Leitura: 1ª Pedro 01:03-09
Texto: Filipenses 01:01-11
No ano de 2013, uma revista publicou a seguinte matéria: “Explore os remédios mais vendidos no mundo”. E dizia: “Os Estados Unidos e o Reino Unido são países onde os antidepressivos (que precisam de prescrição) estão entre os 5 remédios mais consumidos, uma situação considerada preocupante.” Realmente, isso é preocupante! Pois por que o antidepressivo (que é, falando grosseiramente, o remédio usado para regular o humor da pessoa) é um dos remédios mais vendidos no mundo, inclusive no Brasil?
Acredito que isso não revela que a depressão é a doença que mais atinge pessoas no mundo, porque parece que a maioria das pessoas que estão nos consultórios médicos, procurando antidepressivos, não estão doentes. Não vamos entrar na questão se depressão é doença ou não, mas na de se realmente todas essas pessoas precisam desses remédios. Parece que as pessoas estão precisando de alegria, de confiança, de esperança, de certeza. Parece que o que falta é algo nas pessoas que lhe dê um desejo ardente de viver com amor e alegria.
O texto que nós lemos (Filipenses 1:1-11) nos revela que coisas são essas que estão faltando no coração das pessoas do mundo. O apóstolo Paulo escreveu esta carta aos crentes que moravam numa cidade chamada Filipos, que era uma colônia do império de Roma. Era uma cidade onde as pessoas estavam querendo viver como as pessoas de Roma viviam, com muito luxo, riquezas, arrogância, espírito de superioridade. Na verdade, o que as pessoas queriam era viver uma vida de aparência, tentando fazer com que as coisas desse mundo (como bens materiais e prazeres) nos desse motivo para ter uma vida feliz.
Então, o apóstolo escreve esta carta com o objetivo de agradecer aos filipenses por tudo o que eles tinham feito por ele mas também para orientar a respeito de como nós devemos viver a vida cristã neste mundo. Por isso, nós encontramos passagens nesta carta que nos falam de alegria, do propósito de vida, de humildade, de paz. O apóstolo Paulo quer deixar a igreja preparada para enfrentar todas as situações da vida, mas com o estado de espírito de um cristão, de alguém que serve ao Senhor da graça, não como as pessoas do mundo que não têm um referencial de vida.
E o texto que temos diante de nós está nos ensinando sobre isso. O apóstolo começa a carta revelando coisas particulares entre ele e os filipenses (como uma carta pessoal).E ele faz isso por meio de descrever como é a sua oração pela igreja: uma oração que tinha agradecimentos e pedidos; mas uma oração que nos revela sobre qual deve ser o nosso estado de espírito e assim como devem ser os nossos sentimentos nesta vida cristã. Ela revela três coisas:
- A alegria
Se podemos falar sobre algum homem que sofreu, podemos falar também sobre o apóstolo Paulo. Foi apedrejado e dado como morto; sofreu calúnia e difamação; foi preso injustamente; passou por naufrágio; foi julgado injustamente; e escreveu esta carta quando ainda estava preso, sem saber do rumo do seu destino. A pergunta é: Como um homem como esse poderia falar sobre alegria? Talvez muitos, que não tivessem passado nem pela metade do que ele passou, já teriam se esquecido do que é sentir alegria.
Mas, ao contrário disso, em primeiro lugar, Paulo saúda os irmãos se referindo a si mesmo como escravo, escravo de Cristo (v.1). Isso muda tudo acerca de como nós vemos o mundo. Mostra que a nossa visão de mundo não está mais submetida ao modo de vida mundano. Ser escravo de Cristo é se submeter a ele com um coração grato e cheio de alegria por pertencer a ele.
Isso fica claro quando o apóstolo começa a sua oração. Veja os versos 3-4. Ele faz questão de destacar que a sua oração pelos filipenses era com alegria. Certamente, ele passou por muitas situações de tristeza, angústia, de sofrimento (ele mesmo diz isso no capítulo 4), porém a tristeza e a angústia não eram a marca de sua oração. E, se você acha que ele não teria motivos para estar triste realmente e descontente com a vida, leia 1 Co 4:8-13 (vamos ler o texto).
Mas, quando ele se recordava dos irmãos, ele fazia a sua oração com alegria, mesmo quando estivesse em situações de luta e provação. Este era o estado de espírito do apóstolo, a marca dos seus sentimentos, constante e vibrante.
Talvez você deva estar se perguntando: “Qual era o segredo, então, para tanta alegria? Como poderia um homem como esse, que passou pelo que passou, ainda sentir alegria na vida?” Humanamente falando, não temos uma resposta. É por isso mesmo que os consultórios dos psiquiatras, dos médicos que cuidam da mente, estão cheios; porque as pessoas não sabem como sentir alegria nesta vida com tantas lutas. É emprego que está difícil; é o filho nas drogas; é o marido descrente; é o patrão injusto. São muitas coisas que podem justificar a tristeza.
Mas Deus nos ensina, por desta oração do apóstolo Paulo, que a alegria não vem conforme as circunstâncias, não vem só quando as coisas estão bem. É possível sim sentir alegria sincera nesta vida. E o segredo está aqui no texto (veja o verso 5). Ele fala que a oração é feita com alegria por causa da cooperação dos filipenses no evangelho.
Muitos acreditam que Paulo aqui está falando da ajuda que ele tinha recebido dos irmãos, e, por isso, ele falou de cooperação. Mas o sentido aqui mais correto não parece ser o de apenas uma ajuda financeira para o avanço do evangelho. A palavra que foi usada por Paulo aqui é a mesma palavra que é usada para comunhão. Não é simplesmente fazer uma ajuda, mas é realmente participar de tudo aquilo que chamamos de evangelho. É de fato participar de todos os benefícios do evangelho. Esta comunhão não é só uma comunhão de trabalho mas uma comunhão de fé, é da experiência que tivemos com o evangelho, o evangelho que transformou nossa vida. Isso fica mais claro quando lemos Paulo dizendo que essa cooperação é desde o primeiro dia até o dia que ele estava escrevendo a carta.
A alegria de Paulo surgiu por ver que os irmãos estavam no evangelho. Isso demonstra o sentimento de Paulo por eles, mas, muito mais do que isso, demonstra que o evangelho que nós conhecemos é capaz de nos dar alegria, de nos dar regozijo quando o mundo está desabando diante de nós. Somente a participação no evangelho pode nos dar isso, nada mais.
É verdade que Paulo aqui está sentido alegria pelos outros estarem no evangelho, mas ele sentiu isso porque sabia que o evangelho era a fonte de toda a vida, inclusive da alegria que ele estava sentido. A alegria surge por ele ver que as pessoas estavam no evangelho. Então, estar no evangelho é motivo de nos alegrarmos.
Foi isso que Paulo disse em 2 Co 12:10 (ler o texto). É sentir prazer no evangelho de Cristo, porque, no final das contas, essa alegria vem de Deus. Ele é a fonte de toda verdadeira e duradoura alegria. A felicidade da vida não está nas coisa que estão em nossas mãos, mas das coisas que estão nas mãos de Deus, no evangelho que nos foi dado pela graça.
Meus irmãos, nós muitas vezes não sentimos alegria na vida porque nós a procuramos no lugar errado. Esperamos que a alegria esteja num casamento bem sucedido, nos estudos dos filhos, num alto salário, numa casa própria, no poder ter as coisas; e nos esquecemos que a alegria incomparável está no evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo.
Não precisa pensar muito. Não precisa entender muito. Não precisa imaginar muito para saber de onde vem essa alegria. Paulo não duvidou quando em dizer que sua alegria vem de estar no evangelho. As palavra de Paulo na oração é “ao meu Deus”. Do seu evangelho, vinha a alegria.
Talvez essa não seja a realidade de alguns aqui nesta manhã. Talvez você chegou aqui sem ter o que dizer sobre alegria; ferido, triste, desconsolado. Talvez você esteja sendo como aquelas pessoas que estão olhando à procura de alegria para o lugar errado. Então, Deus está chamando você para ter alegria no evangelho. Destrua todas as suas fontes erradas de alegria, e construa uma fonte chamada “o evangelho de Jesus Cristo”. Essa fonte nunca irá deixar de jorrar alegria.
- confiança
No verso 6, Paulo diz: … (ler o verso). Além de expressar alegria, ele expressa sua confiança. É uma alegria que vem acompanhada de confiança. O seu sentimento de alegria não fraco nem passageiro. É uma alegria que transborda confiança. Ele falou: “Estou plenamente certo”. Fala de convicção, de certeza. Ele estava convencido de que Deus iria terminar a obra que tinha começado na vida dos filipenses.
A confiança de Paulo estava no fato de que Deus não abandona os seus filhos, porque o que ele começou ele irá terminar. O seu coração estava seguro em Deus. A verdade é que a fonte de toda a sua alegria era a confiança na obra de Deus. E essa confiança em Deus deu condições a Paulo de viver.
A mensagem é clara aqui. Nós podemos viver a vida confiantes em Deus, no seu poder de sustentar e terminar o que ele começou em nós. Perceba que a ênfase está exatamente nisso no fato de que no dia de Cristo nós estaremos lá firmes porque Deus completará a obra que começou.
E Paulo fez questão de mostrar porque ele pensava assim. No verso 7, ele diz: … (ler o texto). Ele começa dando uma primeira justificativa (razão) do porquê ter tanta certeza. Ele diz “eu trago vocês no coração, seja nas algemas, seja na defesa e confirmação do evangelho”. No primeiro momento, a razão que o apóstolo dá para ter tanta confiança no trabalho de Deus parece um pouco estranha. Ele simplesmente diz: “Porque trago vocês no coração”. Mas o fato em si de ter outros irmãos no coração não quer dizer muita coisa no que diz respeito a confiar em Deus.
Mas o ponto aqui não é esse. Se lermos mais atentamente, veremos que Paulo está dizendo que trazia os irmãos no coração porque eles eram participantes do evangelho junto com ele. No finalzinho do verso (7), ele diz: “Pois todos sois participantes da graça comigo”.
A questão é que o sentimento que ele tinha pelos irmãos no coração vinha da comunhão que eles tinham no evangelho. Isso que dizer que o evangelho é que era a fonte dessa confiança. Paulo estava convencido de que os irmãos tinham participação no evangelho; ele até cita por que: nas algemas, na defesa e na confirmação do evangelho. Isso foi uma prova suficiente de que esses irmãos estavam no evangelho, portanto, eles poderiam confiar que Deus estaria com eles até o fim. Não porque Paulo gostava deles, mas porque eles estavam no evangelho.
No verso 8, Paulo até chama a Deus como testemunha desse sentimento que ele tinha pelos irmãos, mas por causa do evangelho. É assim como o evangelho opera em nós. Quando nos entregamos ao evangelho, com tudo o que temos e o que somos, ele nos dá segurança.
Mais uma vez, o verdadeiro sentimento de segurança e confiança nesta vida não vem das coisas desse mundo, mas vem das mãos de Deus. Vem dessa comunhão com o evangelho pela fé. E esta certeza do evangelho, de que Deus nos sustentará, é que nos faz viver seguros.
E é importante destacar aqui que o apóstolo na verdade nem usa a palavra evangelho, quando fala que os irmãos estão participando com ele, mas fala de “graça”. Podemos pensar que ele tinha em mente o evangelho de Cristo, como falou no verso 5: “Pela vossa cooperação no evangelho”, mas ele usa a palavra “graça”. E isso aponta para Deus, para a obra soberana de Deus.
Quer dizer que podemos viver com confiança porque estamos no evangelho de Cristo, mas não podemos nos esquecer que é o evangelho da graça. Nenhum de nós merecemos estar aqui, ouvindo o evangelho, tendo alegria em Cristo, confiando em Deus, mas ele nos doou isso por pura graça. A nossa comunhão com o evangelho, portanto, com Cristo, é uma comunhão de graça, dada pelo próprio Deus.
Podemos ver isso já no verso 6 quando Paulo diz que tinha plena certeza de que “aquele que começou boa obra em vós há de completá-la…”. Ou seja, que do começo ao fim a nossa vida é uma obra de Deus. Nunca foi nem nunca será nossa. Toda a nossa confiança deve estar em Deus. E assim viveremos como cristão que têm comunhão e participação no evangelho da graça.
Devemos ter a certeza de que o mesmo Deus que operava na vida de Paulo, que operava na vida dos filipenses, é o mesmo Deus que opera em nossa vida agora. Por isso, confiemos na obra de Deus e andemos certos de que aquele que começou a boa obra em nós ele completará esta obra um dia.
- Desejo de amar a Cristo
No verso 9, Paulo muda o foco da sua oração de uma ação de graças para um pedido. Mas não muda o seu sentimento pelos filipenses. O pedido agora expressa o seu sentimento do que ele deseja dos irmãos. Como diz o verso 9 (ler o verso), “Que o vosso amor aumente mais e mais”.
Na vida, devemos expressar alegria, manifestar nossa confiança em Deus, mas também não podemos nos esquecer do amor a Cristo e ao evangelho. Vimos que a nossa alegria e confiança na vida vem do evangelho da graça de Deus. Mas vemos também a necessidade de desenvolver o nosso amor por esse evangelho, que tem a pessoa de Cristo como seu centro.
A nossa vida não se resume a ter alegria e confiança, mas avança para o amor a Jesus Cristo, nosso Senhor. Viver a vida cristã é viver amando a Cristo. Lembremo-nos de como Paulo começa a carta se referindo a si mesmo como “escravo”. Mas essa escravidão não é igual à escravidão que conhecemos, como a que ocorreu aqui no Brasil. É uma escravidão sujeita pelo amor.
No verso 15-16, o texto diz: … (ler o texto). É viver amando a Cristo, e assim, fazendo tudo o que ele ordena. Não por constrangimento, mas porque ama o evangelho. Como está escrito em 1 Co 4:5 (ler o texto), assim deve ser o nosso sentimento em relação a Cristo.
Mas esse amor aqui não é um sentimento como estamos acostumados a pensar. O texto nos revela que o amor que devemos ter deve ser um amor com entendimento, com reconhecimento das coisas de Deus, da sua vontade. É um amor que cresce no entendimento, que é capaz de julgar o que é e o que não é de Deus. Esse amor é o amor que tem a capacidade de separar não só o mal do bem mas o que é importante do que não é importante para a vida, porque ele tem capacidade para discernir as coisas do reino.
Realmente é um amor que cresce em querer conhecer cada vez mais o seu mestre, a sua obra. Não é um amor que nos levar a dizer apenas: “Ah, como eu amo a Deus”, e roubamos o nosso patrão; ou: “Ah, Jesus é lindo, eu amo muito a ele”, e tem uma língua mais afiada que uma espada amolada. Isso não funciona!
Este amor é fruto de um desejo de conhecer mais o seu Senhor, e, se queremos conhecer nosso Senhor, a sua palavra deve estar aberta diante de nós. Pois é lá que vamos encontrar conhecimento acerca de Jesus Cristo. Lá na revelação da Palavra de Deus é que vamos desenvolver a nossa capacidade de conhecer os feitos de Deus, as coisas reveladas acerca de seu filho. Em outras palavras, um amor que não se preocupa em conhecer, biblicamente falando, não é amor.
O desejo sincero de amar o evangelho nos levará a provar por meio do conhecimento e entendimento as coisas excelentes e superiores e nos fará sinceros e inculpáveis para o dia de Cristo. É o que Paulo diz no verso 10 (ler o verso).
É bom notar aqui que Paulo está falando para os filipenses, para aqueles que moravam na cidade de Filipos; aquela cidade onde as pessoas desejam ter o que se tinha na famosa Roma. Então, para muitos da época, as coisa lindas e maravilhosas eram as coisas que vinham de lá. Se compararmos com hoje, poderíamos dizer que eles eram como são as pessoas hoje que acha que a coisa mais maravilhosa da vida é ser como os artistas são, é ter o que eles têm, é ser como os seus ídolos do futebol são. Para essas pessoas, e tristemente muitas vezes para pessoas de dentro da igreja, essas coisas é que são as maravilhas do mundo.
Mas não! Não é assim para nós que somos cristãos. As coisas maravilhosas são as maravilhas do evangelho reveladas na Palavra. E, em Cristo, nós podemos “provar” essas maravilhas. Assim, seremos também puros, sem mistura, que é o sentido aqui no verso 10. Puros como o ouro puro sem qualquer mistura, para que nos apresentemos no dia de Cristo com frutos de justiça, o que são produzidos por Cristo (v.11).
Meus irmãos, isso é o que Deus requer de nós ao estarmos neste mundo, independentemente do que esteja acontecendo. Deus quer que sejamos alegres no evangelho, confiantes em Deus e desejosos por crescer no amor de Cristo com a sua Palavra.
Amém!
Iraldo Luna
É formado em Letras Vernáculas pela UFPE com pesquisas voltadas para a área de linguística de texto. Bacharel em Divindade pelo Instituto João Calvino. É pastor na Igreja Reformada de Brasília. Professor do curso on-line de introdução ao Grego Bíblico no Instituto João Calvino.
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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.