Colossenses 01.15-20

Leitura: Salmo 29
Texto: Colossenses 01.15-20

Amados irmãos em Jesus Cristo,

Você já viu ou sabe como é o processo de confecção de um tapete? Quando se olha um tapete em fase de confecção, parece uma bagunça, um emaranhado de fios de todas as cores que parecem estar tudo fora de ordem, sem sentido. Mas o tapeceiro sabe o que está fazendo, e quando a obra fica pronta e você pode contemplar o resultado, então é revelada toda a beleza da obra. Enquanto está sendo feito você só ver o processo, mas o tapeceiro vê o projeto.

Quando dizemos que todas as coisas foram criadas por Deus e para glória de Deus, alguns questionam, dizendo: Como este mundo foi criado por Deus e para Deus se tudo parece está fora do lugar? Crianças passando fome e sede, outras sendo exploradas físicas e sexualmente, tráfico de seres humanos, violência por todos os lugares, corrupção desenfreada, doenças das mais variadas, terremotos, tempestade em alguns lugares, seca e escassez de alimentos em outros.

Quando dizemos que Deus está no controle de todas as coisas e que tudo caminha para a perfeição, muitos questionam: Como pode Deus está no controle de tudo, se tudo parece um caos, o mundo parece um trem desgovernado com passageiros desesperados? Deve haver outra força que esta por trás de tudo isso? Ou Deus não está no controle.

Meus irmãos, “não há nada novo debaixo do céu” (Ec 1.9), nos dias do apóstolo Paulo, muitos estavam questionando exatamente estas coisas. E este ensinamento estava ameaçando a pureza da doutrina naqueles dias. Semana passada eu falei sobre alguns pensamentos que estavam perturbando a igreja, mas só para lembrar, muitos estavam ensinando que além de Jesus elas deviam buscar ajuda e proteção de seres espirituais, por exemplo, anjos que podiam ajudar e defender o cristão. E ainda hoje com toda ciência e tecnologia muitos acreditam em forças espirituais, poderes místicos, feitiçaria, olho grande e outras coisas.

No nosso texto, o apóstolo Paulo mostra-nos que o Senhor Jesus Cristo é o único que pode levar o homem a conhecer a Deus, por sua grandeza ele pode conceder aos colossenses as coisas que Paulo havia pedido em sua linda oração (vv.9-14) para eles. O apóstolo havia pedido nada menos que o pleno conhecimento da vontade de Deus, toda a sabedoria e entendimento espirituais, frutificando em toda boa obra, e todo o poder para exercer todo tipo de perseverança e longanimidade. Assim eu vos anuncio o Evangelho no seguinte tema:

“A supremacia de Cristo”

– Na criação
– Na redenção

A supremacia de Cristo na Criação. (vv.15-17).

A imagem do Deus invisível nos remete à Gên 1.27, onde diz que o homem foi criado a imagem de Deus, e assim foi lhe dado domínio sobre toda a criação. No entanto essa imagem perfeita de Deus foi perdida com a queda, contudo Jesus Cristo, o filho de Deus é apresentado aqui como aquele que é a imagem perfeita do Deus invisível, pois ele não é apenas homem, ele é o próprio Deus. Como podemos ver no cap 2.9: “Nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade”. Em Hebreus 1.3 o filho é chamado de “o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser”. E ainda João diz que: “No princípio era o verbo, e o verbo estava com Deus e o verbo era Deus…” e ainda: “Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai; é quem o revelou” (Jo 1.1,18). É no filho que o Deus invisível se tornou visível, a fim de que o homem contemple aquele que é invisível (1Tm 1.17; 6.16).

Meus irmãos, se o Filho é a própria imagem do Deus invisível, e se esse Deus invisível é de eternidade em eternidade, então também o Filho deve ser a imagem de Deus, eternamente. Ele não é uma criatura, mas ele está exaltado acima de toda criatura. Por isso Paulo diz que ele é “o primogênito de toda a criação”. Ora se ele é Deus logo ele não foi criado, mas ele coexiste com o Pai eternamente. O sentido da palavra primogênito é: aquele a quem pertence o direito e a dignidade do primogênito em relação a toda criatura. É isso o que diz também o autor de Hebreus 1.1,2 “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, A quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo”.

E vejam meus irmãos, como isto está ligado com o verso 16, e como estes versos mostram a supremacia de Cristo na criação; como ele está acima de toda criatura. Com isso, Paulo confronta os falsos mestres que estavam perturbando a igreja de Colossos, diz o verso 16: “Porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele”.

O filho de Deus, Jesus Cristo é aquele por meio de quem todas as coisas foram criadas, mas não somente isso, todas as coisas foram feitas para ele. E esse para, tem o sentido de direção, isto é foi criado em direção, voltado para ele. Ele é o agente da criação, mas também o alvo da criação. Todas as criaturas foram criadas para lhe darem louvor, para reconhecerem sua glória. E será assim, pois aqueles que não lhe derem glória por gratidão, um dia se prostrarão em reconhecimento da sua pessoa.

Ele é o Senhor soberano de todas as criaturas, Por isso, não há nenhuma justificativa para confiar, buscar ajuda ou adorar qualquer mera criatura, mesmo se essa criatura for um anjo. Os anjos, por mais exaltados que sejam, são criaturas, e também são sujeitos a Cristo. Meus irmãos, o apóstolo não nega a existência dos anjos, nem que eles são seres sobrenaturais, que assustam e aterrorizam aqueles que o veem, as escrituras nos dão alguns exemplos: Daniel viu um anjo e caiu prostrado (Dn 7.10) João também viu um ser desses e caiu com o rosto em terra, tamanha é a sua glória (Ap 5.11) .

No entanto, entre o mais glorioso e poderoso anjo e Jesus se estende o mesmo abismo que separa a criatura do Criador. Jesus é aquele “diante do qual os serafins se prostram em oração, em torno do qual anjos prestam serviço”. “Jesus é tão superior aos anjos”, diz o autor de hebreus, “quanto herdou mais excelente nome do que eles”. “E todos os anjos de Deus o adorem”. (Heb 1.4,6).

Meus irmãos, será que quando nós oramos, nós temos a consciência que estamos diante daquele que a tudo criou. E que criou tudo para a sua glória? Isso faz muita diferença, pois quando temos a consciência de que fomos criados para a glória de Deus, tudo mais é secundário. Trabalho, casamento, família, posição social e outras coisas mais são secundários. A glória de Cristo deve ser alvo principal de nossa vida, casamento, família e tudo mais. Por isso que quando anunciamos o evangelho, não estamos chamando para conhecer uma pessoa qualquer, ou mesmo para conhecer mais uma doutrina. Mas estamos chamando para conhecer aquele a quem já pertencem por criação e por direito, estamos trazendo-lhes aquele que é a origem e o alvo de sua existência.

Por isso o texto diz que: “Ele é antes de todas as coisas, Nele tudo subsiste”. Não somente as criaturas, mas todo universo é criado por meio e em direção dele. A aplicação desta verdade, hoje, é que o Cristo governa os céus e a terra para o benefício do seu reino e para a glória do seu nome, tendo sempre a vitória final. Nada nem ninguém pode impedir o bom propósito daquele que criou todas as coisas, nem a informática, nem bomba ou ameaça comunista, nem recessão ou desiquilíbrio econômico, nem acidente fatal ou debilidade mental, nem qualquer outra criatura (mesmo extraterrestres como muitos temem) poderão nos separar do seu amor (Rm 8.35,38).

Aquele que nos diz como ir ao céu, e na realidade nos leva para lá, sabe também como tudo caminha: pois ele, em quem todas as coisas foram criadas e se “convergem” nele, por meio dele e para ele, faz tudo cumprir sua missão e chegar ao lugar por ele predestinado. Todo esse universo com seus inconcebíveis e imensos mundos estelares somente subsiste porque Jesus ainda o utiliza para seus planos e suas finalidades! Vejam meus irmãos, quanta relevância todas essas breves e impactantes declarações têm para nós, cristãos de hoje, assim como tiveram naquele tempo para a igreja em Colossos!

É verdade que o cristão vive do único tema decisivo “pecado e graça”. Encontrar Jesus como Salvador pessoal é a única coisa realmente necessária para cada um de nós. Paulo mostra ao cristão a única verdade libertadora de que Jesus, seu glorioso Salvador pessoal, é fundamento, apoio e alvo de todo esse universo indecifrável. Saber isso basta para nós. “Porque dele, e por meio dele, e para ele é o universo: A ele, pois, a glória eternamente!” (Rm 11.36); “Todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem é o universo e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual é o universo, e nós também, por ele” (1Co 8.6); “Tudo foi criado, por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, Nele tudo subsiste (se sustenta)”.

A supremacia da Glória de Cristo na redenção vv 18-20.

Nós já vimos que todas as coisas pertencem a Cristo por direito de criação, ele não é um estranho para nós, pois nós, sendo suas criaturas, lhe pertencemos. E por isso o apóstolo agora vai dizer que “Ele é o cabeça do corpo, da igreja”. Através da conversão tornamo-nos membros do corpo dele (da igreja), do qual ele é a cabeça. Irmãos, quão profundo é este mistério, Cristo é o cabeça dessa igreja, ele foi o primogênito também dessa igreja, e por meio dele essa igreja foi instituída e para ele essa igreja existe e existirá até o fim do mundo. E quanto mais o mundo e a ciência tente explicar esse fenômeno que é a igreja, tanto maior é o mistério.

Mesmo que a igreja seja visto por muitos como uma instituição humana. Mas ela é, afinal, a “igreja”, a una “comunhão dos santos” em, com e debaixo de todas as denominações, igrejas e comunhões. A igreja não é uma “associação” que se estabelece pelas vontades e qualidades de seus membros. Não é uma “cooperativa”, mas “equipe de um cabeça”. Não surgiu por decisão própria, escolhendo em seguida a Jesus como seu cabeça. Tampouco já existia por si, sendo depois escolhida por Jesus como corpo dele. Não, o texto diz que “Ele é o princípio”, ou seja, ele é a “origem”. O cabeça criou e cria o corpo para si. A igreja não é uma associação de pessoas religiosas, mas ela é formada por “santos”, por pessoas que foram tornadas aptas para a herança dos santos na luz. Ela é a criação renovada do grande Deus. Ela é a igreja dos que ressuscitam e que mesmo agora já ressuscitaram com Cristo (Cl 3.1). Por isso, ela começa com o “primogênito dentre os mortos”, e esta é a única forma de começar.

Porque em Jesus, seu cabeça e princípio, não apenas Deus se manifestou, mas “aprouve a Deus que nele habitasse toda a plenitude”(v.19). Agora, portanto, existe um lugar no mundo em que de fato Deus “habita” com toda a sua plenitude: é Jesus, que como “cabeça” está presente e atuante na terra por meio de sua igreja. A relação de Jesus frente a todas as demais religiões e visões de mundo é completamente diferente. Lá ocorre a busca e a indagação, o erro e a mentira. Mas em Jesus está a resposta, “a plenitude toda”, tudo aquilo que o homem precisa para a sua salvação. Por isso que fora da igreja de Cristo não há salvação, pois fora do corpo o membro está morto.

O homem moderno acha que pode viver sem Deus e muitos até afirmam que Deus não existe, e o pior, muitos, inclusive crentes, vivem como se Deus não existisse. Como falamos no início, muitos estão se perguntando: Onde está Deus diante das catástrofes, violência e corrupção que matam milhões em todo o mundo, inclusive um grande número de crianças inocentes?

No entanto a si mesmo o homem moderno não questiona. Será que estou vivendo de maneira que agrade a Deus? Será que estou fazendo a vontade dele? Será que estou cumprindo o propósito para o qual Deus me colocou nesse mundo? As pessoas vivem sem demonstrar o menor desejo de conhecer a Deus, de andar na presença de Deus, sem nenhum anseio por reconciliação, por paz com Deus, bem diferente da época da Grande Reforma, onde a pergunta era, como posso ter paz com Deus. Isso era bem diferente também no mundo antigo, as pessoas sentiam dolorosamente o abismo que as separava da divindade, do mundo de vida e luz. Por isso muitas religiões e seitas daquele tempo prometiam “redenção”, “reconciliação”. E a pergunta que se fazia era: Será que a adoração de Cristo podia mesmo fazer isso? Seria Jesus um Redentor – mais um ao lado de outros? Talvez um redentor para algumas áreas da vida e da realidade?

Não, diz o apóstolo Paulo, mas aprouve a Deus “reconciliar por meio dele [Jesus] todas as coisas (em direção a ele) para ele”. O propósito da redenção era a glória de Cristo, pois isso era do agrado do Pai, da mesma forma Jesus tinha um só propósito, glorificar ao Pai. E o apóstolo afirma como foi feita essa reconciliação: “havendo feito a paz pelo sangue de sua cruz”, e então ele diz: “por meio dele, quer sobre a terra, quer sobre os céus”.

Então como conseguirei ter paz com Deus? Quem me reconcilia com Deus? Essas são as perguntas mais importantes a se fazer. Tudo mais é nada diante dessa questão. Felicidade ou desgraça, alegria ou sofrimento, honra ou vergonha, vida ou morte, tudo isso não pesa mais diante dessa pergunta. Pois enquanto eu não for reconciliado com Deus, sou inimigo de Deus, Deus está irado comigo. Minha vontade opõe-se constantemente à santa vontade de Deus. Por natureza sou mentiroso e Deus proíbe a mentira. Sou impuro enquanto Deus exige pureza. Sou egoísta enquanto ele visa o amor desinteressado. Então como isso terá um fim? Como eu posso me livrar do fardo de culpa por todos os pecados praticados em minha vida, se Deus é tão santo que não suporta o pecado nem o pecador, e cada dia mais a minha conta com ele só aumenta?

É nesse momento que entra a mensagem que ninguém consegue “compreender”, e que também não pode ser descrita de forma lógica. Jesus! Ele estabeleceu a paz! “Ele pagou o resgate”, “Ele prestou o sacrifício purificador”. No Calvário Cristo mostrou a sua supremacia na redenção, ali ele estabeleceu a paz “pelo sangue de sua cruz”. Ele e somente ele, traz seu povo a glória, mesmo que pareça que nada está acontecendo, que a igreja pareça está muitas vezes caminhando a passos lentos, ou mesmo que a igreja está se esmaecendo. Cristo está edificando para si uma igreja santa e pura. Ele não morreu em vão. A cruz não foi um mero espetáculo. Ele está reunindo para si, pessoas de todas as nações, povos e línguas.

Amém.

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José Pereira Neto

Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Congregacional do Nordeste – STCN (2006). Serve à Igreja Reformada de Unaí-MG como Ministro da Palavra e dos Sacramentos. Casado com Mercia Pereira, pai  de Vanessa e Kallebe.

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.