Leitura: I João 01:05-10
Texto: I João 02:01-02
“Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo”.
Amados irmãos no Senhor Jesus Cristo,
Todos os seres humanos têm uma coisa em comum: Todos nós somos descendentes de Adão e, portanto, possuímos uma natureza pecaminosa. “Todos pecaram…” (Rm. 3.23). Somos todos pecadores. Crentes e descrentes compartilham da natureza pecaminosa em Adão. Pecamos todos os dias. Devemos reconhecer isso. Ninguém, por mais santo que seja, é perfeito e sem pecado. Se dissermos que não temos pecado, a nós mesmos nos enganamos e nos fazemos mentirosos (I Jo. 1.8,10).
Todos somos pecadores. Mas qual a grande diferença entre um filho de Deus nascido do Espírito e um ímpio com relação ao pecado? O ímpio, aquele que não conhece a Deus, peca continuamente. O pecado é normal na vida dele. Ele se alegra no pecado, não o confessa a Deus e não tem o consolo do perdão dos pecados que há em Cristo. Por outro lado, o verdadeiro crente, embora sendo pecador, tem uma atitude diferente para com o pecado. Ele se entristece com seus pecados e os confessa a Deus, ele passa a odiar o pecado e procura evita-lo e abandona-lo e, além disso, ele conta com o consolo e a certeza do perdão dos seus pecados que há em Cristo Jesus.
Um dos assuntos que o apóstolo João trata em sua primeira carta é justamente a relação do crente com o seu pecado. João reconhece que os crentes não são perfeitos, mas continuam sujeitos a pecar. Porém, isso não leva João a ensinar os crentes que eles devem viver relaxados nos seus pecados porque são pecadores; nem tampouco os leva a viver sem esperança quanto à vitória contra os seus pecados. Atentando para o nosso texto, vamos perceber que João nos ensina que, mesmo sendo pecadores, nós não devemos viver no pecado (estas coisas vos escrevo para que não pequeis) e também que em Cristo nós temos o perdão completo de todos os nossos pecados (se, todavia, alguém pecar, temos Cristo como nosso advogado e propiciação).
A primeira coisa que o nosso texto diz é a seguinte: “Filhinhos meus, estas coisas vos para que não pequeis” (2.1 a). João se expressa de forma carinhosa aos cristãos a quem ele escreve (filhinhos meus). João tem um relacionamento íntimo e cheio de amor com aqueles irmãos. João quer instruir e encorajar seus irmãos a andarem no bom caminho (caminho da obediência e longe do pecado, caminho do amor); João quer consolar os seus irmãos com as promessas de perdão e vida eterna para todos eles que crêem em Cristo. Aqui no nosso texto, João explica o propósito pelo qual escreveu aqueles irmãos: “… Estas coisas vos escrevo para que não pequeis”. João é bem prático na sua argumentação: “Filhinhos meus, não pequem, não errem o alvo da sua conduta, não desobedeçam à lei de Deus; eu escrevi para que vocês não pequem”. João quer conduzir a igreja de Cristo não no caminho do pecado, mas no caminho de obediência a Deus. Por isso ele escreve estas coisas.
Quais foram as coisas que João escreveu para aqueles irmãos e que era a base para eles não viverem no pecado? No contexto do nosso texto, estas coisas se referem àquilo que João escreveu um pouco antes. O que João já tinha escrito àqueles irmãos? Que todos nós somos pecadores (1.8,10), que o sangue de Jesus nos purifica de todo pecado (1.7b) e que Deus nos perdoa os nossos pecados se a ele os confessarmos (1.9). Observe que João é cuidadoso e prático no seu ensino. Logo depois de afirmar que somos pecadores e que Deus nos perdoa, João ensina que não devemos pecar. João sabe que alguém poderia pensar o seguinte: “Se eu sou pecador e se Deus me perdoa, então eu vou viver no pecado, vou pecar, pecar e depois pedir perdão a Deus e ele vai me perdoar”. Além disso, há também aqueles que tentam justificar os seus pecados pensando assim: “Se homens de Deus como Davi, Moisés, Pedro e outros caíram, eu também posso cair”. Pensar e agir assim é totalmente errado. Os pecados de nossos irmãos no passado estão registrados na Bíblia não para nos motivar a pecar, mas para nos advertir a não cair nos pecados que eles caíram. Os pecados dos outros não servem como justificativa para os nossos pecados. Além disso, o fato de sermos pecadores e recebermos o perdão de Deus não é motivação para vivermos no pecado. Pelo contrário, quando reconhecemos nossa miséria e a maravilhosa graça de Deus em nos conceder o perdão dos nossos pecados, só podemos tomar uma atitude: expressar nossa gratidão a Deus, fugir e abandonar o pecado, viver em obediência aos mandamentos de Deus. Jesus nos purifica de todo pecado com seu sangue e também deseja de nós que não vivamos mais na prática do pecado (Jo. 5.14; 8.11). A manifestação da graça e do perdão de Deus revelados na Bíblia tem como propósito nos levar a uma vida sem pecado. “Estas coisas vos escrevo para que não pequeis”.
A vontade de Deus é que não pequemos. Ele nos capacita por Seu Espírito a vivermos uma vida de santidade. Nossa vida cristã deve ser um crescimento constante em santificação rumo á perfeição. Acontece, porém, que não somos perfeitos ainda. Embora regenerados pelo Espírito, somos pecadores e em atos, palavras, pensamentos e por omissão, pecamos todos os dias. João escreveu com o propósito de não pecarmos, mas ele acrescenta: “Se, todavia, alguém pecar”. Precisamos entender estas palavras do apóstolo. João está falando da possibilidade do pecado na vida do crente. Para João, o pecado na vida do crente é algo possível de acontecer (um acidente) e não a situação normal em que ele vive. O crente não peca porque gosta do pecado e acha o pecado uma coisa normal. Ele luta contra os seus pecados; no entanto, por ser pecador, ele possivelmente cai no pecado.
O que fazer então quando caímos em pecado? De quem devemos nos lembrar? A quem devemos recorrer? Qual o nosso consolo e esperança para sermos libertos dos nossos pecados e termos nossa comunhão restaurada com Deus? João nos dá a resposta no nosso texto: “Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo; e ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (2.1b, 2). Cristo é a resposta. Jesus é o nosso consolo e a nossa esperança. Ele é o único que pode nos conceder a remissão completa de todos os nossos pecados e restaurar a nossa comunhão com Deus. Ele é o Salvador suficiente e poderoso para nos redimir de todo pecado. João nos ensina isso no nosso texto ao apresentar Cristo como nosso advogado e nossa propiciação.
Se pecarmos, lembremo-nos que temos um Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo. O que nos consola em saber que Cristo é o nosso advogado junto ao Pai? A palavra “advogado” no nosso texto é a mesma palavra usada em relação ao Espírito Santo como Nosso Consolador (Jo. 14.26; 15.26). O título também se refere a Cristo (Jo.14.16; I Jo.2.2). A palavra aponta para alguém que é chamado para se colocar ao lado de outra pessoa a fim de ajudá-la, a fim de agir em sua defesa. Jesus está sentado à direita do Pai. Não significa que ele está parado sem fazer nada. Ele está trabalhando em favor da sua igreja na terra. Ele é o nosso advogado junto ao Pai, ou seja, ele intercede por nós a Deus. Ele morreu e ressuscitou por nós e continua a interceder por nós em favor da nossa redenção (Rm. 8.34; Hb. 7.25). Aqui na terra, o crente que pecou, confessa o seu pecado a Deus. Mas ele não está sozinho. Ele tem um advogado do seu lado. No céu, o Filho diz ao Pai: “Pai, eu paguei um alto preço para a remissão completa dos pecados dessa ovelha, perdoa-lhe”. O Pai aceita a intercessão do Filho e perdoa o pecador. Por quê? Porque aquele que intercede é Jesus Cristo, o Justo. Jesus cumpriu perfeitamente a justiça de Deus para nossa salvação. Ele foi um homem perfeito e justo, obediente até à morte e na sua morte ele suportou a justa ira de Deus pelos nossos pecados e conquistou nossa salvação. O justo morreu pelos injustos para conduzi-los a Deus (I Pe.3.18). Com base na sua justiça, Cristo intercede por nós ao Pai e por causa da justiça de Cristo que está sobre nós, o Pai aceita a intercessão do Seu Filho e nos perdoa de todos os nossos pecados. Somos perdoados não pelos nossos méritos, mas pela graça de Deus baseada nos méritos de Cristo.
O Filho de Deus que intercede por nós ao Pai é a propiciação pelos nossos pecados. O que isto significa para nós? Por que João afirma isso para crentes que, porventura, podem vir a pecar? João quer consolar a igreja de Cristo com a garantia de que o sacrifício de Cristo é suficiente e eficaz para nos redimir de todo pecado. Cristo é a propiciação pelos nossos pecados. A palavra propiciação aponta para o sacrifício que é oferecido a Deus a fim de aplacar a sua ira e remover a inimizade entre Deus e o pecador por causa do pecado. No Antigo Testamento, o SENHOR mandava os sacerdotes oferecerem sacrifícios como pagamento pelos pecados deles e do povo (Lv. 16.14,15; 17.11). Estes sacrifícios apontavam para o perfeito sacrifício de Cristo que foi realizado na cruz do Calvário. Cristo propiciou a nossa redenção através do seu sacrifício e morte na cruz. Ele suportou a ira de Deus contra os nossos pecados e como conseqüência nos reconciliou com Deus. Seu sacrifício é perfeito e eficaz para a remissão completa dos pecados de todos aqueles que nele crêem.
Ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas ainda pelos do mundo inteiro. O que isso quer dizer? João não está ensinado o universalismo (Cristo morreu pelos pecados de todos os homens e vai salvar todos). A Bíblia é clara em ensinar que Cristo deu a sua vida por suas ovelhas, por aqueles que o Pai lhe deu (Jo. 10.11,15; Jo. 17.9-20; Mt. 1.21; At.20.28). O que João está dizendo é que Jesus é a propiciação, ou seja, seu sacrifício foi realizado em favor da salvação dele e dos crentes a quem ele escreve além de todos os crentes de todas as épocas e lugares. Nós também fomos beneficiados com a obra redentora de Cristo. Ele morreu pelos nossos pecados; ele intercede por nós junto ao Pai; seu sangue nos purifica de todo pecado. Ele é a nossa propiciação. Nesta ceia celebramos com alegria o perdão dos pecados que Cristo conquistou para nós através do seu sacrifício. Nesta ceia nos alegramos com o grande amor de Deus revelado a nós na dádiva do Seu Filho para nossa salvação (I Jo. 4.10). Alegremo-nos com o perdão dos pecados que temos em Cristo e vivamos uma vida longe do pecado em gratidão a Deus por seu grande amor para conosco em Cristo.
Amém.
Elissandro Rabêlo
Bacharel em Teologia pelo CETIRB – Centro de Estudos de Teologia das Igrejas Reformadas do Brasil (Atual Instituto João Calvino) (1999-2004). Fez Convalidação de Teologia na Universidade Mackenzie em São Paulo (2017). Ministro da Palavra e dos Sacramentos da Igreja Reformada do Grande Recife (PE), servindo como Missionário da Igreja Reformada em Fortaleza (CE).
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.