Marcos 01.21-28

Leitura: Marcos 01-16-34
Texto: Marcos 01.21-28

Amados irmãos no Senhor Jesus Cristo e prezados ouvintes

O Senhor Jesus tinha acabado de chamar seus primeiros quatro discípulos a fim de prepará-los para pregarem o evangelho com ele (Mc. 1.16-20). E o primeiro treinamento aconteceu num dia de sábado na sinagoga de Cafarnaum. Jesus se dirigiu com seus discípulos para ensinar na sinagoga daquela cidade. Cafarnaum era uma cidade importante da Galiléia onde Jesus morou por algum tempo. Ali Jesus começou seu ministério e realizou muitas obras (chamou discípulos, ensinou, pregou, expulsou demônios e curou muitos enfermos).

Nosso texto mostra duas ações importantes que Jesus fez logo que chegou na sinagoga de Cafarnaum: ele ensinou (v.21) e também expulsou o demônio de um homem (vss.25,26). Perceba que o propósito de Marcos nesse texto não é simplesmente relatar o que Jesus fez na sinagoga de Cafarnaum, mas mostrar que Jesus de Nazaré é o Filho de Deus que tem toda autoridade para realizar a obra da salvação que o Pai lhe deu para fazer. Jesus não é mais um profeta em Israel. Ele é o Filho de Deus que foi ungido pelo Espírito Santo e, portanto, tem todo poder para salvar pecadores. Esse é o objetivo do evangelho de Marcos: Mostrar a autoridade de Jesus como Filho de Deus (Mc.1.1; 2.10,28; 3.11;5.7; 9.7; 14.62). Nosso texto mostra claramente Jesus manifestando a sua autoridade entre os homens. Ouça o evangelho de Cristo no seguinte tema:

CRISTO EXERCE A SUA AUTORIDADE COMO FILHO DE DEUS

1) No seu ensino (vss.21,22)
2) Sobre um espírito maligno (vss.23-27)

1) Cristo exerce a sua autoridade como Filho de Deus no seu ensino (vss.21,22)

No verso 21 lemos o seguinte: “Depois, entraram em Cafarnaum, e, logo no sábado, foi ele ensinar na sinagoga”. Aqui Marcos nos revela alguns detalhes importantes sobre o ensino de Jesus. Note em primeiro lugar, o grande interesse de Jesus em aproveitar o dia do Senhor para ensinar os seus ouvintes: “logo no sábado”, quer dizer, imediatamente, ele não perdeu tempo, mas aproveitou a oportunidade para ensinar no dia do Senhor. Ensinar a palavra de Deus foi uma das prioridades de Cristo. Ele fez isso não só nos sábados nas sinagogas, mas a cada dia do seu ministério e em todos os lugares. Jesus não reuniu grandes multidões e nem entrava nas sinagogas para fazer uma sessão de cura, mas para ensinar o caminho da salvação, mostrar pela palavra que o reino de Deus chegou com Ele, que ele era o Filho de Deus que veio trazer a salvação. Ele sabia que em menos de três anos ele seria pendurado na cruz. Por isso ele não perdeu tempo, mas logo chamou os seus discípulos e ensinava o evangelho a todos.

Em segundo lugar, perceba o lugar em que Jesus ensinava: na sinagoga de Cafarnaum. A sinagoga era um local de reunião que existia em cada cidade onde residiam judeus nos dias de Jesus. Os judeus não podiam adorar todos os dias no templo de Jerusalém, pois estavam espalhados em várias cidades dentro do império romano. Por isso criaram as sinagogas para se reunir a fim de orar e estudar o Antigo Testamento. Os dirigentes eram professores da lei ou mestres, também chamados de escribas. Nestas reuniões da sinagoga, após a leitura da lei e os profetas, era comum dar oportunidade aos homens judeus presentes para trazer alguma explicação ou encorajamento com base no que foi lido (At.13.15).

Jesus se aproveitou dessa prática e regularmente visitava as sinagogas não só para ouvir a leitura da palavra de Deus, mas para ensiná-la a todos (Lucas 4.16-21). Mas o que aconteceu quando as pessoas viram um homem humilde da cidade de Nazaré, filho de um carpinteiro, ensinando e explicando a palavra de Deus? “Maravilhavam-se da sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas” (v.22). O jeito de Jesus ensinar provocou assombro nos seus ouvintes. Literalmente eles ficaram fora de si, perplexos, pois não tinham ouvido nada igual antes. Estavam diante de algo extraordinário: Um homem simples de Nazaré que não veio de nenhuma família nobre, que não tinha formação acadêmica reconhecida, que não fazia parte de nenhum partido judaico influente como os fariseus, mas que ensinava com sabedoria e autoridade. Na sinagoga de Nazaré, houve admiração por causa da sua sabedoria (Mc.6.1-6). Mas aqui em Mc.1.22, o que provocou a admiração dos ouvintes de Cafarnaum é que Jesus ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas.

Qual era então a diferença fundamental entre o ensino de Jesus e o ensino dos mestres da lei (escribas)? Segundo os evangelhos, o contraste do ensino de Jesus com o dos escribas é evidentes nos seguintes aspectos: Em primeiro lugar, há uma diferença quanto ao conteúdo do ensino. Enquanto Jesus se ocupava de assuntos de grande importância para seus ouvintes como o arrependimento, a salvação, a eternidade, a realidade do inferno, os escribas desperdiçavam tempo precioso com assuntos banais como regras humanas (Mt.23.23). Em segundo lugar há uma diferença quanto à motivação do ensino. Enquanto os líderes de Israel sobrecarregavam as pessoas com seu ensino cheio de regras e costumes humanos, sem amor pelos seus ouvintes, o Senhor Jesus oferecia alívio e descanso aos pecadores sobrecarregados de culpa e pecados que vinham ouvi-lo (ler Mt. 11.28-30). Jesus ensinava com paixão pelas almas, buscando o bem estar espiritual e a salvação de todos que o ouviam.

Em terceiro lugar, há uma diferença quanto ao fundamento do ensino. Embora conhecessem profundamente o AT e o ensinassem regularmente aos judeus, os escribas baseavam suas instruções naquilo que seus mestres anteriores haviam dito. A autoridade do ensino deles estava baseada na tradição dos antigos mestres. Naqueles dias, havia uma coleção de escritos contendo os comentários e opiniões dos mestres sobre o AT. Essa tradição rabínica que servia de base para o ensino dos escribas trouxe sérios problemas: 1) Criou uma disputa e divisão entre os próprios judeus (alguns seguiam um mestre; outros seguiam outro mestre); 2) algumas idéias dos antigos mestres eram contrárias à palavra de Deus e eles ainda faziam acréscimos à lei de Deus. Mesmo assim, os escribas valorizavam a tradição dos mestres e a usavam como base para seu ensino.

E quanto a Jesus? Em que ele baseou o seu ensino? Jesus não citava mestres antigos, mas simplesmente recorria à Bíblia e pregava. Ele não recorria às palavras dos pais, mas à palavra do Seu Pai Celeste. A autoridade da sua mensagem vinha diretamente do Pai e das Escrituras (Jo.8.26). Quando combateu a heresia dos saduceus que negavam a ressurreição dos mortos, Jesus fundamentou-se nas Escrituras para defender a ressurreição (Mc. 12.24-27). Para explicar sua obra redentora (quem ele era e o que veio fazer), ele recorreu ao AT (Lc. 24.27; Jo. 5.39).

Jesus estava consciente da sua vocação de Filho de Deus. Ele sabia que tudo lhe foi entregue por seu Pai. Portanto, ele realizava a sua obra com autoridade divina. Quando ensinava, ele dizia: “Ouvistes o que foi dito pelos antigos, eu, porém, vos digo…” (Mt.5.21,22). Ele também costumava dizer: “Em verdade, em verdade vos digo” (Jo.3.5). Jesus ensinava com autoridade porque ele não era mais um mestre em Israel repetindo mestres antigos, mas ele era a própria verdade e o Filho de Deus que recebeu toda autoridade no céu e na terra. O conteúdo do seu ensino e a maneira como ele ensinava provocou grande admiração em todos os que o ouviram (Mt.7.28,29; Mc.1.22).

Amados irmãos! O ensino de Jesus que provocou grande admiração nos ouvintes de Cafarnaum continua presente em nosso meio hoje! Temos em nossas mãos a Bíblia que nos revela todo ensino de Cristo e dos seus apóstolos e profetas. Cristo continua nos ensinando com autoridade através da fiel pregação e ensino dos seus oficiais! Mas o que temos feito com o ensino de Cristo? Como temos recebido a palavra de Deus? Qual tem sido a nossa atitude diante da palavra de Deus que vem a nós com autoridade? O que Jesus quer que façamos com o seu ensino?

Em primeiro lugar, Jesus não quer de nós mera admiração quanto ao seu ensino, mas que creiamos em sua palavra e obedeçamos às suas instruções. De nada vale admirar Jesus e seu ensino e não crer nele e obedecer a sua palavra. Tem muita gente hoje se enganando como muitos judeus que estavam na sinagoga de Cafarnaum e de Nazaré. Elas se encantam com a sabedoria e a autoridade de Cristo, mas o rejeitam, não crêem nele e nem guardam os seus mandamentos. Pode ser que alguém venha à igreja, receba a palavra com alegria, elogiem o sermão, mas quando chegam em casa, esquecem o que ouviram e durante a semana vivem uma vida de desobediência à palavra de Deus. Cristo não quer que sejamos meros ouvintes ou admiradores da sua palavra, mas operosos praticantes. Se amamos a Cristo de verdade, vamos guardar o seu ensino (Mt.28.20; Jo.14.21).

Em segundo lugar, Jesus nos chama a basear nossa doutrina e vida somente na sua palavra e não em tradições humanas. Não precisamos recorrer à idéia e tradições de homens como regra para nossa fé e prática e nem seguir leis e costumes humanos. É nosso dever como povo de Deus receber a palavra de Deus com humildade, pois ela é nossa única regra de fé e prática e útil para nosso ensino, repreensão e correção. Como vocês, membros da igreja, tem recebido a visita dos oficiais de Cristo que vêm até você com a palavra de Deus aberta e em nome de Cristo para lhes ensinar e corrigir? Vocês recebem com humildade a palavra de Deus ou se rebelam contra Cristo? Como vocês pais, tem ensinado e disciplinado seus filhos? Com base na autoridade da palavra de Deus ou tem deixado eles livres para seguirem seus próprios caminhos? Você jovem, tem se submetido ao ensino de Cristo ou tem se deixado levar pelo conselho dos ímpios?

Que Cristo nos ajude a viver debaixo da autoridade da sua palavra para o nosso bem e salvação! Pois não é fácil viver em obediência a Cristo. Somos rebeldes por natureza e Satanás tenta todos os dias nos afastar da palavra de Deus! Precisamos muito da ajuda de Cristo para sermos fiéis! Sem ele nada podemos fazer! Graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor! Ele é um Salvador Todo Poderoso que pode nos ajudar em nossa vida cristã! Ele tem toda autoridade não só no seu ensino, mas também sobre o diabo e seus demônios! Isso veremos agora!

2) Cristo exerce a sua autoridade como Filho de Deus sobre um espírito maligno (vss.23-27)

Enquanto Jesus ensinava com autoridade na sinagoga de Cafarnaum, não demorou muito para que aparecesse naquele lugar um homem possesso de espírito imundo. Mas por que isso aconteceu? Nós vemos aqui uma manifestação maligna de Satanás com o propósito de tentar obstruir a obra de Cristo. Ele não quer que as pessoas se submetam ao ensino de Cristo, mas quer mantê-las escravas dele mesmo. Uma evidência disso é a presença de um homem possuído por um espírito maligno. Aquele homem estava sob o controle do diabo que estava ali presente para se opor à obra de Cristo. Na verdade, Satanás tentou de todas as formas impedir que Jesus realizasse a obra da redenção (ex: tentação no deserto, muitas pessoas possessas, muitos opositores).

Perceba nas palavras do demônio que ele sabe quem é Jesus e o que Jesus veio fazer: “Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste para perder-nos (destruir-nos)? Bem sei quem és, o Santo de Deus!”(v.24). Vejamos alguns detalhes dessas palavras: 1) Ao usar o plural “nós”, aquele espírito maligno não se refere a ele e ao homem possesso, mas a legião de demônios a qual ele pertence e da qual Satanás é o chefe; 2) o demônio sabe que não há nenhuma ligação entre Satanás e Cristo – “que temos nós contigo…?”. Ele sabe que Jesus é o Santo de Deus que veio trazer a verdade e a vida aos pecadores, enquanto que ele e os demais demônios são impuros e mentirosos e vieram para escravizar os homens; 3) o demônio sabe que Jesus veio para destruir o reino do diabo – “vieste para perder-nos?”. Ele sabe que Jesus veio ao mundo para destruir as obras do diabo e redimir um povo para Deus.

Na verdade, irmãos, desde Gênesis 3.15 a destruição de Satanás e seus demônios já estava determinada por Deus. O descendente da mulher vai esmagar a cabeça da serpente. Quer dizer, por meio da obra de Cristo, Satanás seria totalmente destruído. Consciente da sua derrota, Satanás tentou ao longo de toda a história obstruir o plano de Deus. Sua maior investida foi contra o próprio Cristo. Isso se explica pela tentação no deserto e por ele ter possuído muitas pessoas com seus demônios nos dias de Cristo. Ao tomar posse daquele pobre homem, Satanás tenta impedir o Senhor de ensinar com autoridade. Ele não suporta o ensino e a pregação do evangelho que proclama a vitória de Cristo. Por isso o demônio grita contra Cristo por meio daquele homem dizendo: “Que temos contigo, Nazareno? Por que interferes no nosso trabalho? Cuida dos teus negócios e deixa-nos em paz!” Mas como Jesus poderia deixá-lo em paz se ele veio para redimir pecadores das garras do diabo e de seus demônios? A Bíblia afirma que o Filho de Deus se manifestou para destruir as obras do diabo (I Jo.3.8)!

Por isso que aqui no nosso texto, Jesus repreendeu o demônio dizendo: “Cala-te e sai desse homem”! Jesus não saiu em busca daquele demônio e nem argumentou com ele, mas com toda autoridade lhe deu uma ordem única e direta: “Cala-te e sai desse homem”! A ordem primeira de Cristo é para que o demônio se cale. Por quê? Veja que o demônio reconheceu que Jesus era o Santo de Deus, o Ungido do Senhor, o Messias Prometido. Os judeus estavam à espera do Messias. Mas eles desejavam um rei terreno que os livraria do jugo dos romanos e reinaria sobre eles de Jerusalém. Se isso acontecesse, Jesus não chegaria à cruz para morrer pelos pecadores. Satanás quer que isso aconteça, pois ele sabe que a cruz é a sua destruição. Por isso ele usa os demônios para dizer que Jesus é o Cristo para que os judeus o aclamem rei. Mas Jesus sabe dessa astúcia do diabo e por isso cala a boca dos seus demônios (ver Mc.3.11,12; Mt.16.22,23).

A segunda ordem de Cristo é para que o demônio saia daquele homem e o deixe em paz. E foi isso que aconteceu (ver verso 26). Perceba que o demônio obedece à repreensão de Jesus com má vontade. Ele grita e agita o homem violentamente. Ele odeia a autoridade de Cristo, mas não resiste. Ele sai do homem e o deixa em paz! Na libertação daquele homem do poder do demônio, vemos a incapacidade de Satanás de resistir ao poder de Cristo. Cristo ordena com autoridade e o demônio lhe obedece. Isso provocou nova admiração naqueles que estavam na sinagoga (ver verso 27). Todos ficaram espantados com a novidade que presenciaram: um homem simples exercendo autoridade no seu ensino e sobre os espíritos malignos. O texto não diz se houve fé em Jesus naquela ocasião. Mas somente que eles ficaram maravilhados e começaram a divulgar os últimos acontecimentos que ocorrera ali na sinagoga, de modo que a fama de Jesus começou a se espalhar por toda região da Galiléia (v.28).

Meus irmãos! O Nosso Salvador é o servo sofredor que veio ao mundo resgatar pecadores. Ele se fez homem e se humilhou até à morte, mas não deixou de ser Deus. Ele é o Filho de Deus que tem toda autoridade no céu e na terra. Ele é soberano e tem todo poder sobre as forças do mal. Se você está em Cristo, o diabo pode até tentar você, mas não pode te arrebatar das mãos de Cristo. As portas do inferno, as investidas de Satanás, por mais terríveis que sejam, não podem destruir a igreja de Cristo. Satanás e seus demônios são reais e trabalham juntos para devorar os fiéis! (IPe.5.8). Mas temos um Salvador Poderoso que nos livrou das mãos do diabo e nos protege e guarda na salvação até o fim (Mt.28.18,20; Jo.10.28)! Que nós não somente nos admiremos com sua força, mas nos refugiemos nele pela fé e confiemos no seu poder!

Amém!

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Elissandro Rabêlo

Bacharel em Teologia pelo CETIRB – Centro de Estudos de Teologia das Igrejas Reformadas do Brasil (Atual Instituto João Calvino) (1999-2004). Fez Convalidação de Teologia na Universidade Mackenzie em São Paulo (2017). Ministro da Palavra e dos Sacramentos da Igreja Reformada do Grande Recife (PE), servindo como Missionário da Igreja Reformada em Fortaleza (CE).

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.