Eclesiastes 1:1-18

Leitura: Eclesiastes 1:1-18, Tiago 4:13-17, Romanos 8:18-25
Texto: Eclesiastes 1:1-18

Irmãos em nosso Senhor Jesus Cristo,

O livro de Eclesiastes é um enigma para os cristãos. Por um lado, reconhecemos que faz parte da Bíblia; foi inspirado por Deus e é útil para ensino, para repreensão, para correição na justiça. Alguns versículos são bem conhecidos. Em certos momentos reconhecemos a profundidade do seu ensino. Mas o livro também é muito difícil. Às vezes parece ser meio fatalista. Parece ser meio desesperado. A lição central de que a vida é “vaidade” é muito difícil para entender—e talvez nos questionamos, será que isto é coerente com o ensino do Novo Testamento, com a fé cristã? O que nos leva à próxima pergunta: onde você encontra Cristo neste livro? O que que tem a ver com Cristo e com o evangelho. Todos os outros livros da Bíblia nos apontam para os planos de Deus de redenção. Neste livro, se esta esperança de redenção está aqui, é meio muda. 

Mas à medida que passamos tempo aqui em Eclesiastes, percebemos como é um livro relevante para nossos dias. Relevante para todas as gerações. Sim, o livro nos desperta, nos choca. Mas nos choca porque ele expos os nossos ídolos e as coisas que buscamos e pelas quais vivemos em vez de Deus. Ele nos desafia com perguntas profundas que até o Cristão muitas vezes não está bem preparado para responder. Ele expôs as vaidades que nós também muitas vezes corremos atrás.

O autor principal deste livro é presumivelmente o rei Salomão, filho de Davi. No versículo 1, ele é chamado de “o Pregador, o Filho de Davi, rei de Jerusalém”. O Rei Salomão é o único que se enquadra bem nessa descrição, embora poderia ser também um dos outros reis da linha de Davi. Mais tarde, também, ele fala sobre ser o homem mais sábio que já governou em Jerusalém, e fala sobre enormes projetos de construção, e imensa riqueza, e um enorme harém de concubinas – também enquadra bem com a vida do Rei Salomão. Mas o livro também mostra algumas influências da lingua Aramaica—a lingua da babilónia, que é bem posterior ao tempo de Salomão. Então poderia ser algum outro rei da linha de Davi.

Agora, se fosse mesmo Salomão que fez a redação original, isto teria sido escrito no final de sua vida. Sabemos que Salomão começou como um rei piedoso. No início de seu reinado, ele pediu sabedoria para governar o povo de Deus, e assim lhe foi dada mais sabedoria do que todos os que existiram antes dele. Durante esses anos ele escreveu o livro de Provérbios, que mostra as implicações práticas do temor de Deus em todas as áreas da vida; depois ele também escreveu  Cântico dos Cânticos, uma canção de amor para sua noiva, que explora o significado do amor. Mas sabemos que mais tarde na sua vida, Salomão se afastou de Deus. Ele acumulou mais de 600 esposas e 300 concubinas; e suas esposas—muitas delas mulheres ímpias—afastaram seu coração de Deus, levando-o a adorar deuses estrangeiros e a construir templos para eles.

Se Eclesiastes é de Salomão, teria que ser escrito no final de sua vida, como uma expressão de arrependimento por sua vida ímpia. Talvez Salomão percebeu o vazio de tudo o que perseguia e voltou-se para Deus.

Então o pregador diz (vs. 2): “Vaidade de vaidades, diz o Pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade. Que proveito tem o homem de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol?”

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Nesta primeira linha, tem duas frases-chave que precisamos entender bem.

Uma é esta frase, “debaixo do sol”. O que isso se refere é, neste mundo. Ele está considerando a vida da perspectiva de debaixo do sol. Não da perspectiva da eternidade, mas do que nossos olhos veem. Seu foco é realmente neste mundo, debaixo do sol. O que é a vida, debaixo do sol?

E a segunda frase que queremos entender é esta palavra vaidade. Você notará que é a palavra-chave ao longo do livro para descrever a vida. Em hebraico, é a palavra hebel, e significa literalmente algo como névoa ou vapor. É difícil traduzir isso. A palavra “vaidade” chega um pouco perto: vaidade significa “vazio” e “futilidade”. Mas talvez seria melhor manter a tradução literal: névoa ou vapor. A vida é uma névoa. A vida é como a névoa da manhã, que permanece por um breve período e depois desaparece. É a linguagem que os Salmos costumam usar: Salmo.  144:4: “O homem é como um sopro; os seus dias, como a sombra que passa.” É a ideia que o apóstolo Tiago diz que lemos em Tiago James 4:14: “Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa.”

Esta é a realidade. É uma realidade que talvez as gerações passadas entenderam melhor de que a geração presente. A gente fica tão mergulhado em nossos planos e atividades, e com as coisas acontecendo no mundo em nosso momento da história, que esquecemos quão breve e passageira é a nossa vida na terra. Às vezes precisamos andar em um cemitério e ler as datas para relembrar: esta vida presente é muito breve. Salmo 103:15–16: “Quanto ao homem, os seus dias são como a relva; como a flor do campo, assim ele floresce; pois, soprando nela o vento, desaparece; e não conhecerá, daí em diante, o seu lugar.”

Talvez aqui em país tropical, como não tem estações bem distintas, não percebemos isso tão claramente na natureza. No Canadá, você vê claramente a estação de primavera. As flores brotam e o mundo volta a ficar verde; mas então chega o verão, e o sol quente acaba com as flores. Então chega o outono, e as folhas que nasceram na primavera já caem no chão. Acabou seu tempo.
Onde estão as flores que existiam no ano passado? E no ano anterior? Alguém se lembra deles? Onde estão as flores que existiam quando você era criança na casa de sua infância? Há muito falecido, há muito esquecido.

Nossas vidas são um névoa, e as coisas que buscamos, diz Salomão, são uma névoa. A palavra implica não apenas transitoriedade—algo que desaparece rapidamente—mas também elusividade ou incapturabilidade—a vida não pode ser segurada; se tentar se apegar a esta vida e às coisas deste mundo é impossível, como agarrar o vento. A palavra “névoa” também capta o sentido de nebulosidade e a obscuridade que marca as nossas vidas – não podemos ver o futuro, e até o presente é difícil para compreender. Não sabemos o que Deus está fazendo com nossas vidas. É névoa. A vida é um enigma. Não pode ser sondada ou compreendida.

E a palavra “névoa” também capta o sentido de vazio que caracteriza muitas coisas que os seres humanos buscam embaixo do sol, e nas quais eles colocam sua esperança. Mesmo que dediquemos as nossas vidas a alcançar uma coisa, um objetivo, podemos descobrir que, no final, ele é vazio; é um punhado de névoa.

“Névoa de névoa, diz o pregador. Névoa de névoas. Tudo é névoa. O que o homem ganha de todo o seu trabalho debaixo do sol?” Nada. Névoa. 

Mais uma coisa sobre esta palavra. Se você procurar esta palavra no resto do Antigo Testamento, você descobrirá que ela também é muitas vezes associada com idolatria. Às vezes é até traduzido como “ídolos”.

Deut. 32:21: “A zelos me provocaram com aquilo que não é Deus; com seus ídolos (isso é palavra névoa) me provocaram à ira; portanto, eu os provocarei a zelos com aquele que não é povo; com louca nação os despertarei à ira.”

2 Reis 17:15: “Seguiram os ídolos (mesma palavra), e se tornaram vãos, e seguiram as nações que estavam em derredor deles, das quais o Senhor lhes havia ordenado que não as imitassem.”

Sal. 31:6: “Aborreces os que adoram ídolos vãos (mesma palavra); eu, porém, confio no Senhor.”

Is. 57:13: “Quando clamares, a tua coleção de ídolos que te livre! Levá-los-á o vento; um assopro os arrebatará a todos, mas o que confia em mim herdará a terra e possuirá o meu santo monte.”

Então, vemos nas Escrituras uma forte conexão entre esta palavra hevel (vaidade, névoa) e a prática da idolatria. Então devemos ler este livro com isso em mente. Mesmo que o livro não mencione “ídolos” como tais, muito do que este livro confronta em nossas vidas é idolatria. E o livro nos adverte que estes ídolos que corremos atrás são vazios, são nada mais de que vento. E como diz o profeta Oséias, quem semeia vento, no final colherá tempestade.

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Agora, quero nos alertar contra algumas tentações. Uma tentação que você enfrenta ao ler este livro da Bíblia é de fugir do que o autor está dizendo, usando esta saída: “isto é a vida sem Deus.” Isso é verdade até um certo ponto, mas tem muitas coisas aqui que aplicam também para nossas vidas, mesmo como crentes. O pregador não está falando somente sobre a vida “sem Deus,” mas sobre toda esta vida debaixo do sol. Nós temos que aprender esta lição também. A vida neste lado da eternidade é marcada por morte, e é uma névoa. E uma das grandes mensagens do livro de Eclesiastes é que Deus dá o dom, a quem O teme, de saber encontrar a alegria mesmo na neblina e névoa desta vida. Eccl. 2:24: “Nada há melhor para o homem do que comer, beber e fazer que a sua alma goze o bem do seu trabalho. No entanto, vi também que isto vem da mão de Deus.” A sabedoria bíblica reconhece, como diz Tiago, que esta vida é uma névoa; temos que aprender como aceitar isso, e ainda servir a Deus com alegria e confiança. Isto é difícil. 

Então é muito simplista dizer que “só a vida sem Deus é uma névoa”. Não, a sua vida e a minha também. E só Deus concede satisfação e contentamento na neblina desta vida. É o dom de Deus ver a névoa e ainda agradecer a Ele pelo tempo que você tem para florescer, como uma flor no campo, e depois morrer. É o dom de Deus você ter o contentamento e confiança para aproveitar o que Deus lhe deu para fazer, mesmo não sabendo o que virá deste trabalho. É o dom de Deus você se regozijar na esposa ou no marido que Deus lhe deu; e ao mesmo tempo, como Moisés diz no Salmo 90, “contando os teus dias com um coração sábio”.

Outra tentação é pensar que o pregador só está falando hipoteticamente. Só está nos desafiando, mas ele não crê realmente que a vida e tudo é vaidade ou névoa. Mas é claro que isso não é o caso. De fato, o livro no final nos direciona a Deus na neblina desta vida. Então há significado e sentido nesta vida. Mas este significado está escondido com Deus. Só Deus sabe o que resultará da nossa vida. Nós não temos a capacidade de discernir isso.

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Com estes fundamentos lançados, vamos agora ouvir as primeiras palavras deste livro.

O pregador destaca vários aspectos trágicos desta vida, que marcam a nossa existência debaixo do sol.

Em primeiro lugar, como vimos, a vida é marcada por transitoriedade. A vida é fugaz. Versículo 4:

“Geração vai e geração vem; mas a terra permanece para sempre.”

Pensei nisso recentemente enquanto explorava nossa árvore genealógica. Um tempo atrás, a minha irmã fez um trabalho para traçar a nossa genealogia (e descobri que temos alguns Lordes em nossa família de 1300 na Inglaterra). E ao olhar para todos estes nomes de pessoas, pensei nas suas histórias e, claro, são pessoas que nunca conheci e que nunca me conheceram. Por um breve período da história, a terra foi deles. Eles fizeram seu trabalho. Eles tomaram decisões. Se apaixonaram e casaram. Criaram seus filhos. E então eles morreram e a terra se esqueceu deles. Mesmo seus descendentes nunca os conheceram, e eles são completamente estranhos para mim – assim como eu serei, daqui a algumas gerações, para meus tataranetos. Uma geração vai, e uma geração vem, mas a terra permanece para sempre. Chegará o dia em que você terá que deixar por trás esta terra, e uma outra pessoa tomará o seu lugar. Sua casa não será mais sua casa. Tudo o que você já possuiu não será mais seu. E daqui a algumas gerações, nem mesmo seus próprios descendentes se lembrarão de você.

A vida sob o sol é marcada por uma transitoriedade trágica. Nós florescemos por um momento e desaparecemos.

Em segundo lugar, a vida sob o sol é marcada por repetitividade. Versículos 5-6:

“Levanta-se o sol, e põe-se o sol, e volta ao seu lugar, onde nasce de novo. O vento vai para o sul e faz o seu giro para o norte; volve-se, e revolve-se, na sua carreira, e retorna aos seus circuitos.”

Há uma terrível monotonia e repetitividade que marca nossas vidas. Não importa o quanto tentemos acabar com isso, no final, a maior parte de nossas vidas será caracterizada por rotina. A mesma coisa, repetidamente.

Em terceiro lugar, as nossas vidas sob o sol são marcadas por uma insaciabilidade. Versículos 7 e 8:

“Todos os rios correm para o mar, e o mar não se enche; ao lugar para onde correm os rios, para lá tornam eles a correr. Todas as coisas são canseiras tais, que ninguém as pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem se enchem os ouvidos de ouvir.”

A vida é um grande apetite que nunca é satisfeito.

Os riachos continuam correndo para o mar, e o mar nunca diz: “OK, já chega”. Eles evaporam e fazem tudo de novo.

E o pregador diz que é cansativo para pensar. Versículo 8, “Todas as coisas são canseiras tais, que ninguém as pode exprimir.” Por que o mundo passa por todos este esforço para existir? Pare que serve?

O olho não se satisfaz em ver, nem o ouvido se enche de ouvir.” O ser humano sempre quer ver algo novo, ouvir algo novo. Nunca ficamos satisfeitos. Filosofias e ideias estão sempre mudando, sempre indo de uma coisa para outra, ou às vezes voltando a ideias antigas. (Se lembra dos Atenienses em Atos 17:21: “Pois todos os de Atenas e os estrangeiros residentes de outra coisa não cuidavam senão dizer ou ouvir as últimas novidades.”

A música está sempre mudando. Queremos sempre ouvir a música mais recente, ouvir o artista mais novo, a próxima grande novidade.

Esse é o nosso mundo consumista. Queremos o celular mais novo (mesmo o atual funciona bem). A indústria de propaganda sabe muito bem apelar a este desejo. 

Então em toda esta terra debaixo do sol, não tem nada a ser permanentemente ganho. Não tem vantagem. Não tem nada que você pode segurar, e até as coisas que temos, ficamos insatisfeitos com elas. 

A vida debaixo do sol é também marcada por uma profunda futilidade. Futilidade. Tudo serve pra quê? Onde está indo? Até onde podemos ver debaixo do sol, não está indo para lugar nenhum. Pelo menos, no tempo dele, no Antigo Testamento, ele observe que o mundo, por todo o seu corre-corre, não está avançando em direção alguma. Versículos 9-11:

Eccl. 1:9–11: “O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol. Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Não! Já foi nos séculos que foram antes de nós. Já não há lembrança das coisas que precederam; e das coisas posteriores também não haverá memória entre os que hão de vir depois delas.”

A vida debaixo do sol é marcada por uma profunda futilidade. Estamos dirigindo pelo beco sem saída, sem chegar a lugar nenhum. Claro, as coisas mudam na superfície. Um império cai e outro se levanta; e esse acabará por cair, depois de algumas centenas de anos. A tecnologia se desenvolve, para que possamos fazer as mesmas coisas de novas maneiras. Isso não muda a condição humana. Continuamos a pecar e usamos a tecnologia para isso. Também não afasta a realidade da morte. Pode prolongar a nossa vida por alguns anos, mas depois ainda teremos de morrer.

Quando o pregador diz que não há nada de novo debaixo do sol, ele não está dizendo que há absolutamente nunca nada de novo. Claro, aparecem coisas novas. É que não há nada que mude a nossa condição fundamental, e muito do que vemos é a mesma coisa, reciclada. As mesmas ideologias políticas, recicladas sob novos termos com uma nova marca. Nada de novo debaixo do sol.

Há nenhuma recompensa para o homem debaixo o sol. Não há nada que você esteja buscando que possa segurar.

Os jovens gostam de ter uma causa. Diz o ditado que “tudo que você precisa para sobreviver é comida, roupas, abrigo e uma causa”. Gostamos de ter uma causa. Muita música popular apela para isso. Vamos transformar o mundo. Vamos fazer uma diferencia. Mesmo que a geração passada pensou a mesma coisa, nós pensamos que desta vez, nossa geração vai transformar o mundo para o melhor. “Não deu certo para a geração passada, por que les tinham ideias ruins, mas agora nós temos ideias boas, ideias novas.” E assim, cada geração pensa que agora vamos realmente sair desta condição humana decaída, mas nunca o fazemos. Dá pra deixar o mundo pior ainda—como as ideias marxistas sempre acabam fazendo—mas não dá para consertar a condição humana caída.

Agora, podemos responder a essa dose sólida de realidade de diferentes maneiras.

Alguns vão tentar ignorar isso. É insuportável pensar sobre isso. É meio deprimido. Aí, vamos continuar pensando que nós vamos alcançar as coisas que vão dar sentido e significado para esta vida. 

Outros eventualmente caem em desespero. Realmente, a vida não tem significado. Então eles terminam em niilismo. Se a vida é sem sentido, então vou viver para meus prazeres. “Coma e beba hoje, pois amanhã morreremos.” Ou como os jovens dizem hoje, “só se vive uma vez”. O próprio autor aqui de Eclesiastes que em desespero em alguns momentos.

Esta não é a conclusão final do livro. Existe sim esperança. Mas temos que primeiramente admitir a dificuldade—a impossibilidade—de encontrar significado aqui em baixo do sol. Deus é que segura o significado e importância da nossa vida. Se procurar isso aqui na terra, não o encontrará. 

O pregador aqui está nos ensinando uma lição que você vê em outras partes da Escritura. Esta vida está debaixo de uma maldição. Como Paulo diz em Romanos 8, Deus sujeitou esta terra a futilidade. Desde que o homem caiu em pecado e escolher servir a si mesmo e adorar a Criação em vez do criador, tudo que ele encontra é futilidade. Esta é uma verdade dura, mas é uma verdade com a qual temos que contar. E então temos como se fosse um buraco em nossos corações, que tentamos encher com as coisas desta vida, mas nunca se-enche. Porque fomos criados para Deus.

Esta é a vida sob a maldição. Como um pregador diz, é um fardo triste que Deus deu aos filhos dos homens. O que é torto não pode ser endireitado, o que está faltando não pode ser contado. Nenhuma quantidade de pesquisa e aprendizado dará sentido a esta vida. Não podemos escapar da futilidade. 

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O mensagem do pregador é muito desconfortável, especialmente se estamos ainda ocupados, apressados, estressados, correndo atrás de coisas desta vida que imaginamos que vão nos satisfazer. Ele confronta nossa idolatria, os ídolos que nos cansam, e nunca nos satisfazem. 

Um dos maiores ídolos de hoje é o “medo de ficar fora”. É um espécie de invejo. O medo de que os outros vão desfrutar algo que você não vai desfrutar. Temos que ter tudo que o próximo tem, senão vamos ficar fora. Este medo faz que pessoas gastam dinheiro que não tem, para não ficar sem as cosias que os outros tem. Faz que pessoas se adulteram, traindo seu cônjuge, porque não querem passar esta vida sem ter uma certa pessoa ou uma certa experiência. Quando uma outra pessoa consegue algo– uma casa maior, uma renda melhor, férias bonitas dignas de Instagram, sexo melhor, mais ou melhores filhos, sentimos este medo de ficar fora. Só os outros tem, e eu não. Então dobramos os nossos esforços para conseguir nosso pedaço do bolo. Ou, senão, desistimos e caímos em desespero. 

Mas a mensagem do pregador aqui é: todos nós vão ficar fora. Ninguém alcança a satisfação com as coisas desta vida. A morte, a corrupção, a futilidade alcança todos nós. A condição humana é, em última análise, uma situação de perda. Não tem nenhum ganho debaixo do sol. Você não vai encontrar o que você está procurando nesta terra. Nada que satisfaça sua alma. O que está torto não pode ser endireitado, o que falta não pode ser contado. 

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Agora, você provavelmente está se perguntando: onde está o Evangelho em tudo isso?

A mensagem de Eclesiastes não é que se apenas temos Deus em nossa vida, então tudo vai ficar certo. Não é isso. Aqui debaixo do sol, você vai encontrar esta futilidade, mesmo sendo crente. Não tem como fazer o mundo fazer sentido. Pelo menos, não neste lado da eternidade. O que Deus quebrou, Ele quebrou de uma forma que o homem não pode consertar. Então ao longo deste livro, o pregador repete isso. Ele não deixa a gente fugir disso.

Não devemos passar rapidamente pelas partes difíceis deste livro para desfrutar das partes agradáveis. O mundo está quebrado pelo pecado, e não podemos curar a ferida levemente. Deus quebrou este mundo. Deus “sujeitou-o à futilidade”, e ele fez isso para ensinar o homem a se refugiar nEle. O livro de Eclesiastes acabará por chegar à conclusão de que não há nada melhor do que lembrar-nos do nosso Criador, temê-Lo, obedecê-lo, viver perante ele, e regozijar-nos no nosso trabalho na névoa desta vida. Descansar no conhecimento de que mesmo que o que falta não possa ser contado, Deus o contou. Deus, e somente Deus mantém o controle desta vida. A vida não é sem sentido, mas o sentido está escondido com Deus. 

É claro, o pregador também está escrevendo de sua perspectiva ainda no Antigo Testamento. Agora depois da vinda de Cristo, temos mais esperança. Sem dúvida. Paulo diz em Romanos 8 que Deus sujeitou a criação a futilidade, mas também que a criação anseia pela revelação dos filhos de Deus. Cristo promete em Apocalipse, “eis que faço novas todas as coisas”. Já experimentamos as primícias desta renovação.

E o pregador também coloca sua esperança em Deus. Em capítulo 8—um dos capítulos mais duros e desesperadores—o pregador admite que nenhuma filosofia ou religião pode provar que existe vida depois da morte. Mas mesmo assim, ele diz: “mas eu sei que será bem para aqueles que temem a Deus”. Mesmo que não há justiça nesta terra; mesmos que os justos sofram e morram, e os ímpios prolonguem sua vida, ele diz “ainda assim eu sei que irá bem para aqueles que temem a Deus”. No fundo do coração, todo ser humano sabe disso. Deus vai castigar os ímpios, e salvar os que o temem. Mesmo que muitas vezes não vemos a evidência disto nesta vida. No final da sua vida, você vai ter que entregar o seu espírito a Deus, e nenhum homem nesta condição quer ter vivido uma vida de impiedade e rebeldia.

E é exatamente nisto que este livro nos prepara para o evangelho. Se a misericórdia de Deus é a única esperança para o homem, como é que o homem alcança esta misericórdia. Cristo morreu para salvar pecadores. Para salvar aqueles que, no leito de morte, sabem que não têm nada mais de dois punhados de vento; e que cometeram muitos pecados para obter aquele vento. 

A mensagem de Eclesiastes é de nos ensinar a descansar em Deus e a temer a Deus na névoa de nossas vidas. E o Evangelho é o que nos permite fazer isso. O Evangelho nos lembra que Cristo me justificou diante de Deus. É por causa de Cristo que minha alma pode estar em paz no meio do vento e da névoa desta vida. É por causa de Cristo que posso saber que, apesar da transitoriedade e da futilidade desta vida, Deus me amou e eu posso descansar na Sua providência, sob Seu favor. É por causa de Cristo que posso comer meu pão, beber meu vinho e me regozijar na esposa da minha juventude, mesmo sabendo que a minha vida é um vapor que passará; e posso fazer isso com o temor de Deus em meu coração. Então posso deixar todo o quebrantamento desta vidanas mãos de Deus, que somente pode consertar o que está quebrado; e Ele o fará, em Seu tempo. A criação foi sujeita à futilidade, mas não para sempre. No final de tudo, os filhos de Deus serão revelados, embora só Deus saiba como.

Então, irmãos, se vocês, pensando sobre isto, reconhece vaidade e idolatria na sua vida; coisas que você busca imaginando que terá satisfação nelas; coisas especialmente que você se dispõe a quebrar os mandamentos de Deus para obtê-las… então reconheça o perigo do seu caminho. Não troque a única esperança do homem—a salvação de Deus—por vento. Aprenda, especialmente quando ainda é novo, a entregar seu caminho inteiramente a Deus, a temê-Lo, a servi-Lo. 

E quando você fica triste por causa de tudo que está quebrado neste mundo, não busque um falso conforto, uma falsa esperança para te distrair. Entregue sua dor e tristeza ao Senhor, e espere nEle. Nesta vida há muita futilidade, mas Deus “nos ensina a ver os caminhos da vida; na sua presença há plenitude de alegria, na sua destra, delícias perpetuamente.” Este é o nosso único conforto.

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Jonathan Chase

Jonathan Chase

O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020. 

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.