2 Reis 6.16-17

Leitura: Salmo 91, 2 Reis 6.8-23, Efésios 6.10-20
Texto: 2 Reis 6.16-17


Irmãos em nosso Senhor Jesus Cristo,

Mais uma vez, o livro de Reis no apresenta com um mundo—uma cosmovisão—que é totalmente diferente da cosmovisão moderna. Enquanto o mundo moderno rejeita totalmente a esfera espiritual—seja anjos, demônios, milagres, ou a existência de Deus mesmo—temos que reconhecer que os autores da Bíblia, e o Espírito Santo que os inspirou, reconhecem plenamente e sem vergonha a realidade do mundo espiritual. Já vimos no texto anterior como o profeta Eliseu fez recuperou a cabeça do machado de forma milagrosa. Já vimos diversos outros milagres aqui no livro de Reis. E de fato, desde a primeira página da Bíblia, e até a última página, vemos, além do mundo físico que habitamos e as leis da natureza que observamos, que existe um mundo espiritual que faz parte da nossa história, e vemos o próprio Deus que de modo nenhum recuou Sua mão da sua criação, mas que desde o início e até agora se envolve no mundo para a salvação do Seu povo e para realizar Seus planos. 

Então, por quão desconfortável que seja pra nós em nosso mundo moderno, este é o mundo que Deus nos revela; e nós devemos levar isso a sério. Não devemos—como alguns estudiosos fazem—tentar explicar estas milagres em termos naturais. Não podemos—como outros fizeram—simplesmente rejeitar estas partes da Bíblia. Não podemos fugir destes textos para focar nos textos que consideramos mais sofisticados. Devemos humildemente reconhecer que talvez é a nossa cosmovisão moderna que esteja precisando de correição, e não a da Bíblia. 

Então vamos considerar os eventos que são registrados aqui.

O versículo 8 começa, “uma vez quando o rei da Síria estava guerreando contra Israel…” 

Não temos uma data exata aqui. É um pouco surpreendente que Síria esteja atacando Israel, porque se vocês lembram em capítulo 5, Naamã, o general do exército da Síria, se converteu a Deus; e até o capítulo 5 termina dizendo que a Síria não mais atacou Israel.

Então, é possível que este capítulo está contando um evento que aconteceu antes de capítulo 5. Mas então, porque os autores não colocaram este texto antes? Em toda outra parte de Reis, os eventos são registrados em ordem cronológica. Eu acho mais provável que estes eventos aconteceram depois que Naamã não era mais general do exército. Pode ser que Naamã morreu em batalha ou por alguma outra doença. Também pode ser que ele foi tirado de ser general por se converter ao Deus de Israel, ou que sofreu alguma politicagem. 

O que podemos dizer é que estes eventos aconteceram em algum momento durante a vida de Eliseu e durante o reinado de Jorão, filho de Acabe, o que nos dá uma janela de 12 anos. Conflito com a Síria foi uma realidade constante durante esta época.

Então mais uma vez, houve guerra entre a Síria e Israel. 

Mas não é somente uma guerra entre poderes humanos. Logo nós vemos a intervenção de Deus a favor do seu povo. Embora Jorão não era um rei piedoso—muito o contrário—nós vemos Deus defendendo e preservando sua herança de Israel contra os ataques das nações, e frustrando os planos das nações de exterminar a sua herança. Assim, toda vez que o Rei da Síria fez planos para emboscar o exército de Israel, Deus informou o profeta Eliseu, e ele informou ao Rei. 

No início, o rei da Síria ficou suspeito de que havia um espião no meio dos seus servos—a conclusão natural. Mas todos os servos do Rei insistiam na sua inocência. Imagino que estes homens eram homens de alta confiança pelo Rei, porque quando finalmente um dos servos fala que ele suspeita o profeta Eliseu, o rei não rejeita esta explicação, mas aceita como razoável, e se organiza para prender o profeta. 

Ao mesmo tempo, devemos perguntar: o que o Rei da Síria estava pensando? Se de fato Eliseu estava ciente de todos os seus movimentos, e até das palavras que ele fala sozinho no seu quarto, como disse o servo…então como é que ele vai pegar o profeta por surpresa? Talvez isso também reflete a cosmovisão dos Sírios, que, embora eles aceitaram a realidade do mundo espiritual, eles também acreditaram que todos os deuses tinham um poder limitado, e que com a ajuda dos deuses da Síria, daria para conquistar o Deus de Israel e o seu profeta.

Eliseu estava em Dotã, cerca de 10 quilômetros ao norte de Samaria, a capital. Então, o versículo 14 diz, ele enviou para lá cavalos e carros e um grande exército, e eles vieram de noite e cercaram a cidade.

Quando o servo de Eliseu acordou naquela manhã e saiu, descobriu que a cidade estava cercada por esse exército de cavalos e carros e reagiu da maneira que quase qualquer um reagiria: disse a Eliseu: “Ai, meu senhor! O que faremos?”

Agora, antes de criticar o servo de Eliseu por sua falta de fé, devemos nos perguntar: será que nós iríamos reagir diferente?

Acho que não. O servo de Eliseu, como nós, a maioria das vezes, teve sua visão fixa somente na esfera humana, e no mundo físico. Embora obviamente ele sabia do poder de Deus (afinal, era o servo do grande profeta Eliseu), o instinto dele, como de todos nós, é de olhar e confiar no poder humano. E visto da perspectiva humana, a situação era desesperadora. 

Mas tudo na resposta de Eliseu o mostra calmo e controlado. No versículo 16, ele disse: “Não temas, porque mais são os que estão conosco do que os que estão com eles.”

Pensa nesta resposta, irmãos. De onde vem uma confiança desta? E será que nós temos a mesma confiança e tranquilidade que vemos aqui em Eliseu?

Claro, não é o caso que Deus sempre livra seu povo de ataques humanas. Não podemos dizer como alguns imaginam que, se apenas tivéssemos a fé suficiente, Deus vai nos livrar de qualquer ameaça ou sofrimento terrena. Não é verdade. Se for o caso, então temos que condenar os muitos santos do Antigo Testamento que morreram na batalha, ou os apóstolos que morreram pelo testemunho de Jesus, ou dos muitos cristãos que morreram debaixo do império romano nos primeiros séculos, e ainda no longo da história. Não, Deus não promete isso. 

Na verdade, nem Eliseu aqui declara a sua certeza que Deus iria os livrar dos Sírios. Ele apenas sabe que “os que estão conosco são mais de que os que estão com eles.” Ou seja, o Rei da Síria não vai nos pegar a menos que Deus permite

Eliseu sabia o que seu servo—e muitas vezes nós—esqueceu, ou não chegou a acreditar ainda: Estamos de fato numa guerra espiritual, e os nossos inimigos são ainda maiores e mais fortes do que os inimigos humanos; mas não é por nada que Deus é chamado o Senhor dos Exércitos. Poderosos exércitos de anjosservem ao comando de Deus. Alguns deles podem estar aqui na igreja conosco neste exato minuto. 

Quem teme ao homem nem sabe ainda o seu verdadeiro inimigo. Somos pequeníssimos diante dos poderes espirituais demoníacos que reinam sobre o mundo em trevas. Mas quem teme a Deus é consolado pelo fato de que os anjos que servem a Deus são mais numerosos do que Satanás e todo o seu domínio, e que o Senhor deles não permitirá que nenhum cabelo caísse da sua cabeça se não for pela permissão do Senhor dos Exércitos.

Devemos nos perguntar: será que nós, a igreja cristã, vivemos com esta mesma confiança? Quando vemos os homens maus assumindo o poder, o exercendo seu controle sobre este mundo, será que acreditamos mesmo que “os que estão conosco são mais dos que estão com eles”? Será que nós temos a mesma calma diante dos nossos inimigos e em momentos preocupantes quando parece que o mal está ganhando forças e prestes a engolir a igreja e extinguir o reino de Deus?

Não estou dizendo que devemos ficar parados, tranquilizados pelo fato de que Deus está no controle, e portanto esperando Deus agir. Nós também temos nossas responsabilidades e vocações. Mas se não cumprirmos a nossa vocação pela fé de que o Senhor dos Exércitos está ao nosso lado e defenderá a Sua Igreja, então certamente desanimaremos. É a fé em Deus, em base de Suas promessas, que capacita os santos a enfrentar o mal, olhar para o cara do mal, e não vacilar. 

E certamente Eliseu não é o único que demonstra esta fé. Poderíamos dizer que ele tem vantagem por ser profeta, mas vemos a mesma coisa em Davi quando ele diz, “Preparas-me uma mesa na presença dos meus adversários, unges-me a cabeça com óleo; o meu cálice transborda.” ou novamente em salmo: “Em me vindo o temor, hei de confiar em ti. Em Deus, cuja palavra eu exalto, neste Deus ponho a minha confiança e nada temerei. Que me pode fazer um mortal?” Vemos a mesma fé no salmista quando diz em Salmo 118:6: “O Senhor está comigo; não temerei. Que me poderá fazer o homem?”

Sem esta certeza, certamente iremos vacilar diante de todo o mal que ainda haveremos de enfrentar. 

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A Realidade do mundo espiritual

Agora, talvez o que nos estranha como Reformados é o fato que Eliseu confia, não somente no senhor, mas no número dos anjos que estão no comando do senhor. Afinal, se já podemos ficar consolados pelo fato de que Deus é soberano e que nada acontecerá que não for da sua vontade, pra que falar de anjos? Deus sozinho, já é mais poderosos de que Satanás e todos os seus demónios.

É claro que Deus não precisa de anjos, nada mais de que Deus precisa de pessoas para realizar os Seus planos. Deus é soberano. Deus faz tudo que lhe agrada. Não depende de nenhuma de Suas criaturas.

Mas mesmo assim, Deus se revela como o Senhor dos Exércitos, e nos lembra por toda longa da Bíblia que ele emprega anjos poderosos e temíveis ao seu serviço, e Ele revela isso para nosso consolo. Para nosso consolo. 

Que soldado crente, se for prisioneiro de guerra na terra dos seus inimigos, não vai se animar e regozijar quando ouve a notícia de que o seu exército está chegando, e em grande número? 

Nós não também regozijamos quando vemos forças políticas ou outras se levantando para defender o bem? É porque não confiamos em Deus? Não, é porque Deus usa meios, e o coração da pessoa que espera em Deus se anima quando ele vê a salvação de Deus, ou a força protetora de Deus.

Deus se chama o Senhor dos Exércitos, para sua glória e também para nosso consolo. Quando vemos o mal avançando e ganhando força contra a igreja e contra o Reino de Deus, devemos lembrar que por trás destes avanços são tronos, principados, autoridades celestiais, forças malignas determinadas a extinguir o Reino de Deus—e devemos também lembrar que os que estão conosco são mais do que os que estão com eles. 

Se nós tivéssemos os olhos para ver os anjos temíveis que servem a igreja Cristã—que talvez estão em nosso meio aqui—não iríamos desanimar tão facilmente como fazemos. 

A Escritura é abundantemente clara em seu testemunho sobre a presença de anjos neste mundo.

Nas palavras de Hebreus 1, eles são “espíritos ministrando, enviados por Deus para serviço a favor dos que hão de herdar a salvação?” Eles são por natureza criaturas espirituais, embora eles podem tomar forma física, e muitas vezes fazem isso. Existem anjos diferentes—cherubim e seraphim por exemplo—e hierarquias de anjos, com arcanjos e outros que tem autoridade sobre outros anjos. Já vimos a presença de anjos no livro de Reis, de fato desde o livro de Geneses nós os entornamos. 

Mas esta não é apenas uma realidade do Antigo Testamento.

  • Um anjo apareceu a Zacarias, o sacerdote, em Lucas 1.
  • Um anjo apareceu à virgem Maria em Lucas 2.
  • Anjos apareceram durante o ministério de Jesus para ministrar a Ele.
  • Quando Jesus estava no jardim de Getsamene, e Pedro desembainhou sua espada para defendê-lo do guarda armado que veio prender Jesus, Jesus lhe disse: “Ponha sua espada de volta em seu lugar. Pois todos os que lançam mão da espada pela espada perecerão. Você acha que não posso apelar para meu Pai, e ele imediatamente me enviará mais do que doze legiões de anjos?”
  • Anjos apareceram no túmulo de Jesus.
  • Um anjo libertou os apóstolos da prisão em Atos 5.
  • Um anjo apareceu ao gentio Cornélio para dizer-lhe que mandasse chamar o apóstolo Pedro.
  • Um anjo libertou Pedro da prisão pela segunda vez em Atos 12.
  • Paulo encontrou um anjo durante sua viagem a Roma, quando o navio havia se perdido e a tripulação começava a se desesperar.
  • O autor de Hebreus nos lembra de sermos hospitaleiros com os estranhos, porque, dessa forma, alguns têm hospedado sem saber anjos em suas casas.

E não há nenhuma indicação nas Escrituras que sugere que anjos não operam mais neste mundo. E a história da igreja testifica ao contrário, até hoje. 

Você fala com muçulmanos que se tornaram cristãos, e muitos deles falam de sonhos e visões, ou encontros com anjos, que Deus usou no processo de trazê-los à fé.

E muitos, muitos cristãos desde então, ao longo da história, e ainda hoje, falaram de encontros com anjos. 

Claro, também devemos ser cautelosos ao falar de anjos. 2 Coríntios 11:14 nos diz que “Satanás se disfarça de anjo de luz” e ele diz em Gálatas: “ainda que um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema.” Então, só porque alguém teve um encontro com um anjo, não significa que as palavras desse anjo devam ser acreditadas. Além disso, existe muito fraude e mentira envolvendo supostos encontros com anjos que pessoas usam para chamar atenção a se mesmos. A igreja é chamada para discernimento. 1 John 4:1: “Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora.”

Mas não devemos por isso desprezar a realidade do mundo espiritual, mesmo que tenha muitos aspectos que nós não temos conhecimento. Deus nos ensina que os anjos fazem parte desta guerra espiritual de qual nós também fazemos parte, e Deus nos encoraja com a lembrança que Ele é o Senhor dos Exércitos, e e que temos mais que estão conosco do que contra nós. 

É isso que Eliseu viu pelos olhos da fé, e por isso ele também orou por seu servo para que Deus também abrisse os olhos dele.

Esse conhecimento de que somos amados e protegidos pelo Senhor dos Exércitos, que é servido por inúmeros exércitos de anjos, é totalmente transformador de vida. É por isso que Eliseu foi capaz de responder como fez ao seu servo: “Não temas.” É uma resposta de fé que nasce do conhecimento do mundo como ele realmente é. É a resposta de Davi no Psa. 27:3: “Ainda que um exército se acampe contra mim, não se atemorizará o meu coração; e, se estourar contra mim a guerra, ainda assim terei confiança.” Isso precisa ser a nosso confiança também. É o que Davi também nos ensina em Salmo 34:7: “O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem e os livra.” Isso em si pode ser uma referência ao Cristo encarnado, mas certamente implica a presença de um acampamento inteiro de anjos junto com Ele. Essa é a realidade para nós como cristãos. Se temos ou não anjos guardiões (os reformadores acreditaram que sim, em base de alguns textos bíblicos), certamente podemos dizer que a igreja é cercada por anjos. Esse conhecimento deve transformar totalmente nossa resposta a ameaças ou perigos, como aconteceu com Eliseu.

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Ao ler isso, uma coisa que se destaca para mim é que Eliseu é um homem de oração. Você vê isso várias vezes neste capítulo, e você realmente vê isso ao longo de seu ministério. E há uma conexão entre Eliseu ser um homem de oração e ele ter olhos para ver as realidades espirituais; Porque é, pelo menos em parte, através da oração que Deus abra nossos olhos para esta realidade.

Vemos a postura de oração de Eliseu ao longo do restante deste capítulo. Ele orou para que Deus atacasse aquele exército sírio com cegueira, e Deus o fez. Provavelmente era uma espécie de confusão atordoada ou semiconsciência, em vez de escuridão total, porque evidentemente eles podiam ver bem o suficiente para segui-lo em seus cavalos e carruagens.

E quando chegaram a Samaria, vemos que Eliseu orou novamente, para que Deus abrisse seus olhos novamente.

Quando o fizeram, e reconheceram que estavam com sérios problemas, o rei de Israel perguntou a Eliseu se deveria matá-los à espada. Se você se lembra de muitos capítulos atrás, em 1 Reis 20, esta história nos lembra de quando Deus entregou o exército sírio nas mãos de Acabe, pai de Jeorão. Nessa história, Acabe decidiu mostrar misericórdia quando não deveria, e Deus o julgou por isso.

Talvez é por causa disso que desta vez, Jeorão primeiramente pergunta a Eliseu se deveria ou não matar o exército cativo. E talvez surpreendentemente, desta vez as ordens são o contrário: Eliseu responde dizendo: “Não os ferirás; fere aqueles que fizeres prisioneiros com a tua espada e o teu arco. Porém a estes, manda pôr-lhes diante pão e água, para que comam, e bebam, e tornem a seu senhor.” Então o Rei ofereceu ao exército Sírio um grande banquete, e eles comeram e beberam; depois ele os despediu, e eles foram de volta para a Síria. E o texto diz, “da parte da Síria não houve mais investidas na terra de Israel.”

É surpreendente que desta vez, diferente de 1 Reis 20, Deus manda poupar a vida dos Sírios. Mas nos dois capítulos, o ponto é claro: a vitória pertence a Deus, então os despojos também pertence a Deus, e não ao rei de Israel. Deus tem o direto de mostrar a sua ira a alguns, e sua misericórdia a outros.

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Então irmãos, o que significa tudo isso para nós hoje, como igreja cristã?

Em primeiro lugar, devemos reconhecer que nós também estamos em uma guerra espiritual. Cristo veio para derrubar os poderes do mal, e o Espírito Santo – derramado em Pentecostes – veio para começar a conquista da terra por Cristo, por meio de Sua igreja. Estamos em guerra contra os poderes das trevas que não querem perder o seu território. E podemos esperar que quanto mais que o Reino de Cristo avança, mais severamente Satanás e seus demônios vão resistir, sabendo que, pra eles, o final desta história é a morte e condenação eterna. Então estamos em guerra contra poderes temíveis que são mais poderosos de que nós. Paulo é claro sobre isso em Ef 6:12:

“Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes.”

Ser cristão é estar no campo de batalha de uma guerra espiritual. Esta guerra se manifesta em nossas escolas, nossos locais de trabalho, em nossa política, e em todo canto no mundo; e não somente no lado de fora, mas também dentro: dentro da igreja, dentro de nossas casa, e ainda dentro de nossos corações.

Mas ao ficar engajados nesta guerra, também queremos reconhecer que as palavras de Eliseu — “mais são os que estão conosco do que os que estão contra nós” — são verdadeiras em nosso contexto também; mais ainda, agora que Cristo está conquistando a terra e já subjugou tronos e poderes celestiais por sua morte e ressurreição.

Quando Cristo morreu, ele quebrou o poder do pecado. Quando Ele ressuscitou dos mortos, ele quebrou o poder da morte. E quando ascendeu, Ele declarou sua vitória sobre todo poder espiritual e veio diante do trono de Deus para receber o domínio sobre o céu e a terra — “toda a autoridade me foi dada no céu e na terra”, declarou Ele.

E a Escritura é clara que todo o poder espiritual está agora sujeito a Ele. Colossenses 2:15: “Despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz.”

Às vezes vivemos constantemente preocupados por nossa segurança. Devemos lembrar das palavras de Salmo 91, que são nossas em Cristo: “O que habita no esconderijo do Altíssimo e descansa à sombra do Onipotente. Diz ao Senhor: Meu refúgio e meu baluarte, Deus meu, em quem confio. Pois ele te livrará do laço do passarinheiro e da peste perniciosa. Cobrir-te-á com as suas penas, e, sob suas asas, estarás seguro; a sua verdade é pavês e escudo. Não te assustarás do terror noturno, nem da seta que voa de dia, nem da peste que se propaga nas trevas, nem da mortandade que assola ao meio-dia.” A promessa não é que não vamos sofrer os efeitos do mal em nossa vida. Vamos sim. Mas Deus nos protegerá. Ele guardará a nossa vida. E quando chegar o dia que Ele tem marcado para nós partirmos, Ele nos levará em segurança até Ele mesmo. 

Alguns de nós vivem aterrorizados por Satanás e pelos poderes das trevas. Certamente eles são reais, e seu poder é real. Mas o consolo que Eliseu tinha é o nosso consolo também. Podemos dizer com o Apóstolo Paulo em Romanos 8:

Rom. 8:35–39: “Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro.

Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.”

Porque Cristo nos comprou com Seu sangue, podemos dizer que aqueles que estão conosco são mais do que aqueles que estão contra nós. O Senhor dos Exércitos está ao nosso lado por causa de Cristo.

Se for a vontade de Deus que nós morramos pelo testemunho de Cristo, então mesmo assim, podemos confessar que temos mais conosco de que contra nós. Como tem sido para muitos cristãos que tiveram suas vidas extinguidas, na hora da morte, quando eles deram seu último suspiro em prisões escuros ou câmaras de tortura, e então abriram os olhos para ver os anjos chegando para tirá-los das mãos de seus captores, para levá-los para a glória, onde nenhum inimigo – nem o próprio Satanás – pode alcançá-los. Se esta for a vontade de Deus por nós, então que sejamos corajosos, e que Deus use o nosso testemunho.

É por isso que o salmista anônimo pode fazer afirmações tão ousadas como no Salmo 91:9–13:

“Pois disseste: O Senhor é o meu refúgio. Fizeste do Altíssimo a tua morada. Nenhum mal te sucederá, praga nenhuma chegará à tua tenda. Porque aos seus anjos dará ordens a teu respeito, para que te guardem em todos os teus caminhos. Eles te sustentarão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra. Pisarás o leão e a áspide, calcarás aos pés o leãozinho e a serpente.”

Não é porque esse salmista era ingênuo sobre a realidade de que muitas vezes os justos morrem e os injustos triunfam nesta terra. Mas ele escreveu assim porque tinha os olhos postos na eternidade. “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará”.

Portanto, aproximemo-nos de Deus, como fez Eliseu, para que também nossos olhos sejam redirecionados para a eternidade. Sejamos um povo de oração e um povo cheio da Palavra de Deus, para que possamos ver o mundo como realmente é, e para que possamos enfrentar os inimigos de Deus com coragem e fé. Vamos cumprir as nossas vocações—cada um de nós segundo a autoridade que Deus nos deu—e vamos viver ousadamente como a igreja de Cristo, o Rei dos Reis.

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Jonathan Chase

Jonathan Chase

O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020. 

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.