Tiago 3.13-18

Leitura: Tiago 3.1-18
Texto: Tiago 3.13-18

Amados irmãos, 

Uma vez que fizemos menção a primeira parte deste texto de Tiago na pregação do domingo anterior, que tratou do nono mandamento, hoje vamos nos dirigir para a sequência do capítulo, versículos 13 até 18, que trata da diferença entre a sabedoria que vem do alto e a sabedoria terrena. 

A contexto deste assunto pode ser buscado no próprio capítulo 3.  Olhando novamente para o versículo 1, percebemos um interesse de alguns de expressar conhecimento (de ser sábio) e uma exortação de Tiago. Ele disse:

v.1: “Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo”.

Podemos perceber ao longo da leitura, como a língua pretensamente usada para o bem da parte de algum, na verdade, sem um uso sábio, se tornou provavelmente um grande mal.

As ilustrações foram claras para mostrar o poder destrutivo do uso da língua. Sempre se tem por sábio ouvir mais e falar menos (este ponto já foi tratado no capítulo 1.19…)

Eu sempre fico chocado quando vejo quão rápido algumas pessoas abrem um canal no youtube ou um perfil no facebook e instagram e começam a expor teologia. 

Eu particularmente fico sempre muito preocupado com o que eu vou falar aqui, pois é sempre um risco de se falar algo errado ou ser mal interpretado.

Como a pressa é geralmente um indicativo de insensatez, pessoas estão revelando sua insensatez, além de muita arrogantemente, simplesmente o fazendo baseado em ambição pessoal e status.  Isto vai aparecer também em nosso texto.

Meus irmãos, como analisar a sabedoria corretamente? Como sermos estes sábios? Lembre-se que toda nossa obra de santificação é uma conformação à imagem de Cristo. Cristo, conforme 1 Coríntios 1.30, se tornou da parte de Deus “sabedoria”. Ele é a sabedoria encarnada. Então, devemos também ser sábios.

Analisemos: v.13: “Quem entre vós é sábio e inteligente?”. 

Essa pergunta é confrontativa. Ela é um teste? Quem entre vós é sábio e experimentado/entendido(tradução possível)? 

Serão aqueles que dizem ser? Serão aqueles que falam bonito? Serão aqueles que explicam bem a doutrina? 

Perceba que a confrontação inicial é igual àquela confrontação sobre a fé. Tiago 2.19:Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem”. 

Mas, qual é de fato a evidência tanto da fé verdadeira quanto da sabedoria e experiência verdadeiras? As obras! Sempre! Esse é o tema geral de Tiago: afirmação e confirmação pelas obras.

v.13 (restante)“…Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras.

Mansidão de sabedoria. Tiago não quer negligenciar a necessidade de se criar um depósito de conhecimento sobre Cristo e a sua palavra. Mas a fé laboriosa usa o conteúdo do evangelho em prol da justiça de Cristo.

Essa “mansidão de sabedoria” no contexto dos pecados da língua em Tiago 3 é o que está por trás do ser “pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar”. Quando há essa mansidão então o fogo da língua não se alastra para a floresta inteira. Ele é apagado. Eis a sabedoria sendo revelada pela prática. 

Essa sabedoria vem daqueles que conhecem a Palavra, mas estão também cheios dos Espírito de Cristo. Um fruto do Espírito é essa mansidão (Gl 5). o Senhor Jesus, a sabedoria encarnada, expressou essa mansidão de caráter quando tinha que lidar com aqueles que o confrontavam e o acusavam injustamente.

Todo cristão verdadeiro demonstra com suas obras a sabedoria de Cristo.

1 Pedro 3.1-2: Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa, 2 ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor….v.16: fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo.

Agora, contrário a esta sabedoria temos: v.14 “Se, pelo contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade”.

Algumas pessoas são arrogantes se dizendo sábias. Mas, Tiago diz: “não vos glories disso”. “Não sejam mentirosos contra a verdade da Palavra”.

Veja que essa pretensa sabedoria é revelada pelas obras: um coração invejoso e cheio de amargura, sentimento faccioso. 

Só inquietações do coração. Todos contrários à mansidão. A inveja amargurada nunca permitirá a mansidão. Mas, este pecado é um dos gatilhos para a consumação do assassitato. É por ela que alguém chama um irmão de tolo (Mt 5.22) e se torna digno do inferno se não houver arrependimento. Por isso, Paulo fala em Efésios 4.31: “Longe de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia.”

É a partir dela que surgem as divisões (as facções). Era o que ocorria na igreja dos coríntios. E Paulo perguntou: 1 Coríntios 3: 3 Porquanto, havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem? 4 Quando, pois, alguém diz: Eu sou de Paulo, e outro: Eu, de Apolo, não é evidente que andais segundo os homens?

E o que Tiago tem em conclusão: v.15: “Esta não é a sabedoria que desce lá do alto; antes, é terrena, animal e demoníaca”. 

De onde vem a sabedoria dos que laboram (agem) com mansidão? Vem do alto. Olhe o que Tiago já disse em Tiago 1.5,17 (ler). Então, ela tem que ser pedida com fé! E o Deus que nada nos nega nos dá. 

De onde vem o outro tipo de sabedoria age baseado em inveja, amargura e sentimento de divisão? Ela é da terra! Ela é natura/humana, do próprio espírito humano(tradução “animal”). Ela é demoníaca. 

Essa última palavra é interessante, pois o que não vem do céu, vem do homem. Não há meio termo. Conforme Paulo em Efésios 4.18: “…na vaidade dos seus próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração… ”.

Mas, assim como alta é a sabedoria de Deus, também a que não vem dele, vem de baixo, do inferno. Era lá que nós estávamos outrora. Quando Cristo nos salvou, estávamos no Império das Trevas segundo a sua constituição.

Perceba, pelo versículo 16, que todas as características arroladas procedem do próprio diabo. v.16: “Pois, onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins”.

Mas, em contraste, versículo 17, a do alto (da parte de Deus em Cristo) é: “17 “…é, primeiramente, pura; depois, pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento.” 

Pura. Pois procede do trono daquele que é puro: Deus, o Pai das luzes.

Pacífica. Ela sempre promove a paz. Os sábios preservam e promovem a paz. (Mt 5 – pacificadores). Não como pacifistas, sem Cristo. Mas pelo evangelho de Cristo a verdadeira conciliação entre Deus e os homens.

Indulgente. No original. Gentil.  Não sendo rude e arrogante. Às vezes cede em questões que não são essenciais, para buscar a resolução. 

Tratável. No original. Facilmente persuadida pela verdade. Se deixa tratar se estiver errado. Tal pessoa não segura a sua opinião por orgulho. Mas se molda pela verdade das Escrituras.

Plena de misericórdia e de bons frutos. Disposta a tudo o que é bondoso e bom. Não só perdoa quem ofende, mas alivia até mesmo o ofensor em sua ofensa. 

Imparcial. Não faz acepção de pessoas para tratar uns bem em detrimento do outro. 

Sem fingimento. Faz o que faz sinceramente. E não para aparentar um mero aspecto de religiosidade e piedade. É sem hipocrisia.

Essa sabedoria continuará a semear a paz, e também a colherá. 

v.18:  Ora, é em paz que se semeia o fruto da justiça, para os que promovem a paz.

Meus irmãos, que benção é muitos sábios no meio da igreja. Muitos sábios é igual a muita paz. 

Em Filipos, na questão entre Evódia e Síntique ele apelou para a um fiel companheiro de jugo para resolver a questão (Fl 4.3)

Em Corinto, Paulo reclama porque uma questão entre irmãos foi levada aos tribunais. Era para um sábio buscar resolvê-la. 

1 Coríntios 6.5: “Para vergonha vo-lo digo. Não há, porventura, nem ao menos um sábio entre vós, que possa julgar no meio da irmandade?”

A sabedoria do alto é uma marca que deve ser acompanhada por cada crente.

Você é um sábio conforme Cristo ou conforme você mesmo?

Se quer crescer em sabedoria, peça-a a Deus (Tg 1.5).

Se quer ser sábio e feliz, seja atento ouvinte da palavra e operoso praticante  (Tg 1.25): “aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar”. 

Você terá paz com Deus e com o seu próximo. Amém.

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Marcel Tavares

É pastor na Igreja Reformada em Cabo Frio. Licenciado em matemática e foi professor por muitos anos. Bacharel em Divindade pelo Instituto João Calvino.

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.