Dia do Senhor 08

Leitura: Gênesis 1.1,26,27
Texto: Dia do Senhor 08

Amados irmãs e irmãos no Senhor Jesus,

A igreja de Cristo confessa o que crê. O apóstolo Paulo disse que “se crê com o coração e se confessa com a boca”. Por isso, a igreja cristã confeccionado seus credos e confissões. Por meio desses documentos a igreja expressa a fé que ela crê com o coração e confessa com a boca.

Os credos Apostólico, Niceno e Atanasiano expressam a fé da igreja cristã. As confissões e catecismos são também tipos de credos mais bem elaborados. No caso das Igrejas Reformadas temos, além dos credos citados, a nossa Confissão Belga e o Catecismo de Heidelberg e Os Cânones de Dort. Esses três documentos são conhecidos também com o nome de Três Formas de Unidade.

Credos e confissões não são a Palavra de Deus e nenhum escrito de homens pode ser igualado à Palavra de Deus. Por isso, não devemos tomar nenhum credo ou confissão como inspirados por Deus. Nem mesmo o Credo Apostólico, porque de apostólico só tem o nome. O Credo Apostólico é um resumo do evangelho, mas não foi escrito pelos apóstolos. Porém, ao mesmo tempo, devemos dizer que os nossos credos e confissões ensinam o que é revelado na Palavra.

Como já disse: O Credo Apostólico não é a Palavra de Deus mas nos faz conhecer o evangelho do Deus da Palavra. Esse Deus é quem nos salva mediante a fé em Cristo Jesus. E esse Deus que nos salva é tremendo e maravilho demais para nós O compreendermos em toda a Sua realidade. Esse Deus que o único Deus na Trindade e a Trindade na Unidade.

O nosso Domingo 8 nos introduz ao evangelho resumido no Credo Apostólico e é uma prova clara que as igrejas reformadas faz parte da igreja de Deus de todas as épocas, do Antigo e do Novo Testamento, pois, nesse domingo 8 nós confessamos a revelação que Deus faz de si mesmo na Sagrada Escritura. Essa revelação que está no Antigo e no Novo Testamento. Essa revelação que é confessada nos credos antigos da igreja cristã.

O título da pregação dessa manhã é: Cremos e adoramos o Deus Triúno que se revelou a nós: O Criador, O Salvador e O Santificador de Seu povo

O título nos leva a pensarmos que confessamos um Deus que se revelou a nós. Se Deus não tivesse se revelado a nós jamais poderíamos O conhecer para a nossa salvação. Claro que nós o conheceríamos como Criador. Pois, toda criação prega a existência de um Ser criador (Salmo 19). Não há como ver que esse mundo com toda complexidade se autocriou e seja produto de forças irracionais da natureza. Toda a criação proclama para nós: “Sou uma criação de um Criador todo poderoso, sábio, eterno!”

Porém, precisamos de uma revelação especial e mais clara, porque jamais poderemos pela revelação de Deus na criação reconhecer que esse único e verdadeiro Deus é Triúno e que é nosso Criador, o Salvador e Santificador!

Chegamos ao ponto: Revelação. Confessamos a Trindade apenas com base na revelação que Deus faz de Si mesmo na Escritura! Isso mesmo! Não cremos porque achamos Deus, mas porque Ele se revelou a nós de modo especial e claramente em Sua Palavra escrita.

Cremos na revelação que Moisés recebeu de Deus e pregou para Israel. Moisés pregou a Israel quem foi o Deus que criou, salvou e santificou um povo para Si mesmo. A pregação de Moisés foi (Gn 1.1): “No princípio, criou Deus os céus e a terra.”

É como se estivéssemos no deserto junto a igreja do Antigo Testamento ouvindo Moisés explicando essa revelação à Igreja:

“Israel o Deus que nos chamou do Egito é o Deus que criou os céus e a terra e tudo que neles habitam. Escuta, Ó Israel, não há outro Deus além desse Deus. Os deuses dos egípcios são invenções da mente deles. Os deuses dos povos da terra de Canaã também são nada e não poderão nos deter. Nós temos o Deus que do nada criou os céus, a terra e todos os exércitos que neles habitam! Foi este Deus que escolheu e criou você como nação, que salvou você do cativeiro do Egito e do poder de Faraó. O Deus que separou vocês dos demais povos para que vocês sirvam somente a Ele (santificar). Por isso, não tema as imaginações dos homens. Não se curve a deuses que não existem. Não os adore. Creia e adore só ao SENHOR.

Ó Israel … Não há outro Deus além desse Deus que nos elegeu, no criou, nos salvou e nos santificou para sermos o Seu povo e rebanho de Seu pastoreio. Ele é o único e todo poderoso Deus criador, salvador e santificador nosso. Confesse esse Deus e somente a Ele adore”. O povo deveria tomar essa revelação, confessar e adorar o Único Deus.

Se tomamos a Escritura escrita por Moisés como revelação de Deus, consequentemente, confessaremos que só há um Deus verdadeiro que criou todo universo (Dt 6.4). Esse Deus se revelou a Israel e deve ser crido e adorado por todos os homens, mas, especialmente pela Igreja, como o Seu Criador, o Seu Salvador e quem A santificou, isto é, a separou dentre todos os seres humanos, um povo para dEle. Portanto, a revelação do Único Deus Verdadeiro serve para dar à igreja do Antigo Testamento fundamento para ela adorá-lo e servi-lo em amor como o seu Deus Criador, Salvador e Santificador d Seu povo.

Agora, que tipo de Único Deus devemos crer, confessar e adorar? Usando uma linguagem mais teológica: que tipo de monoteísmo cremos? No monoteísmo bíblico. Nesse monoteísmo aprendemos que o único e verdadeiro Deus é um Ser em quem há três Pessoas, por isso, nosso título diz que Deus se revelou como Triúno. Aqui o cristianismo não se separa de Moisés, mas, nos separamos do judaísmo que negou Jesus.

O judaísmo atual como o islamismo e certos hereges dentro do cristianismo (Testemunhas de Jeová e Mórmons), negaram esse monoteísmo bíblico, porque negaram a revelação da Escritura. Fazendo isso, negaram que Deus seja um único Ser, em que há três Pessoas (não três deuses): O Pai, o Filho e o Espírito Santo. Eles criaram uma inimizade que não existe: A inimizada entre o monoteísmo do Antigo Testamento e a doutrina da Trindade.

Vamos voltar à pregação inspirada de Moisés em Gn 1. Notamos nesse texto mudanças nos verbos e nos pronomes que nos fazem perceber que há mais de uma pessoa no ser de Deus. O nosso irmão Moisés, por inspiração e narrando a criação dos primeiros seres humanos, pregou o seguinte a Israel (Gn 1.26):

“Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; …”. E no v. 27, Moisés pregou: “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Notaram as mudanças nos verbos e nos pronomes? Notaram que

Moisés referindo-se ao mesmo Deus alterna entre verbos e pronomes entre o plural e o singular?

Não precisamos ser um professor de português para identificar a clara mudança nos verbos e nos pronomes de possessão que foram do singular para o plural. Está escrito: “Disse” Deus. “Disse” é terceira pessoa do singular do verbo “dizer”. E o que logo em seguida está escrito? “Façamos”. “Façamos” é a primeira pessoa do plural do verbo “fazer”.

Está escrito: “Nossa imagem, … nossa semelhança,”. O que é “Nossa”? “Nossa” é um pronome possessivo no plural. E depois, no v. 27, o verbo muda do plural para o singular. Está escrito: “Criou Deus”. O que é Criou? E o verbo na terceira pessoa do singular.

Sei que vocês notaram essas mudanças nos verbos e nos pronomes. Que Deus é esse que fala ao mesmo tempo no singular e no plural? É o Deus que se revelou como Deus Único e que é também mais de uma pessoa no seu Ser, ou seja, uma Trindade.

É verdade que Moisés não disse quantas pessoas há em Deus (duas ou três pessoas em Deus). Porém, essa Triunidade de Deus está claramente exposta no Novo Testamento. Por meio dos escritos dos apóstolos de Jesus e outros escritores do Novo Testamento, Deus nos revelou mais claramente sobre o Ser dEle. Isto nos lembra o que Agostinho disse sobre a coerência e unidade da revelação da Escritura:
“O Novo está escondido no Antigo; o Antigo está revelado no Novo”.

Veja então como a revelação do Antigo Testamento é esclarecida pela revelação do Novo Testamento:

Não é no Antigo que diz que Deus: “No princípio criou Deus, os céus e a terra”? Mas não é também no Novo aprendemos que o Filho de Deus, Jesus, é Deus igualmente o Pai e que estava com o Pai no princípio quando tudo foi criado, e que todas as coisas foram criadas por intermédio de Cristo e, sem Cristo, nada se fez (Jo 1.1-3)?

Não é no Antigo Testamento que se revela que o Espírito de Deus pairava por sobre as águas? Mas, não é também no Novo Testamento onde é esclarecido que o Espírito é distinto do Pai e do Filho e que também é verdadeiro Deus, junto com o Pai e o Filho? O Espírito Santo não foi prometido como o “outro” Consolador e que que Ananias e Safira foram mortos por mentiram ao Espírito Santo que é Deus (Jo 14.16,17; 25; Atos 5.4)?

Não é pelo Novo Testamento que nos é revelado que temos que ser santificados em um só nome, mas que esse nome é o nome de Deus Pai, Filho e Espírito Santo? Em um só nome somos batizados: Em o nome …, mas, esse nome é: do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mateus 20.28).

Não é também nesse Deus que somos abençoados com o amor do Pai, a graça do Filho e a comunhão do Espírito Santo (2 Co 13.13)?

A Escritura se auto-explica. O que o Espírito Santo revelou não tão claramente por meio de Moisés é claramente revelado na Pessoa do Filho de Deus, Jesus; e nos escritos do Novo Testamento. Portanto, sem receio algum, a igreja confessa o Deus Triúno como Único e verdadeiro Deus que nos criou, nos salva e nos santifica em Cristo Jesus! Se tomamos a revelação de Deus em toda a Escritura, não vemos inimizade entre monoteísmo e a doutrina da Trindade.

A nossa fé cristã confessada no Domingo 8 é a fé na Santíssima Trindade. Talvez você diga: “Mas não entendo a doutrina da Trindade e é muito difícil ilustrar essa doutrina às crianças”. De fato não conseguimos entender essa doutrina. Como não conseguimos também entender a doutrina do nascimento virginal de Cristo e a doutrina das duas naturezas do Salvador, Deus verdadeiro e homem justo. Mas, a doutrina da Trindade é uma fé revelada e que a confessamos por submissão à Revelação que Deus faz de Si mesmo na Escritura e não porque entendemos essa doutrina. Talvez essa explicação não satisfaça hereges e racionalistas, mas, isso não é um problema nosso. É deles. Nós queremos ser apenas discípulos do que Cristo ensinou. Nós nos contentamos com as Palavras dEle. Queremos ser como crianças que não precisam de muitas explicações para crerem nas palavras de seus pais.

O que podemos ter por certo é que a doutrina da Trindade é a fé ensinada por Moisés na Escritura do Antigo e a mesma esclarecida pelo Novo Testamento pelo Senhor, seus apóstolos e seus demais escritores. De coração e mente submetidos à Palavra dizemos: “Amém” a Trindade. Não a compreendemos totalmente, mas dizemos: “Amém”, pois assim Deus se revelou em Sua Palavra a nós. Nós dizemos “amém” juntos com uma multidão inumerável de crentes, ou seja, com a igreja de Deus.

Concluindo:

Amados irmãos, sermos lembrados da Doutrina é tão importante hoje como foi nos dias dos concílios de Nicéia e Constantinopla. Essa doutrina hoje sofre ataques tão pesados quando naquela época!

Sofre ataque do ecumenismo, do multiculturalismo e do racionalismo tão ensinados a nós e nossos filhos por meio do currículo escolar, filmes e mídias. O ecumenismo que prega a união de todas religiões em uma religião universal que tem uma fé comum. O multiculturalismo que diz que não há uma religião superior a outra. O racionalismo que é o culto da razão e que tudo deve estar submetido ao racional e se é incompatível com a razão, é inaceitável ao homem. Mas, para abraçar esses “ismos” temos que negar a fé cristã universal “que adoramos o único Deus na Trindade e a Trindade na unidade”.

Afirmamos com fé, coragem e amor por todos os homens:

Para o pecador ser salvo da Ira de Deus, ele precisa, por verdadeira fé, confessar o Deus Triúno, pois, este é o único e verdadeiro Deus que se revelou salvadora a nós na Pessoa de Jesus Cristo. O pecador deve abraçar o Deus Filho, Jesus, que é a revelação que veio a nós de uma forma suprema, completa e final. Não há como o homem ser salvo sem fé no Senhor Jesus que é Deus igualmente ao Pai e ao Espírito Santo. Esses três que são o Único Deus na Trindade e a Trindade na unidade.

Sem a fé em Jesus não podemos entender e receber o Deus que se revelou a Moisés, o Único Deus Triúno que é o Criador, o Salvador e Santificador de Seu povo e de todas as obras de Sua poderosa mão. Sem Jesus não podemos ser unidos a esse Deus que criou para si, que salvou para si e que santificou para si um povo, Sua igreja. O Deus que conduz essa criação para uma redenção final quando eliminará dela as consequências do pecado de Adão, retirará dela todos os ímpios e anjos caídos, instaurando um Novo Céu e uma Nova Terra.

Amados irmãos e irmãos, alegremo-nos nesse Deus tremendo e maravilhoso que, apesar de nossa miséria e pequenez e por pura graça somente, nos escolheu para sermos Seus filhos, o povo dEle. O Deus incompreensível e insondável que se revelou a nós e veio até nós na Pessoa do Filho Jesus Cristo. Este Filho que morreu e ressuscitou para nos garantir a salvação, justiça e vida eternas; Foi esse Deus que nos faz ser a habitação de Seu Espírito Santo e que está conosco em meio a todas as tribulações nessa vida terrena.

Esse Deus Triúno nos consola, porque nada e ninguém poderá nos separar de Seu amor, pois, Deus o Pai, com Seu poder, nos adotou e nos fez novas criaturas em Cristo Jesus. Deus o Filho derramou o Seu precioso Sangue e ressuscitou para nos salvar da Ira de Deus. Deus o Espírito Santo mora em nós e nos santifica aplicando em nós o que Deus o Filho conquistou para nossa salvação eterna. Quem tem poder maior que possa nos separar desse Deus?

Enfim, continuemos a confessar a fé na Trindade Santa. Essa confissão confirma que somos parte do todo povo de Deus Triúno que se revelou no Antigo e no Novo Testamento. Um povo que está nos céus e que está na terra. Somos membros de uma grande igreja, pois comungamos de uma mesma fé e adoramos juntos o Deus Triúno que se revelou a nós: Criador, Salvador e Santificador nosso!

Amém.

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Adriano Gama

Ministro da Palavra das Igrejas Reformadas do Brasil (IRB). Mora em Curitiba e serve como missionário na Igreja Reformada Ebenezer (Colombo – PR)

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.