Mateus 09:35-38

Leitura: Mateus 09:35-38
Texto: Mateus 09:35-38

“Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9.36)

Amados irmãos no Senhor Jesus Cristo,

Da sua manifestação pública logo depois do seu batismo no rio Jordão até sua morte na cruz do Calvário, o Senhor Jesus trabalhou muito entre os homens. Ele desempenhou seu ministério terreno num período de mais ou menos três anos e, nesse período, o Senhor fez muitas coisas. Ele veio ao mundo exatamente para realizar a obra de redenção para a qual fora enviado por seu Pai: morrer na cruz pelos pecados do seu povo (Mt 1.21). E antes de enfrentar a cruz, o Senhor realizou muitas atividades entre os homens. Lendo os evangelhos vamos observar que todo o tempo do Senhor foi gasto no trabalho de pregação, ensino e discipulado, curas e expulsões de demônios, além de outros milagres que fez. É importante observar, segundo o relato dos evangelhos, que a maior parte do seu tempo foi gasto no trabalho de pregação e ensino da palavra de Deus.

Tema: A misericórdia de Jesus pelas ovelhas sofridas e perdidas

Em todas estas suas obras realizadas entre os homens, o Senhor Jesus mostrou duas coisas:

  1. O seu grande poder como Filho de Deus. Jesus era um homem poderoso em palavras e obras.
  2. A sua grande misericórdia. Jesus executou o seu trabalho movido por uma intensa compaixão pela humanidade caída.

O texto que lemos enfatiza a misericórdia do Nosso Senhor Jesus. Aqui nos é revelado o coração misericordioso do Nosso Senhor pelas multidões sofridas que vinham ao seu encontro. “Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor” (v. 36). Estas palavras constituem o tema central do nosso texto: A grande misericórdia de Jesus pelas ovelhas sofridas e perdidas.

Quando Jesus contemplou aquelas multidões com misericórdia, ele já tinha feito muitas coisas (pregação, ensino, curas, milagres). O resultado é que sua fama se espalhou rapidamente e as multidões o procuravam. Até aquele momento, seu trabalho tinha provocado admiração nas multidões e revolta nos líderes religiosos de Israel daqueles dias (Mt 8,9). E nesse contexto Jesus olhou para as multidões e compadeceu-se delas porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor.

Por que Mateus coloca esta nota aqui sobre as multidões (aflitas e exaustas; ovelhas sem pastor)? Qual era a real condição daquelas pessoas de quem Jesus se compadeceu? Jesus contemplou diante de si muitas pessoas que já se encontravam a algum tempo numa condição de total desamparo, abandono e opressão. Pessoas que caminhavam como um rebanho de ovelhas entregue a si mesmas e sem nenhum pastor para conduzi-las e protegê-las. Jesus estava diante de pessoas ignorantes quanto à palavra de Deus, sobrecarregadas de culpa e pecado, sem consolo e esperança de salvação. Por que aquelas multidões encontravam-se nessa triste e miserável situação? O problema em si não foi a falta de pastores, pois naqueles dias havia muitos líderes religiosos em Israel, os quais tinham o dever de pastorear as ovelhas no caminho do Senhor e buscar aquelas que se tinham perdido. O problema é que estes não estavam cumprindo fielmente o seu dever de pastorear aquelas pessoas. Houve negligência e descaso no pastoreio. As ovelhas perdidas não eram buscadas; as fracas não eram fortalecidas; as ignorantes não recebiam a boa instrução da palavra de Deus; enfim, as multidões caminhavam entregues a si mesmas, sem pastores para alimentá-las com a palavra de Deus e protegê-las dos inimigos. E quando havia pastoreio, este era realizado sem conhecimento e sem misericórdia. Muitas ovelhas estavam sendo oprimidas. Os pastores infiéis daqueles dias dominavam sobre as ovelhas com rigor e dureza. Por isso que Jesus os repreendeu severamente numa outra ocasião (ler Mt 23.4,23).

A condição daquelas multidões (ovelhas sem pastor) comoveu profundamente o Senhor Jesus. Vendo-as cansadas e abandonadas pelos pastores da época, Jesus, o Bom Pastor, compadeceu-se delas. Seu coração ficou muito comovido e ele encheu-se de misericórdia. O que podemos dizer sobre a misericórdia do Nosso Senhor? A misericórdia é um sentimento que se faz presente onde há sofrimento e miséria. Misericórdia, segundo a Bíblia, não é apenas sentir pena de alguém que está sofrendo. Misericórdia é um sentimento de compaixão que resulta numa ação para ajudar aquele que sofre. Ser misericordioso é sentir compaixão pelos que estão sofrendo e agir em favor deles. Jesus nos ensinou isto na parábola do bom samaritano. E ele praticava o que ensinava. Em todo o seu trabalho realizado entre os homens, o Senhor agiu com misericórdia.

No verso 35 lemos que o Senhor “percorria todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda a sorte de doenças e enfermidades”. Esse texto não é somente um resumo da obra que Jesus tinha realizado até aquele momento, mas é um relato comovente de como o Senhor já vinha agindo com misericórdia em favor daquelas ovelhas aflitas e desamparadas que não tinham pastor. Observe que o Senhor quer estender sua misericórdia a todos quantos estão ao seu alcance (todas as cidades e povoados). Ele não se limitava a um só lugar, mas realizava um ministério abrangente e contínuo.

Sua misericórdia é manifesta no seu ministério de ensino e pregação. Ele pregava o evangelho do reino com compaixão e urgência, chamando os pecadores à fé e ao arrependimento e oferecendo-lhes de graça a paz e a salvação que ele mesmo veio trazer como o Messias de Deus. O Senhor também ensinava com misericórdia. Sua compaixão pelas ovelhas sem pastor o motivava a ensiná-las (ler Mc 6.34). Ele ensinou nas sinagogas, mas também nas ruas, praças e praias, mostrando que seu ensino era para todos. Além disso, seu ensino não era frio e legalista como o dos líderes religiosos da época. Ele buscava instruir seus ouvintes para a vida e alcançar o coração deles. Enquanto os líderes de Israel sobrecarregavam as pessoas com seu ensino cheio de regras e costumes humanos, o Senhor Jesus oferecia alívio e descanso aos pecadores sobrecarregados de culpa e pecados que vinham ouvi-lo (ler Mt. 11.28-30).

O ministério de cura de Jesus, além de mostrar o seu poder sobre todo tipo de doença, era também uma manifestação da sua misericórdia pelas almas sofridas (ler Mt 14.14). Todos que foram afligidos por todo tipo de doenças e vieram ao seu encontro clamando misericórdia foram atendidos. Cegos, mudos, aleijados, leprosos e outros enfermos provaram da sua misericórdia. Ele teve misericórdia dos doentes e curou suas enfermidades.

Todas estas obras de misericórdia realizadas por Jesus o encaminhavam à sua morte na cruz, a qual foi a grande manifestação da sua misericórdia por nós, pecadores. Dos altos céus, o Senhor contemplou a nossa terrível miséria como pecadores perdidos e dignos da condenação eterna e fez algo por nós. Movido por grande compaixão e disposto a realizar a obra que o Pai lhe dera para fazer, ele deixou a sua glória, humilhou-se ao vir a este mundo sofrer e morrer por nós pecadores para nos libertar da terrível miséria do pecado em que nos encontrávamos. Ele é o nosso Misericordioso Salvador, o Bom Pastor que deu a vida por suas ovelhas.

Que a infinita misericórdia do Nosso Bom Pastor Jesus Cristo console os nossos corações e também nos motive a seguir o seu exemplo de ser misericordioso. Que a sua misericórdia atinja os corações de cada um que está aqui esta noite, tanto os membros da sua igreja quanto os seus oficiais. Ele requer que sejamos misericordiosos, assim como ele e o Nosso Pai Celeste são misericordiosos. Ele nos chama a agir em favor daqueles que estão sofrendo ao nosso redor. Há pecadores caminhando neste mundo sem Cristo, precisando de arrependimento e salvação; quem pode fazer algo por eles? Há irmãos fracos e desanimados que precisam de amparo e fortalecimento na fé; quem vai cuidar destes irmãos? Há enfermos e necessitados precisando de consolo e ajuda. Quem deve visitá-los? Cristo nos chama a olhar para estas pessoas com misericórdia e agir em favor delas. Ele está chamando especialmente os oficiais que ele tem dado à sua igreja para que exerçam seus ofícios com amor e compaixão. Aos pastores e presbíteros ele chama a edificar a sua igreja e chamar pecadores à fé e ao arrependimento pelo ministério da palavra, motivados com a mesma misericórdia do Mestre. Aos diáconos ele chama a consolar o povo de Deus com sua palavra e suprir suas necessidades no amor de Cristo. Que o Senhor nos encha da sua misericórdia no exercício do seu trabalho.

O Nosso Senhor compadeceu-se das multidões que estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor. A misericórdia do Senhor pela multidão sofrida foi manifesta não só no seu trabalho intenso em favor delas, mas também no seu desejo de vê-las alcançadas pelo evangelho através do trabalho dos seus discípulos. Diante da compaixão que sentiu pelas multidões, ele disse o seguinte aos seus discípulos: “A seara, na verdade é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara” (v. 37-38). Estas palavras fluíram do sentimento de misericórdia de Cristo pelas multidões sofridas e perdidas. Precisamos entender o significado destas palavras de Cristo. São palavras dirigidas primeiramente aos discípulos de Cristo, mas também a toda a sua igreja em qualquer época ou lugar. O que vemos aqui é o seguinte: No desamparo da multidão, Jesus viu a grande oportunidade e urgente necessidade da proclamação do evangelho àquelas ovelhas sofridas. Sua misericórdia pela multidão sem pastor foi a motivação para a obra missionária que ele iniciou e agora seria estendida aos seus discípulos.

Jesus disse: “A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos”. Jesus usa uma linguagem figurada. Ele usa a figura da seara (colheita). Ele pensa num campo muito extenso cheio de plantações e pronto para ser colhido, mas com poucos trabalhadores para fazer a colheita. O contexto indica que o Senhor usa a figura da seara no sentido de campo extenso para a obra missionária (tb. Lc 10.2). A grande seara aponta para as multidões perdidas e sofridas que necessitam de Cristo para serem salvas. Jesus está se referindo primeiramente às ovelhas perdidas da casa de Israel que foram negligenciadas por seus líderes religiosos; no entanto, quando diz que a seara é grande, inclui também a todos quantos podem ser alcançados pelo evangelho de Cristo de qualquer povo, raça ou nação (Mt 28.19-20; Mc 16.15,16).

Os trabalhadores são aqueles que estão a serviço de Cristo para proclamar o evangelho. Em primeiro lugar seus discípulos, mas também todos que por ele são chamados para pregar o evangelho. O problema que Jesus percebe é que há poucos trabalhadores em contraste com a grande seara. Foi assim nos dias de Jesus e seus apóstolos. Havia multidões perdidas naquelas regiões por onde Jesus andou, mas poucos trabalhadores fiéis para conduzi-las a Cristo. É assim também em nossos dias. Nosso Brasil, por exemplo, é uma grande seara; há campos extensos carecendo de trabalhadores para levar o evangelho; há multidões sofridas e perdidas precisando ouvir a boa nova da salvação em Cristo. Aqui no Nordeste, no Sul, no Norte, em todo lugar do país há ovelhas perdidas precisando ouvir a voz do Bom Pastor. Porém, há poucos trabalhadores para trazê-las a Cristo; há poucos pastores para alimentá-las com a palavra de Deus e guiá-las pelas veredas da justiça.

Sendo esta a situação, o que nós como igreja devemos fazer? Cristo chama os seus discípulos e também a nós como sua igreja a orarmos ao Senhor da seara pedindo que ele mande mais trabalhadores para a sua seara (v. 38). Cristo nos chama a orar a Deus pela expansão do seu reino na terra. Deus é o Senhor da seara, o Criador e o Dono do céu e da terra e de todos os homens; somente ele, por seu poder e graça, pode expandir o seu reino na terra com a proclamação do evangelho. O crescimento vem dele e ele, em sua soberania e graça, usa os seus servos para realizar a sua obra. Ele manda trabalhadores para a sua seara; ele chama, capacita e envia pastores para pregar o seu evangelho na grande seara deste mundo. Isso significa que ninguém pode lançar-se na grande seara do Senhor sem ser enviado por ele. Ele é o Senhor da seara e ele envia os seus trabalhadores. Devemos orar por isso. Pois o Nosso Deus é misericordioso e poderoso para enviar mais trabalhadores para a sua grande seara e recolher dela um grande povo para desfrutar da sua salvação. Devemos orar por isso, pois este é o propósito de Deus. Ele está reunindo as suas ovelhas dentre todas as nações. Quando o seu rebanho estiver completo, ele voltará para habitar eternamente no meio do seu povo.

Nós ouvimos como o Nosso Salvador Jesus Cristo mostrou a sua grande misericórdia enquanto esteve na terra. Ele fez o seu trabalho em favor das multidões sofridas motivado por misericórdia; chamou e enviou seus apóstolos para a grande seara por sua misericórdia; morreu por nós numa cruz por sua misericórdia. Hoje ele está à direita do Pai com todo poder e glória reinando sobre tudo e sobre todos. No céu, ele não só tem todo poder nas mãos, mas também continua sendo o mesmo Jesus misericordioso que se compadece e age em favor das multidões sofridas. Ele continua trabalhando para a expansão do seu reino na terra, chamando e enviando trabalhadores para a grande seara e assim reunindo suas ovelhas. Cada vez que ele dá um oficial à sua igreja ele nos manifesta a sua misericórdia. Sua misericórdia em conceder pastores que sejam misericordiosos e se empenhem no trabalho de buscar as ovelhas perdidas neste mundo e conduzi-las ao caminho da vida e salvação pela fiel pregação do evangelho e o verdadeiro ensino da Palavra de Deus.

Amém.

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Elissandro Rabêlo

Bacharel em Teologia pelo CETIRB – Centro de Estudos de Teologia das Igrejas Reformadas do Brasil (Atual Instituto João Calvino) (1999-2004). Fez Convalidação de Teologia na Universidade Mackenzie em São Paulo (2017). Ministro da Palavra e dos Sacramentos da Igreja Reformada do Grande Recife (PE), servindo como Missionário da Igreja Reformada em Fortaleza (CE).

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.