Apocalipse 01.05-06

Leitura: Apocalipse 01.01-08
Texto: Apocalipse 01.05-06

Amados irmãos em Cristo e caros visitantes

Algumas pessoas, inclusive alguns crentes, têm medo de ler e estudar o livro de Apocalipse. Qual a razão dessa atitude? Para alguns o livro de Apocalipse é um livro selado que fala de coisas encobertas que não podemos entender. Outros afirmam que o livro de Apocalipse se limita a falar de tragédias, de julgamento e do fim do mundo.

Mas será que esse tipo de pensamento e atitude são corretos? Claro que não. O livro de Apocalipse é a palavra de Deus para a sua igreja. É bom para nós ler, meditar e guardar as palavras desse livro (Ap.1.3). Pois este livro:

1) É a revelação de Deus no qual ele revela seus planos e propósitos para a sua igreja (Apocalipse – tirar o véu, descobrir o que estava oculto). Esse livro nos revela para onde caminha a história e nos mostra qual o destino final da igreja – a glória eterna. O último capítulo da história não será o triunfo do mal, mas a vitória de Cristo e sua Igreja.

2) Este livro não fala de tragédias, mas da Pessoa Gloriosa e do plano Vitorioso de Cristo e da sua Igreja. Apocalipse é a revelação de Jesus Cristo (Ap.1.1).

3) É um livro prático, pois foi dado para ajudar o povo de Deus no presente. Ele contém muitas exortações à fé, paciência, obediência, oração e vigilância. Além disso, é um livro que vem do céu para consolar os crentes na terra. Pois foi dado à igreja num contexto de perseguição no primeiro século sob os imperadores de Roma. João está exilado na ilha de Patmos por causa da perseguição. Mas ali Cristo revela sua palavra e ordena que ele a envie às sete igrejas da Ásia Menor (Ap.1.9-11). Cristo quer dá consolo à sua igreja sofrida. Sete igrejas – sete (totalidade) – não se refere apenas aqueles irmãos da Ásia Menor, mas a todas as igrejas locais de Cristo em qualquer época ou lugar.

Cristo quer encorajar sua igreja com a certeza da sua vitória sobre o mal mesmo em meio à perseguição. Ele se apresenta como o Supremo Conquistador que veio vencendo e para vencer. A igreja peregrina e sofrida precisa confiar nisso e olhar para o seu Salvador Glorioso. Ele está presente com a sua graça e paz para abençoar seu povo.

João encoraja a igreja com a saudação do Senhor (vs.4-6). A graça e a paz são enviadas as igrejas pelo Deus Triúno – Pai – “aquele que é”, Espírito (v.4) e o Filho (5,6). É consolador para a igreja ouvir e ter a certeza de que a graça e a paz do Senhor estão sobre ela. Nós temos a graça de Deus, ou seja, Deus nos dá sem mérito algum da nossa parte o perdão de pecados e vida eterna. Temos também a paz de Deus, ou seja, em resultado da graça, temos reconciliação com Deus por meio de Cristo. Observe que nesta saudação, João poderia ter apenas escrito “da parte de Jesus Cristo”, mas o Espírito Santo o inspirou para acrescentar algo mais sobre a Pessoa e obra de Cristo (v.5,6). A razão para isso é consolar a igreja com a Glória do Seu Salvador. Uma visão correta da Glória de Cristo nos anima e nos encoraja na fé no meio do nosso sofrimento.

Como o livro de Apocalipse apresenta Jesus? Como o Pai revela o seu Filho à igreja neste livro (v.1)? “Como o servo lavando os pés dos discípulos? Como uma ovelha muda que vai para o matadouro? Como aquele de quem os homens escondem o rosto? Como aquele que está pregado na cruz com o rosto cheio de sangue? Como aquele que tem as mãos atadas e os pés pregados na cruz? Absolutamente não!”

A revelação do Pai é de um Filho Glorioso: “Seus cabelos não estão cheios de sangue, mas são alvos como a neve. Seus olhos não estão inchados, mas são como chama de fogo. Seus pés não estão pregados na cruz, mas são semelhantes ao bronze polido. Sua voz não está rouca, porque a língua está colada ao céu da boca devido a grande sede, mas é voz como voz de muitas águas. Suas mãos não estão cheias de pregos e ainda encravadas na cruz, mas Ele segura a igreja e a história em suas mãos poderosas. Seu rosto não está desfigurado, mas brilha como o sol”. Este é o Cristo Glorioso revelado em Apocalipse.

Cada página do livro de Apocalipse nos apresenta um aspecto da glória de Cristo. Mas vamos nos limitar ao nosso texto. Aqui nesta saudação, João menciona pelo menos três títulos que nos dizem algo sobre sua Pessoa e obra do Nosso Glorioso Salvador:

1) Jesus é a Fiel Testemunha: Durante seu ministério terreno Jesus deu testemunho do Pai. Ele proclamou a verdade de Deus com sua vida e obra. Ele não era um impostor, alguém que se dizia o que não era. Ele era de fato o Ungido de Deus. O que ele dizia era verdade. O que ele fez estava de acordo com o plano redentor do Pai. Ele cumpriu as Escrituras. Ele é o amém, o cumprimento da promessa de Deus em favor da nossa salvação. O próprio Jesus se apresenta como testemunha fiel (Ap.3.14). Por causa da incredulidade dos judeus diante do seu testemunho fiel, Jesus foi perseguido e morto. Ele morreu sem ter cometido crime algum. Por causa da sua obediência ao Pai e por dar testemunho da verdade ele foi levado à cruz. Mas a cruz não o reteve; ele ressurgiu, e está na glória de onde continua a dar testemunho da verdade.

O livro de Apocalipse é o seu testemunho da verdade de Deus sobre a história do mundo e o destino da sua igreja. Ele nos chama a testemunhar o seu evangelho às nações (At.1.8). Quem o ama e se mantém fiel á sua verdade e a proclama fielmente em doutrina e vida também pode sofrer perseguição e até a morte (Ap.12.11). Contudo, a morte não é o fim para aqueles que testemunham fielmente de Cristo com suas vidas, pois aquele que é a Fiel testemunha é também o Primogênito dos mortos.

2) Jesus é o Primogênito dos mortos: Esse título não significa que Jesus é o primeiro que morreu por causa do testemunho do Pai. Pois muitos servos do Senhor morreram por causa da verdade do evangelho (profetas do AT, João Batista). Mas esse título tem a ver com a morte e a ressurreição de Cristo. Jesus é o primeiro que morreu e ressuscitou em glória. Ele está vivo para sempre. Ele próprio testifica isso dizendo: “Eu sou…aquele que vive, estive morto, mas eis que estou vivo pelo séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno” (Ap.1.18). Jesus é primogênito, quer dizer que após ele estamos nós. Ele matou a morte com sua morte e ressurreição. Destruiu nosso inimigo. Crentes que estão sofrendo e até morrendo por causa da fé precisam ouvir que o seu Salvador destruiu o poder da morte. Que consolo ouvir isso! A morte não é o fim para o crente, mas a passagem para a glória com Cristo. Quem nos separará do amor de Cristo? Ninguém, nem mesmo a morte, pois Cristo a venceu e nele somos mais que vencedores (Rm. 8.35-39).

3) Jesus é o Soberano dos Reis da terra: Esse título expressa ainda mais a glória de Cristo. Aponta para sua presente exaltação em glória. Ele morreu, ressuscitou e subiu ao céu para reinar sobre tudo e sobre todos. Ele é Rei Soberano. Está acima dos homens mais poderosos da terra e um dia todos estes vão se curvar perante ele. Jesus está acima de Roma, dos imperadores. Ele está acima dos impérios, das nações soberbas, dos reis e presidentes da terra que ostentam riqueza e poder. Ele é o Rei dos Reis que veio estabelecer o seu reino que não terá fim. Devido à sua perfeita obediência, O Pai o Exaltou e lhe deu o nome que está acima de todo nome para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho nos céus e na terra (Fp. 2.9-11).

O Servo Sofredor é agora o Glorioso Rei e Senhor do Universo. Ele controla a história. Ele governa de forma especial a sua igreja. Podemos ser perseguidos e tentados por Satanás e seus agentes, mas Cristo é o Nosso Rei Soberano. Ele nos tem em sua mão direita (Ap.1.16; 2.1), quer dizer, ele age e governa em nosso favor. Isso mostra o seu cuidado com a sua igreja. Ninguém pode arrebatar você da mão de Cristo (Jo. 10.28). Ouvir isso é consolador para uma igreja perseguida, pois Cristo é o Soberano dos reis da terra que cuida dela e a conduz ao triunfo final.

Diante da glória de Cristo, João fica admirado e se derrama em adoração (veja Ap.1. 5). O Cristo Glorioso é digno de glória e louvor por sua igreja pelo que ele é pelo que ele tem feito em seu favor. Por que a igreja deve louvar o Cristo Glorioso?

Em primeiro lugar, porque ele nos ama: Note o verbo no presente: ele nos ama (continua nos amando). O amor de Cristo permanece. Ele nos amou, ainda nos ama e nos amará até o fim. Ele nos amou como Fiel Testemunha cumprindo fielmente a obra do Pai para nossa salvação. Ele nos amou como Primogênito dos mortos morrendo e ressuscitando para nos redimir da morte e nos garantir vida eterna. Ele nos ama como Rei Soberano, pois da glória no céu ele cuida de nós na terra. Por exemplo, pela pregação e na santa ceia Ele está presente para fortalecer a nossa fé.

Em segundo lugar, porque ele nos libertou dos nossos pecados: Mediante seu sangue derramado na cruz, Jesus pagou o preço da nossa redenção. Ele nos libertou completamente dos nossos pecados. Agora somos declarados justos diante de Deus. O sangue de Jesus nos limpa de todo pecado. Que graça maravilhosa! Nós pecadores sujos e dignos da condenação por causa dos nossos pecados, fomos libertos dessa miséria pelo sangue de Cristo. Comemoramos isso na santa ceia. Na mesa do Senhor, Ele nos garante que derramou o seu sangue e entregou o seu corpo na cruz para a remissão completa dos nossos pecados. Você crê nisso? Confessa os seus pecados ao Senhor? Alegra-se com a certeza do perdão? Alegre-se no Senhor, pois ele te libertou dos teus pecados por seu sangue. Nenhuma condenação há para quem está nele.

Em terceiro lugar, porque ele nos constituiu reino e sacerdotes: A igreja não foi amada e libertada por Cristo do seu pecado apenas para ir ao céu. Nossa salvação é mais do que ser liberto do inferno e ir para o céu. Deus nos salvou em Cristo para sermos um povo exclusivo dele, para vivermos para ele como reis e sacerdotes (Tt. 2.14). Cristo morreu para fazer de nós reis e sacerdotes com ele. Isso significa que desfrutamos de suas bênçãos e que devemos mostrar nossa gratidão a ele por seu grande amor para conosco. Como reis, somos chamados a combater diariamente o pecado e o diabo com livre consciência. Cristo te ajuda nessa luta com a palavra e seu Espírito. Mas você tem lutado? Foge dos pecados e das tentações? Apega-se à palavra de Deus e a guarda no coração para não pecar contra o Senhor (Sl. 119.11)? Vigia em oração e procura se fortalecer na comunhão dos santos? Lembre-se que o vencedor vai reinar com Cristo para sempre. E aquele que perseverar até o fim, esse será salvo.

Como sacerdotes, temos o privilégio do livre acesso à presença de Deus por meio de Cristo. E temos também o dever alegre de oferecer nossa vida a Deus como sacrifício de gratidão e viver em santidade para o Senhor (Rm. 12.1,2). Os sacerdotes no AT ofereciam sacrifícios ao Senhor pelos pecados dele e do povo. Hoje não precisamos oferecer sacrifícios de animais. Cristo já realizou o único e perfeito sacrifício. O que ele deseja agora é a nossa vida, o nosso coração. Ele nos chama a dedicar a ele nosso tempo, nossos planos, nossos relacionamentos, nossos bens, tudo em nossa vida. Você é um fiel sacerdote de Cristo? Vive para aquele que viveu e morreu por você? Que te ama hoje em glória? Atente para a Glória do Seu Salvador e para o seu grande amor por você! Receba o consolo de Cristo nas suas aflições e seja grato a ele todos os dias da sua vida, vivendo como um fiel sacerdote e rei para a glória de Deus.

Amém.

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Elissandro Rabêlo

Bacharel em Teologia pelo CETIRB – Centro de Estudos de Teologia das Igrejas Reformadas do Brasil (Atual Instituto João Calvino) (1999-2004). Fez Convalidação de Teologia na Universidade Mackenzie em São Paulo (2017). Ministro da Palavra e dos Sacramentos da Igreja Reformada do Grande Recife (PE), servindo como Missionário da Igreja Reformada em Fortaleza (CE).

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.