Você reconhece como é grande o amor de Deus por você? O que você tem feito como cristão? Onde está a sua alegria, a sua gratidão a Deus? É o seu prazer viver para aquele que viveu, sofreu e morreu por você? Meus irmãos! Que o amor de Cristo nos constranja! Que tudo o que ele fez por nós, sua obediência, o seu sofrimento, nos leve a amá-lo de todo o nosso coração. Que sejamos totalmente devotados ao Senhor e não poupemos qualquer sacrifício para servir a Cristo em amor. Ele poupou qualquer sacrifício para nos salvar? Não! Ele não fugiu da cruz. Aceitou voluntariamente todo sofrimento pelo qual passou. “Pai, não seja como eu quero e sim como tu queres”! Ele cumpriu perfeitamente a vontade do Pai para nossa salvação. Porque nos amou! Porque quis nos salvar por sua graça! Vamos ser crentes agradecidos! Vamos usar os nossos dons com vontade e alegria na igreja! Vamos corrigir nossas vidas, deixar o pecado e guardar os mandamentos do Senhor! Vamos nos alegrar no seu dia e buscar o seu reino e a sua justiça em primeiro lugar! Vamos sentar-se à sua mesa com fé e ações de graças! Nosso Pai Celestial se alegrará conosco pela gratidão que mostramos a Ele pela salvação que Cristo ganhou pra nós através do seu sofrimento e morte na cruz.

Amém.

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Elissandro Rabêlo

Bacharel em Teologia pelo CETIRB – Centro de Estudos de Teologia das Igrejas Reformadas do Brasil (Atual Instituto João Calvino) (1999-2004). Fez Convalidação de Teologia na Universidade Mackenzie em São Paulo (2017). Ministro da Palavra e dos Sacramentos da Igreja Reformada do Grande Recife (PE), servindo como Missionário da Igreja Reformada em Fortaleza (CE).

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.