Leitura: Jeremias 05.01-31
Texto: Marcos 08.01-21
Amada Congregação de Nosso Senhor Jesus Cristo:
Em toda a Escritura, vemos a importância da família – de Deuteronômio 6, onde os pais são instruídos a criar seus filhos no temor do Senhor, a passagens no Novo Testamento como Colossenses 3 e Efésios 5 e 6, com suas instruções para maridos e esposas, mães e pais e filhos. O caminho da sabedoria, o modo de ordenar nossa vida de acordo com os planos de Deus, dentro da ordem que Deus criou, deve incluir famílias fortes, saudáveis e tementes a Deus, ordenadas da maneira que Deus deseja que elas sejam ordenadas. Quando as famílias falham, o colapso social nunca fica muito para trás. Quando “valores familiares” e, especificamente, “valores familiares bíblicos” são ignorados e sua necessidade ou importância minimizada ou ridicularizada, uma cultura não pode levar a lugar algum além da ladeira abaixo. Vemos isso acontecendo ao nosso redor, e nossa sociedade está pagando o preço por sua rebelião contra a ordem graciosa que nosso Criador ordenou.
Mas quando falamos de “valores familiares,” a passagem que estamos lendo hoje dificilmente parece ser uma passagem que usaria para destacar a importância da família. Porque o que vemos aqui parece ser uma reviravolta de valores tradicionais da família judaica, não um fortalecimento deles. Em vez de um incentivo para apoiar os valores familiares, parece que temos aqui uma redefinição do que significa ser “família.”
O ministério de Jesus está continuando, com toda a sua empolgação, quase ao ponto de tumultos, já que Jesus é forçado a estar pronto para fazer uma rápida fuga para o mar por causa das multidões que ameaçam esmagá-lo. Os demônios, os espíritos malignos, gritam seu reconhecimento de quem Jesus é. Esse não é o tipo de reconhecimento que Jesus deseja, e Ele ordena que eles fiquem quietos. Jesus nomeia doze apóstolos, doze embaixadores, um para cada tribo de Israel, construindo um novo povo de Deus, um novo Israel recriado, com esses homens.
E enquanto tudo isso está acontecendo, vem a oposição. E, por um lado, vem de lugar que não é totalmente inesperado. A delegação de escribas ainda estava bisbilhotando, investigando, olhando para Jesus e seus discipulos. Esse novo movimento parece estar crescendo, e os escribas começam a tomar medidas desesperadas para combater o movimento. Eles acusam Jesus de estar em aliança com Satanás, o líder das forças espirituais da iniquidade. Se eles acreditavam que suas acusações eram verdadeiras ou não, ou se estavam simplesmente tentando encontrar uma maneira de desacreditar Jesus diante das pessoas que o seguiam, a acusação não faz muito sentido – de alguma forma, eles dizem, Jesus é trabalhando em aliança com o maligno para expulsar demônios.
Jesus não precisa fazer muito para contrariar sua alegação ridícula. “Se um reino estiver dividido contra si mesmo, tal reino não pode subsistir; se uma casa estiver dividida contra si mesma, tal casa não poderá subsistir… Se, pois, Satanás se levantou contra si mesmo e está dividido, não pode subsistir, mas perece” (3.23-26). Jesus disse aos escribas, que já haviam decidido que não aceitariam Jesus de qualquer maneira, que Ele estava no processo de derrotar Satanás.
Mas ao dizer isso aos escribas, Ele também está lhes dizendo outra coisa, algo que os teria chocado; Jesus diz a eles que entrou na casa do homem forte, que está pilhando os bens do homem forte, amarrando aquele homem forte. O homem forte é Satanás, sabemos disso. Mas o que é exatamente “a casa dele”? É o mundo em geral? Ou Jesus estava se referindo especificamente a Israel?
Com toda a menção de demônios e espíritos malignos nos evangelhos, e os exorcismos de Jesu, muitas pessoas infelizmente assumem que esta é uma descrição de como as coisas sempre são. As pessoas vêem demônios por trás de tudo – demônios especiais ou espíritos malignos que têm seus próprios métodos e tarefas, espíritos territoriais, demônios da luxúria, demônios da ganância – alguns cristãos assumem que qualquer problema, provação ou tentação deve ter alguma força demoníaca por trás dela. Mas o fato é que o ministério de Jesus foi um momento único na história do mundo. Satanás sabia o que estava acontecendo, e ele deve ter acumulado suas forças em oposição ao Filho de Deus.
A Palestina nos dias de Jesus estava cheia de demônios, de maus espíritos. Parece que a Terra Prometida estava infestada de demônios. Então, quando Jesus fala sobre entrar na casa do homem forte, está dizendo aos escribas algo que eles certamente não queriam ouvir – que sua terra preciosa, a terra que deveria ser santa e pura, se tornara o centro da atividade de Satanás – sua própria casa. E por causa disso, Jesus estava trabalhando para renovar todas as coisas, para começar seu trabalho de recriação e restauração. Os doze discípulos e seu ministério, o Israel reconstituído, eram centrais no plano de restauração e renovação de Deus. O velho estava desaparecendo rapidamente e o novo estava chegando. E para o novo mundo entrar, o mestre do antigo teve que ser derrotado. O homem forte estava sendo amarrado.
Portanto, essa é a oposição esperada – ficando mais forte e mais desesperada, mas mesmo assim, é oposição que não nos surpreende, dado o que já aconteceu. Esses homens haviam se aliado às forças da iniquidade. Eles decidiram rejeitar o Messias e estavam cometendo o pecado imperdoável – o pecado contra o Espírito Santo, ao atribuir a obra de Deus ao próprio Satanás. Essa rejeição deliberada do Filho de Deus, essa escolha de ser aliado do homem forte contra aquele que estava provando ser muito mais forte, levaria à destruição final deles.
Esse pecado era imperdoável porque era uma rejeição consciente e deliberada da obra de Deus, e de fato uma rejeição da restauração de Deus, perdão de Deus, plano de reconciliação de Deus e até mesmo atribuindo tudo isso ao inimigo de Deus, e não a Deus. Este não é um pecado que precisamos temer ter cometido. Se alguém está preocupado que ele ou ela tenha cometido o pecado imperdoável, apenas essa preocupação é suficiente para mostrar que esse pecado não foi cometido!
Mas a história contínua dessa oposição esperada, a oposição dos escribas, está cercada por um ataque de um canto muito surpreendente. Vemos esse ataque em versículo 21 e em versículos 31 a 35. Primeiro, aprendemos que quando a família de Jesus ouviu, quando eles se preocupam com as multidões que estavam ameaçando a própria vida de Jesus, “saíram para o prender; porque diziam: Está fora de si.” Eles literalmente pensavam que Jesus tinha enlouquecido, que precisava ser salvo, não apenas das pessoas que estavam impedindo ele de comer, mas que precisava ser salvo de si mesmo.
Em seguida, segue a história das acusações ridículas dos escribas. A família de Jesus desaparece da cena, mas depois no versículo 31, elas reaparecem repentinamente. Ouvimos que eles estão “do lado de fora.” Eles não podem entrar onde Jesus está, então enviaram mensageiros a Ele para chamá-lo, para que pudessem “resgatá-lo.” Observe que não há comunicação direta entre a família de Jesus e Jesus; é a multidão que se reúne ao redor dele que lhe diz que sua mãe e seus irmãos estavam do lado de fora, procurando por Ele. E Jesus fala, não à sua família, mas à multidão.
A família terrena de Jesus, sua família física, Maria e seus irmãos, ficam do lado de fora, olhando para dentro. Eles se excluíram do círculo interno de Jesus. Isabel havia dito a Maria:
“Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre!” (Lucas 1.42).
A Igreja Católica Romana deu a Maria um lugar de honra, chamando-a de co-mediadora junto com Jesus, vendo-a como a perfeita mãe, uma mulher sem defeito, sem pecado. Mas aqui nós vemos ela, junto com seus filhos, os irmãos de Jesus, cegos para o que está acontecendo, cegos para quem Jesus realmente é e o que Ele está fazendo, pensando que está louco e que precisa de alguém para salvá-lo, quando na verdade ela e seus filhos precisavam ser salvos.
Jesus continuava dizendo coisas assim, por exemplo em Mateus 10.34-36:
“Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria casa.”
Ele estava falando por experiência própria – os inimigos do homem serão os da sua própria casa. A mãe de Jesus, os próprios irmãos de Jesus, teriam interrompido completamente o ministério de renovação mundial de Jesus, se eles pudessem. Eles se tornaram seus inimigo; eles se tornaram inimigos do seu reino. Jesus estava criando um novo Israel; Ele havia chamado seus discípulos, Ele havia dado a muitos deles novo nomes, ecoando o trabalho de Adão no Jardim do Éden, nomeando os animais. Ele havia mostrado sua autoridade e o trabalho criativo que estava fazendo.
A aqui vemos os “valores familiares” de Jesus em ação. Ele estava criando um novo Israel, e Ele estava criando uma nova família, sua nova família, composta de novos irmãos, irmãs e mães, unidos sob um único Pai, Deus Pai, o todo-poderoso Criador do céu e da terra. Para Jesus, a genética não determina quem é sua família. Não são as relações físicas, não são carne e sangue, não são tipos de sangue, DNA, hereditariedade e lealdade pessoa aos membros da família que é definitivo; o que é central, o que é definitivo, é “fazer a vontade de Deus.” Torna-se ainda mais claro no evangelho de Lucas (Lucas 8.19-21):
“Vieram ter com ele sua mãe e seus irmãos e não podiam aproximar-se por causa da concorrência de povo. E lhe comunicaram: Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem ver-te. Ele, porém, lhes respondeu: Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a praticam.”
A família de Deus é composta de pessoas que fazem a vontade de Deus – pessoas que ouvem a sua Palavra, e não apenas a ouvem, mas a internalizam e vivem de acordo com ela. A família de Deus deve exibir vidas mudadas pela mensagem do Evangelho. Fomos transformados, fomos feitos novos, nos tornamos uma nova criação. Tudo muda.
Nosso relacionamento mais importante é formado com pessoas que compartilham nossa devoção e dedicação a Jesus, não com pessoas que compartilham nosso DNA. Nossa lealdade primária é com a família de Deus, não com nossas famílias terrenas. Em Mateus 10, depois de dizer que “os inimigos do homem serão os da sua própria casa,” Jesus continua dizendo o seguinte:
“Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim; e quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim” (Mateus 10.36-38).
Em tudo isso, vemos as palavras de João 1.11-13 em ação:
“Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.”
Por isso, o pregador pode falar com vocês como “irmãos e irmãs,” como o povo da aliança de Deus, unidos como uma família, a família de Deus. Essa verdade deve moldar nosso pensamento sobre quem somos e do que fazemos parte aqui, e a importância do grupo do qual fazemos parte, do corpo do qual somos membros. Nossa família da igreja exige nossa total lealdade, nossa dedicação, tudo de nós, porque estamos unidos como irmãos, mães e irmãs de Cristo, pela fé nele. Tudo o resto deve ocupar o segundo lugar a nossa lealdade primária.
Isso significa que precisamos abandonar a idéia de “valores familiares”? Não, porque nossa idéia de “valores familiares” não se baseia apenas na tradição, ou no que funciona, nos “bons tempos do passado.” Se nossos “valores familiares” são valores familiares bíblicos, baseados nas Escrituras, nas ordenanças da criação de Deus, precisamos mantê-los e defendê-los, vivê-los em nossas próprias vidas, em nossas próprias famílias e lutar por eles.
Mas “valores familiares,” quando falamos sobre nossa famílias terrenas, nossa carne e sangue, como todos os outros valores não são os valores mais importantes. Não têm uma posição de primazia sobre todo o resto. Nossos valores familiares são bons, uma bênção, apenas se forem submetidos à nossa lealdade maior. E essa lealdade suprema, nossa lealdade primária, é nossa lealdade ao rei Jesus e à sua família real.
E, especialmente para aqueles de nós que vieram a Cristo e à sua Igreja mais tarde na vida, isso pode causar dificuldades. Pode causar luta. Pode causar conflito, dor e divisão. Jesus disse que sim, e por isso não deveria nos surpreender. E ainda mais importante, Jesus experimentou a si mesmo. E se Ele experimentou, se sentiu a dor da rejeição e da incredulidade dentro da sua própria família terrena, quanto mais podemos esperar que aconteça a mesma coisa conosco, se formos fiéis a Ele?
“Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia. Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa” (João 15.18-20).
Portanto, se sofremos, e mesmo nas mãos de nossas próprias famílias, nossa própria carne e sangue, podemos e devemos ainda nos alegrar. Porque estamos seguindo os passos do Mestre. Estamos seguindo o caminho que o rei já percorreu. Se sentirmos rejeição de nossas famílias terrenas, mesmo que nossas famílias terrenas pensem que enlouquecemos quando nos tornamos cristãos, precisamos lembrar que o que estamos sofrendo não é nada em comparação com o que nosso Salvador perfeito sofreu por nós.
Se sofrermos por causa da justiça, e não por sermos arrogantes, hipócritas ou condescendentes com os membros da famílias que não se aliaram ao rei, podemos saber que estamos fazendo a coisa certa. Podemos saber que, embora possamos sofrer agora, esse sofrimento é apenas temporário, algo pequeno em comparação com a vida eterna de glória na presença de Deus.
E entender a natureza da família, e quem é nossa verdadeira família, também eliminará qualquer sofrimento que possamos experimentar nesta vida quando se trata de nossas famílias terrenas. Porque se tornará muito mais importante para nós o que Deus pensa de nós, do que nossas mães e pais terrenos pensam de nós. Os mandamentos de Deus se tornarão mais importantes para nós do que as palavras de qualquer outra pessoa. O amor de Deus se tornará central, e não o amor fugaz e inconstante que os seres humanos falam e expressam. Nosso relacionamento com nossos irmãos em Cristo se tornará muito mais importante para nós do que nosso relacionamento com pessoas que compartilham as mesmas linhagens. Nossa nova família nos definirá e pertencer a essa nova família, contribuindo a essa nova família, regozijando-se com essa nova família, superará qualquer tristeza momentânea que experimentamos em nossas famílias terrenas.
Mas isso também significa que temos uma responsabilidade dentro desta nova família. Não podemos permanecer do lado de fora, olhando para dentro, como a família de Jesus fez quando vieram a Ele. Não podemos permanecer à margem. Não podemos, e não devemos, ficar distantes do funcionamento desta família. Devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para sustentar esta família, fortalecê-la, encorajá-la a crescer. Ser parte de uma família terrena significa ter comunhão, comer e beber juntos, viver juntos, viver em paz e harmonia uns com os outros.
Você não pode afirmar ser parte de sua família de sangue e ter um relacionamento superficial com os membros dessa família – e muito menos se contentar em viver fora da casa. Quanto mais verdadeiro é para nossa família celestial, o corpo de Cristo, unido pela fé? Em Efésios 4, o apóstolo Paulo nos diz o que significa viver como parte da família de Jesus Cristo – somos chamados a viver:
“com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos” (Efésios 4.2-6).
E devemos fazer todas essas coisas porque o Pai dessa família é o próprio Deus. Manter nosso lugar nessa família significa não ser apenas um ouvinte da Palavra, mas ser um praticante da Palavra. Crescer nessa família significa fazer a vontade do Pai.
Irmãos, esses são nossos “valores familiares.” Todo valor, toda moral, toda parte de nossa ética, o código que governa nossa vida, nosso comportamento, nossas ações, nossos relacionamentos, devem servir ao objetivo final – a obediência fiel a nosso Pai, em união com seu Filho. Que nossos “valores familiares” estejam centrados na família de Deus, e que Ele nos conceda a graça de viver esses valores, em todos os nossos relacionamentos.
Amém.
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.