2 Reis 2.1-14

Leitura: 2 Reis 2.1-18, Hebreus 11.32-12.2
Texto: 2 Reis 2.1-14

Os carros de Israel e seus cavaleiros

Irmãos em nosso Senhor Jesus Cristo,

Uma das razões importantes pelas quais os livros históricos – como o livro dos Reis – foram escritos para nós é para que pudéssemos observar a vida de nas gerações do povo de Deus que nos precederam, que sofreram muito, que creram nas promessas mesmo contra a esperança, que lutaram por aquilo pelo que vale lutar, que obedeceram a Deus quando era difícil, e então correram a corrida antes de nós. Esses livros foram escritos (pelo menos um dos motivos) para que pudéssemos ver a corrida que eles correram e, assim, por meio de seu exemplo, pela graça de Deus, correr a mesma corrida, pela mesma fé, em nosso tempo também – olhando para o mesmo Deus que lhes deu força e esperança, que vai nos sustentar também.

Pensando sobre a nos dias dos reis, tente se imaginar no lugar de Eliseu e do povo de Deus durante aqueles dias.

Certamente houve vitórias – você pensa na vitória de Elias contra os profetas de Baal no Monte Carmelo. Houve momentos de alegria – a reunião da igreja em torno do profeta de Deus – os “filhos dos profetas” que são mencionados nestes capítulos. Mas foram tempos muito difíceis.

E agora, o maior profeta que já existiu – a esperança do povo de Deus – Elias estava sendo chamado para casa.

Todo mundo sabia disso. Você pode sentir a tensão na primeira metade deste capítulo. O capítulo conta a perspectiva de Eliseu, mas também podemos observar a tristeza, medo e preocupação que os filhos dos profetas sentiram, e podemos imaginar o que o próprio Elias estava passando.

Todos sabiam que Elijah estava indo embora. Já havia pedido isso há muito tempo, já em 1 Reis 19, quando estava sendo caçado por Jezabel; e agora, o dia chegou, e Deus o estava chamando para casa.

A própria jornada que Elias fez já comunica uma mensagem. Ele começou em Gilgal, no centro do Reino do Norte, e então desceu para Betel, e então, de Betel para Jericó, e então, de lá, para o outro lado do Jordão. Para todos que conhecem a história da entrada do povo de Israel para a terra de Canaã, o significado dessa jornada era claro: Elias, o portador da palavra, o profeta de Deus, estava revertendo o caminho que os israelitas haviam tomado para a terra sob o comando de Josué. A Palavra de Deus estava deixando a terra.

A tristeza e a preocupação sentidas por quase todos são muito claras neste texto.

  • Tem o próprio Elias. Podemos só imaginar os pensamentos que estavam passando pela mente de Elias neste momento.
    • Existem algumas questões teológicas sobre a partida de Elias …será que ele morreu? Ou ele foi levado, como Enoque, sem nunca ter experimentado a morte? E se sim, como isso se reconcilia com a justiça de Deus, já que Elias também era um pecador? São perguntas que Deus não responde por nós. Se Elias escapou da morte, ele não seria o primeiro – somos informados em Gênesis que Enoque, o neto de Adão, também escapou. Nós não sabemos. Tudo o que sabemos é que Elias foi levado ao céu. Se ele morreu, certamente não era a maneira normal de morrer.
    • Mas seja o que for que tenha acontecido, não devemos imaginar que era um momento tranqüilo para Elias. Certamente foi uma experiência parecida com a morte. Ele estava prestes a se despedir de tudo que conhecia; a deixar seu papel como profeta e deixar esta terra e ficar diante do Deus Todo-Poderoso. Ele havia pedido a Deus que o deixasse ir, e agora, quer ele ainda desejasse ou não, ele vai.
    • Então podemos só imaginar o que Elias estava pensando. Refletindo no seu ministério, em muitos aspectos pode ter parecido para ele como um fracasso; ele não trouxe Israel ao arrependimento. E seu ministério foi cercado por suas próprias fraquezas e medos. E agora, ele estava prestes a se apresentar, como se fosso nu, diante da santidade de Deus. E não sabemos se nem mesmo Elias sabia da maneira como ele iria partir.
  • Podemos sentir a tensão e a ansiedade na comunidade de crentes também: os filhos dos profetas.
    • Não sabemos como todos eles sabiam que este era o dia em que Elias seria chamado. Talvez o próprio Elijah tenha contado a eles. Talvez Deus tenha falado a um deles diretamente.
    • Mas tente se colocar no lugar deles e pense em como este dia teria sido para eles. Elias era tudo o que eles tinham. Elias era a prova de que Deus ainda estava com eles. Elias foi aquele que trouxe a Palavra de Deus para a nação, e Elias foi aquele em quem o Espírito de Deus estava visivelmente operando. Eles precisavam dele. Elias era o motivo por sua esperança de que a igreja se levantasse novamente. Foi o ministério dele que os uniu como igreja.
    • Todos estariam se perguntando a mesma coisa, especialmente ao ver Elias cruzando o Jordão e deixando a terra: Será que Deus está nos abandonando? O que vai acontecer depois de Elias?
    • E assim podemos sentir a ansiedade no ar quando os filhos dos profetas em cada cidade vieram a Eliseu e lhe perguntaram: “Sabes que o Senhor, hoje, tomará o teu senhor, elevando-o por sobre a tua cabeça?” Aparentemente, nenhum deles tinha coragem de falar com o próprio Elias sobre isso. Mas todos estavam pensando na mesma coisa. O que seria da igreja sem Elias?
  • Eliseu mandou eles se calarem. Ele sabia também que o Senhor iria levar seu senhor embora. Mas como ele poderia responder aos filhos dos profetas? O que ele deveria dizer? E Elias não precisava ouvir esta conversa.

Mas, ao mesmo tempo, o que eu também vejo em Eliseu, e espero que os irmãos possam ver neste capítulo, é a surpreendente persistência de sua fé, mesmo em um tempo tão incerto. Podemos apenas imaginar o quão difícil teria sido para ele manter a fé durante este tempo, já que os filhos dos profetas iriam buscar a liderança dele – e, sem dúvida, os inimigos de Deus estariam agora mirando seus ataques contra ele.

Mas ainda assim podemos ver que Eliseu conheceu sua vocação, ainda mais do que o próprio Elias naquele momento. Ele se recusou a obedecer à ordem de Elias de ficar para trás em Gilgal, depois em Betel e em Jericó. “Tão certo como vive o SENHOR e vive a tua alma, não te deixarei.” É um voto em nome do Senhor. Ele reconheceu que o Senhor o estava chamando para o serviço, e que, naquele momento, ele foi chamado para ficar com Elias. E ele não iria permitir que medo, nem incerteza, nem a opinião de qualquer um, o abalasse na sua vocação.

Ele sabia que Elias seria chamado para fora desta terra. E ele não sabia o que fazer com isso, é por isso que ele só pode pedir aos filhos dos profetas se calarem. Mas ele sabia que seu lugar era ficar com Elias até que o Senhor o levasse.

Ficamos com a impressão de que Elias nunca gostou muito de ter um sucessor. Desde o capítulo 19, quando ele recebeu a ordem de ungir Eliseu como seu sucessor, ele não o ungiu, mas apenas jogou sua capa sobre ele; e quando Eliseu pediu permissão para se despedir de sua família, Elias se ressentiu; e agora, nos últimos dias ou horas de Elias, ele prefere ficar sozinho. E tudo isso, junto com o medo que toda a igreja estava experimentando, pode ter sido o suficiente para fazer qualquer discípulo questionar seu chamado e voltar para casa. Mas Eliseu, apesar de não saber o que Deus faria, recusou-se a ir embora. E aí vemos sua fé. É exatamente no momento em que não sabemos como as coisas vão acabar amanhã, ou mesmo hoje, quando mesmo assim resolvemos a obedecer a Deus hoje, cumprir nosso dever agora, e confiar que Deus não vai nos abandonar amanhã—isto é a fé.

Depois de cruzarem o Jordão, Elias disse a Eliseu: “Pede-me o que queres que eu te faça, antes que seja tomado de ti.”

Eliseu já sabia o que pedir: “Peço-te que me toque por herança porção dobrada do teu espírito.”

Agora, devemos entender este pedido corretamente: Eliseu não estava pedindo o dobro da porção do Espírito do que Elias tinha, como se ele pretendesse superar o ministério de Elias. Afinal, Elias não seria capaz de dar o que ele próprio não possuía. Não, esta linguagem da “porção dobrada” é a linguagem de herança, referindo-se à herança pertencente a um filho primogênito. Quando um pai morria, sua propriedade era dada a seus filhos, e o filho primogênito recebia uma porção dobrada. É isso que Eliseu está pedindo aqui: longe de se imaginar maior que seu mestre, seu único pedido é que seu mestre lhe dê uma medida extra de seu Espírito para que Eliseu seja capaz de cumprir a vocação que ele sentia totalmente indigno e insuficiente a cumprir, mas que ele resolveu a cumprir desde que ele foi chamado para ser profeta no lugar de Elias.

Aqui, novamente, vemos a fé de Eliseu. O próprio Elias reconheceu: “pediste uma coisa difícil.” Foi uma coisa difícil e talvez parecesse uma loucura de pedir, mas era a coisa certa pra pedir porque sem isso, Eliseu nunca seria capaz de cumprir seu chamado.

E então Elias prometeu: “se me vires quando for tomado de ti, assim se te fará; porém, se não me vires, não se fará.” Já que é Deus quem no final das contas dá o Espírito a quem Ele quiser, Elias não poderia simplesmente dar o que Eliseu havia pedido, mas ele deixou nas mãos de Deus. E, novamente, sentimos a tensão e a incerteza neste momento: Será que Deus concederia isso a Eliseu? Talvez sim, talvez não. Então novamente a fé de Eliseu é destacada para nós em sua disposição de dar o próximo passo sem saber o resultado.

O versículo 11 nos diz que os dois continuaram e conversaram – não sabemos por quantos minutos ou horas.

Podemos apenas imaginar as coisas sobre as quais os dois conversaram – talvez os dois evitando falar mais sobre a partida de Elias e encontrando algo mais sobre o que conversar; ou talvez Eliseu estava aproveitando a oportunidade para fazer perguntas e pedir concelhos de Elias sobre o ministério dele; mas, em qualquer caso, é claro que quando chegou a hora, Eliseu ainda não estava pronto para isso, porque de repente ele grita “Meu pai, meu pai, carros de Israel e seus cavaleiros!”

Com essas palavras, podemos sentir a sensação de perda e desamparo que Eliseu sentiu. Esse título, “os carros de Israel e seus cavaleiros”, não se refere aos carros e cavalos de fogo que Eliseu viu, mas ao próprio Elias. Na verdade, muitos anos depois, esse mesmo título seria dado a Eliseu pelo rei Joás no capítulo 13. Dizer que ele é “os carros de Israel e seus cavaleiros” é dizer que ele é tudo o que nós temos, a nossa única defesa e esperança neste mundo, sem o qual já somos perdidos. Isso mostra o quanto ele o estimava. Nenhum profeta jamais existiu antes como Elias, e em toda a perseguição que a igreja enfrentou, a única força que estava diante deles e lhes deu esperança foi a presença de Elias com eles; parecia que Elias quase sozinho resistiu todas as forças do mal nestes anos.

E agora Deus o estava chamando, e parecia que Deus estava tirando da igreja e de Israel a única defesa espiritual que eles tinham. A dor e a angústia de toda a igreja são expressas nestas palavras: “Meu pai, meu pai! Os carros de Israel e seus cavaleiros!”

E então Elias se foi, e Eliseu foi deixado sozinho. O versículo 12 nos diz que ele agarrou suas próprias roupas e as rasgou em pedaços. Podemos ver sua tristeza total pela perda de Elias, e não só a tristeza dele, mas de toda a igreja.

Mas então, mais uma vez, vemos sua fé, num tempo desse. Pela graça de Deus, Ele sim testemunhou a partida de Elias, e então ele sabia que, de acordo com a promessa de Elias, Deus lhe daria o que ele havia pedido: a medida de Seu Espírito de que Ele precisava para cumprir sua vocação.

Então ele assumiu esta vocação com fé. Ele tomou o manto de Elias, que havia caído dele, e golpeou a água, dizendo: “Onde está o Senhor, o Deus de Elias?” Mesmo em sua angústia e tristeza, vemos a persistência da sua fé.

E Deus respondeu a essa oração. Assim como foi prometido, o Espírito desceu sobre ele com poder, da mesma forma que Ele tinha feito com Elias, e a água se abriu e Eliseu cruzou o Jordão. Ele pediu uma coisa difícil, pela fé, conforme sua vocação, e Deus Lhe concedeu.

E assim Eliseu começou seu ministério, no poder de Deus.

Irmãos e irmãs, considerem bem a fé do povo de Deus, especialmente Eliseu, nestes tempos. É assim que a fé – mesmo em meio à dor e à incerteza – se manifesta. Ele permaneceu dedicado ao seu senhor até o fim, e depois ele assumiu a responsabilidade que Deus deu a ele. Ele chorou, mas não desanimou. E conheceu sua vocação, e ousadamente pediu a Deus o que ele precisava para cumpri-la.

——

Ao considerar a fé de Eliseu neste momento, não posso deixar de compará-lo aos discípulos de Cristo, no momento em que Cristo foi levado para o céu, no final de Lucas e em Atos 1. O Senhor Jesus lhes avisou que ele ia deixá-los. Mas dá pra ver que eles não entenderam. Em Atos 1, eles perguntaram se talvez Ele ficaria e agora restauraria o Reino de Israel. Eles não entenderam o plano de Deus. E o Senhor Jesus simplesmente lhes disse: “Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade; mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra.” E então, o versículo 9 nos diz,

“Ditas estas palavras, foi Jesus elevado às alturas, à vista deles, e uma nuvem o encobriu dos seus olhos. E, estando eles com os olhos fitos no céu, enquanto Jesus subia, eis que dois varões vestidos de branco se puseram ao lado deles e lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para as alturas?”

Assim como Eliseu, eles ficaram confusos e tristes ao ver seu Senhor os deixando, e assim como os filhos dos profetas em Jericó, tudo o que sabiam fazer era continuar procurando por ele. Mas – assim como Eliseu – eles ficaram com uma vocação para cumprir – uma grande tarefa: começar uma nova conquista do Reino, assim como Eliseu teria que fazer, e é isso que o vemos fazendo, ao cruzar o Jordão e entrar na terra: é uma nova conquista da terra de Canaã.

E para essa tarefa, assim como Eliseu, eles receberam a promessa do Espírito de equipá-los para cumpri-la.

E é aqui que é tão importante aprendermos com a fé de Eliseu: porque Eliseu reconheceu o que os discípulos não reconheceram: que Deus lhe daria todo o necessário para cumprir sua vocação.

E agora, e quanto a nós? Nós, aqui em nosso lugar e em nosso tempo, também temos uma tarefa a cumprir. Somos chamados a trabalhar na construção do reino de Cristo – em nossas próprias vidas, em nossas casas, em nossas comunidades. Somos chamados a defender seu reinado onde quer que tenhamos jurisdição. E somos chamados para testificar de Seu nome. Para ser suas testemunhas. E a promessa que os discípulos receberam também é nossa, de que receberemos poder do Alto para cumprir esse chamado.

Seria muito fácil reagirmos da mesma forma que os discípulos. Dizer: “Jesus, por que o senhor precisa ir embora? Por que não pode simplesmente voltar agora e nos resgatar deste mundo?” Mas esse não é o plano de Deus, ainda. Ele tem um propósito para este tempo intermediário, e esse propósito inclui nós. Como nós responderemos a esse chamado? Podemos olhar para as alturas e sentir como se nossas carruagens e cavaleiros tivessem subido para o céu e nos deixado sozinhos. Mas Cristo nos deu um chamado e a promessa de que nunca nos deixará ou nos abandonará. Não estamos sozinhos. Não estamos abandonados. O poder de Cristo, o Espírito de Cristo, está conosco.

De muitas maneiras, se realmente compararmos o tempo de Eliseu com o nosso tempo, teríamos que admitir que, apesar de todas as incertezas e medos que enfrentamos, o tempo de Eliseu era ainda mais sombrio e incerto. Em nosso tempo, sabemos que Cristo veio, venceu a morte e ascendeu ao trono de Deus, de onde Ele está reinando e estabelecendo Seu reino – como vemos em toda a terra, apesar da pior oposição de Satanás. A igreja de Cristo está criando raízes em todo o mundo, e não chega a 7.000, mas a milhões, senão bilhões.

Mas certamente há provas pela frente também, como estamos descobrindo, e provavelmente descobriremos ainda mais à medida que nossa cultura se torna cada vez mais hostil a tudo o que o Evangelho proclama. A igreja tem um chamado para dar testemunho do Evangelho de Cristo, e Cristo nos advertiu que isso não será feito sem sofrimento e perseguição. O sofrimento e o sacrifício não são obstáculos para o crescimento do Reino, são os meios pelos quais Cristo disse que Seu reino crescerá.

E ainda falta muito para o reino avançar. Não apenas bilhões que não sabem o nome de Cristo e que estão perdidos nas trevas – e milhões aqui em nossa própria cidade que não o conhecem ou obedecem – mas até mesmo na igreja, ainda há muito a amadurecer; às vezes, parece que ainda há tão pouca fé.

Tem hora que pensamos: “Cara, não sei mais se Deus está ainda conosco. Vejo tanto fracasso, tanta fraqueza, tanto mundanismo e tão pouca fé, mesmo em mim mesmo, que não vejo como Deus pode estar trabalhando em nós. Será que Deus nos abandou? E os inimigos da igreja são tão grandes, e a tarefa diante de nós ainda é tão grande, e minha própria luta contra meu próprio pecado é tão séria que não vejo como Deus poderia trabalhar através de mim para a glória de Seu Nome. E a igreja – a igreja que genuinamente ama o Senhor e deseja seguir sua palavra – em muitos lugares parece tão pequena, e a fé dentro dela parece tão pequena, e os homens e mulheres se dedicando a Deus em fidelidade são tão poucos, que parece impossível acreditar que Cristo vai de alguma forma realizar qualquer grande obra dentro de nós, ou nos usar para voltar os corações das pessoas em nossa comunidade para si mesmo.

Então embora saibamos que Cristo está reinando e construindo sua igreja, podemos facilmente ficar desanimados quando olhamos para o estado da igreja em nossa própria terra e quando olhamos honestamente para nós mesmos e vemos tanta fraqueza e tanto progresso que ainda precisa ser feito. Sabemos que vivemos em uma era gloriosa – sabemos – e podemos ver a obra de Cristo na história de maneiras maravilhosas; mas nas trincheiras, a luta contra o reino das trevas ainda é muito real e enfrentamos muitos contratempos e frustrações.

Eliseu estava bem ciente de sua própria inadequação. E ainda assim o vemos fielmente comprometido com seu mestre, ciente de seu chamado de Deus; nós o vemos pedindo ousadamente o Espírito de que ele sabia que precisava se quisesse realizar aquela obra; e então, quando chegou a hora, nós o vemos avançando com fé, pegando o manto de Elias e invocando o Deus de Israel.

Parece que é exatamente nos tempos mais sombrios que a fé do povo de Deus se destaca ainda mais claramente. Eles não sabiam o que estava por vir em seus tempos, e muito do que estava por vir era realmente terrível. Maior perseguição. Piora da decadência espiritual em Israel e, eventualmente, em Judá também. Em última análise, exílio. Mas eles ainda conheciam seu Deus, e esperavam Nele, e partiram com fé, em seu tempo.

Quanto mais, então, nós podemos assumir essa fé em nosso tempo, visto que Cristo já morreu e ressuscitou e agora reina, e tivemos o privilégio de vê-lo fazendo sua obra nos últimos dois milênios, construindo sua igreja. Podemos ver a transformação que Ele realizou em nossas próprias vidas, e nas vidas dos nossos irmãos ao nosso redor.

Vemos essa mesma fé nos discípulos de Cristo – eventualmente, pelo menos – quando, no dia de Pentecostes, eles, como Eliseu, receberam o Espírito em poder e saíram para iniciar a conquista do Reino de Cristo, não cruzando o Jordão, mas, pela fé, cruzando as barreiras de línguas e superando a barreira da incredulidade, de modo que, ao começarem sua obra no poder do Espírito de Deus – o Espírito de Cristo – eles começaram a ver que “os carros de Israel e seus cavaleiros” estava trabalhando dentro deles.

Em sua época, a igreja ainda era, na maioria dos lugares, minúscula. Pequenas congregações aqui e ali. Não há muito para olhar. Mas desde que eles tinham o Espírito, eles não desprezaram o dia das coisas pequenas, porque eles conheciam o poder de Deus.

E então, vamos voltar para a palavra de Hebreus 11. Ele escreve, no versículo 32,

“E que mais direi? Certamente, me faltará o tempo necessário para referir o que há a respeito de Gideão, de Baraque, de Sansão, de Jefté, de Davi, de Samuel e dos profetas (como Elias e Eliseu também), os quais, por meio da fé, subjugaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram promessas, fecharam a boca de leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram força, fizeram-se poderosos em guerra, puseram em fuga exércitos de estrangeiros. Mulheres receberam, pela ressurreição, os seus mortos. Alguns foram torturados, não aceitando seu resgate, para obterem superior ressurreição; outros, por sua vez, passaram pela prova de escárnios e açoites, sim, até de algemas e prisões. Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados (homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra.”

E, ele nos diz, “todos estes que obtiveram bom testemunho por sua fé não obtiveram, contudo, a concretização da promessa, por haver Deus provido coisa superior a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados.” Pra explicar tudo isso eu já precisaria de fazer um  outro sermão, mas o ponto é que agora somos chamados a continuar e concluir a mesma obra para o Reino de Deus, pela mesma fé.

E esse é o ponto que é feito no próximo versículo, Hb 12: 1-2:

Heb. 12:1–2: “Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus.”

Foi Jesus, o Filho de Deus, quem estava trabalhando no tempo de Eliseu e, de fato, Ele é o autor da fé de Eliseu e da fé da igreja daqueles dias. Foi o Seu Espírito que desceu sobre Eliseu. Foi o Seu Espírito que veio sobre os discípulos no Pentecostes, e sobre a igreja primitiva, e sobre os pais da igreja nos séculos vindouros que avançaram com fé, confessando Seu nome perante os imperadores e enviando missionários para arar os campos de Ferro—falando da Europa pagão—que foi dito ser tão difícil que eles quebrariam qualquer homem que tentasse lavrá-los com o Evangelho.

E Cristo prometeu que Seu Espírito também está conosco. Mesmo no dia das pequenas coisas. Mesmo em todas as deficiências e fraquezas que temos em nós mesmos e em nossa igreja.

E assim, irmãos, aprendamos da fé de nossos pais em tempos muito mais sombrios incertos de que nossos, e imitemos essa mesma fé, em nossos tempos, olhando para o autor e consumador da sua fé e da nossa, Jesus Cristo, cujo O Espírito estava com eles e também está conosco. Cristo não nos deixou; ele está conosco. Cristo providenciará para que Sua obra seja cumprida. Ele estava com sua igreja no tempo de Eliseu. Ele estava trabalhando poderosamente em sua igreja na época de seus discípulos. E ele continua trabalhando em nossos dias.

E assim nós, como eles, somos chamados a avançar com fé e testemunhar a verdade de Deus como uma luz nas trevas; ser, como a igreja daqueles dias, um povo devotado à Palavra de Deus, sabendo que onde a Palavra de Deus está, aí será encontrado o poder de Deus também. E podemos ter certeza de que, ao aplicarmos essa palavra em nossas vidas e em nossas casas, e ao levarmos essa Palavra às nossas comunidades, o Espírito estará conosco na hora de necessidade, assim como esteve com Eliseu e o pessoas daquela época.

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Jonathan Chase

Jonathan Chase

O pastor John Chase é Missionário de Aldergrove Canadian Reformed Church nas Igrejas Reformadas do Brasil. B.A., Western Washington University, 2012; M.Div., Canadian Reformed Theological Seminary, 2016. Serviu anteriormente como pastor da Igreja Reformada de Elora em Ontario, Canadá nos anos 2016-2020. 

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* Este sermão foi originalmente escrito para uso do pastor e não passou por correção ortográfica ou gramatical.