Leitura: Romanos 4, Confissão Belga – Artigo 22
Texto: Dia do Senhor 7
Link: https://www.youtube.com/watch?v=nDOaYXIeI1s
Amada congregação do Senhor Jesus,
Nos primeiros anos do século XX, havia um refrão comum em muitas igrejas pela América do Norte. Dizia-se que “o Cristianismo não é uma doutrina, mas uma vida.” As pessoas que diziam isso eram liberais, teologicamente liberais, que não acreditavam que a Bíblia fosse uma revelação de Deus. Argumentavam que o Cristianismo tem mais a ver com ações do que com credos. Não é tanto sobre o que acreditamos, mas sobre o que fazemos. Diziam que fé não é concordar com um credo, mas ter confiança em uma pessoa. Não é necessário conhecer a Deus, mas senti-lo e experimentá-lo. Era isso que os liberais diziam no início do século XX.
Hoje, ouvimos o mesmo refrão, mas agora vindo de quem afirma levar a Bíblia a sério. Um pastor e autor americano popular tem defendido que o Cristianismo é mais sobre ações do que sobre credos. A doutrina divide, mas o serviço une. Naturalmente, isso também influencia a visão sobre a fé. A fé tem pouco a ver com o conteúdo daquilo em que acreditamos; é mais uma questão de experiência, de sentimento. A fé não é tanto voltada para fora, mas para dentro, em busca de uma nova sensação. Esse foco na experiência se reflete na literatura cristã popular de hoje, na música, na adoração e em muitas outras áreas.
Mas o que a Bíblia ensina sobre tudo isso?
É isso que queremos considerar nesta tarde, ao refletirmos sobre um resumo do ensino bíblico apresentado no Dia do Senhor 7. O Catecismo começa perguntando sobre a salvação. Todos os homens estão condenados por causa de Adão; isso significa que todos também são salvos por Cristo? A resposta é clara: a salvação só é possível através de uma fé verdadeira. A fé verdadeira é o meio pelo qual alguém é unido a Cristo. Ter uma fé verdadeira significa aceitar todos os benefícios de Cristo. Se você não está unido a Cristo pela fé, se você não aceita todos os seus benefícios, não pode ser salvo da ira que há de vir.
Esse é o ponto essencial aqui.
Como a salvação é possível? Como podemos estar em paz com um Deus santo que, com justiça, está irado conosco por causa dos nossos pecados? Como Deus pode passar de nosso juiz a nosso Pai? Essas são as perguntas que o evangelho responde. A Bíblia não trata de autoaperfeiçoamento ou de encontrar uma paz fácil e passageira. Ela fala sobre como Jesus – e somente Jesus – nos coloca em paz diante de um Deus santo que odeia o pecado. Fala sobre o fato de que não fizemos nada para merecer esse amor de Deus. É a história mais incrível e bela já contada. A fé é o meio pelo qual somos inseridos nessa história.
Proclamo a Palavra de Deus sob o seguinte tema:
Para ser salvo por Cristo, é necessária uma fé verdadeira.
Vamos considerar:
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- O coração da fé salvadora
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- O objeto da fé salvadora
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- A origem da fé salvadora
De acordo com o Catecismo, a fé verdadeira é composta por três aspectos. Sei que muitos de nós estamos acostumados a ver apenas dois aspectos na pergunta e resposta 21, mas, ao observar com mais atenção, podemos identificar três.
Confessamos que “a fé verdadeira é um conhecimento seguro pelo qual aceito como verdadeiro tudo o que Deus revelou em Sua Palavra.” Em primeiro lugar, a fé verdadeira envolve um conhecimento seguro. Trata-se de compreender as verdades importantes da Bíblia. Os cristãos são pessoas que, com a mente, possuem uma compreensão sobre Cristo e o evangelho. Foram instruídos nos fatos essenciais e os conhecem. Existe algo como “a fé cristã”; há um conjunto objetivo de doutrinas cristãs básicas que todos os crentes devem entender com a mente.
Em segundo lugar, a fé verdadeira envolve um “conhecimento seguro pelo qual aceito como verdade tudo o que Deus revelou em Sua Palavra.” Para que a fé seja verdadeira, um simples conhecimento intelectual não é suficiente. Precisamos ir além e afirmar que todos os fatos que conhecemos são verdadeiros. O que Deus diz em Sua Palavra sobre mim em meu pecado é verdadeiro. O que Deus diz em Sua Palavra sobre Cristo como meu Salvador é verdadeiro. Eu creio que tudo o que está na Bíblia é verdade, pois vem de Deus.
Tanto o primeiro quanto o segundo elementos envolvem a mente ou o intelecto. O terceiro elemento da fé verdadeira envolve nossa vontade. A fé verdadeira (verdadeira fé) não é apenas uma questão de mente, mas também envolve confiança; é um ato da vontade. O Catecismo diz que é uma firme confiança de que Deus concede graciosamente ao Seu povo, incluindo a mim, o perdão dos pecados, a justiça eterna e a salvação.
Vamos examinar mais de perto esse terceiro elemento com a ajuda de Romanos 4. Romanos 4 é o exemplo de Paulo para a justificação pela fé somente. Nos três primeiros capítulos, Paulo argumenta que ninguém é justo diante de Deus. Ninguém se torna justo diante de Deus pelo que faz. Em seguida, ele conclui o capítulo 3, insistindo que ser justificado, ou seja, estar em paz com Deus, só é possível pela fé em Jesus Cristo. Agora, no capítulo 4, ele se volta para Abraão e diz: “Vamos ver o que aconteceu com Abraão e sua justificação.” Ele faz isso por uma razão estratégica: deseja responder aos judaizantes, que distorceram o evangelho ao afirmar que a salvação é obtida por Cristo mais as boas obras. Os judaizantes consideravam Abraão como pai deles, então Paulo diz: vamos olhar para Abraão e ver o que aconteceu com ele.
O versículo 3 de Romanos 4 diz: “Abraão creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça” – aqui Paulo está citando Gênesis 15. Se voltarmos a Gênesis 15, encontraremos um contexto. Gênesis 15:1 nos diz que a palavra de Yahweh veio a Abrão, seguida da promessa de Deus de ser o escudo e a recompensa de Abrão. O versículo 4 diz novamente que a palavra de Yahweh veio a Abrão, e ali encontramos a promessa de Deus de lhe dar um filho.
Abraão tinha os fatos da revelação de Deus. Ele entendeu o que Deus estava dizendo. Quando olhou para o céu noturno e viu milhares de estrelas, compreendeu com a mente o que Deus lhe estava revelando. Mas ele foi além de apenas compreender; ele aceitou como verdadeira a revelação de Deus. E não parou aí. Ele também confiou em Deus e descansou em Suas promessas. Romanos 4:18 faz a conexão entre a fé e a esperança de Abraão. Sua esperança e confiança estavam em Deus e em Suas promessas. Romanos 4:21 nos diz que Abraão estava plenamente convencido de que Deus tinha poder para cumprir o que havia prometido. Sua fé era plena, ele confiava totalmente em Deus e descansava Nele.
Assim também deve ser para os crentes hoje. Abraão olhou para fora de si mesmo, para Deus, Sua Palavra, Suas promessas. Nossa fé hoje precisa fazer o mesmo. Precisamos olhar para fora de nós mesmos e descansar em outro, em Jesus Cristo, que é o cumprimento de todas as promessas de Deus. A fé não se trata de uma experiência interna, de olhar para dentro em busca de algo, algum tipo de sentimento, mas de olhar para fora, para Jesus Cristo, e confiar Nele, apoiar-se Nele, depender Dele. Deixe-me chamar você, pela Palavra de Deus, a fazer isso mais uma vez hoje. Deixe a Palavra de Deus chamá-lo a dizer: “Sim, Senhor, eu sei o que a Tua Palavra diz, e sei que é verdade, e confio e creio que concedeste a mim o perdão dos pecados, a justiça eterna e a salvação, por pura graça, apenas pelos méritos de Cristo.”
Agora, vamos considerar o objeto da fé salvadora. Em quem devemos crer para sermos salvos? Essa é uma pergunta importante, e não devemos dar como certo que estamos fazendo essa pergunta. Hoje em dia, é comum ouvir as pessoas falarem sobre fé, e, às vezes, parece quase uma fé sem objeto. Acontece de ouvirmos descrentes, em momentos de dificuldade, dizendo coisas como: “Você tem que ter fé.” Certo, mas fé em quê? Ou em quem?
A fé bíblica e salvadora não é uma virtude geral pela qual alguém mantém a cabeça erguida quando as coisas vão mal. Pelo contrário, ela é muito específica, direcionada a algo, ou melhor, a alguém. A fé salvadora crê em tudo o que está escrito na Lei e nos Profetas, como Paulo diz em Atos 24:14. Mas vai além, descansando no próprio Cristo, aquele para quem a Lei e os Profetas apontavam. João 3:16 diz: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” Atos 10:43 acrescenta: “Todos os profetas dão testemunho dele, de que todo o que nele crê recebe o perdão dos pecados por meio do seu nome.”
Com Abraão também, sua fé tinha um objeto. Ele acreditou em Deus. Romanos 4:4 diz que ele confiou em Deus. Romanos 4:16 fala sobre o Deus em quem ele acreditou. Ele creu nas promessas de Deus, o que, para um crente do Antigo Testamento, era o equivalente a crer em Cristo para um crente do Novo Testamento.
Essa ideia de crer nas promessas de Deus também é capturadano Catecismo com a pergunta e resposta 22. Quando perguntados sobre o que um cristão deve crer, os autores do nosso Catecismo falaram sobre tudo o que nos é prometido no evangelho, tudo o que está resumido no Credo Apostólico. Todo domingo, confessamos nossa fé, e geralmente usamos o Credo Apostólico, normalmente o cantamosjuntos. É muito fácil fazer isso de forma automática, sem nem pensar no que estamos cantando. Você já parou para pensar que o Credo é um resumo das promessas do evangelho de Deus? Pense nisso. Deus promete ser nosso Pai. Deus promete ser nosso Salvador. Deus promete ser nosso Renovador. Poderíamos passar por cada artigo do Credo e explicar isso hoje à tarde, mas “talvez seja” algo para as próximas semanas. Tudo o que é prometido no evangelho está lá na confissão de fé que cantamos juntos a cada semana. Ouvimos a lei no culto da manhã e, à tarde, tomamos a confissão do evangelho em nossos lábios. Lei e evangelho todos os domingos, ambos nos direcionando ao Deus da nossa salvação.
Quando falamos sobre o objeto de uma fé salvadora, ele deve ser o Deus que se revelou nas Escrituras: Pai, Filho e Espírito Santo. Claro, a fé em Jesus está incluída nisso, confiando em sua obediência perfeita e em seu sacrifício perfeito. Mas nunca devemos pensar que a fé em Deus Pai ou a fé em Deus Espírito Santo é opcional. Para ser salvo, um cristão deve crer em tudo o que nos é prometido no evangelho, que os artigos do Credo Apostólico nos ensinam em resumo. Esses artigos mostram que as promessas do evangelho estão entrelaçadas com o Deus trino. Crer verdadeiramente no Deus Triúno é crer no evangelho; crer verdadeiramente no evangelho é crer no Deus Triúno.
Isso nos leva a considerar brevemente a origem da fé salvadora. De onde vem a fé? O Catecismo oferece a resposta bíblica simples: “Esta fé o Espírito Santo opera em meu coração pelo evangelho.” Aqui, há alguns pontos a serem observados.
Em primeiro lugar, é o Espírito Santo quem opera a fé. Efésios 2:8 é uma das passagens-chave para entender isso: “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé – e isto não vem de vocês, é dom de Deus.” A fé é um presente de Deus. 1 Coríntios 2:10-14 aprofunda esse conceito, revelando que se trata da obra do Espírito Santo.
Em segundo lugar, o Espírito Santo opera essa fé em nossos corações. Embora a fé esteja voltada para o seu objeto (Deus), ela é algo que existe dentro de cada crente. Em outras palavras, ninguém pode ter fé em seu lugar. Embora a fé exista dentro do contexto da igreja e em comunhão com outros crentes, ela é algo pessoal e individual.
Por fim, essa fé é operada pelo Espírito Santo por meio de uma ferramenta ou instrumento: o evangelho. Romanos 1:16 diz: “Não me envergonho do evangelho, pois é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê…”. E Romanos 10:17 também afirma isso: “Consequentemente, a fé vem pelo ouvir a mensagem, e a mensagem é ouvida mediante a palavra de Cristo.”
Portanto, quando falamos sobre a origem da fé salvadora, olhamos para Deus e seu Espírito trabalhando através de Sua Palavra em nossos corações. É a graça soberana de Deus que nos salva por meio de Cristo e é essa mesma graça que nos leva a abraçar o evangelho e aceitar todos os benefícios de Cristo. Ao mesmo tempo, existe um chamado à fé, um convite que se dirige a cada um de nós individualmente. Para ser cristão, é necessário crer em certas coisas. Existe, então, uma responsabilidade humana.
E é aí que concluímos esta tarde: com a nossa responsabilidade. Simplesmente, a Palavra de Deus nos chama, nesta tarde, a crer em tudo o que é prometido no evangelho. A afirmar que Jesus Cristo é nosso Salvador e que tudo o que a Bíblia diz sobre Ele e sobre a nossa salvação é verdade. A Palavra nos chama a rejeitar essa ideia falsa e perigosa de que a doutrina é irrelevante ou sem importância, de que devemos focar mais nas ações e menos nas crenças. Precisamos das doutrinas reveladas nas Escrituras, pois elas são a base de nossa fé. Como podemos abraçar todas as promessas do evangelho se considerarmos essas promessas irrelevantes? Seguir o lema de “ações, não crenças” pode levar a uma religiosidade externa, mas, em última análise, não levará ao Cristo revelado nas Escrituras.
Mas alguém poderia dizer: “E o que Tiago diz sobre a fé sem obras ser morta?” Sim, a epístola de Tiago afirma que uma fé viva produz frutos de boas obras. E sim, uma fé verdadeira fará isso — confessamos isso no Catecismo nos Dias do Senhor 32-33. Mas isso não tem a ver com a base, com o fundamento de nossa salvação. A Bíblia não nos orienta a basear nossa salvação no que fazemos, a focar nossos olhos nas nossas obras ou a colocar nossa fé em nossas ações. Em vez disso, ela nos diz em Hebreus 3:1: “Portanto, santos irmãos, participantes da vocação celestial, considerem atentamente a Jesus, o apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão.” E em Hebreus 12:2: “Fixemos os olhos em Jesus, autor e consumador da nossa fé.”
Dorothy Sayers foi uma famosa romancista britânica de algumas gerações atrás. Ela viveu durante a encarnação do mantra anti-doutrina do início do século XX. Em seu livro Creed or Chaos, ela escreveu: “Somos constantemente assegurados de que as igrejas estão vazias porque os pregadores insistem demais em doutrina — ‘dogma enfadonho’, como as pessoas chamam. O fato é justamente o oposto. É o descaso com o dogma que causa tédio. A fé cristã é o drama mais emocionante que já abalou a imaginação humana — e o dogma é o drama. Nas próximas semanas, estaremos novamente considerando esse dogma dramático, tudo o que nos é prometido no evangelho. Ao ouvi-lo de novo, e a cada domingo, creia nele.
Amém!

Wes Bredenhof
Wes Bredenhof é um pastor e teólogo canadense, atualmente servindo na Free Reformed Church of Launceston, na Tasmânia. Formado em Teologia pelo Canadian Reformed Theological Seminary, obteve um Doutorado em Teologia pela Reformation International Theological Seminary. Iniciou seu ministério como missionário entre os indígenas de Fort Babine, BC, e pastoreou igrejas no Canadá antes de se mudar para a Austrália. Autor de vários livros e artigos.
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.