Dia do Senhor 44

Leitura: Deuteronômio 5.21; Salmo 119.33-40
Texto: Dia do Senhor 44

Amada igreja do Nosso Senhor Jesus Cristo e caros visitantes

O apóstolo Paulo afirmou que nos últimos dias, os homens serão egoístas, avarentos e também mais amigos dos prazeres do que amigos de Deus (I Tm. 3.1,2 4). Paulo estava certo. Pois vivemos numa época em que a grande maioria das pessoas está voltada para o materialismo. O principal objetivo de muitos é acumular riquezas nesta terra. Há um desejo forte e também um esforço muito grande para ficar rico. Observe um exemplo. Quase todos os dias, milhares de pessoas se submetem às filas que se formam nas casas lotéricas e gastam inutilmente o seu dinheiro em jogos, de olho nos prêmios milionários que se acumulam. O grande desejo dessas pessoas é ganhar a grande soma de dinheiro anunciada para ter uma vida próspera e cheia de prazer nos bens materiais.

Um fato triste que não podemos negar é que este desejo intenso de possuir riquezas está presente não só no mundo, mas também na vida de muitos que se dizem cristãos. Há muitas igrejas que se dizem evangélicas que estão ensinando a teologia da prosperidade. Dentre outras coisas essa teologia da prosperidade ensina que Deus está obrigado a abençoar com muitas bênçãos materiais aquelas pessoas que são fiéis em seus dízimos e ofertas. O resultado disso é que muitas pessoas vão para a igreja e dão a sua oferta não para agradecer a Deus pela maior riqueza que existe que é a salvação em Cristo, mas para exigir e receber de Deus casas, carros, empresas e outras coisas materiais.

O que está por trás de tudo isso? O pecado da cobiça, ou seja, o pecado do descontentamento com o que Deus dá e do desejo intenso de possuir muitas coisas. Os ímpios são levados por esse desejo quando se entregam aos jogos de loterias para ficar ricos. Os falsos pregadores da teologia da prosperidade também revelam a sua cobiça pecaminosa, ensinando um falso evangelho para alcançar seus próprios interesses. Também os que correm atrás destes pregadores na busca de prosperar na vida material, revelam claramente a sua cobiça. O que estas pessoas têm em comum é a quebra do décimo mandamento da lei de Deus que diz: “Não cobiçarás”.

E quanto a você que é filho de Deus e está aqui ouvindo a pregação da sua lei? O que está no seu coração? Quais são seus principais desejos? O que motiva você a ser um crente, a vir aos cultos e a contribuir com suas ofertas? Qual a sua atitude em relação aos bens materiais? Pode ser que você não jogue na loteria a fim de ser rico. Pode ser também que você não venha à igreja em busca de coisas materiais. Mas nem por isso você está livre do pecado da cobiça. A verdade é que todos nós estamos sujeitos a pecar e até já pecamos contra o décimo mandamento. Pois não somos perfeitos ainda e temos a tendência de pecar contra qualquer um dos mandamentos da lei de Deus. Além disso, o décimo mandamento é muito profundo e abrangente em sua exigência. Ele não só proíbe a avareza e o materialismo (desejo intento de possuir riquezas), mas também o menor desejo ou pensamento que possa surgir em nosso coração contra qualquer um dos mandamentos da lei de Deus (Dom. 44; perg/resp113).

O domingo 44 do nosso catecismo nos ensina sobre a importância do décimo mandamento para nossa vida. Mas todos os mandamentos não são importantes? Na verdade, todos os dez mandamentos da lei de Deus são importantes para nós e, por isso, devemos obedecê-los com alegria e gratidão. No entanto, o décimo mandamento tem um lugar especial na lei de Deus. Ele é conhecido como a chave da lei de Deus, pois abre o nosso entendimento para que tenhamos uma visão mais clara sobre a profunda exigência da lei de Deus.

Observe que há uma diferença básica entre o décimo mandamento e os demais mandamentos da lei de Deus. Enquanto os demais mandamentos tratam basicamente de atos como roubar ou matar, o décimo nos mostra que a lei de Deus nos proíbe não somente os atos pecaminosos, mas também desejos e pensamentos pecaminosos. Este mandamento atinge o mais íntimo do nosso coração. Pois, antes de se quebrar um dos nove mandamentos, primeiro se comete a cobiça no coração. Observe que o décimo mandamento tem a ver com a atitude interna do nosso coração. Deus está buscando o nosso coração com este mandamento. Ele se preocupa com a intenção do nosso coração. Ele quer que obedeçamos a todos os seus mandamentos não apenas de forma externa e formal, mas internamente, sinceramente, com um coração puro. Por isso ele nos deu o décimo mandamento. Deus se agrada de uma obediência sincera e motivada por verdadeira gratidão. E no décimo mandamento Deus nos chama a abandonar qualquer pensamento impuro contra qualquer um dos mandamentos de Deus. Isso significa que devemos odiar todos os pecados e amar toda justiça, ter prazer na sua lei.

Agora vamos estudar o décimo mandamento mais de perto. Precisamos aprender o que Deus tem a nos ensinar quando nos ordena: “Não cobiçarás”. Irmãos! O que Deus nos ensina no décimo mandamento? Poderíamos falar muita coisa sobre este mandamento. Porém, além do que já ouvimos neste sermão, vamos ainda atentar para duas observações importantes sobre o décimo mandamento para nossa instrução.

A primeira observação a ser feita em relação ao décimo mandamento é que nem toda cobiça é pecado. Deus diz: “Não cobiçarás”. Mas será que Deus está dizendo que toda cobiça é pecado? Desejar coisas é sempre pecado? Na verdade, não. Nem sempre desejar é pecado, pois Deus nos criou com a capacidade de desejar alguém ou algo. É natural a todo ser humano desejar ou cobiçar coisas. É preciso entender o que é cobiça. A palavra cobiça, mesmo tendo um sentido pejorativo em nossa língua, em si não é uma palavra negativa. Ela aponta para um desejo profundo e intenso por alguma coisa. Esse desejo pode ser correto ou errado. Há um tipo de cobiça que é legítimo e que, portanto, não é pecado, enquanto que há um tipo de desejo que é ilegítimo e por isso se constitui em pecado.

Quando é que a cobiça não é pecado? Quando é que você deseja algo intensamente e não está desobedecendo ao décimo mandamento? É quando os desejos do seu coração estão voltados para as coisas boas que agradam a Deus. A Bíblia nos encoraja a uma cobiça legítima. Ela nos chama a desejar de todo o nosso coração as coisas santas que agradam a Deus. O lado positivo do décimo mandamento é que devemos de todo coração amar toda a justiça, fazer o que é certo, buscar as coisas que agradam a Deus. Em que coisas devemos colocar o nosso coração, irmãos? O que devemos desejar mais do que tudo? Para que devemos nos esforçar? Qual deve ser o nosso maior prazer como filhos de Deus?

A Bíblia nos dá alguns exemplos de coisas boas que devemos desejar de todo o coração. Devemos desejar ardentemente a presença de Deus como o salmista (Sl. 42.1,2); amar a sua lei e ter prazer nela (Sl. 1.2; 119.40,97); perseguir, caçar a paz com os irmãos e a santificação na vida (Hb. 12.14); perseguir o amor e usar os dons com alegria para a edificação da igreja. Temos prazer nestas coisas? Temos sede de Deus? Ansiamos a sua presença em nossas orações em casa e nos cultos? É nosso prazer ler, estudar, ouvir e praticar a palavra de Deus? Examine a sua vida e deseje de todo coração às coisas que agradam a Deus. Se quisermos ser crentes vivos e abençoados, precisamos desejar de todo coração às coisas de Deus.

Quando é que a cobiça é pecado? Quando o nosso desejo é direcionado para o que é errado. A cobiça errada é aquele desejo profundo de possuirmos o que não nos é lícito possuir (os bens do próximo, a mulher do próximo; Dt.5.21). Qualquer tipo de pensamento ou desejo que surja em nossa mente ou coração e seja contrário à lei de Deus é pecado contra o décimo mandamento. Deus nos criou com a capacidade de desejar coisas. Porém, devido à queda, estamos sujeitos a desejar coisas erradas. Todos nós temos necessidade e também o desejo de comer e beber. É lícito comer e beber. Porém, quando todo nosso desejo é voltado para comida e bebida, a ponto de nos tornarmos glutões ou beberrões, estamos pecando por cobiça. É lícito para nós possuir recursos materiais. Deus nos dá esse privilégio no oitavo mandamento. Porém, quando não somos contentes com as coisas que temos, quando vivemos voltados para as coisas materiais e até invejamos o patrimônio do nosso vizinho, estamos pecando por cobiça.

Deus nos criou com a capacidade de desejar a pessoa do sexo oposto e nos deu a beleza do casamento para que o casal satisfaça um ao outro em todos os sentidos. Porém, quando não me alegro com o meu conjugue e chego a desejar o conjugue alheio, então, meu desejo se torna ilegítimo e eu peco contra o sétimo e o décimo mandamento. Jesus deixa isso bem claro em Mateus 5.27,28: “Vocês ouviram o que foi dito: Não adulterem. Mas eu lhes digo: qualquer que olhar para uma mulher para desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu coração”. Você tem vigiado a sua mente e o seu coração contra os maus desejos e pensamentos? Tem ocupado a sua mente com a palavra de Deus? Não mantenha sua mente vazia nem se deixe dominar por maus desejos e pensamentos. Guarde a palavra de Deus no seu coração para não pecar contra ele (Sl. 119.11,9). Peça a Deus para que ele o livre da cobiça errada e incline o seu coração para odiar os pecados e amar os mandamentos dele (Sl. 119.36,133).

A segunda observação que precisamos fazer é que o décimo mandamento está intimamente ligado aos outros mandamentos da lei de Deus. Eu quero dizer com isso que o pecado da cobiça geralmente está por trás dos outros pecados cometidos contra os outros mandamentos da lei de Deus. Isso significa que a cobiça é o passo inicial e o fator motivador na quebra dos outros mandamentos. Quando alimentamos pensamentos impuros e cobiçosos em nosso coração, o passo seguinte é cometer outros pecados para satisfazer nossa cobiça pecaminosa. O pecado começa no coração antes de se transformar em atos pecaminosos. Vemos vários exemplos bíblicos dessa triste realidade. Adão e Eva, seguindo a mentira de Satanás, não se contentaram com a posição que Deus tinha dado a eles e cobiçaram no coração serem iguais a Deus. Para satisfazer sua cobiça, quebraram a ordem de Deus com o ato pecaminoso de comerem do fruto proibido (Gn. 3.1-6). Davi primeiramente cobiçou no seu coração Bate Seba, a mulher de Urias. Em seguida, adulterou com ela e planejou a morte do seu marido. Primeiro ele cobiçou e logo depois adulterou e matou. Tudo isso confirma o que está escrito em Tiago 1.15: “Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá a luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte”. A cobiça é a fonte de todo pecado e o salário do pecado é a morte.

Observe como a cobiça está por trás dos pecados contra os outros mandamentos da lei de Deus. Veja alguns exemplos práticos. A cobiça pode me levar a pecar contra o primeiro mandamento. Quando vivo para mim mesmo ou voltado para os bens materiais, passo a ter outros deuses além de Deus. Deus não tem mais o primeiro lugar na minha vida. O que importa é a satisfação dos meus desejos e as minhas riquezas. Quanto a isso a Bíblia nos adverte dizendo que devemos fazer morrer toda avareza que é idolatria, pois Deus se ira contra isso (Cl. 3.5,6). A cobiça também pode me levar a pecar contra o quarto mandamento, pois sou tentado a trabalhar sete dias na semana e não apenas seis. Minha motivação não é a necessidade do trabalho, mas a oportunidade de ganhar um pouco mais de dinheiro no dia do Senhor. Isso é cobiça. É falta de confiança em Deus que cuida de nós. É falta de amor pela palavra de Deus que desprezamos no dia do Senhor para alcançar nossos interesses gananciosos.

A cobiça também nos leva a pecar contra o próximo. Vimos isso na vida de Davi, mas o mesmo pode acontecer conosco. A cobiça pode me levar a desonrar meus pais e superiores, se eles me impedem de realizar meus planos ambiciosos. A cobiça pode me levar a tirar do outro o que não me pertence, pois se eu desejo intensamente uma coisa vou fazer de tudo para obtê-la, até mesmo roubar. A cobiça pode me levar a prejudicar a boa reputação do meu próximo com falso testemunho, para que eu busque meu próprio benefício. Tenhamos cuidado com os maus desejos do nosso coração, pois um mau desejo pode terminar num ato mal.

Será que é possível ser um crente perfeito sem ter nenhum desejo ou pensamento errado? Aqui nesta vida não. Podemos pecar contra os mandamentos de Deus em nossos pensamentos. Porém, devemos nos esforçar como crentes, com a graça do Espírito Santo, para cumprir o décimo mandamento, cultivando pensamentos e desejos puros que glorifiquem a Deus. O que fazer para vencer a cobiça? Há pelo menos dois princípios importantes que devemos aplicar em nossa vida para vencer a cobiça:

Em primeiro lugar, lembre-se sempre que Deus sabe de tudo e examine o seu coração. Deus conhece os pensamentos e desejos do seu coração (Sl. 139.1-3). Ninguém pode olhar para você e dizer se você está ou não cobiçando, mas Deus sabe de tudo. Pense nisso e fuja do pecado contra o décimo mandamento. Além disso, o décimo mandamento nos ajuda a examinarmos nossos corações e avaliarmos nossas motivações. O crente deve sempre perguntar a si mesmo: “Como está o meu coração? Que pensamentos tenho cultivado em minha mente? Quais os meus desejos? O que me motiva a amar a Deus e ao próximo e guardar a sua lei? Minha obediência é sincera ou apenas uma questão de aparência?”. Se há pecados em nossa vida devemos nos arrepender e nos unir a Davi na sua oração do Salmo 139.23,24: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno”.

Em segundo lugar, contemple no seu coração a riqueza da sua salvação em Cristo. No lugar de colocar o seu coração nos tesouros que os ladrões roubam e as ferrugens corroem, volte o seu coração e a sua mente para as gloriosas riquezas da sua salvação em Cristo, as quais você jamais perderá. Você já é rico em Cristo, pois ele, sendo rico, se fez pobre para que você se tornasse rico. Nele você tem riquezas mais valiosas do que todo ouro e prata que há neste mundo. Nele você tem perdão, o Espírito Santo, proteção e sustento, santificação, glorificação, vida eterna, etc. Sendo assim, não cobice as riquezas passageiras do mundo nem se iluda com seus prazeres vãos. Busque e pense nas coisas lá do alto, onde Cristo vive (Cl. 3.1,2). Alegre-se com as bênçãos que você tem em Cristo e seja grato a ele por sua salvação guardando os seus mandamentos, inclusive o décimo.

Amém.

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Elissandro Rabêlo

Bacharel em Teologia pelo CETIRB – Centro de Estudos de Teologia das Igrejas Reformadas do Brasil (Atual Instituto João Calvino) (1999-2004). Fez Convalidação de Teologia na Universidade Mackenzie em São Paulo (2017). Ministro da Palavra e dos Sacramentos da Igreja Reformada do Grande Recife (PE), servindo como Missionário da Igreja Reformada em Fortaleza (CE).

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.