Dia do Senhor 07

Leitura: Hebreus 10.37-11.01-07; Romanos 04.16-25
Texto: Dia do Senhor 07 (perguntas 20 e 21)

Amados irmãos no Senhor Jesus Cristo

Estamos estudando a doutrina bíblica da nossa salvação (dom. 5-31). Já estudamos os domingos 5 e 6 e agora chegamos no domingo 7. Nosso catecismo dá mais um passo no ensino bíblico da salvação. Para entendermos bem a obra de Deus em favor da nossa salvação, precisamos fazer uma distinção entre a aquisição e a apropriação da nossa salvação. O catecismo nos ajuda neste ponto. Nos domingos 5 e 6 estudamos sobre a aquisição da salvação. Ali confessamos que nossa salvação foi adqurida somente pela obra mediadora do Nosso Senhor Jesus Cristo. Aqui no domingo 7 nós confessamos o que a Bíblia diz acerca da apropriação da nossa salvação. Deus nos torna proprietários da salvação que Cristo adquiriu. O Espírito Santo nos torna participantes da salvação por meio da verdadeira fé. A aquisição é a obra de Deus por nós (obra de Cristo), enquanto que a apropriação da salvação é a obra de Deus em nós (obra do Espírito). “Porque pela graça (em Cristo) sois salvos mediante a fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Ef.2.8). Portanto, quanto à doutrina da nossa salvação, nós confessamos que:

Deus nos salva em jesus Cristo mediante a verdadeira Fé

Quem pode se apropriar da salvação conquistada por Cristo? A pergunta 20 começa dizendo o seguinte: “Todos os homens tornam-se salvos por Cristo assim como pereceram em Adão? Nessa pergunta já encontramos a afirmação bíblica acerca da miséria do homem: Em Adão todos os homens pecaram (Rm.3.23). Todos os homens tornaram-se corrompidos e dignos da condenação eterna. Isso é verdade. Mas é verdade também que Deus, em sua misericórdia, providenciou um caminho (mediador Jesus Cristo) para salvar o pecador da sua miséria. No entanto, a questão a ser feita é a seguinte: A quem exatamente Deus salva? Quem pode ser salvo por Jesus Cristo? Quem se apropria da salvação? Não são todos os homens, mas somente aqueles que são unidos a Cristo por verdadeira fé (obra de Deus em nós). A Bíblia ensina isto claramente (Mt.1.21; 7.13,14; 22.14; Jo.17.9,24). Mesmo assim, algumas pessoas têm ensinado que toda a humanidade será salva por Cristo. Até apresentam alguns textos bíblicos para afirmarem isso (I Tm.2.4; 2 Pe.3.9). Ambos os textos parecem ensinar mas não ensinam que Deus vai salvar todos os homens. O texto de II Pe.3.9 nos mostra que Deus é longânimo e retarda seu julgamento para que seus escolhidos cheguem à fé e ao arrependimento; enquanto que I Tm.2.4 nos mostra que Deus deseja que todos os tipos de homens, ricos ou pobres, simples ou importantes, sejam salvos. Além disso, esses textos bíblicos não podem se contradizer com os outros que afirmam que Deus salvará àqueles que ele escolheu em Jesus Cristo, aos quais ele dará a verdadeira fé.

A verdade é que muitos são chamados à fé e ao arrependimento pela pregação do evangelho. Porém nem todos se arrependem e crêem em Cristo, mas permanecem com seus corações endurecidos. Por que isso acontece? O problema não está no sacrifício de Cristo que é suficiente para salvar todos, mas está na própria culpa dos homens incrédulos. A morte de Cristo tem um valor infinito. Ela é suficiente para a reconciliação do mundo inteiro. No entanto, segundo o plano redentivo de Deus, a obra de Cristo é eficaz somente para aqueles que crêem nele com verdadeira fé. Precisamos observar que a ênfase de domingo 7 não é na doutrina bíblica da eleição eterna, mas na apropriação da salvação por parte daqueles a quem Deus escolheu em Cristo.

Portanto, haverão de ser salvos todos aqueles que são unidos a Cristo por verdadeira fé e aceitam todos os seus benefícios. Essa resposta nos revelam algumas verdades importantes acerca da apropriação da nossa salvação:

1 – A apropriação da nossa salvação depende de Deus. Nenhum homem caído e morto em seus delitos e pecados tem condições próprias de crer em Cristo e aceitar seus benefícios. Somente Deus por seu poder e graça pode nos unir a Cristo e nos tornar proprietários da sua salvação. Por isso confessamos que somos unidos a Cristo por Deus e não que nos unimos a ele de nós mesmos. A Bíblia ensina claramente que Deus é quem opera em nós para aceitarmos a sua salvação (ler Jo.1.12,13; 6.37,44; Fp.2.13). Não podemos nos tornar membros de Cristo e participar de seus benefícios sem a ação graciosa e poderosa do Espírito de Deus em nossas vidas. Como é que Deus nos une a Cristo? Mediante a verdadeira fé.

2 – A verdadeira fé é necessária para nos apropriarmos da salvação que Cristo adquiriu para nós. O homem precisa crer em Cristo para ser salvo. A Bíblia nos ensina em muitos lugares acerca da necessidade da fé em Cristo para nossa salvação (Jo.3.16,36; Mc.16.16; At.10.43; 16.31; Rm.10.9,10; Hb.10.38). Uma vez que a fé é necessária para nossa salvação, quer dizer então que somos salvos por Deus por causa da nossa fé? Não é assim. Precisamos entender o lugar da fé na nossa salvação. A fé não é a base pela qual somos salvos; a base da nossa salvação é a obra perfeita de Cristo. Nossa salvação depende do que Cristo fez e não de nenhuma obra nossa, inclusive nossa fé. Além disso é Deus quem nos concede a graça de crer em Cristo (Ef.2.8; Fp.1.29). A fé é o instrumento pelo qual nos tornamos proprietários da salvação. Com ela abraçamos a Cristo e todos os seus benefícios. Podemos até dizer que a fé, mediante a qual somos salvos, é como uma mão vazia que se estende para receber a salvação que Deus nos oferece em Cristo.

Deus não nos salva de forma automática, mas ele usa meios. Ele escolheu os seus antes da fundação do mundo; Cristo veio para morrer por estes e o Espírito concede a estes a verdadeira fé. Embora a obra do Espírito em nós seja sobrenatural, ela não acontece de forma extraordinária. O Espírito opera a fé em nosso coração por meio do evangelho. Deus poderia nos salvar diretamente. Mas ele usa a pregação do evangelho para operar em nós a fé em Cristo (Rm.10.14-17) . Vemos assim que Deus não exclui a responsabilidade humana de crer. Ele exige que creiamos em Cristo para sermos salvos; o evangelho chama os pecadores a crerem em Cristo. No entanto, sem o poder e a graça do Seu Espírito ninguém poderá crer. Em sua misericórdia, Deus envia pregadores para proclamar sua mensagem a fim de conceder aos pecadores a fé no Senhor Jesus Cristo e salvá-los. Sem a fé em Cristo ninguém poderá ser salvo. A fé é necessária para nossa salvação, não como base da salvação, mas como o meio pelo qual Deus nos une a Cristo e nos faz aceitar todos os seus benefícios. “…Porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam” (Hb.11.6b).

Depois de mostrar que a verdadeira fé é necessária para nossa salvação em Cristo, o catecismo segue explicando o que é a verdadeira fé (perg.21). Observe que o catecismo usa a expressão “verdadeira fé”. Isso implica em que existe também uma fé falsa. Então, antes de vermos quais são os elementos que constituem a verdadeira fé, atentemos para as características da fé falsa. Vejamos pelo menos duas características da fé falsa:

1 Fé histórica: é o tipo de fé que conhece e aceita as verdades da Escritura como uma pessoa poderia aceitar um relato histórico no qual ela não está pessoalmente interessada. Esse tipo de fé pode ser resultado da tradição, da educação, da opinião pública e outros fatores. É uma fé meramente intelectual e não do coração (Mt.7.26; Tg.2.19).

2 Fé temporal: é aquele tipo de fé que se persuade e até se alegra com as verdades do evangelho, mas não tem suas raízes num coração regenerado. É uma fé temporária porque não é permanente e não se mantém de pé nos dias de provação e perseguição (Mt.13.20,21). Essa fé temporal difere da fé histórica no interesse pessoal que mostra pela verdade e na reação dos sentimentos à verdade. No entanto, é também uma fé falsa, pois não brota de um coração regenerado, não tem raiz de si mesma para permanecer firme (Mt.13.21).

Além disso, podemos dizer que todo tipo de fé que não está totalmente voltada para Jesus Cristo e não condiz com a verdade bíblica não é verdadeira fé, mas uma fé falsa. Todas as seitas e religiões que crêem em falsos deuses e conforme suas idéias evidenciam uma fé falsa (ex.fé budista, espírita, islâmica, testemunhas de jeová, etc.). Existe somente uma fé: a fé bíblica e verdadeira.

A verdadeira fé pela qual nos apropriamos da salvação em Cristo é totalmente oposta à falsa fé. Podemos defini-la como a operação do Espírito Santo em nossos corações por meio da qual ele nos dá um conhecimento seguro quanto à verdade do evangelho e também uma confiança plena nas promessas de Deus em Cristo (pg.21). Conforme essa definição sobre a natureza da verdadeira fé, observamos que dois elementos importantes a constituem: conhecimento seguro (certeza) e confiança. Estes elementos estão totalmente interligados. A palavra “certeza” define de que conhecimento o catecismo fala. É um conhecimento de fé que dá certeza, um conhecimento seguro que nos leva a confiar em Deus e nas suas promessas. Conhecimento e aceitação da revelação do evangelho bem como confiança nas promessas de Deus caracterizam a vida de todos aqueles que têm a verdadeira fé.

1 A verdadeira fé está baseada no conhecimento seguro da revelação de Deus nas Escrituras. Alguém pode tomar conhecimento das verdades da Bíblia e ao mesmo tempo não aceitá-las como verdade. Por exemplo, alguém pode conhecer e compreender intelectualmente a doutrina da justificação pela fé e mesmo assim não aceitar essa doutrina como verdade. Tal pessoa não tem a verdadeira fé, pois não tem um conhecimento seguro que aceita como verdade tudo o que Deus nos revelou em sua Palavra. O conhecimento seguro que constitui a verdadeira fé é aquele tipo de conhecimento que nos dá a certeza daquilo que conhecemos. É o conhecimento pelo qual não só compreendemos, mas também aceitamos de coração toda a verdade que Deus nos revelou em sua palavra. Aquele que recebe de Deus a verdadeira fé conhece a aceita como verdade o ensino bíblico acerca da sua própria miséria e também da obra de salvação do Deus Triúno em seu favor. Ele sabe que é pecador e que somente Cristo pode salvá-lo. Ele aceita a verdade do evangelho. Ele não precisa ver para crer naquilo que Deus fez por ele, mas ele crer no que Deus revelou sobre si mesmo e a sobre a salvação na sua Palavra. Afinal o que é fé? “Ora, a fé é a certeza das coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem”… (Hb.11.1; ver também v.3).

O conhecimento da fé não é um conhecimento meramente intelectual como o conhecimento científico. Mas é um conhecimento de relacionamento pessoal com Deus que envolve tanto a mente quanto o coração. É o conhecimento do que Deus fez por nós em Jesus Cristo; é um conhecimento firme e certo da bondade de Deus para conosco. Somente os que têm a verdadeira fé possuem esse tipo de conhecimento.

2 A verdadeira fé inclui a confiança plena nas promessas de Deus em Cristo. Confessamos que a verdadeira fé, além de um conhecimento seguro, é também a plena confiança nas promessas que Deus nos oferece por sua graça em Jesus Cristo. Essa confiança não está solta do conhecimento, mas, ao lado do conhecimento, constitui a verdadeira fé. Não há confiança sem conhecimento. Para confiar numa pessoa precisamos antes conhecê-la. Para confiar em Deus e na suas promessas precisamos antes conhecê-lo através da Revelação que ele nos fez na sua palavra. Por outro lado, um conhecimento sem confiança é uma coisa fria e vã. Por exemplo, de que adianta saber que Deus criou todas as coisas e as sustenta por seu poder, e não confiar que ele é um Pai Poderoso e Bondoso para cuidar de nós? De que adianta saber que Jesus nasceu, morreu e ressuscitou e não confiar plenamente que ele fez tudo isso em nosso favor? A verdadeira fé nos leva a confiar nas promessas de Deus.

Um bom exemplo bíblico de alguém que recebeu um conhecimento seguro da revelação de Deus e depositou sua confiança nele foi o exemplo de Abraão. Paulo falando sobre a fé de Abraão, por meio da qual Deus o salvou em Cristo nos diz o seguinte: ( ler Romanos 4.16-21). Independente das circunstâncias, Abraão confiou nas promessas de Deus, e pela graça de Deus foi justificado para a salvação em Cristo. As promessas que Deus fez a Abraão eram destinadas a ele e à sua descendência. Ele recebeu essas promessas e creu pessoalmente nelas.

Um detalhe importante que observamos na resposta 21 é a confiança pessoal do crente em Deus. Cada crente confia pessoalmente que “Deus concedeu, por pura graça, não só a outros, mas também a mim a remissão dos pecados, a justiça eterna e a salvação somente pelos méritos de Cristo.” Aquele que confia nas promessas de Deus diz: “Essas promessas são para mim; Deus me salvou em Cristo, Cristo me perdoa e me dá sua justiça e salvação; confio no meu Deus e descanso na salvação que ele conquistou para mim”.

Como verdadeiros crentes confiamos que nossa salvação nos é dada por pura graça, somente pelos méritos de Cristo. Por verdadeira fé Deus nos une a Cristo e nos faz participar dos seus benefícios. Esses benefícios são o perdão completo dos nossos pecados, a justiça eterna e a salvação. Esse benefícios são coisas que não merecemos, mas que Deus nos dá por pura graça baseado apenas nos méritos de Cristo. Os méritos da nossa salvação são todos de Cristo e isso exclui qualquer mérito humano. Cristo é o Autor da nossa salvação. Nele temos tudo o que é necessário para sermos salvos. Aceitamos tudo o que ele fez para nossa salvação por verdadeira fé.

DEUS NOS SALVA EM JESUS CRISTO MEDIANTE A VERDADEIRA FÉ. Conhecemos e confessamos essa verdade do evangelho. Cremos que tanto a aquisição quanto a apropriação da nossa salvação resultam da graça de Deus em Cristo para conosco. “Pela graça somos salvos mediante a fé…” (Ef.2.8); e “…todo aquele que nele crê recebe remissão de pecados” (At.10.43). Louvado seja Deus pela nossa salvação em Cristo. Por sua fidelidade e graça ele nos concede as suas promessas e as cumpre. Da nossa parte, somos chamados a confiar plenamente na promessa de salvação que Deus nos revelou em sua palavra.

Amém.

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Elissandro Rabêlo

Bacharel em Teologia pelo CETIRB – Centro de Estudos de Teologia das Igrejas Reformadas do Brasil (Atual Instituto João Calvino) (1999-2004). Fez Convalidação de Teologia na Universidade Mackenzie em São Paulo (2017). Ministro da Palavra e dos Sacramentos da Igreja Reformada do Grande Recife (PE), servindo como Missionário da Igreja Reformada em Fortaleza (CE).

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.