Leitura: Salmo 84.01-12
Texto: Gênesis 02.01-03
Amada Congregação do Nosso Senhor Jesus Cristo:
Seis dias fundamentais, os primeiros seis dias da existência do universo, foram completados. Naqueles seis dias, a Terra foi transformada, de uma massa sem forma e vazia que não podia suportar a vida, para uma obra concluída, gloriosa e bela. Os céus estavam repletos de criaturas voadoras. Os céus abundavam com estrelas e planetas. Os mares fervilhavam de coisas vivas. A terra foi povoada de criaturas vivas e uma incrível variedade de plantas e árvores. E no último dia do trabalho criativo de Deus, Ele fez os seres humanos, o homem e a mulher, para governar tudo como Seus representantes. Todas essas coisas foram criadas pelo bom Criador para servi-Lo, glorificá-Lo e trabalhar para Ele. Tudo se encaixava perfeitamente; não havia uma falha, não faltava uma peça. Foi muito bom.
Mas embora o sexto dia marcou o fim do trabalho criativo de Deus, não marcou o fim da semana da criação. Porque um dia permaneceu. E esse dia seria um dia muito especial. Foi um dia diferente do que todos os outros – um dia que foi abençoado por Deus, um dia que foi santificado, um dia separado dos outros dias – este foi o primeiro sábado. O nome “sábado” vem da palavra “descanso” que encontramos em versículo 2 – Ele “descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito.”
O próprio fato de que Deus “descansou” de seus labores no sétimo dia leva a uma questão muito importante. No primeiro capítulo da Bíblia, aprendemos muito sobre o Deus Criador. Nós vimos Seu poder incrível. Vimos Sua capacidade de simplesmente falar as coisas para a existência. Vimos que Ele pode criar coisas absolutamente novas, sem usar nenhum material que existia anteriormente. Vimos a perfeição do Seu plano, como Ele fez tudo para trabalhar em conjunto como a máquina mais incrível que poderíamos imaginar. Vimos Sua sabedoria e Sua santidade, nas distinções e separações que Ele fez, distinguindo a luz das trevas, dia e noite, as águas acima das águas debaixo, os mares da terra seca, peixes e pássaros e animais conforme seus vários tipos, um luzeiro para governar o dia e outro para governar a noite, para marcar dias, tempos e estações e, finalmente, os seres humanos – o homem e a mulher.
Por que Deus precisaria descansar? Já é óbvio que o Deus que encontramos nas primeiras páginas da Escritura não precisa descansar, porque ele não se cansa. O profeta Isaías nos dá essa mensagem consoladora em Isaías 40.28-31:
“Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o SENHOR, o Criador dos fins da terra, nem se cansa, nem se fatiga? Não se pode esquadrinhar o seu entendimento. Faz forte ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor. Os jovens se cansam e se fatigam, e os moços de exaustos caem, mas os que esperam no SENHOR renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam.”
Portanto, é claro, em primeiro lugar, que Deus não descansou de seus labores porque estava cansado, ou porque precisava ter algum tempo para si mesmo, para se rejuvenescer, para se recuperar da importante tarefa de criar um universo inteiro. Mas por outro lado, isso não significa que Deus separaou o sétimo dia para ficar inativo. Em João 5.17, numa das muitas controvérsias que Jesus teve sobre o sábado, ele disse: Meu Pai está trabalhando até agora, e eu estou trabalhando. O Deus Criador não é o grande relojoeiro que criou sua máquina complexa, deixando-a a correr sozinha. Ele está intimamente envolvido em todos os aspectos da sua criação. Eles está constantemente ativo, ocupado com tudo.
Salmo 104 diz, “Do alto de tua morada, regas os montes; a terra farta-se do fruto de tuas obras. Fazes crescer a relva para os animais e as plantas, para o serviço do homem, de sorte que da terra tire o seu pão… Fez a lua para marcar o tempo; o sol conhece a hora do seu ocaso. Dispões as trevas, e vem a noite, na qual vagueiam os animais da selva… Todos esperam de ti que lhes dês de comer a seu tempo. Se lhes dás, eles o recolhem; se abres a mão, eles se fartam de bens. Se ocultas o rosto, eles se perturbam; se lhes cortas a respiração, morrem e voltam ao seu pó. Envias o teu Espírito, eles são criados, e, assim, renovas a face da terra.”
Esta é a obra da providência de Deus, de preservar e governar tudo o que Ele criou. Esse trabalho começõu junto com o trabalho criativo de Deus; mas continua desde então.
Então, Deus não teve que descansar. Ele não ficou exausto de seu trabalho. E embora ele tenha cessado sua obra de criação, ele não cessou sua obra da providência. Então, por que separar este dia?
E é aqui que a consideração de Deus de Suas criaturas humanas entra em jogo. Ele poderia ter criado o universo num instante, mas Ele espalhou esse trabalho por um período de seis dias, e descansou no sétimo, para nos dar um padrão para ser seguido. Somos a sua imagem. Somos chamados a pensar seus pensamentos depois dele. Devemos refletir quem ele é e o que ele fez para governar nossas vidas de acordo com os padrões e leis que ele estabeleceu, em todo nível de nossa existência. Esse é o caminho da sabedoria, alinhando nossa vida com a vontade de Deus. Então, quando Deus descansou, quando Ele cessou seu trabalho criativo, no sétimo dia, ele estava nos dando, como pessoas criadas à sua imagem, um padrão que deveríamos seguir.
Jesus disse que o sábado foi criado para o homem, não o homem para o sábado (Marcos 2.27). Deus tinha o homem na sua mente quando criou o dia do Senhor juntamente com tudo o mais que ele fez. Ele nos chama para imitá-lo. Esta é uma ordenança da criação, juntamente com a ordenança do casamento e o mandamento de trabalhar. O sábado não era algo novo quando Deus deu as dez palavras da aliança a Moisés no Monte Sinai. O quarto mandamento não foi algo que veio do povo de Israel do nada; era uma lembrança do dia que Deus já havia posto em prática na semana da criação.
Nós dez mandamentos, como os temos em Deuteronômio 5, o sábado é ordenado como ordenança da redenção – o povo de Deus sendo chamado para guardar o sábado, lembrando-se de que haviam sido escravos no Egito e que os havia tirado da escravidão com mão poderosa e o braço estendido. Mas na primeira revelação dos mandamentos, em Êxodo 20, a justificativa para guardar o quarto mandamento é esta: Porque em seis dias fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há, e ao sétimo dia descansou. Por isso o SENHOR abençoou o dia de sábado e o santificou.
Mas as palavras de Deuteronômio 5.14 e várias outras passagens na Escritura deixam bem claro qual o objetivo deste sábado – o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus, dedicado ao SENHOR. O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado, mas o homem foi feito para o Senhor. E aquele sétimo dia, separado, santificado e abençoado, era um sábado para o SENHOR.
Qualquer artista ou artesão sabe o que significa concluir um projeto. Ela usa seu tempo e esforço para fazer algo único, algo bonito, algo louvável – uma obra de arte. Quando o projeto é concluído, o artista dá um passo para trás e admira seu trabalho. Há uma verdadeira satisfação que vem de completar uma tarefa, de criar algo que traga alegria, seja para o criador ou para a pessoa para quem o trabalho foi feito.
Depois de cada passo em sua obra de criação, é exatamente isso que nosso Criador fez. É como se ele desse um passo para trás, examinando seu trabalho e se regozijando nele. Sabemos que a obra da criação foi a obra do Deus Triúno – Pai, Filho e Espírito Santo. As três pessoas da Trindade estavam ativas no processo criativo – o Pai falou a Palavra; pelo Filho, por meio do Filho, todas as coisas foram criadas; o Espírito estava presente no início, pairando sobre as grandes profundezas, e deu a vida. E quando o trabalho da criação foi feito, o Criador realizou Sua avaliação final. O Mestre Artístico examinou Sua criação e, como Deus Triúno, o Pai se alegrava no Filho, e o Espírito se regozijava no Pai e no Filho. E isso é como deveria ser; todas as coisas foram feitas para a glória de Deus, e todas as coisas eram boas.
Assim, o primeiro sábado foi também um sábado “para o Senhor” – um dia que Ele separou para contemplação da sua glória, um dia que ele separou para adoração. Lembre-se que este dia foi instituído antes da queda no pecado, então este dia semanal de adoração especial, de contemplação especial da bondade do Criado, não era algo que tinha que ser instituído após a queda por causa do pecado do homem. Mesmo no Jardim de Éden, na perfeição e harmonia que existia antes da queda, o homem tinha um dia entre sete para concentrar sua atenção em Deus. E aquele dia que foi santificado foi o primeiro dia completo da vida de Adão e Eva.
Toda a vida é adoração. Toda a vida é para louvar e glorificar a Deus. Paulo apela a nós em Romanos 12.1 “pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” Assim, toda a vida é adoração; tudo o que fazemos, por mais ordinário que seja, por mais banal que possa parecer para nós, é uma parte dessa adoração, que deve definir nossa vida.
Mas Deus reservou um dia, um dia de adoração especial, um dia de culto corporativo, adoração em união com outros. Naquele dia, Ele cessou deu trabalho criativo e pediu que descansássemos também de nosso trabalho diário, para que possamos nos concentrar nele de uma maneira especial e importante.
O sábado nunca foi feito para ser um fardo. Nunca foi feito para ser trabalho penoso, algo que temos que fazer, que temos que suportar, para sermos obedientes. Se pensarmos no dia do Senhor dessa maneira, estamos caindo no mesmo pecado que o povo de Israel caiu no tempo do profeta Amós. Amós repreendeu Israel com estas palavras durante seu ministério:
“Ouvi isto, vós que tendes gana contra o necessitado e destruís os miseráveis da terra, dizendo: Quando passará a Festa da Lua Nova, para vendermos os cereais? E o sábado, para abrirmos os celeiros de trigo, diminuindo o era, e aumentando o siclo, e procedendo dolosamente com balanças enganadoras, para comprarmos os pobres por dinheiro e os necessitados por um par de sandálias e vendermos o refugo do trigo?”
Eles podem ter guardado o sábado superficialmente, mas suas atitudes mostravam onde estavam seus corações. Eles estavam perdendo a alegria de lembrar o dia de sábado, porque seus corações não estavam certos com Deus. O profeta Isaías destacão esse ponto claramente em Isaías 56 e 58, ligando a celebração do sábado com as bênção da Nova Aliança:
“Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do SENHOR, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs, então, te deleitarás no SENHOR. Eu te farei cavalgar sobre os altos da terra e te sustentarei com a herança de Jacó, teu pai, porque a boca do SENHOR o disse” (Isaías 58.13-14).
“Chame ao sábado deleitoso e santo dia do SENHOR, digno de honra.” É isso que o SENHOR quer de nós como Seu povo; receber o dom que Ele nos deu, honrá-lós, recebê-lo com ações de graças e regozijar-nos nesse dia, e no Deus que nos deu.
No dia do Senhor, recebemos um pouco da glória do céu, do nosso descanso eterno; é um dia que pretende ser um antegozo da eternidade, uma eternidade que para o povo de Deus significa descanso eterno, cessação, para sempre, do pecado e da miséria que flui do nosso pecado. E isso é especialmente verdade para o tempo que passamos em adoração com nossos irmãos. O autor de Hebreus diz isso:
“Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembléia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados, e a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da aspersão que fala coisas superiores ao que fala o própria Abel.”
O clímax do dia do Senhor é o tempo que passamos em adoração e comunhão com nossos irmãos. Um autor coloca desta forma, podemos aplicar essas palavras diretamente a nossa própria experiência: “Embora alguns de nós se reúnam em pequenas congregações em prédios simples, com cantos não profissionais, devemos ir ao culto corporativo reconhecendo que, de uma maneira peculiar, entramos no santuário celestial e nos juntamos ao coro de uma inumerável companhia de anjos.”
Esta é uma bênção que recebemos pela fé. O dia de descanso, de culto, de comunhão, o dia que podemos dedicar ao serviço do Senhor, não é simplesmente uma parte da Antiga Aliança que não é para nós; o sábado do Antigo Testamento foi transformado no Dia do Senhor. O Senhor Jesus, que se chamava o Senhor do sábado, completou sua obra na sexta-feira santa, no sexto dia, e tendo feito esta declaração, Está consumado, ele descansou no sábado. Ele ressuscitou no domingo e, por meio dessa ressurreição, ele fez aquele dia o dia do Senhor. B.B. Warfield colocou lindamente: “Cristo levou o sábado para a sepultura com Ele, e trouxe o dia do Senhor para fora da sepultura com ele na manhã da ressurreição.”
Portanto, do dia de nosso Senhor tem um significado ainda maior do que o sábado do Antigo Testamento, porque celebramos um dia em sete como ordenança de criação e também em cumprimento da ordenança de redenção que mencionei anteriormente. Como povo de Deus, fomos liberados, não apenas da escravidão sob o poder humano, mas da escravidão do pecado e da morte. Fomos libertados – libertos do pecado, através da obra de Jesus Cristo, e libertados para adorar nosso Criador e Salvador.
O dia do Senhor não é destinado a ser uma forma de escravidão – é uma celebração dessa liberdade, um dia de liberdade, quando nos afastamos dos cuidados diários que muitas vezes ameaçam nos dominar. Pela fé em Cristo, podemos, como o apóstolo Paulo diz em Colossenses 3, buscar as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Podemos pensar nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque morremos, e a nossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus. E Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, nós também seremos manifestados com ele, em glória.
Aquele dia especial é um presente de Deus para nós, um dom que nos chama de vota das coisas deste mundo; este dia nos impede de nos perdermos nas coisas terrenas, enquanto esquecemos as realidades celestes. Em 1851, Gardiner Spring escreveu o seguinte: “A grande desculpa com a massa de homens para não prestar a devida atenção às preocupações da alana que sua importância exige, é que eles não têm tempo para esse serviço; e para remover e silenciar para sempre esta desculpa, o Deus do céu separou um dia em sete e, assim, uma sétima parte da vida de cada homem para ser dedicada aos interesses de sua imortalidade.”
Há um ditado em inglês que descreve uma pessoa que é “tão celestial que ele não é de uso mundano.” Mas o problema que enfrentamos não é que somos muito celestiais; nosso problema geralmente é que estamos muito foçados nas coisas deste mundo, e nos esquecemos de fixar nossos olhos no céu e no Senhor do céu e da terra. O fato é que, somente se tivermos a mentalidade celestial, realmente seremos de algum uso terreno. Só então o trabalho que fazemos nos outros seis dias da semana terá algum significado. Mas como disse Gardiner Spring, Deus nos deu Seu dia para que possamos ter a mentalidade celestial. E isso faz com que todos os outros dias da semana sejam mais significativos.
Não somos chamados a ficar ociosos neste dia; não é um dia para ser gasto dormindo, esperando o momento em que possamos voltar às atividades que realmente importam. É um dia de ação, de serviço ativo do Deus que nos criou, que nos redimiu, que se importa conosco, o Deus que merece e exige nossa devoção completa.
O dia de descanso, o dia do Senhor, é, como diz o salmista em Salmo 118.24: “o dia que o SENHOR fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele.” Como povo de Deus, como aqueles unidos a Jesus Cristo pela fé, podemos dizer isso a cada dia de nossa vida; mas podemos dizer isso especialmente sobre aquele dia em sete que Ele reservou para o propósito específico de adorá-lo. Portanto, vamos nos regozijar nele. Vamos nos alegrar com o dom que ele nos deu neste dia.
E neste dia podemos aguardar com expectativa nosso descanso eterno. Como fazemos isso? Nosso catecismo de Heidelberg diz que o quarto mandamento exige “que eu, especialmente no dia de descanso, seja diligente em ir à igreja de Deus para ouvir à Palavra de Deus, participar dos sacramentos, para invocar publicamente ao Senhor e para praticar a caridade cristã para com os necessitados.” Mas o Catecismo também nos lembra do significado mais profundo deste dia. O dia do Senhor nos lembra que em todos os dias da nossa vida somos chamados a cessar as nossas más obras, deixar o Senhor operar em nós por Seu Espírito Santo, e assim começar nesta vida o descanso eterno.
Chamemos este dia, o dia que o SENHOR reservou, um deleite; e que Ele nos dê corações e mentes que não apenas estejam dispostos, mas desejosos de honrá-lo e honrar seu Criador.
Amém.
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.