Leitura: Lucas 18.09-14; Romanos 03.19-26
Texto: Dia do Senhor 02
Amados irmãos no Senhor Jesus Cristo,
A cada domingo, em um de nossos cultos, fazemos a leitura pública da lei de Deus resumida nos dez mandamentos. Qual a razão dessa nossa prática? Apenas para acrescentar algo mais na liturgia do culto? Não. Atentamos regularmente para a lei do nosso Deus, a qual foi dada originalmente a Israel no AT, porque entendemos que esta mesma lei tem sua utilidade e importância para a igreja de Cristo hoje. A lei de Deus não é uma lei ultrapassada e sem aplicação para os dias de hoje. Ao contrário, a lei de Deus é o conjunto das exigências de Deus para todos os homens em qualquer época ou lugar, e também o padrão pelo qual ele há de julgar a toda humanidade. A igreja não deve desprezar a lei de Deus, mas amá-la, pois ela é de grande importância em nossa vida e nos foi dada para nosso próprio bem.
Em que sentido, a lei de Deus tem sua importância para nós? Podemos apontar pelo menos duas funções importantes que a lei de Deus exerce sobre nossa vida como cristãos: 1) A lei de Deus é nossa regra de vida: Deus nos mostra em sua lei qual é a sua vontade para nossa vida como seu povo. Na lei, ele nos revela como devemos viver uma vida que lhe agrada e glorifica. 2) A lei de Deus revela nossa miséria. Por sua lei, Deus nos torna conhecedores da nossa miséria. Ele nos revela o conhecimento do nosso pecado.
O domingo 2 do nosso catecismo fala sobre esta segunda função da lei em nossa vida. Este domingo está inserido na primeira parte do conteúdo geral do catecismo (Dom.2-4) que fala sobre a miséria do homem. O assunto do dom.2 é o conhecimento da miséria do homem. Dom.3 fala da origem e profundidade da nossa miséria; enquanto que dom.4 trata do castigo da nossa miséria. O catecismo pergunta: Como você conhece sua miséria? A resposta é curta e direta: Pela lei de Deus. A linguagem do catecismo é tão somente o reflexo do ensino bíblico, pois em Romanos 3.20 lemos que “pela lei de Deus nos vem o pleno conhecimento do pecado”. Devemos entender que não é a lei em si mesma que revela nossa miséria; ela é tão somente a fonte do conhecimento da nossa miséria. O Espírito Santo é quem nos torna conhecedores do nosso pecado e o meio que ele usa para isso é a lei de Deus.
Tema: Deus nos revela o Conhecimento da Nossa Miséria
- Pelo Espelho da Sua Lei
- Porque Necessitamos Desse Conhecimento
- Deus Nos Revela o Conhecimento da Nossa Miséria – Pelo Espelho da Sua Lei
Como nossa miséria pode ser vista na lei? Deus nos dá a sua lei para servir de espelho para nós. Todos nós sabemos o que é um espelho e certamente já contemplamos nossa aparência em algum. Quando você se olha num espelho você enxerga quem realmente você é. A lei de Deus é também um espelho. Mas não é um espelho como outro qualquer; é um espelho especial que reflete para nós duas coisas importantes que Deus quer nos revelar: 1)O espelho da lei de Deus reflete para nós a Santidade do nosso Deus. Deus é totalmente perfeito em si mesmo. Ele Santíssimo, sem nenhuma ligação com o pecado. Conseqüentemente, sua lei também é perfeita e santa. Seus mandamentos revelam que ele é Santo e como tal, não tolera pecado mas exige santidade do seu povo. 2) O espelho da lei de Deus reflete para nós a nossa própria miséria. Por miséria quero dizer, nossa natureza pecaminosa, pela qual somos inclinados a todo o mal e incapacitados de cumprir perfeitamente a lei de Deus. É isso que o catecismo quer dizer quando usa o termo “miséria”. Essa linguagem do nosso catecismo se baseia na Bíblia que declara que somos, por natureza, miseráveis pecadores: “Como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nenhum sequer.” (Rm 3.10-12). A Bíblia, portanto, não se cala acerca da nossa natureza pecaminosa. A lei de Deus revela nossa miséria.
Deus nos deu os dez mandamentos para que, através deles, enxerguemos ainda mais nossa natureza pecaminosa. Os dez mandamentos constituem um resumo da lei moral de Deus revelada a nós em toda a sua Palavra. Neles, Deus nos apresenta os deveres que ele exige de nós em nosso relacionamento com Ele e com nosso próximo.
O que exatamente Deus exige de nós em sua Lei? O Senhor Jesus Cristo nos ensina o que Deus exige de nós num resumo encontrado em Mateus 22.37-40 onde ele diz: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento; este é o grande e primeiro mandamento; o segundo semelhante a este é: amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.”. É muito simples o que Jesus está nos ensinado com este resumo da lei: “Ame a Deus e ame também o seu próximo”. Se você tem feito isso, então tem cumprido a lei. Agora observe o seguinte: Que tipo de amor Deus exige de você? O amor que Deus exige de nós não é um amor parcial ou por conveniência, mas um amor perfeito e total para com ele e para com o nosso próximo. Ele quer que toda nossa vida seja inteiramente voltada para ele, sem que nada nem ninguém nos impeça de sempre colocá-lo em primeiro lugar em todas as coisas. Ele exige que amemos nosso próximo da mesma forma que amamos a nós mesmos, cuidando dele e se preocupando com ele assim como fazemos conosco. Essa é a exigência de Deus: um amor total que se manifesta numa vida de perfeita obediência aos seus mandamentos. Quem pode fazer isso? Será que você tem condições de praticar este amor perfeitamente?
Olhe atentamente para o espelho da lei de Deus. Avalie a sua vida; sua maneira de pensar, falar e agir e a compare com a lei de Deus. O que você enxerga? Qual é a sua conclusão? Se você for sincero consigo mesmo, concluirá o seguinte: “Eu sou um pecador. Estou muito distante do padrão de perfeição que Deus exige de mim em sua lei. Sou totalmente incapaz de cumprir a lei de Deus perfeitamente, porque, segundo minha natureza pecaminosa, sou inclinado não a amar, mas a odiar a Deus e ao meu próximo. Deus quer que eu o ame de todo o meu coração, porém o meu coração é corrupto, isto é, meus sentimentos, desejos e atitudes não buscam a sua glória primeiramente, mas os meus próprios interesses. Deus quer que eu ame o meu próximo como a mim mesmo, porém, tenho sido egoísta e pensado apenas em mim mesmo, não me importando com aquele que está perto de mim.” Essa é a confissão de um crente sincero e consciente de sua miséria. Diante da pergunta: “Você pode guardar a lei de Deus perfeitamente?”, ele responde de cabeça baixa: “Não, não posso, porque por natureza, sou inclinado a odiar a Deus e ao meu próximo.” Essa é a atitude cristã. Porém, nem todos têm essa atitude.
O jovem rico que foi ter com Jesus pensava que cumpria a lei de Deus perfeitamente (Mc.10.19-22). Quando Jesus lhe alistou os mandamentos, ele respondeu: “Tudo isso tenho observado desde a minha juventude”. Ignorância total. O jovem rico até conhece a lei de Deus, ele sabe quais são os mandamentos; porém, ele não reconhece a sua miséria. Então, Jesus revela-lhe a sua miséria, a cobiça que estava dentro do seu coração. Com amor Jesus olha para aquele jovem e lhe diz: Uma coisa ainda te falta: vai, vende tudo que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro nos céus; depois vem e segue-me”. Ouvindo isso, ele se entristeceu, porque era riquíssimo. Ele era incapaz de amar a Deus e ao seu próximo perfeitamente. Seu coração não era inteiramente voltado para Deus, mas cobiçoso, pois estava voltado para as suas riquezas. Ele não amava seu próximo como a si mesmo, pois, sendo rico, não estava disposto a dividir suas riquezas com os pobres.
Não nos enganemos como aquele jovem, mas reconheçamos nossa miséria. Reconheçamos pelo espelho da lei que somos miseráveis pecadores que não conseguimos por nossas próprias forças cumprir perfeitamente a Lei de Deus. Esta é a nossa triste realidade e precisamos reconhecê-la. Nem todos querem reconhecer isto, mas é verdade. E ainda mais. A nossa miséria consiste não apenas na nossa natureza pecaminosa, mas também na nossa culpa e condenação perante Deus. Paulo disse: “ Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda a boca e todo o mundo seja culpável perante Deus…” ( Rm 3.19). Escrevendo aos gálatas ele afirmou: “ Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no livro da lei para praticá-las” ( Gl 3.10). A verdade é que toda a humanidade é corrompida e declarada culpada aos olhos de Deus, pois se encontra debaixo da maldição do pecado. Judeus, gregos, brasileiros, americanos, africanos, europeus, todos se encontram na miséria do pecado. Esta é uma mensagem terrível e desagradável. Ninguém gosta de ouvir sobre sua miséria. No entanto, tal mensagem é, ao mesmo tempo, urgente e necessária para nós.
- Deus Nos Revela o Conhecimento da Nossa Miséria – Porque Necessitamos Desse Conhecimento
Uma vez que conhecemos a nossa miséria pelo espelho da Lei de Deus, precisamos agora saber qual é a nossa necessidade de termos esse conhecimento. Por que precisamos conhecer a nossa miséria? Por que Deus nos torna conhecedores do nosso pecado por sua lei? Por duas razões importantes:
2.1 – Para não confiarmos em nossa própria justiça.
Há pessoas que, mesmo conhecendo a Lei de Deus e até se esforçando para cumpri-la, não enxergam nela a sua miséria. Tais pessoas confiam em sua própria justiça, pois se consideram pessoas perfeitas e justas diante de Deus. A própria Bíblia nos mostra alguns exemplos de pessoas que não enxergavam a sua miséria e se achavam perfeitas demais. Pensem nos fariseus. Eles eram crentes zelosos e se consideravam pessoas totalmente dedicadas a Deus. Conheciam bem a Lei e faziam questão de cumprir cada virgula da mesma. Até acrescentaram muitas outras regras para observarem. Mas será que esses fariseus cumpriam a Lei de Deus perfeitamente? Eles amavam a Deus de todo o seu coração e também ao próximo como a si mesmos? Não. Eles não cumpriam a Lei de Deus perfeitamente. Por que não? Porque eram, por natureza, como todos os homens, inclinados a odiar a Deus e ao próximo. A Bíblia até registra que eles odiavam o Senhor Jesus (Mc.3.6). A visão que Jesus tinha daqueles fariseus não era nem um pouco agradável; era totalmente contrária àquilo que eles pensavam acerca deles mesmos. Em Lucas 18.9-14, o Senhor propôs uma parábola contra eles, por confiarem em si mesmos, se acharem justos e desprezarem os outros. Jesus denunciou a hipocrisia e soberba deles nas palavras da oração do fariseu da parábola: “ Ó Deus , graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. Em Mateus 23, o Senhor Jesus confronta de forma duríssima aqueles fariseus, revelando-lhes a sua miséria, o orgulho e a hipocrisia que havia no coração deles: “Ai de vós, escribas fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: A justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!”(Mateus 23.23). Eles não cumpriam a lei de perfeitamente. Não reconheceram sua própria miséria. Porém, achavam que estava tudo bem entre eles e Deus.
Há muitas pessoas pensando e agindo da mesma forma nos dias de hoje. São até religiosas, mas não reconhecem a sua própria miséria pelo espelho da Lei de Deus, e portanto, ignoram sua triste situação perante a lei e ainda se enganam, mergulhados numa religião orgulhosa, vazia e hipócrita, achando que por suas próprias obras receberão a justificação de Deus. No entanto a Bíblia diz claramente que ninguém será justificado pelas obras da Lei, visto que pela Lei nos vem o pleno conhecimento do pecado (Romanos 3.20). E o profeta Isaías disse que as nossas justiças são como trapos da imundícia (Isaias 64.6), isto é, o melhor que nós fazemos é imperfeito e machado pelo pecado. Portanto, não devemos confiar em nossa própria justiça, pois o fato de sermos miseráveis pecadores, inclinados a odiar a Deus e ao próximo, sem nenhuma condição de cumprir a lei de Deus perfeitamente, destrói toda a tentativa de autojustificação.
2.2- Para nos humilharmos e assim sermos conduzidos a Cristo
Precisamos reconhecer a nossa miséria pelo espelho da lei de Deus, não só para deixarmos de confiar em nossa própria justiça, mas também para nos humilharmos diante de Deus e assim sermos levados a Cristo. Observe a atitude do publicano da parábola. Ao cair em si mesmo e reconhecer a sua miséria, ele recorre humilhado à graça de Deus: “Ó Deus, sê propício a mim, pecador!” Deus concede graça aos que não confiam em si mesmos, mas buscam a sua graça. Nós necessitamos da graça de Deus para sermos libertos da nossa miséria. Essa graça nos é oferecida em Cristo. A lei de Deus revela nossa miséria a fim de nos ensinar acerca da nossa necessidade de Cristo. Paulo escreveu aos gálatas: “A lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo (Gl3.24). Ela mostra nossa profunda miséria para nos humilhar, nos quebrantar e, dessa forma, nos conduzir em busca pela graça e pelo perdão que há somente naquele que cumpriu a lei de Deus perfeitamente, Jesus Cristo.
O apóstolo Paulo, que antes de sua conversão era um autêntico fariseu que buscava sua justificação diante de Deus pelas obras da lei, ao reconhecer sua miséria pelo espelho da lei de Deus, se humilhou. Ele reconheceu: (ler Rm 7.14-16). Ao reconhecer sua total incapacidade de cumprir a lei de Deus perfeitamente por causa de sua natureza pecaminosa, ele bradou: “ Desventurado homem que sou ! Quem me livrará do corpo desta morte!( v.24). Esse não foi um grito de desespero. Paulo simplesmente se humilha por causa de sua miséria. Mas ele não pára aí. Ele é levado a Jesus Cristo. Ele dá graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor (v.25), pois ele agora sabe que nenhuma condenação há para aqueles que estão em Cristo Jesus ( Rm 8.1). Cristo é a luz do evangelho brilhando diante de nós no meio da escuridão de nossa miséria. Paulo descansou na justiça de Cristo, depois de reconhecer sua miséria. Somente reconhecendo a nossa miséria, podemos saber também porque Deus enviou seu Ùnico Filho a este mundo. Jesus veio para nos libertar de nossa miséria. Ele cumpriu perfeitamente a lei de Deus em nosso lugar, nos resgatando assim da nossa miséria e nos declarando justos diante de Deus. Ele amou de todo coração ao seu Pai, realizando com obediência a obra de redenção que o pai preparou para ele. Ele nos amou de uma maneira tão profunda e verdadeira, que deu sua vida por nós pecadores.
Portanto, abriguemo-nos no único refúgio e consolo que existe para nós tanto na vida quanto na morte: CRISTO JESUS, NOSSO ETERNO SENHOR E SALVADOR. Louvemos ao nosso bondoso Deus que, em sua misericórdia, nos concedeu a sua lei a fim de nos tornar conhecedores do nosso pecado e nos conduzir a Cristo, de quem necessitamos para nossa salvação.
É bem verdade que nesta vida, vamos conviver com nossa natureza pecaminosa e assim, não alcançaremos a perfeição que Deus exige de nós em sua lei. No entanto, na nova vida que temos em Cristo, somos guiados e capacitados pelo Espírito Santo a ter o sincero desejo e objetivo de almejar a perfeição, isto é, esforçar-se ao máximo para amar ao Senhor Deus de todo coração, alma, força e entendimento e também amar ao próximo como a nós mesmos.
Amém.
Elissandro Rabêlo
Bacharel em Teologia pelo CETIRB – Centro de Estudos de Teologia das Igrejas Reformadas do Brasil (Atual Instituto João Calvino) (1999-2004). Fez Convalidação de Teologia na Universidade Mackenzie em São Paulo (2017). Ministro da Palavra e dos Sacramentos da Igreja Reformada do Grande Recife (PE), servindo como Missionário da Igreja Reformada em Fortaleza (CE).
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.