Leitura: Isaías 57.14-21
Texto: Dia do Senhor 02
Amados irmãos no Senhor Jesus Cristo,
Domingo 2 do catecismo trata sobre um assunto menos agradável. O assunto deste domingo é nossa miséria. Este assunto não nos anima. Pois miséria é o que ninguém quer. Porém, não podemos fechar os nossos olhos. Não podemos, feito uma avestruz, colocar nossa cabeça na areia. Pois miséria é que não falta. Há muita miséria em todo lugar. Há famílias desmanteladas, casamentos quebrados, doentes desesperados, pessoas viciadas. Há crianças abandonadas, mendigos pedindo pão, seqüestradores fazendo ameaças. Há pessoas que não têm roupa, nem casa, nem nada. Há guerras e epidemias. Há tanta miséria no mundo que só dá para ver o topo do iceberg. Agora, tratando da nossa miséria, qual seria a pior coisa que existe? Qual seria a miséria mais profunda? Será que existe um mal que seja o pior de todos? Para saber isto, é precisamos conhecer a lei de Deus, meus irmãos. A lei de Deus é santa. O mandamento é santo, justo e bom ( Romanos 7: 12 ). Se todos cumprissem a lei de Deus perfeitamente, certamente não havia miséria alguma! Só haveria justiça, principalmente justiça social. Pois a lei de Deus nos ensina clara e perfeitamente como é que Deus requer que andemos. A lei de Deus nos ensina como deve ser a nossa vida, a nossa conduta, o nosso jeito de ser e agir. Ela ensina quais os valores fundamentais para todos. Ela nos ensina, em resumo, qual a perfeita vontade de Deus. É meditando sobre esta lei de Deus, meus irmãos, que podemos adquirir conhecimento sobre a nossa miséria mais profunda. Pois onde conhecemos a vontade de Deus, onde somos instruídos e doutrinados sobre o que o santíssimo Deus requer, ficamos conscientes das nossas falhas, dos nossos pecados, e da nossa decadência e depravação total. Tendo conhecimento da santa lei de Deus, manifestam-se todos os nossos defeitos, fraquezas e pecados. A lei de Deus nos ensina que todos nós, por natureza, somos desobedientes, rebeldes contra Deus.
Aí está a nossa maior miséria. Podemos até ser pessoas simpáticas, pessoas cultas, pessoas educadas, pessoas bem-sucedidas, ou pessoas carismáticas. Mas à luz da lei de Deus nada fica escondido. A lei de Deus acusa o nosso egoísmo. A lei de Deus acusa a nossa cobiça, a nossa ganância. Ela acusa a nossa falsidade, as nossas segundas intenções. A lei de Deus aponta o nosso orgulho. Deus exige na sua lei apenas uma só coisa. Ele exige amor. Ele exige que amemos a ele acima de todas as criaturas, e que amemos ao nosso próximo como a nós mesmos. Esse amor tem que ser sincero, ardente e constante. Mas é justamente isso que nós não somos capazes de cumprir. A nossa deficiência principal é que sempre desejamos fazer a nossa própria vontade, e não a vontade de Deus. Somos inclinados a procurar os nossos próprios interesses, e não os interesses dos outros. Queremos escolher os nossos próprios caminhos. Cada um está profundamente preocupado com seu próprio bem-estar. Podemos observar isto já nas criancinhas. Elas já têm uma vontade própria, e ficam revoltadas, e são inclusive capazes de chorar ou gritar quando os pais não deixam o que elas querem. Por pequenos os nossos filhos sejam, eles já parecem como se fossem programados para fazer a sua própria vontade. No fundo todos nós, inclusive adolescentes, jovens e adultos, temos essa atitude, a atitude de querer fazer a nossa própria vontade. Por natureza queremos ser, o que foi dito a respeito de uma cantora famosa que recentemente falece: ela foi fiel a si mesmos. Sendo a nossa natureza humana assim, a lei de Deus nos acusa. As nossas falhas ficam manifestas. O catecismo reconhece francamente esta verdade. Ela pergunta: “Você pode observar a lei de Deus perfeitamente”? Resposta: “Não, não posso, porque por natureza sou inclinado a odiar a Deus e a meu próximo”.
A nossa maior miséria não é que temos defeitos aos olhos dos nossos próximos. A nossa maior miséria não é que alguém acha que você é magro demais ou gordo demais. A nossa miséria não tem nada a ver com bens, roupas ou dinheiro. A nossa miséria principal também não é falta de saúde. A nossa maior miséria está nos defeitos e pecados que Deus vê em nós. Deus, que é santíssimo, ele, vendo os nossos tropeços, ofensas e escândalos, se ira terrivelmente. Deus, notando a nossa cobiça, a nossa falsidade, o nosso egoísmo, o nosso ódio, ele fica indignado. Vamos ver um exemplo da história do povo de Israel. Durante séculos e séculos o povo de Israel não parou de provocar a Deus. Todos eles eram levados pela sua cobiça. Eles só pensavam em fazer os seus próprios desejos. Eles jamais se perguntaram: “O que Deus quer que façamos”? Esta preocupação, a preocupação de buscar o Reino de Deus, jamais surgiu na mente deles. Eles apenas se preocupavam com os desejos de seu próprio coração. Eles só escolhiam o caminho da sua escolha ( Isaías 57: 17 ). Como resultado dessas atitudes, como resultado dessa rebeldia, Deus se indignou tanto que feriu o povo e escondeu a face! Reparem, meus irmãos! Deus feriu o seu próprio povo e escondeu a face. Ele lançou seu povo para longe. Todos eles foram deportados para um país distante. Observem só, meus irmãos! Como era grande a miséria deles! Quando Deus esconde a sua face paternal, quando ele se torna um adversário do seu próprio povo, a miséria é total. É o pior que pode acontecer. É o fim.
É somente através da lei de Deus, que obtemos este diagnóstico da nossa miséria. Sem a lei de Deus, não podemos ter nem noção da vontade de Deus. Sem a lei e a Palavra de Deus, estamos desorientados. Só pelo conhecimento da lei e dos profetas do antigo Testamento e só pelo conhecimento dos livros e epístolas dos evangelistas e dos apóstolos do novo Testamento, podemos enxergar qual a vontade de Deus para conosco. Na Bíblia ouvimos a voz de Deus, o qual se importa conosco, apesar da miséria dos nossos pecados. Para recebermos a salvação, o primeiro e mais importante passo é que tenhamos consciência da nossa miséria, da nossa desobediência e da nossa rebeldia. Temos que ter consciência de que por natureza somos inclinados a fazer o contrário daquilo que Deus requer. Precisamos reconhecer e saber isto, no fundo do coração. Pois o rebelde, tendo conhecimento de sua miséria, mas continuando rebelde, ele não pode ser salvo. O rebelde, que não faz a vontade de Deus, e que não se preocupa nem um pouco com isso, ele provoca a ira de Deus. Precisamos conhecer a nossa miséria mais profunda, a miséria do pecado, não para permanecermos nessa miséria, mas para lamentarmos de todo o coração que somos miseráveis pecadores diante de Deus. Precisamos chorar diante dos olhos de Deus, cientes de que a nossa maior miséria não é falta de dinheiro, ou qualquer outra coisa, mas falta de obediência e falta de amor para com Deus e para com o nosso próximo.
A Palavra de Deus nos ensina com muitos exemplos como é importante conhecermos a nossa miséria e chorarmos por causa dela. Na época em que Deus estava irado contra seu povo Israel, escondendo sua face deles, ele, num determinado momento sentiu pena de seu povo. Ele disse: “Não contenderei para sempre, nem me indignarei continuamente, porque, do contrário, eles não iriam suportar e perderiam a vida, que eu criei” ( Isaías57: 16 ). Então Deus acrescentou: “Sararei o meu povo; também o guiarei e lhe tornarei a dar consolação, a saber, aos que dele choram” ( Isaías 57: 18 ). Prestem atenção, meus irmãos, àquelas últimas palavras. Deus tornaria a dar consolação a seu povo rebelde, a saber, “aos que dele choram”. Ou seja, a misericórdia e o amor de Deus se manifestam, não sobre todos os rebeldes, mas sobre aqueles que choram por causa do mal que cometeram. Deus salva aqueles que conhecem e reconhecem sua miséria, e que choram por causa dela. Outro exemplo é a parábola do fariseu e do publicano. Enquanto o fariseu não parava de dar elogios a si mesmo, se exaltando e dando graças a Deus pelo fato que era muito melhor do que os demais pecadores, o publicano se humilhou diante de Deus. Ele reconheceu a sua indignidade, reconheceu que não merecia nada. Ele tinha de fato conhecimento de sua miséria. Ele disse: “Ó Deus, sê propício a mim, pecador!” ( Lucas 18: 9-14 ). A Palavra de Deus relata que este publicano foi justificado por Deus. Menciono também os dois criminosos que foram crucificados junto com o Senhor Jesus. A um certo momento, um destes criminosos reconheceu a sua miséria. Ele repreendeu o seu colega, que continuava zombando do Senhor Jesus e reconheceu a sua miséria e culpa diante do Senhor. Este criminoso, meus irmãos, que conheceu e reconheceu seu pecado, entrou no paraíso de Deus ( Lucas 23: 39-43 ).
Como então é importante conhecermos a nossa miséria, os nossos pecados e a nossa culpa diante de Deus, meus irmãos! Isso é fundamental. Aquele que não conhece seus pecados, ou que acha que não tem pecado, ou que só pensa que os outros são piores do que ele, ele está enganado e perdido ao mesmo tempo. O conhecimento dos nossos próprios pecados é uma peça fundamental na santa doutrina da salvação. Uma bela prova disso encontramos na carta do apóstolo Paulo aos romanos. Quando o apóstolo escreveu esta carta, ele a dividiu em três partes. A primeira parte trata da nossa miséria. A segunda parte trata da nossa salvação. A terceira parte trata da nossa gratidão. Esta divisão em miséria, salvação e gratidão, não foi feita à toa. Esta ordem é uma ordem lógica. Pois como podemos falar sobre a salvação de Cristo, sem termos antes plena consciência de que estamos perdidos e mortos em pecados! Somente aquele que conhece e reconhece sua miséria, sua desobediência e rebeldia, terá condições de abraçar ao Senhor Jesus Cristo, o único Salvador. Somente aquele que aprendeu a chorar pelos seus pecados, poderá arrepender-se, deixando o mal para trás, e buscando perdão e uma nova vida. Por isso é necessário reconhecermos, confessarmos e lamentarmos os nossos pecados, humilhando-nos diante de Deus. É necessário reconhecermos que a nossa miséria principal consiste em nossos pecados e ofensas contra o Altíssimo.
Por que a nossa miséria principal consiste nestas coisas? Porque a nossa miséria principal consiste em transgressão da lei de Deus? É porque aquele que transgride a Palavra de Deus, se afasta do Deus vivo. Deus não tem nada a ver com pecado. “Deus é luz, e não há nele treva nenhuma” ( 1 João 1: 5 ). Por isso, meus irmãos, o pecador não pode ter comunhão com Deus. Os pecados formam uma barreira entre ele, que é santo, e nós. Os pecados destroem o relacionamento com o nosso Pai bondoso. Meus irmãos, esta é nossa grande miséria. Quando nós pecamos, Deus esconde a face. Quando nós pecamos, enganando, humilhando ou maltratando outros, Deus fica indignado. Quando Deus vê o acúmulo de todos os nossos pecados e ofensas, ele se ira terrivelmente. Precisamos ter este conhecimento no fundo do nosso coração. Precisamos lamentar os nossos pecados, a nossa maldade, e as nossas ofensas contra Deus e contra os nossos próximos. “Bem-aventurados os que choram” ( Mateus 5: 4 ). Aqueles que reconhecem seus pecados, que ficam tristes e abatidos pelos pecados que cometeram, somente eles estão de parabéns. Pois Deus esconde a face daqueles que pecam, mas ele não esconde a face daqueles que choram pelos seus pecados. “Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habita também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos atritos” ( Isaías 57: 15 ).
O que podemos observar então, meus irmãos? Podemos observar que o santíssimo e altíssimo Deus, que não tem nada a ver com o pecado, quer habitar com aqueles que conhecem seus pecados e choram por eles. Deus, o Alto e o Sublime, o qual habita no céu dos céus, ela quer habitar no coração daqueles que estão abatidos e contritos por causa da miséria de seus pecados. Por isso é necessário conhecermos os nossos pecados e reconhecermos a nossa miséria. Precisamos reconhecer, diante dos fatos, que não somos capazes de cumprir a lei e a Palavra de Deus. Precisamos reconhecer e lamentar a nossa incapacidade de amar a Deus e a nossa incapacidade de amar ao nosso próximo. Precisamos humilhar-nos diante do Santíssimo, confessando que somos miseráveis pecadores. Desta maneira temos paz. “Para os perversos, diz o meu Deus, não há paz” ( Isaías 57: 21 ). Os perversos, que pecam à vontade e nunca lamentam pecado algum, pelo contrário, que até se orgulham do mal que fazem, não há paz. Mas para todos que conhecem sua miséria, que lamentam os seus pecados, que têm o firme propósito de deixá-los, há paz. Deus habita com o contrito e o abatido de espírito. Ele dá a sua paz, a sua salvação a todos que confessam e lamentam a grande miséria dos seus pecados. Que Deus conceda a graça do seu Espírito Santo a todos, para que todos possam reconhecer os seus pecados e humilhar-se diante de Deus, sabendo que Deus ama os humildes.
Amém.
Elso Venema
Pr. Elso Venema foi pastor missionário no litoral alagoano pelas Igrejas Reformadas da Holanda entre os anos de 1993 a 2006. Atualmente ele é ministro da Palavra nas igrejas da Holanda.
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.