Dia do Senhor 49

Leitura: Mateus 06:09-10; 12:46-50
Texto: Dia do Senhor 49

Amados irmãos em Cristo e prezados ouvintes

Na terceira petição de Sua oração, Jesus nos ensinou a pedir o seguinte ao Nosso Pai Celeste: “Faça-se a tua vontade assim na terra como no céu”. Essas palavras da terceira petição são conhecidas por muitas pessoas que fazem à oração do Pai Nosso. Mas será que todos que conhecem estas palavras e as usam em suas orações, realmente entendem o que estão pedindo a Deus? Infelizmente não. Alguns usam essas palavras com um entendimento errado do que esta petição significa. Outros usam estas palavras por mera tradição ou com um coração vazio, sem a intenção sincera de cumpri-las. E quanto a você que é filho de Deus? Você sabe o que está pedindo a Deus quando diz: “Faça-se a tua vontade”? Você reconhece a importância dessa petição para a sua vida como filho de Deus? Você faz essa petição com um coração disposto a se submeter à vontade de Deus? O que Jesus quer de você com esta petição? Ouça o chamado de Cristo para você na terceira petição da oração que ele nos ensinou:

PEÇA A DEUS PARA QUE A VONTADE DELE SEJA FEITA

Observe que há uma relação íntima entre as três primeiras petições da oração do Senhor. Elas apontam para a glória de Deus e estão ligadas umas às outras. O nome do Nosso Pai só pode ser santificado quando ele é reconhecido como Rei, ou seja, quando as pessoas se submetem ao seu governo soberano. E qual é a manifestação dessa submissão ao governo do Rei? É o cumprimento da sua vontade entre os homens. Santificamos o nome do Senhor e manifestamos a presença do seu reino entre nós quando a sua vontade é feita em nossas vidas. Daí a importância de pedirmos a Deus: “Faça-se a tua vontade assim na terra como no céu”.

Mas o que realmente estamos pedindo a Deus quando rogamos: “faça-se a tua vontade”? Precisamos compreender o significado real dessa petição. Para isso é importante entender o significado da palavra “vontade” aqui na terceira petição. É claro que Jesus está falando da vontade de Deus, daquilo que Deus quer e deseja que seja feito. Porém, precisamos saber que a Bíblia fala da vontade de Deus em pelo menos dois sentidos importantes. Em primeiro lugar a Bíblia fala da vontade decretiva de Deus que é o seu plano soberano pelo qual ele decretou tudo o que acontece no universo. Isaías 46.9,10 fala dessa vontade soberana do Senhor, pela qual as coisas que ele decretou vão acontecer. Foi por essa vontade de Deus que o universo foi criado (Ap.4.11); que nós fomos escolhidos para a salvação (Ef.1.11) e que Cristo se entregou na cruz pelos nossos pecados (Gl.1.4) Essa vontade de Deus não pode ser quebrada. Ela sempre será feita, tanto na terra como no céu, pois não depende dos homens, mas do poder e da graça de Deus que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade.

Por outro lado, a Bíblia fala também da vontade moral de Deus. Essa vontade está revelada na Bíblia e constitui todos os preceitos e mandamentos que o Senhor deseja que nós cumpramos para agradá-lo. Os dez mandamentos, por exemplo, são uma revelação clara da vontade moral do Pai para as nossas vidas como seus filhos. Ele nos ensina o que devemos e não devemos fazer para realizar a sua vontade. É sobre essa vontade, esse desejo de Deus de guardarmos os seus mandamentos que Jesus fala aqui na terceira petição. Por isso ele acrescenta: “assim na terra como no céu”. Pois essa vontade (fazer aquilo que Deus quer) é cumprida perfeitamente no céu pelos anjos, mas não aqui na terra pelos homens. Aqui na terra, a vontade do Senhor tem sido quebrada pelos homens. A cada dia nós mesmos temos desobedecido à vontade do Nosso Pai. É exatamente por isso que Jesus nos ensina a orar: “Pai Nosso, faça-se a tua vontade assim na terra como no céu”.

Fica claro, portanto, que quando oramos a terceira petição não estamos pedindo a Deus que cumpra a sua vontade soberana em nossas vidas, mas que nós cumpramos a sua vontade revelada (seus mandamentos). Não precisamos pedir a Deus que cumpra a sua vontade soberana, pois Ele certamente fará isso. E nós devemos nos submeter a essa vontade soberana de Deus na certeza de que todas as coisas que nos acontecem cooperam para o nosso bem e salvação (Rm. 8.28). Por outro lado, o que precisamos pedir a Deus é que nós, enquanto peregrinos nesta terra, façamos a sua vontade, que ele nos ajude a fazer o que lhe agrada, pois nem sempre conseguimos fazer isso aqui na terra.

O catecismo no domingo 49 explica muito bem o significado bíblico da terceira petição. Veja a primeira parte da resposta 124: “Que nós e todos os homens renunciemos à nossa própria vontade, e sem murmuração obedeçamos à Tua vontade, a única que é boa”. Em outras palavras é como se você pedisse a Deus: “Meu Pai, os homens do mundo não te obedecem. Dá que eles se arrependam e se submetam à tua boa vontade. Quanto a mim, teu filho, me ajuda a deixar os meus pecados que só me prejudicam e te entristece e me dê força para que eu obedeça aos teus mandamentos para o meu bem e a tua alegria”. É assim que precisamos orar. Com um coração disposto a renunciar a nossa própria vontade e obedecer à vontade de Deus sem murmuração. Você tem orado dessa maneira? É desejo do seu coração lutar contra os seus pecados, renunciando a sua vontade e buscando fazer a vontade de Deus? Você reconhece que a vontade do Senhor é boa e tem prazer em obedecê-la? Você é um filho que deseja agradar o Seu Pai do Céu? Então ore com alegria: “Pai, faça-se a tua vontade na minha vida”.

Irmãos. Jesus nos ensina na terceira petição que em nossa vida aqui na terra somos chamados a renunciar a nossa própria vontade. Os ímpios que não conhecem a Deus não se importam com a vontade do Senhor, mas seguem a sua própria vontade. Eles não dão a mínima para os mandamentos de Deus, mas têm prazer nos seus pecados. Há também aqueles que até oram o Pai Nosso, mas não têm a intenção sincera de fazer a vontade de Deus. Não oram com um coração disposto a renunciar a sua vontade e seguir a de Deus. Jesus nos chama a orar por estas pessoas na terceira petição. Ele também nos chama a orar por nós mesmos, pois nem sempre fazemos à vontade de Deus. Aqui na terra vivemos uma luta contra o nosso próprio pecado. Há uma luta no coração de cada crente entre fazer a sua vontade pecaminosa e fazer a boa vontade de Deus. Aqui na terra é diferente do céu. No céu há perfeição, mas aqui na terra a perfeição ainda não chegou. Ela só virá com a plenitude do reino. Temos de lutar contra nossa velha natureza, renunciar o pecado que ainda nos incomoda.

A verdade é que conhecemos a vontade de Deus, porém muitas vezes deixamos de praticá-la para fazer a nossa própria vontade. “O querer o bem está em nós, mas não o efetuá-lo” (Rm. 7.18). Mas Cristo nos chama a renúncia: “Faça a tua vontade, Pai, e não a minha”. “Se alguém vem após mim a si mesmo se negue” (Mt. 16.24). Esse é o nosso chamado e por isso devemos orar, pois de nós mesmos não conseguimos deixar a nossa vontade para seguir a de Deus. Mas graças a Deus por Cristo Jesus, Nosso Senhor, em quem nós temos a vitória (Rm. 7.25; 8.1). Aquele que nos chama a um compromisso nos ajuda a cumpri-lo. “Sem mim nada podeis fazer” (Jo. 15.5). No poder de Cristo e com a graça do Seu Espírito somos capacitados a negar nossos desejos pecaminosos e seguir a vontade de Deus (Tt. 2.11,12). Você ama o Pai que entregou o seu Filho para morrer por você? Ama o Filho que deu a sua vida para te livrar do pecado e do inferno? Então, mostre sua gratidão renunciando a sua vontade pecaminosa. Entristeça-se com os seus pecados e os deixe. Assim você agrada Seu Pai.

Jesus também nos ensina na terceira petição que a obediência à sua vontade deve ser uma prioridade na nossa vida aqui na terra. Muitas pessoas oram a Deus buscando primeiramente bênçãos materiais. Até exigem coisas materiais de Deus. Esse é o principal desejo de muitos. Jesus condenou essa atitude: “Vocês me procuram não pela vida eterna que tenho para lhes dá, mas porque comestes do pão material e vos fartastes” (Jo. 6.26,27). Essas pessoas não estão preocupadas com a glória de Deus, mas com o seu bem estar material. No lugar de falar de renúncia e obediência, muitos pregadores falam de prosperidade material e muitas pessoas seguem esse falso evangelho. Mas isso não combina com a oração do Senhor. O evangelho de Cristo é diferente. Ele nos mostra que o desejo pela obediência à vontade de Deus Pai deve ser uma prioridade na vida dos filhos de Deus. O verdadeiro crente não ora pedindo bênçãos para si e ao mesmo tempo se esquecendo da glória de Deus. Ele ora assim: “Meu Pai, me ajude a obedecer sem murmuração à tua vontade, a única que é boa. Dá que a prioridade da minha vida seja te agradar”. Este é o seu prazer, é o seu alvo na vida aqui na terra: Não juntar riquezas, não seguir os seus próprios caminhos, mas obedecer ao Senhor, fazer a sua vontade com alegria e gratidão.

É essa prioridade que vemos na vida dos servos de Deus no passado. Noé fez conforme o Senhor lhe ordenara, construindo a arca e sendo salvo com a sua casa (Gn. 6.22). Abraão seguiu a vontade de Deus indo para a terra que o Senhor lhe ordenara e o Senhor cumpriu suas promessas na vida dele (Gn. 12.1-3). Os apóstolos seguiram a vontade de Deus não deixando de pregar o evangelho, apesar da perseguição (At.5.29). E quanto a nós? Estamos dispostos a obedecer ao Senhor? Temos prazer nos seus mandamentos? Amamos a sua vontade? Podemos nos unir ao salmista na sua oração: “SENHOR, dá-me entendimento e guardarei a tua lei; de todo o coração a cumprirei” (Sl.119.34)? Que seja essa a sua oração sincera: “Oh! Pai! Faça-se a tua vontade assim na terra como no céu”.
Por que devemos orar assim? Por que devemos dar prioridade em obedecer à vontade de Deus? Primeiro, porque esta é a vontade de Deus. É isso que Ele quer de nós. Pois Ele é o Nosso Pai. Pela graça em Cristo, Ele nos incluiu na família da fé. Ele fez de nós que antes éramos seus inimigos, seus filhos queridos. Ele cuida de nós como um Pai Bondoso e Fiel. E Ele quer o nosso coração, a nossa gratidão por seu grande amor. Quando reconhecemos a sua graça em nos fazer seus filhos, teremos prazer em fazer a sua vontade. Fazer a vontade do Pai é a característica de todo verdadeiro filho de Deus, pois Jesus disse: “Porque qualquer que fizer a vontade de Meu Pai Celeste, esse é meu irmão, irmã e mãe” (Mt.12.50).

Em segundo lugar, devo ter prazer em obedecer à vontade de Deus porque essa vontade é boa. A Bíblia diz que a vontade de Deus é boa, perfeita e agradável (Rm. 12.2) e que o seu mandamento é santo, justo e bom (Rm. 7.12). Nosso Pai sabe o que é melhor para nós. Seus mandamentos não são penosos, não foram dados para nos escravizar, mas para o nosso bem. Obedecer à vontade de Deus é uma coisa boa para o crente porque ele obedece com gratidão por sua salvação. Ser um seguidor de Cristo, fazer a vontade de Deus não é uma coisa chata, mas uma coisa alegre para o crente, pois ele reconhece o grande amor de Deus na sua vida.

Além disso, somos encorajados a fazer a boa vontade de Deus, porque Deus tem prazer em nos recompensar por isto, pois a Bíblia diz que “aquele que faz a vontade de Deus viverá eternamente” (I Jo. 2.17).

O verdadeiro crente está preocupado em fazer a vontade de Deus em todas as áreas da sua vida, na vocação que recebeu de Deus. “Qual a vontade de Deus para minha vida? O que Deus quer que eu faça? Como posso ser um membro fiel da igreja, um jovem cristão, um fiel marido, uma boa esposa, um bom pai, um bom filho, um bom trabalhador?” Essa é a preocupação de todo verdadeiro crente, por isso ele continua sua oração dizendo: “Também que concedas que todos cumpram os deveres de seus ofícios e vocações tão espontânea e prontamente como os anjos nos céu” (catecismo Dom. 49; perg. 124) Aqui se fala dos nossos deveres em nossos ofícios e vocações. Qual a vontade do Senhor para mim no meu casamento? “Que eu seja uma esposa submissa”; “que eu ame a minha esposa”. Qual a vontade do Senhor para mim como jovem crente? Que eu me lembre do Meu Criador nos dias da minha mocidade e viva para Ele. Qual a vontade de Deus para mim como trabalhador? Que eu trabalhe honestamente com minhas próprias mãos visando a glória de Deus e o bem do meu próximo. Qual a vontade de Deus para mim como membro da igreja? Que eu valorize sua Palavra e os sacramentos, viva em comunhão com meus irmãos e use com alegria os meus dons para edificar a igreja.

Você se preocupa com estas coisas? Pede a Deus para cumprir fielmente sua vocação aqui na terra como os anjos fazem no céu? Faça a vontade de Deus na vocação que Ele te deu aqui na terra, seja ela qual for. Atenda o chamado de Cristo e peça a Deus que te ajude a fazer a vontade dele aqui na terra como os anjos no céu. Podemos ficar maravilhados com a obediência fiel dos anjos no céu. Eles cumprem com fidelidade e prontidão as ordens do Senhor no céu (Sl.103.20,21).

Porém, ficamos mais maravilhados ainda com a perfeita obediência de Cristo aqui na terra. Fazer a vontade de Deus foi a prioridade da sua vida e o principal desejo do seu coração. Ele mesmo disse: “A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo. 4.34). Ele mostrou isso durante toda sua vida. Na sua angústia no Getsêmani, poucas horas antes de sua crucificação ele orou ao Pai dizendo: “Meu Pai, se não é possível passar este cálice de mim sem que eu o beba, faça-se a tua vontade.” (Mt. 26.42). Por causa da sua submissão à vontade do Pai, Jesus garantiu a nossa salvação. Além disso, Ele se tornou o maior exemplo que devemos seguir. Aquele que nos ensinou a orar: “Pai, faça-se a tua vontade”, foi o primeiro a cumprir essa petição. Ele renunciou a glória que tinha no céu e se dispôs a vir sofrer neste mundo. Aqui na terra ele foi obediente ao Pai até à morte da cruz. Não podemos fazer exatamente o que ele fez, pois ele era perfeito e seu chamado foi único. Contudo, seu exemplo de obediência à vontade de Deus nos encoraja a fazer a vontade do Pai em nossas vocações aqui na terra tão pronta e fielmente como os anjos no céu.

Meus irmãos e jovens! No céu, os anjos cumprem de modo perfeito a vontade do Senhor. O supremo desejo de todos no céu é fazer a vontade de Deus. Esse deve ser também o desejo de todo verdadeiro crente aqui na terra: fazer a vontade de Deus na terra conforme o ensino da terceira petição. É claro que essa petição será perfeitamente cumprida quando o reino de Deus vier em sua plenitude no dia da segunda vinda de Cristo (II Pe.3.13). Mas enquanto esse dia não vem, esforcemo-nos com a graça de Deus para fazer a sua vontade em todas as áreas da nossa vida aqui na terra. Pois quem deseja viver com o Senhor no céu, deve ter o intenso desejo de fazer a sua vontade enquanto está caminhando aqui na terra. Pois a Bíblia diz que “o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente” (I Jo. 2.17)!

Amém.

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Elissandro Rabêlo

Bacharel em Teologia pelo CETIRB – Centro de Estudos de Teologia das Igrejas Reformadas do Brasil (Atual Instituto João Calvino) (1999-2004). Fez Convalidação de Teologia na Universidade Mackenzie em São Paulo (2017). Ministro da Palavra e dos Sacramentos da Igreja Reformada do Grande Recife (PE), servindo como Missionário da Igreja Reformada em Fortaleza (CE).

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.