Leitura: Mateus 12.38-41
Texto: Jonas 1.17
Amada Congregação do Nosso Senhor Jesus Cristo,
O livro de Jonas não trata primeiramente de um profeta fujão que foi lançado ao mar e engolido por um grande peixe e depois de três dias foi vomitado na praia. Este livro, como toda a Bíblia, trata sobre Deus e sua obra de salvação. A personagem central dessa história é o Senhor Deus que manifesta o seu poder e a sua misericórdia na criação e no coração dos homens no único e glorioso propósito de salvar pecadores.
Acontece que o evento da salvação de Jonas ao ser engolido por um grande peixe e permanecer no seu ventre por três dias e três noites levou muitos estudiosos da Bíblia a ver o livro de Jonas não como um relato histórico e verdadeiro, mas como um tipo de novela ou parábola com lições espirituais a serem aprendidas pelo povo de Deus. Essa é a visão dos críticos liberais que negam os milagres.
É claro que não nos aproximamos do livro de Jonas dessa maneira. Para nós toda a história aqui relatada é real. Para nós Jonas 1.17 registra um fato histórico, um milagre executado pelo Deus que é soberano sobre toda a sua criação e que pode todas as coisas. De fato, Deus designou um grande peixe para que engolisse a Jonas e o preservasse com vida no seu ventre por três dias e três noites. Não sabemos se foi uma baleia ou um grande tubarão, mas o fato é que uma criatura marinha de grande porte foi designada por Deus para engolir o profeta e depois de três dias vomitá-lo na praia.
Aceitamos a Bíblia como verdade. Cremos que Jonas foi uma pessoa real e histórica que serviu como profeta em Israel no oitavo século antes de ser chamado para pregar em Nínive (II Reis 14.25). E o Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a própria verdade, apontou para o fato histórico da salvação de Jonas pelo peixe como um sinal da sua obra redentora (Mateus 12.38-41). Portanto, se dissermos que a história de Jonas é uma fábula mentirosa, então, a verdade da morte, sepultamento e ressurreição de Cristo também pode ser questionada e negada.
Jonas 1.17 fala sobre o Deus da nossa salvação. Ele salvou Jonas por meio do peixe para mais tarde trazer salvação para os ninivitas e, sobretudo, a fim de apontar para a gloriosa salvação que será efetuada por Cristo em favor de pecadores de todos os lugares da terra. Há, portanto, duas verdades que aprendemos aqui sobre este evento histórico da salvação de Jonas por meio de um grande peixe enviado por Deus:
A primeira verdade é que Deus é Soberano e Misericordioso para salvar o pecador.
Já vimos no capítulo 1 que Jonas se rebelou contra Deus e tentou fugir da sua presença. Ele causou grande transtorno a todos do navio por ser o causador da tempestade enviada por Deus. Ele também foi apontado por Deus como culpado e, por fim, foi lançado no mar. Mas enquanto ele afundava, o Senhor designou um grande peixe para salvá-lo. Jonas não merecia isso. Ele merecia morrer em sua rebeldia. Mas enquanto ele afundava com o peso do seu pecado, o Deus Soberano e Misericordioso providenciou salvação para ele por meio de um grande peixe. O Senhor já tinha usado o vento para salvar os marinheiros! Agora ele se utiliza de um grande peixe para dar livramento ao seu profeta.
Deus é Soberano para salvar: Diante de catástrofes como a pandemia do coronavírus, desastres, acidentes, violência e outros males que nos acontecem, certamente, entraríamos em desespero e ficaríamos até deprimidos se não crêssemos num Deus que é Soberano. Quando falamos da soberania de Deus, estamos nos referindo à Sua autoridade suprema sobre tudo o que ocorre na criação. Nada foge do seu domínio e governo. Todas as suas criaturas estão nas suas mãos e cumprem o propósito que ele designou. Não cremos num Deus que criou o universo e depois se ausentou dele, deixando-o à própria sorte. Se fosse assim, teríamos muitos motivos para o desespero. Mas o Deus da Bíblia que cremos reina sobre tudo e sobre todos e faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade. Nada acontece neste mundo que ele não conheça ou permita. E tudo o que ele faz é visando a sua glória e o grande bem da salvação do seu povo (Romanos 8.28).
Vemos a soberania de Deus para salvar aqui em Jonas 1:17 quando Ele designa um grande peixe para engolir Jonas. Antes disso, parece que Jonas tinha chegado ao fim ao ser lançado nas águas do mar Mediterrâneo. Mas Deus está no controle de toda a situação. Lembre-se que foi Deus quem chamou soberanamente Jonas para ir a Nínive. Não foi Jonas quem se dispôs a esta missão, mas Deus o chamou. Ele tentou fugir do seu chamado, mas Deus em sua soberania, foi atrás do seu profeta por meio de uma tempestade. E foi Deus quem soberanamente apontou Jonas como o culpado no navio.
Quando Jonas foi jogado ao mar, foi Deus quem fez o mar se acalmar. E quando Jonas desce às profundezas do mar com algas marinhas se enroscando sobre sua cabeça, afundando em direção à morte, foi Deus quem soberanamente designou um peixe para salvá-lo. Note como no livro de Jonas vemos Deus soberanamente designando coisas para usá-las em Seu serviço. Ele designou um profeta, a tempestade, a calmaria e um peixe. Ele ainda designará uma planta, depois um verme e um vento abrasador para ensinar a Jonas lições que ele não queria aprender. Todas estas coisas se submeteram à vontade soberana de Deus, exceto o profeta Jonas.
Ao livrar Jonas da morte por meio do peixe, o Senhor demonstrou a sua soberania para salvar pecadores. Jonas estava praticamente morto física e espiritualmente, mas aprouve a Deus resgatá-lo. Ele nada podia fazer para salvar a si mesmo. Mas o grande peixe cumpriu exatamente o que Deus queria: que livrasse Jonas da morte por afogamento, o preservasse em seu ventre por três dias e depois o vomitasse na praia. Pela soberania de Deus, Jonas foi salvo da morte e trazido de volta ao caminho da obediência. Ele também haveria de se render ao Deus soberano e cumprir o seu desígnio.
Pode ser que você se encontre em alguma situação angustiante por suas escolhas erradas. Talvez esteja se afogando em seus pecados achando que não há mais saída para você! Saiba e creia que Deus é Soberano para salvar o pecador! Ele é poderoso para vir em seu auxílio e salvar você da sua angústia e do seu pecado! Ele pode designar, em sua soberania, elementos da sua criação, eventos, pessoas, circunstâncias adversas como enfermidades para livrar você da condenação e trazer você de volta à comunhão com Ele.
O Deus da Bíblia é soberano não só para governar a sua criação, mas também para trazer a salvação aos pecadores! A salvação é uma obra exclusiva dele! Nada podemos fazer para salvar a nós mesmos! Se o Senhor não intervisse na nossa vida com sua graça soberana e poder, certamente, morreríamos afogados em nossos delitos e pecados.
Deus é Misericordioso para salvar: Jonas não merecia ser resgatado por Deus. Ele abandonou o chamado do Senhor e tentou fugir da presença de Deus. Deus não resgata Jonas, porque ele é digno. Deus o resgata porque é Misericordioso. Seria justo se Deus deixasse Jonas se afogar no mar e morrer em seu pecado. Mas Deus, em sua misericórdia, poupou a Jonas do destino de morte e condenação que ele merecia.
A misericórdia de Deus significa que ele não nos dá aquilo que merecemos, ou seja, a condenação pelos nossos pecados. Se o salário do pecado é a morte e se todos nós somos pecadores, então, merecemos morrer em nossos pecados! Mas a misericórdia de Deus é a causa de não sermos consumidos. Deus pode até nos disciplinar, mas ele retém a sua ira para que não pereçamos! É assim que ele lida com o povo da sua aliança. Foi motivado por sua misericórdia que o Senhor enviou um grande peixe para salvar a Jonas da condenação. Aquele peixe não foi um instrumento de juízo para Jonas, mas de salvação! Mas por que o Senhor foi misericordioso com Jonas ao salvá-lo da morte?
Primeiro, para restaurá-lo à sua vocação de pregar aos ninivitas. O Senhor trouxe de volta para a vida e o serviço um pecador culpado e digno da condenação. A salvação do Senhor não somente nos livra da morte, mas também nos restaura ao serviço do Senhor na sua igreja. Logo depois da morte de Cristo, Pedro largou o apostolado e voltou às suas redes de pesca. Ele tinha negado o Senhor e estava abandonado o seu ofício de ser pescador de homens para voltar a pescar peixes. Mas o Cristo ressuscitado veio ao seu encontrou para expressar o seu amor por ele, perdoando-lhe e encorajando-o a cumprir a sua missão de pregar o evangelho (João 21).
Se você é um membro da igreja de Cristo, a misericórdia do Senhor é derramada sobre você não só para te salvar do pecado e da morte, mas também para te capacitar com dons para você testemunhar de Cristo no serviço da sua igreja.
Segundo, para ensinar a Jonas que ele tem de ser misericordioso com outros pecadores, assim como Deus foi misericordioso para com ele. Já vimos que Jonas fugiu da sua missão porque odiava os ninivitas por sua grande malícia e crueldade. Para Jonas aqueles pagãos da Assíria não mereciam outra coisa senão o juízo e a condenação de Deus. Acontece que Jonas era tão pecador quanto os ninivitas e, portanto, tão carente da misericórdia de Deus como aqueles pecadores. Ele sabe que merecia morrer em seu pecado e que Deus lhe foi misericordioso ao salvá-lo por meio do peixe. Isso deveria motivá-lo a pregar aos ninivitas para que se arrependessem pela misericórdia de Deus.
Vemos aqui um contraste entre Jonas e Paulo. Este se via como um grande pecador salvo pela misericórdia de Deus e, portanto, tinha prazer em levar o evangelho da salvação aos gentios (I Tm.1.12-17; 2.7; II Tm.2.10; 4.17).
Uma vez que a misericórdia de Deus nos salvou da nossa miséria e da condenação que merecíamos, nós devemos alegremente estender essa misericórdia a outros pecadores anunciando-lhes que há salvação em Cristo para todo pecador que se arrepende! Nenhum pecador, por mais rebelde que seja, está distante da misericórdia de Deus! Por essa razão não devemos desanimar pela salvação de amigos e parentes que se afastaram do Senhor ou vivem em seus pecados sem conhecer a Deus! Se Deus, apesar de nós, nos salvou, ele também pode salvá-los. Sejamos, portanto, misericordiosos para com eles como Deus, nosso Pai, tem sido misericordioso para conosco!
A segunda verdade que aprendemos aqui é que a salvação de Jonas é um sinal da nossa salvação por meio de Cristo.
Observe que Jonas não foi salvo ao se segurar em algum material flutuante e nem pegando uma carona com um golfinho veloz até a beira da praia. Deus designou salvá-lo de uma forma mais inusitada: por meio de um peixe que o engoliu e onde ele foi preservado durante três dias no seu ventre até ser vomitado na praia. Mas por que Deus resolveu salvá-lo dessa maneira?
Primeiro, para fazer Jonas refletir no seu erro e depois trazê-lo de volta à sua missão de pregar em Nínive. Além disso, a salvação de Jonas por meio do peixe apontava para a obra redentora de Cristo. É interessante que setecentos anos depois deste episódio, outro profeta da Galileia, conhecido como Jesus de Nazaré, se referiu ao que aconteceu com Jonas como um sinal que apontava para ele mesmo: (ler Mateus 12.39-41). Por que Jesus usou o evento do livramento de Jonas como um sinal para provar aos judeus que Ele era realmente o Messias? Por que ele apontaria para um profeta rebelde que foi engolido por um peixe e depois de três dias vomitado na terra para falar da sua própria morte e ressurreição?
Observe que o contexto de Mateus 12 é de ódio e incredulidade dos fariseus contra Jesus e suas palavras e obras (Mt.12.14). Eles até acusaram Jesus de estar realizando milagres pelo poder de Satanás (Mt.12.24). Apesar de todo o ensino e dos milagres de Jesus, eles não creram que ele era o Messias Prometido! Eles queriam mais algum sinal extraordinário (Mateus 27.40; Lucas 23:37)! Mas Cristo, que conhecia seus corações, não iria alimentar sua incredulidade. O Senhor simplesmente lhes disse que um sinal já tinha sido dado quando Deus salvou Jonas por meio do peixe.
O que Jesus está ensinando aqui é que o que aconteceu com Jonas é um tipo ou uma sombra do que virá depois. A salvação de Jonas pelo Senhor e sua preservação no ventre do peixe por três dias e três noites é um tipo de como Deus traria a salvação através da morte, sepultamento e ressurreição de Cristo. Este foi o sinal da graça de Deus para salvar o seu povo dos seus pecados por meio de Cristo. Acontece que muitos judeus que testemunharam a morte de Cristo não creram no sinal da sua ressurreição e, portanto, pereceram em sua incredulidade (Mt.18.11-15). Eles até conheciam e criam na história de Jonas, mas não viram nela um sinal da obra redentora realizada por Cristo.
Ao se referir ao sinal do profeta Jonas, Jesus não apenas cria nas histórias do Antigo Testamento como verdadeiras, mas também como parte da “história da redenção” que apontava para ele e se consumou nele. Assim, ao estudarmos o livro de Jonas, temos de atentar para aquele que é maior do que Jonas, o Nosso Senhor Jesus Cristo.
Jesus é maior do que Jonas em sua obediência, pois Jonas desobedeceu ao chamado do Senhor, ao contrário de Jesus que foi fiel até a morte da cruz. Jonas preferiu a morte do que a salvação dos pecadores de Nínive, enquanto que Jesus preferiu morrer pela salvação dos pecadores. Jesus morreu literalmente e foi sepultado e ressuscitado no terceiro dia pelo poder de Deus, enquanto Jonas foi “sepultado” figurativamente no ventre do peixe.
O ministério profético de Cristo foi mais abrangente que o de Jonas. Perceba que enquanto Jonas pregava uma mensagem de perdição e destruição, Cristo pregava uma mensagem de graça e salvação. Enquanto Jonas odiava seus ouvintes, Cristo tinha compaixão dos seus. Embora Jonas não tivesse milagres para mostrar ao povo de Nínive, a mensagem de Cristo foi acompanhada por grandes sinais e maravilhas que o autenticavam como o Messias de Deus e expressavam a graça de Deus pelos pecadores. Os ninivitas nunca tinham ouvido falar do Senhor, mas os ouvintes de Jesus conheciam todo o AT. Mesmo assim eles não creram no Senhor.
E por que não? Porque os fariseus criam que a salvação é fruto do esforço humano, mas o livramento de Jonas mostra que a salvação é uma obra exclusiva e graciosa de Deus. Eles precisavam aprender que a salvação vem do SENHOR e que eles eram tão carentes da graça de Deus quanto todos os pecadores, prostitutas e publicanos do seu tempo. Eles precisavam crer em Jesus como o Messias para serem redimidos do seu legalismo e hipocrisia. Somente pela fé no Cristo ressurreto eles poderiam ser salvos.
Cristo fez uma séria advertência aos seus ouvintes em Mateus 12:41 (ler). Os ninivitas não viram Jonas sendo engolido e vomitado na praia por um grande peixe. Mas eles creram na palavra pregada pelo profeta do SENHOR. E Deus foi misericordioso com eles para salvá-los. Por outro lado, grande parte dos judeus os dias de Jesus morreram na sua incredulidade, apesar de todos os sinais manifestados pro Cristo, sobretudo, sua morte e ressurreição no terceiro dia. Os ninivitas convertidos repreenderão os judeus incrédulos no dia do juízo, pois não aproveitaram a sua rica oportunidade de ter o próprio Cristo pregando para eles e dando testemunho de que era o Salvador com seus milagres e, sobretudo, como sua morte e ressurreição.
Os ninivitas também repreenderão a você que permanece incrédulo diante do evangelho de Cristo, bem como a você que, apesar de conhecer a palavra de Deus, virou as costas para Cristo! Hoje é o dia da salvação! Aproveite a sua oportunidade! Você tem mais motivos para crer do que os ninivitas! Você tem mais do que o sinal do profeta Jonas! Você tem o testemunho bíblico do Cristo que morreu e foi sepultado, mas que ressuscitou para nossa salvação. Você tem um Deus que é soberano e misericordioso para salvar todo pecador que se arrepende dos seus pecados e confia em Cristo como seu único e suficiente Salvador! Portanto, creia nele e seja salvo! Amém!
Elissandro Rabêlo
Bacharel em Teologia pelo CETIRB – Centro de Estudos de Teologia das Igrejas Reformadas do Brasil (Atual Instituto João Calvino) (1999-2004). Fez Convalidação de Teologia na Universidade Mackenzie em São Paulo (2017). Ministro da Palavra e dos Sacramentos da Igreja Reformada do Grande Recife (PE), servindo como Missionário da Igreja Reformada em Fortaleza (CE).
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.