Dia do Senhor 12

Leitura: Salmo 110, Mateus 16.13-23, Atos 10.34-48
Texto: Dia do Senhor 12

Irmãos e irmãs em nosso Senhor Jesus Cristo, 

Da última vez, nós estudamos o significado do nome “Jesus.” É importante entender o que esse nome significa, porque foi um nome dado por Deus para apontar para a obra que Jesus faria e a pessoa que Ele seria; e nós vimos a realidade que muitas pessoas usam o nome de Jesus mesmo quando têm uma noção muito diferente de quem Ele é e o que Ele faz. Então o nome de Jesus é uma indicação para a personalidade de Jesus e a missão de Jesus.

Hoje queremos olhar para o nome “Cristo”, e vou dizer logo, o nome Cristo é ainda mais carregado de significado e, portanto, é ainda mais importante entender o seu significado. O nome Jesus é uma indicação de quem Ele é e o que Ele veio fazer. Mas muitas outras pessoas foram chamadas Jesus na época. Dizem que era o quarto nome mais comum em Israel na época. Mas ninguém mais foi chamado Cristo. O nome Cristo não é apenas uma indicação de quem é Jesus; é uma afirmação pública de quem Ele é, e teria sido uma afirmação muito controversa.

É por isso que lemos em Mt 16. Jesus perguntou aos seus discípulos: “Quem dizem as pessoas que eu sou?” E eles lhe deram várias respostas, e então ele perguntou: “mas vós, quem dizeis que eu sou?” e Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Agora você percebe que Pedro estava fazendo uma declaração de fé. Observe que Pedro diz “o Cristo.” O nome Cristo se referia a uma figura específica—o esperado salvador que também foi conhecido (até entre os judeus) como “o Filho de Deus.” Pedro está dizendo, nós acreditamos que Tu és essa pessoa que Deus prometeu. É um título carregado de significado.

Então, a pergunta para nós hoje de manhã é: Por que o chamamos de “Cristo”? Que confissão estamos fazendo ao dar-Lhe esse nome?

Há mais uma razão, também, por que isso importa. Entender o nome Cristo não é apenas importante para saber quem Ele é, mas também para saber quem nós somos, se somos cristãos. O nome “Cristão” contém o nome de Cristo. Então quando nos chamamos “Cristãos,” estamos afirmando algo sobre a nossa identidade também.

A primeira coisa que devemos entender é que o nome Cristo não é realmente um nome, é um título. Cristo não é o sobrenome de Jesus, como se ele tivesse nascido de José e Maria Cristo. Nos dias de Jesus, as pessoas não tinham “sobrenomes” como nós; se precisasse referir a uma pessoa de forma mais específica, você diria “fulano filho de beltrano.” Então o nome completo de Jesus seria “Jesus filho de José”. E se precisasse ser mais específico ainda, poderia acrescentar o nome do Avô.

Então Cristo não é um sobrenome: é um título. Vem do grego christos que é uma tradução do hebraico “Messias” que significava “o ungido”, e é um título muito específico, referindo-se a uma figura específica que estava por vir.

No Antigo Testamento, havia três tipos diferentes de pessoas que seriam “ungidas,” que são: profetas, sacerdotes e reis. E estes se tornam os três principais ofícios ou vocações sagrados no Antigo Testamento. 

Então você pensa em Arão, por exemplo, quando ele foi ungido como Sumo Sacerdote em Levítico 8. Toda a congregação estava reunida na entrada do tabernáculo, e Aarão estava vestido com suas vestes sacerdotais especiais, e então ungido com óleo. O óleo simbolizava o Espírito de Deus, e a unção era uma maneira visível de dizer que o Espírito de Deus veio sobre esta pessoa para torná-la santa e separada para este ofício sagrado.

Depois que Israel entrou na terra de Canaã, eles escolheram um rei, e então o rei também foi ungido para esta vocação sagrada. 1 Samuel 10 descreve a unção do rei Saul pelo profeta Samuel. E se você ler a história de 1 e 2 Samuel, você terá uma noção de quão altamente essa unção foi considerada. Apesar de Saul ter se tornado um rei malvado e ter passado a última parte de sua vida tentando matar Davi, Davi consistentemente se recusou a matá-lo quando teve a oportunidade, porque, em suas palavras, ele não tocaria no Ungido do Senhor. Era um ofício e vocação sagrada.

E, finalmente, também lemos sobre profetas que foram ungidos. Agora, nem todos os profetas foram ungidos com óleo, mas sabemos que era um ofício sagrado e chamado pelo fato de que muitos deles foram ungidos. Então você pode pensar em 1 Reis 19, quando Elias foi ordenado por Deus a ungir Eliseu como seu sucessor. 

Então você tinha esses três ofícios sagrados que foram separados pela unção.

Então, o que significa quando chamamos Jesus de Cristo, o “ungido”?

Para responder a essa pergunta, precisamos reconhecer que desde o início da história de Israel, Deus também começou a falar de uma pessoa que viria e faria o que nenhum dos indivíduos que preencheram esses três papéis poderia fazer. Todos esses três cargos foram preenchidos por homens fracos, pecadores e imperfeitos. E enquanto você lê a história do Antigo Testamento, você vê a nação de Israel desmoronando em sua própria pecaminosidade e idolatria, até que finalmente é levada embora para o exílio. E torna-se dolorosamente óbvio ao longo dos séculos que nem os sacerdotes, nem os reis, nem os profetas tinham o poder ou a capacidade de libertar Israel das consequências do próprio pecado de Israel. Os sacerdotes foram incapazes de expiar o pecado de Israel. Os reis foram incapazes de tirar Israel de seu pecado. E os profetas foram incapazes de guiar Israel nos caminhos de Deus, porque eles sempre foram ignorados ou mortos por falarem as palavras de Deus.

Assim, já no início da história de Israel, foi introduzida a promessa de que Deus um dia levantaria um novo ungido.

  • Alguns textos falam dele como um profeta. Deuteronômio 18:15, Moisés disse ao povo: “O Senhor teu Deus te levantará um profeta como eu do meio de ti, de teus irmãos; é a ele que ouvirás.” Desde o início, os judeus entenderam isso como uma profecia sobre o Messias.
  • Outros textos falam dele como sacerdote. O Salmo 110:4, que lemos anteriormente, também foi reconhecido como uma profecia a respeito do Messias: “O Senhor jurou e não mudará de ideia: “Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.””
  • Ainda outros textos chamou-o rei: Is 9:6–7: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz; para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre.”

Assim, todo o Antigo Testamento aguarda um “ungido” (ou, no Hebraico, “Messias”) que virá; e alguns textos falam dele como profeta; outros como sacerdote; e outros como um rei. Por causa disso, havia realmente algumas diferenças de opinião, na época de Jesus, sobre se haveria um, dois ou três Messias. Mas a maioria dos judeus entenderam que o prometido “ungido” seria uma pessoa que cumpriria todos esses três ofícios. Algumas das Escrituras falam deste Messias como alguém que ocupou dois ou até três desses ofícios. O Salmo 110 é um dos exemplos mais claros disso. Por um lado, é dirigida por Davi ao “meu Senhor (ou Rei), e o versículo 2 diz: “O Senhor envia de Sião o seu poderoso cetro. Domine no meio de seus inimigos!” — esse é um salmo que fala claramente de um Rei. E, no entanto, apenas alguns versículos depois, diz: “Tu és um sacerdote para sempre, de acordo com a ordem de Melquisedeque”. Então este “Cristo” é tanto Rei quanto Sacerdote.

Pode-se pensar também em Isaías 61, que fala de uma unção para um papel profético :

Is. 61:1-2: “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para levar boas novas aos pobres; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos e a abertura de prisão aos presos;

 proclamar o ano da graça do Senhor”.

O que é especialmente significativo sobre este texto é que é um texto que Jesus pregou na sinagoga de Nazaré. Diz que ele enrolou o rolo, devolveu ao atendente e sentou-se (naquele dia eles pregaram sentados); e quando todos fixaram os olhos nele, ele disse: “Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir.”

Assim, a maioria dos judeus na época de Jesus havia aceitado que o prometido “ungido” era uma só pessoa que cumpriria esses três papéis. Ele seria ungido por Deus para ser profeta, sacerdote e rei.

Além disso, eles também passaram a entender que, em certo sentido, essa figura do Messias seria mais do que meramente humana, Ele também seria divino– ou pelo menos, revestido de poder divino, associado ao próprio Deus. E assim Ele foi chamado (pelos próprios judeus, não somente os cristãos) “o Filho de Deus” – o que exatamente isso significava para eles, nem eles mesmos tinham definido com clareza. Mas eles estavam lidando com os muitos textos Bíblicos que falaram do Messias em termos divinos. Isaías 9 chama esse indivíduo de “Maravilhoso conselheiro, Deus Forte”, e em muitos outros lugares ele é identificado como Javé Deus. Não tem como escapar do fato de que o Messias prometido foi falado em termos divinos, o que seria uma blasfêmia se aplicasse a qualquer pessoa que não fosse Deus.

Aqui está o ponto, então: Quando confessamos que Jesus é o Cristo, é isso que estamos confessando. Estamos confessando que cremos que Ele é o prometido Profeta dos profetas, Sacerdote dos sacerdotes, e Rei dos reis – a figura divina que é o cumprimento das promessas de Deus em todas essas três esferas.

Podemos apreciar então que confissão imensamente significativa é chamar Jesus de “Cristo”. Quando sabemos disso, podemos apreciar o significado do momento em que Jesus perguntou a seus discípulos – em Mateus 16 – “quem as pessoas dizem que eu sou?” e Pedro disse: “Bem, alguns dizem Elias, outros dizem João Batista…” e o Senhor então perguntou: “e quem vocês dizem que eu sou?” e Pedro disse: “tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Essa é uma grande confissão. Se você se lembra, esta foi também a pergunta que foi feito para Jesus quando estava sendo julgado diante de Caifás, o Sumo Sacerdote: “Diga-nos se Tu és o Cristo, o Filho de Deus”. E assim também, quando Jesus foi levado diante de Pilatos, Pilatos lhe perguntou: “Tu és o rei dos judeus?” Havia um claro entendimento mútuo sobre a identidade e o significado do título “Cristo”.

Então, resumindo, foi uma confissão muito significativa quando os apóstolos e os primeiros cristãos confessaram que Jesus era “Cristo”. Não era apenas um nome: era uma afirmação, e uma afirmação muito controversa. 

Agora, vamos pensar direitinho sobre isso, porque, eu quero mostrar depois que este título não somente descreve Cristo, mas também determina o que significa ser um cristão. Ser cristão é uma resposta simultânea a todas as três realidades:

Primeiro, Jesus é o profeta para o qual as Escrituras do AT apontavam. Os profetas tinham a função de nos ensinar sobre Deus, sobre Sua vontade para nossas vidas e sobre a salvação que Deus traria. Foi exatamente isso que Jesus veio fazer. Ele veio para fazer-nos voltar para Deus; ele mostrou a santidade que Deus exige de nós; e ele nos ensinou sobre a salvação que Deus traz. Você pode pensar no sermão do monte, por exemplo, em Mateus 5-7, onde Cristo explicou a lei que Moisés deu e a elaborou. “Bem-aventurados são os pobres de espírito.” “Busque primeiro o Reino de Deus e a Sua justiça.” A oração do Senhor. E tantos outros ensinamentos que são básicos para a vida cristã. E Cristo terminou esse sermão ensinando que a maneira como respondemos ao seu ensino – se escolhermos ouvi-lo ou ignorá-lo – isso faz toda a diferença entre a vida e a morte.

E Jesus não apenas nos ensinou sobre Deus e sobre como viver diante de Deus, mas também sobre a salvação que Deus havia prometido nos profetas. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”. Ele ensinou seus discípulos sobre o significado de sua morte. No caminho para Emaús, ele abriu as Escrituras e mostrou como elas apontavam para Ele.

Então, quando chamamos Jesus de “Cristo”, é uma declaração de que Jesus é o profeta que Deus disse que viria, e que Ele veio falando a própria Palavra de Deus e trazendo a mensagem de Deus para a terra. O que significa então que ser cristão é ser alguém que O escuta e O recebe e O segue como profeta de Deus.

Segundo, Jesus é o sacerdote para o qual as Escrituras do AT apontavam. Os sacerdotes tinham a função de oferecer sacrifícios pelos pecados do povo e interceder pelo povo diante de Deus. Eles permaneceriam como mediadores entre Deus e Seu povo. Eles fariam os sacrifícios que apontavam para algo maior. E isso – talvez acima de tudo – é exatamente o que Cristo veio a ser e fazer. Se há algo que você poderia dizer, “este é o coração da missão de Cristo”, era fazer expiação pelos pecados. Era disso que se tratava sua missão. É por isso que João Batista apontou para Ele e o chamou de “o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” – o que é, claro, uma referência aos cordeiros que foram oferecidos como sacrifício. Esta missão de Cristo como o Grande Sacerdote é o que a carta aos Hebreus descreve em detalhes, e mostra que todos os sacrifícios eram sombras que não podiam, em si mesmas, tirar o pecado, mas apenas apontavam para a frente.

Então, quando dizemos que Jesus é “Cristo”, estamos dizendo que tudo o que o sistema sacerdotal apontava, e todas as Escrituras que falavam de um Grande Sumo Sacerdote por vir, estavam falando de Jesus. O que significa então que ser cristão é confiar neste sacerdote e viver diante de Deus em paz em base deste sacrifício. É recebê-lo como nosso Sacerdote, e nos alegrar porque seu sacrifício paga nossos pecados, e Ele é aquele que intercedeu por nós diante do Pai como os sacerdotes costumavam fazer.

Finalmente, a Escritura também falou do Messias como o Grande Rei. Os reis tinham o chamado especial para governar o povo de Deus, para defender o povo de Deus contra os inimigos e para liderar o povo de Deus em retidão, estabelecendo a justiça e trabalhando pela paz. E temos visto isso em nossa série no livro dos Reis, que o Antigo Testamento aguarda com expectativa o Rei que viria, que não seria como os reis fracos, pecadores e muitas vezes totalmente perversos que governaram Israel, mas Ele iria estabelecer a justiça e a retidão e, finalmente, trazer a paz a Israel. Nem mesmo Davi era capaz disso. Davi recebeu a promessa de um Filho que estabeleceria seu trono para sempre, mas logo ficou claro que Salomão não era aquele Filho. Quando dizemos que Jesus é o Cristo, estamos dizendo que Ele é esse Rei, o que também significa que Ele agora reina não apenas sobre Israel, mas sobre todo o mundo, assim como os profetas disseram que Ele faria.

E isso também é muito essencial para a missão de Jesus. Ele não veio apenas para falar a palavra de Deus para nós como profeta, nem apenas para morrer por nossos pecados, mas também para reinar sobre nossas vidas e sobre o mundo. Jesus disse em Mt 28:18: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra.” O profeta Daniel vê este “filho do homem” acendendo diante do trono de Deus e recebendo domínio para que todas as nações, povos, tribos, e línguas servissem a ele. Então quando chamamos Jesus de “Cristo,” afirmamos que Ele é o Rei dos reis, e está governando a terra como Deus prometeu ao Filho de Davi; esse reinado começa nos corações individuais e na edificação da igreja, mas o objetivo final é, em última análise, a transformação de toda a vida e assuntos humanos, incluindo a política. Quando confessamos que Jesus é o Cristo, confessamos que Ele é o Rei do Brasil também.

Agora você pode perguntar: “mas Cristo foi mesmo ungido nesses papéis?” Em nenhum lugar a Escritura nos diz que Cristo foi ungido com óleo como os profetas, sacerdotes e reis do AT. Mas você notou o que Pedro disse no texto que lemos em Atos 10? No versículo 38, ele diz: “Deus ungiu Jesus de Nazaré… com o Espírito Santo e com poder”. Temos que lembrar que o óleo da unção era apenas um símbolo, e era um símbolo do Espírito Santo. O Senhor Jesus disse a mesma coisa de si mesmo em Lucas 4:18, citando Isaías 61: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor.”

Você pode ver isso novamente no batismo de Jesus em Mt 3: o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma de pomba. 

Então o Senhor Jesus não foi ungido com o símbolo do óleo, mas com a própria realidade que o óleo apenas representava, que era o Espírito Santo de Deus.

Então é isso que significa que Jesus é o Cristo, o “ungido”. É um título carregado de significado. E não devemos esquecer o que esse nome significa, porque todos os três papéis que Jesus veio a ser – profeta, sacerdote e rei – são essenciais para Sua missão, e ser cristão é uma resposta simultânea a todos três dessas realidades. 

Agora, antes de encerrar, vamos colocar isso na prática. Se é isso que significa para Jesus ser o Cristo, o que significa para você ser um cristão?

A resposta curta é que significa ser um discípulo ou seguidor de Cristo. E isso é verdade em relação a todos os seus três ofícios.

  1. Ser Cristão é ser discípulo de Cristo, o prometido Profeta: Então você lê a Sua Palavra, e ouve e obedece aos seus ensinamentos, e modela sua vida de acordo com a Dele. Se você confessar que Ele é um profeta, então você também deve ser seu discípulo. É assim que funciona. Novamente, isso é o que o próprio Jesus nos disse para fazer: Matt. 7:24: “Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha…E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia.” Ninguém pode afirmar ser um seguidor de Cristo se não ouvir atentamente seus ensinamentos e desejar aprender com Sua sabedoria. Como diz também o apóstolo João: 1 John 2:3–4: “Ora, sabemos que o temos conhecido por isto: se guardamos os seus mandamentos. Aquele que diz: Eu o conheço e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade.”
    Portanto, ser cristão é comprometer sua vida com os ensinamentos de Cristo. É acreditar neles, obedecê-los e viver por eles. Seu ensinamento mostra como viver sua vida e onde encontrar sua esperança e como se reconciliar com Deus. O caminho da salvação que Cristo ensina é o caminho que você abraça.
    Essa Palavra, é claro, também inclui não apenas as palavras que Jesus falou na terra, mas também toda a Bíblia, pois Ele mesmo disse que não veio abolir a lei, mas cumpri-la.
    Portanto, ser cristão é dizer: “este livro é onde a verdade pode ser encontrada”. 
  2. Segundo, ser cristão é ser discípulo de Cristo, o Grande Sacerdote. Significa que você confia no sacrifício dele como sua única esperança de se reconciliar com Deus. Significa que você não pretende oferecer outro tipo de sacrifício, como Nadabe e Abiú fizeram, para ser aceito por Deus de outra forma. Já que era a missão central de Cristo vir morrer em nosso favor como pagamento por nossos pecados, é fundamentalmente central para ser um cristão que encontremos toda a nossa esperança e salvação nesse sacrifício. Ser cristão é reconhecer que nada é mais urgente do que a pergunta: como podemos nos reconciliar com Deus, já que somos terríveis pecadores.
  3. E, finalmente, ser cristão é ser discípulo — ou cidadão — sob Cristo o Rei. Jesus disse: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos”. Ser cristão significa então que Cristo governa sua vida. Você não se coloca como a maior autoridade da sua própria vida, mas sim a Ele. Significa que quando você quer ir para um caminho, e Cristo ordena que você vá para o outro, então você se submete a Ele, com a mesma diligência que você obedeceria a um juiz ou policial; aliás, ainda mais.
    O que isso também significa para nós é que, mesmo sendo brasileiros ou americanos, temos uma fidelidade maior ao nosso Rei Jesus, e também convocamos nossos irmãos cristãos a servirem a esse mesmo Rei. Foi isso que colocou os primeiros cristãos em tantos problemas, porque em Roma, você tinha que confessar que César é o Senhor de sua vida, e os cristãos não podiam fazer essa confissão, porque agora há um rei maior que César, e Ele exige que César também se submeta a Ele e o honre. 

Assim, ser um cristão é ser um discípulo – um seguidor – de Cristo, em todos esses três aspectos. 

Agora, o catecismo dá um passo interessante adiante e há uma profunda verdade bíblica nisso. Ser cristão não é apenas ser seguidor de Cristo, mas também participar dessa unção. A Escritura ensina que nós que cremos em Cristo também estamos unidos a Ele de maneira profunda. O que isso significa é que você não apenas O segue; mas, na verdade, você também participa da Sua unção. Assim como o próprio Jesus, você também foi ungido com o Espírito Santo, de modo que você carrega o sagrado ofício de profeta, sacerdote e rei.

Novamente, deixe-me tornar isso bem prático:

  1. Como profeta, você também é chamado não apenas para ouvir as palavras de Jesus, mas também para testemunhar a mesma mensagem que Jesus ensinou.
    E reconheçam isto, irmãos e irmãs: os profetas não foram enviados apenas aos incrédulos. Portanto, seu papel de profeta não é apenas diante dos incrédulos, mas também um diante do outro, como irmãos crentes.
    Então você é chamado a dar testemunho da mesma mensagem que Jesus ensinou. Você é chamado para apontar o mundo – e uns aos outros – para Deus, para a sua vontade para nossas vidas e para o Seu caminho de salvação. Você tem um papel sagrado nesta igreja para fazer isso um pelo outro, e você não tem menos direito de abnegar esse papel do que Jonas tinha o direito de embarcar em um navio para Társis para evitar ter que fosse a Nínive. Pense na ordem que Paulo dá em Col. 3:16: “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração.” Esse é o seu chamado sagrado de Deus.
    Você pensa no profeta Jeremias, que foi chamado para falar a Palavra de Deus a Israel; e mesmo que muitas pessoas quisessem que ele ensinasse algo diferente, algo menos ofensivo, ele disse, em Jer. 20:9: “Quando pensei: não me lembrarei dele e já não falarei no seu nome, então, isso me foi no coração como fogo ardente, encerrado nos meus ossos; já desfaleço de sofrer e não posso mais.” O seu coração, como cristão, deve estar tão cheio do peso do chamado que você recebeu como profeta, que essas palavras ressoem em você.
    E esse também é o seu chamado como profeta, não apenas dentro da igreja, mas também para o mundo ao seu redor. Não todos nós fomos chamados para ser evangelistas no sentido formal, mas somos todos nós portadores do testemunho de Cristo. Devemos sempre agir como em nome de Cristo, falando suas palavras onde fossemos, aproveitando todas as oportunidades para apontar nossos vizinhos, colegas, familiares, amigos a Ele. É claro que essa tarefa deve ser realizada com graça e gentileza – Paulo diz a Timóteo: “fale a verdade em amor”, mas é nosso chamado falar a verdade, onde quer que Deus nos dê oportunidade.
  2. Segundo: vocês também foram ungidos pelo Espírito para serem sacerdotes, e aí seu chamado não é oferecer sacrifícios pelos pecados, porque, claro, Cristo já fez isso de uma vez por todas, mas é, como diz Paulo em Romanos 12, para “apresentar os vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto espiritual.” Não eram apenas ofertas pela culpa que eram trazidas perante o Sacerdote; também havia ofertas de ações de graça, e é disso que Paulo está falando.
    Como Sacerdotes, também oferecemos sacrifícios de adoração. Heb. 13:15: “Por meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome.” Nosso culto desta manhã é um santo sacrifício de ação de graças que é sagrado para Deus.
    E como sacerdotes, também temos o dever de interceder (em outras palavras, orar) uns pelos outros – e pela igreja como um todo – trazendo nossas orações diante de Deus em favor uns dos outros. Já que compartilhamos a unção de Cristo como sacerdotes, não devemos nos contentar em deixar cada pessoa nesta igreja trazer suas próprias preocupações diante de Deus, mas ao invés disso, devemos levar as preocupações uns dos outros diante Dele. 1 João 5:16: “Se alguém vir a seu irmão cometer pecado não para morte, pedirá, e Deus lhe dará vida.” Ou Tiago 5:16: “Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados.”
  3. Finalmente, também somos ungidos para ser Reis, o que significa que somos chamados para reinar com Cristo, nas jurisdições sobre as quais ele nos coloca. Para todos nós, isso inclui nossa própria vida. Deus lhe deu autoridade sobre sua própria vida para ali estabelecer a Sua justiça. Então a questão é: A lei de Deus é a lei da terra em seu coração e em sua vida? Para alguns de nós, além da nossa vida pessoal Deus deu uma jurisdição maior: os pais devem fazer a lei de Cristo ser a lei dos seus lares e sobre seus filhos; os presbíteros devem fazer a lei Deus ser o que governa a família de Deus; os professores na escola têm essa responsabilidade também em suas salas de aula: Cristo deve reinar ali. Se o Cristão é dono de empresa, ali também, dentro do contexto do trabalho, a justiça e a honestidade e a integridade conforme a lei de Deus deve governar sua empresa.
    Assim diz o catecismo, como reis devemos lutar com uma consciência boa e limpa contra o pecado e o diabo nesta vida. Por cada um de nós, isto começa em nosso próprio coração, onde diariamente precisamos matar o pecado no raiz, lutando contra idolatria, orgulho, inveja, ódio, luxúria, cobiça, ganância, e todos as inclinações da velha natureza. Daí, o Reino de Deus se estende para nossas vidas—nossas palavras e ações; e daí, se estende para as áreas onde Deus tem nos dado legítima autoridade.
    Dentro da igreja também, não podemos simplesmente se recuar quando vemos o pecado em ação, mas humildemente, graciosamente, confrontá-lo e corrigi-lo – digo “humildemente”, é claro, porque às vezes também podemos lutar por nossas próprias convicções ou opiniões sem ouvir uns aos outros, e assim destruir o corpo de Cristo em vez de edificá-lo. Mas onde vemos o pecado em ação, somos chamados a trabalhar com amor, graça e humildade para corrigi-lo, como reis e rainhas ungidos por Deus.
    Assim, em todas as áreas da vida, somos ungidos como reis com Cristo para defender o nome de Cristo e defender sua justiça e trabalhar para o avanço de seu Reino.

Portanto, irmãos e irmãs, vejam as muitas promessas sobre o Cristo nas Escrituras. Deem graças a Deus por ter lembrado das suas promessas e enviado o prometido salvador. Nele, finalmente, temos o profeta que nos orienta e direciona para Deus; nEle, temos o Sumo-Sacerdote que derramou seu sangue para nos reconciliar e restaurar a Deus; e nEle, temos o nosso Rei, o Rei dos Reis, que está tomando e construindo seu domínio em nosso meio, e sobre a terra inteira. Que nós o sigamos fielmente, e que nós assumimos com toda seriedade o ofício que nós também carregamos com Ele, não para nossa glória, mas para a glória do nosso Senhor Jesus Cristo.

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Jonathan Chase

O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020. 

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.