Hebreus 06.01-20

Leitura: Hebreus 06.01-20
Texto: Hebreus 06.01-20

Amada Congregação do Nosso Senhor Jesus Cristo:

No início desta mensagem sobre Hebreus 6, precisamos nos lembrar o que veio antes nesta carta. Nós primeiros cinco capítulos de Hebreus, o autor está incentivando seus leitores a amadurecer, a seguir os passos de Cristo ao aprender a obediência. A avaliação do estado espiritual de seus leitores inclui palavras duras – ele acabou de lhes dizer que eles precisam de leite, e não de alimento sólido, que eles eram crianças na fé, que não eram qualificados na palavra de justiça. E agora, quando chegamos a Hebreus 6, nós o vemos começando com a expressão, “Por isso.” As divisões em nosso texto são artificiais – o autor não completou o capítulo 5 e depois disse ao seu escriba, ok, vamos começar o próximo capítulo. Ele continua seu pensamento aqui.

E quando lemos a expressão, “por isso,” precisamos nos perguntar, “Para que está aqui?” O autor acaba de acusar seus leitores de serem imaturos, de serem bebês na fé. Ele acabou de lhes dizer que eles precisam do leite dos primeiros princípios, a não da comida sólida das coisas profundas do Senhor. Mas o que ele faz? Ele continua falando sobre alguns dos tópicos mais profundos, mais importantes e mais sérios da palavra de Deus. Basicamente, o que ele está dizendo é o seguinte: vocês são imaturos na fé. Eu quero encorajar vocês a crescer. Então, é isso que vou fazer: vou seguir em frente. Vamos deixar a doutrina elementar para trás. Nós não vamos cobrir o terreno antigo aqui. Eu não vou ensinar vocês as coisas que vocês já aprenderam na sua aula de catecismo quando vocês se tornaram cristãos. Vou levar vocês à maturidade e vou abrir os seus olhos para as coisas profundas de Cristo.

Há algo muito importante para a igreja de hoje ver aqui no que o autor está fazendo. Ele não está permitindo que seus leitores permaneçam confortáveis onde estão. Ele está desafiando-os, muito diretamente, a crescer. E o modelo como eles vão crescer não é permanecendo inábil na palavra da justiça. Não é por ter seu professor continuando a abordá-los como se fossem bebês. Ele quer que eles amadureçam, e então ele os pega e os arrasta para a frente. Eles não precisam ter a base estabelecida para eles novamente – a base já foi construída. Eles não precisam reconstruí-la. Eles simplesmente precisam construir naquela base.

Então ele procede. Eles já aprenderam os rudimentos da fé – a mensagem de arrependimento e fé. Eles foram ensinados sobre o batismo e sendo purificado do pecado. Eles aprenderam sobre como o Espírito foi comunicado aos crentes através da imposição das mãos. Eles foram ensinados sobre a ressurreição e o julgamento vindouro. Agora eles têm que fazer o trabalho duro de aplicar tudo isso em suas vidas. Eles têm que seguir em frente.

Porque se eles não estão avançando, se não estão crescendo, estão recuando. Eles estão fazendo um reverso em suas vidas; eles estão encolhendo. Não há “pausa” na vida cristã. Não existe um “modo de manutenção” na caminhada cristã. Tem que haver uma pressão contínua, uma batalha contínua para alcançar o objetivo da nossa fé, porque se não houver, significa que estamos nos afastando. O crescimento é imprescindível, e se esse crescimento em direção à maturidade não faz parte de sua caminhada cristã, você está se colocando em extremo perigo.

E essa é a mensagem do autor nos versículos 4 a 8 de Hebreus 6. O autor usa vários meios para motivar seus leitores – ele usa o exemplo positivo do Senhor Jesus Cristo. Ele encoraja os leitores a permanecerem fortes e firmes na fé. Ele enfatiza a necessidade de gratidão em resposta aos grandes dons que Deus deu ao seu povo. Essas são todas as “técnicas” motivacionais muito positivas, se pudermos pensar nessa maneira. E o que realmente precisa nos motivar como povo de Deus é a gratidão e o encorajamento que vem de Cristo – esse deve ser nosso principal motivador.

Mas o autor de Hebreus e, mais importante, o Espírito Santo que o inspirou sua mensagem, também não tem medo de usar o que poderíamos chamar de um tipo de motivação mais “negativo.” Ele usa vergonha – essencialmente chamando os leitores de um grupo de bebês que precisam de leite e não de comida sólida. E ele também usa a ameaça de julgamento para levar os leitores de volta a Cristo. Mais adiante neste livro, ele retornará ao mesmo tema, com um dos mais poderosos avisos em todas as Escrituras:

“Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários. Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés. De quando mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça? Ora, nós conhecemos aquele que disse: A mim pertence a vingança; eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hebreus 10.26-31).

Não há maior motivação para o serviço do que gratidão ao seu libertador. Mas quando perdemos nosso foco, quando nos sentimos confortáveis onde estamos, quando nos esquecemos do que é que fomos salvos, quando somos tentados a abandonar a fé, ativamente ou passivamente por alguma outra alternativa, precisamos ouvir esses avisos. Precisamos ouvir a mensagem que não é muito agradável. Precisamos ter a espada da palavra de Deus penetrando profundamente em nós para nos despertar; se exige ação violenta, então ação violenta é necessária.

Porque enquanto há essa promessa de glória eterna para o povo de Deus, há também o lado negativo – a igualmente certa ameaça de julgamento que virá sobre aqueles que rejeitam a Deus. E para aqueles que tiveram um gostinho da boa vida, para aqueles que tiveram a porta do reino aberta para eles, para aqueles que tiveram um vislumbre da luz da salvação e da bondade de Deus e da glória e da majestade e do poder de Deus, para aqueles que receberam todos esses bons dons, e então os tomaram como garantidos, e se toraram blasé sobre eles, e finalmente os rejeitaram completamente… para eles, a expectativa de julgamento é ainda mais assustadora.

Essa passagem não é sobre a segurança eterna. Não é sobre a perseverança dos santos. Esta não é uma visão de Deus dos eleitos e dos réprobos. Muitas vezes essa passagem se torna ponto de debate ou controvérsia – uma pessoa pode perder a sua salvação? Aqueles escolhidos por Deus podem cair? O autor está falando sobre os eleitos, ou essas pessoas nunca realmente possuíram verdadeira fé e salvação em primeiro lugar?

O fato é que há outras passagens que falam claramente dessas questões. Se não tivéssemos outra passagem além de João 6.39-40 que ensinasse a doutrina da segurança eterna do crente, essa passagem seria suficiente. Porque Jesus disse isto:

“E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia. De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.”

O Filho não perderá nenhum daqueles que são dados a Ele pelo Pai. Todo ser humano que realmente crê, todos a quem o Pai deu a verdadeira fé através do Espírito Santo, certamente perseverão. Isso não pode ser negado, e essa passagem não pode ser usada para argumentar contra esse fato. Porque se olharmos para essa passagem como sendo um exercício de controvérsia teológica, se a única coisa que fazemos com essa passagem é trabalhar para encaixá-la em nosso sistema de doutrina, estamos perdendo o ponto.

Porque o autor está falando conosco de uma perspectiva que podemos ver. Ele está falando conosco da perspectiva da aliança. Todas as bênçãos que ele menciona são bênçãos que vêm ao povo da aliança. Todos nós já fomos “iluminados.” A luz do mundo brilhou sobre nós. A luz do evangelho nos foi revelada. O mundo incrédulo que odeia a Deus foi revelado a nós como sendo nada mais do que o lugar de escuridão.

Todos nós provamos do dom celestial. De alguma forma, a bondade de Deus nos foi revelada. Nas palavras de Salmo 34.8, somos convidados pelo próprio Senhor:

“Provai e vede que o SENHOR é bom; bem-aventurado o homem que nele se refugia.”

Todos nós temos compartilhado no Espírito Santo. Todos nós provemos a bondade da Palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro.

Mas, você pode perguntar, se o Espírito Santo é o Espírito de adoção como filhos, como o apóstolo Paulo diz em Romanos 8, se o Espírito é o Espírito da regeneração, que nunca pode ser tirado daqueles que são vivificados por Ele, como é possível para alguém que compartilhou no Espírito Santo se afastar de Cristo? João Calvino disse isto:

“Deus, de fato, não favorece a ninguém além dos eleitos somente com o Espírito da regeneração, e por isso eles se distinguem dos réprobos… Mas não posso admitir que tudo isso seja razão para que Ele não conceda os réprobos também algum gosto de sua graça, por que Ele não deveria irradiar suas mentes com algumas faíscas de sua luz, por que Ele não deveria dar a eles alguma percepção de sua bondade, e de alguma forma gravar sua palavra em seus corações.”

Em alguma maneira, todo o povo da aliança de Deus recebeu essas bênçãos. A questão que precisamos nos perguntar não é: “Eu sou reprovado?” ou “Eu sou eleito?” mas, “Eu estou respondendo ao evangelho de Deus, as boas novas da graça de Jesus Cristo, como deveria ser?” “Eu estou vivendo como filho fiel da aliança, ou estou seguindo os passos dos filhos da aliança no deserto, que provaram dos dons celestiais e compartilharam no chamado celestial, e depois rejeitaram tudo?” As coisas secretas pertencem ao Senhor; o eterno decreto de Deus é uma dessas coisas. Mas as coisas que Ele revelou – essas coisas pertencem a nós e aos nossos filhos.

A advertência, meus irmãos, não é para a outra pessoa – é para mim, e é para você. Esta não é uma passagem que nós apenas discutimos na terceira pessoa, de algum modo abstrato, para descobrir a quem ela se aplica e como encaixá-la em nosso sistema doutrinário. Fazer isso é fácil. E muitas vezes, infelizmente, é isso mesmo que nos satisfeita. Mas a parte difícil é tomar essa advertência, e os outros avisos das Escrituras, e levar eles a sério – aplicando honestamente a nós mesmos, não aos outros.

E o aviso tem um propósito muito importante. Deus nos avisa para nos acordar. Porque nós somos tão frequentemente sonolentos. Porque por natureza, em virtude de quem somos como descendentes de Adão, não somos diferentes do que o povo da aliança que se recusou a ouvir Jesus durante seu ministério terreno:

“O coração deste povo está endurecido, de mau grado ouviram com os ouvidos e fecharam os olhos,” disse Jesus (Mateus 13.15).

O propósito dessa passagem não é causar terror no coração das pessoas que caíram em pecados graves e se entristeceram com esses pecados e se voltaram para Cristo. Há muitas palavras de conforto nas Escrituras dirigidas a pessoas que tropeçaram seriamente e muitos encorajamentos para o povo de Deus sobre a graça de Deus. Esta é uma passagem que é uma séria advertência contra a rejeição do evangelho. “Cair” aqui significa renunciar à graça de Deus. Significa ouvir o chamado de Deus e dizer, “Não é para mim.” Significa rejeitar o Salvador em favor das coisas deste mundo, por qualquer motivo.

Para os leitores originais da mensagem de Hebreus, o perigo era cair por causa das lutas que estavam enfrentando por permanecerem na comunidade que se identificava com o Cristo crucificado e ressuscitado. Para nós, o perigo pode ser as tentações do mundo, a atração do pecado, os prazeres da vida, a aparente facilidade da vida como o mundo a leva. O perigo pode ser auto-justiça. Pode ser hipocrisia. Pode ser pensando em nós mesmos mais altamente do que deveríamos. Mas seja qual for o problema, o perigo é real, e esse aviso é uma questão de vida ou morte.

Meus irmãos, nosso Deus é muito gracioso. Ele é tardio em irar-se e cheio de amor e fidelidade. O Rei do Universo tem todo o direto de expulsar os rebeldes do seu Reino. O soberano Senhor da criação tem todo o direito de condenar todo e qualquer pecador ao eterno inferno por causa de sua glória e sua justiça. Mas ele não faz. Ele fornece uma saída. Durante séculos, o apóstolo Paulo escreveu em Romanos 10, Ele estendeu a mão a um povo desobediente e contrário. Em sua graça Ele é incrivelmente paciente. Ele mostra essa paciência para conosco com todos os dias de vida que Ele nos dá, cada dia que Ele nos dá para responder ao seu evangelho.

E podemos ver esse aviso como mais um exemplo da graça que Ele derrama sobre seu povo. Quando você está dormindo numa casa que está em chamas, e as paredes estão desmoronando em torno de você em chuvas de faíscas, e a fumaça está começando a sufocá-lo, a última coisa que você precisa é de alguém ficando na rua sussurrando, “Acorde!” O que você precisa é de alguém que vai correr para seu quarto, acordá-lo e arrastá-lo para fora da sua cama com força. É é exatamente isso que Deus está fazendo aqui. Ele está gritando para nós. Ele esta nos sacudindo. Ele está dizendo: “Acorde! Cuidado! Fique alerta!”

Porque se não o fizermos, não há segundas oportunidades. É impossível ser restaurado se você tiver caído. Cair longe de Cristo é o mesmo que submetê-lo à crucificação de novo. Significa desprezar o precioso Filho de Deus. É como receber um presente do seu pai e dizer a ele, “Não, eu não quero isso,” e jogando o presente na lixeira, e depois cuspindo nele. Rejeitar as bênçãos da aliança depois de ouvir as promessas de Deus repetidas vezes significa desprezar e rejeitar o Rei do Universo.

E como o Rei do Universo deve reagir quando estiver novamente sujeito à humilhação? Ele vai dizer: “Não se preocupe, tudo bem, você vai ficar bem”? Não, e não deveríamos dizer isso também. Porque rejeitar a Cristo somente levará a ser rejeitado por Cristo. Rejeitar as boas novas da salvação, profanar o sangue da aliança pela qual fomos santificados, ofender o Espírito da graça, desprezar o Filho de Deus, nos levará a uma coisa, e a uma só coisa: enfrentar a perfeitamente justa, absolutamente santa, completamente pura ira de Deus.

Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo, meus irmãos, e este é um dos atributos de Deus que deve nos levar a louvá-lo ainda mais. Porque a sua glória é acima de tudo. Sua justiça não será ridicularizada. Sua justiça não será minimizada. Ele é nosso Deus, e nosso Deus está nos céus e faz tudo o que agrada. Ele não existe para o nosso bem – nós existimos por sua graça e amor.

“Deus é justo juiz, Deus que sente indignação todos os dias. Se o homem não se converter, afiará Deus a sua espada; já armou o arco, tem-no pronto; para ele preparou já instrumentos de morte, preparou suas setas inflamadas” (Salmo 7.11-13).

Qual o objetivo de proclamar isso sobre nosso Deus, como o salmista faz em Salmo 7 Não é algo que preferimos manter oculto? Não preferiríamos nos concentrar apenas em seu amor? O último versículo de Salmo 7 nos diz por que isso é algo sobre o qual devemos cantar:

“Eu, porém, renderei graças ao SENHOR, segundo a sua justiça, e cantarei louvores ao nome do SENHOR Altíssimo” (Salmo 7.17).

Meus irmãos, esta advertência de julgamento é uma mensagem de amor – não tanto uma mensagem de amor por parte da pessoa que está apresentando esta mensagem, mas uma mensagem de amor do Senhor Altíssimo. Se Ele não se importasse, Ele não lhe avisaria sobre as consequências eternas das decisões que você toma nesta vida. Se Ele não tivesse compaixão, Ele não teria enviado seus servos para comunicar esta mensagem por milhares de anos. Mas o fato é que Ele nos deu este aviso para nosso próprio bem, porque:

“Como um pai se compadece de seus filhos, assim o SENHOR se compadece dos que o temem. Pois ele conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó” (Salmo 103.13-14).

Meus irmãos, fomos iluminados. Provamos o dom celestial. Compartilhamos no Espírito Santo. Provamos a bondade da Palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro. Então devemos seguir em frente em direção ao objetivo. Devemos permanecer firmes. Não devemos desistir ou ceder. Não devemos ser aqueles que recuam e enfrentam a destruição, mas aqueles que têm fé e preservam suas almas (Hebreus 10.39).

Que cada um de nós mostre o mesmo fervor para ter plena certeza de esperança até o fim, para que não sejamos indolentes, mas imitadores daqueles que, pela fé e pela longanimidade, herdam as promessas.

Amém.

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Jim Witteveen

Pr. Jim Witteveen é ministro da Palavra servindo como missionário da Igreja Reformada em Aldergrove (Canadá) em cooperação com as Igrejas Reformadas do Brasil. Atualmente é diretor e professor no Instituto João Calvino.

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.